A identidade sócio-espacial gaucha em suas vertentes e espacialidades correspondentes

Item

Título
A identidade sócio-espacial gaucha em suas vertentes e espacialidades correspondentes
Boletim Gaúcho de Geografia
UFRJ
Autor
Rafael ZILIO Fernandes
Assunto
Identidade Regional
Identidade Sócio-Espacial Gaucha
Região Transnacional Gaucha
Abstract
O presente texto apresenta uma proposta de abordagem da identidade sócio-espacial gaucha através de vertentes com base nas transformações político-espaciais. Constrói-se o instrumento analítico região transnacional gaucha enquanto espaço de referência identitária do universo valorativo gaucho para, após, deter-se sobre as vertentes. A vertente gaucha clássica se origina da miscigenação de povos originários, europeus e africanos. A literatura histórica comumente associa esta origem ao século XVIII, remetendo-se ao gaucho errante na pampa sem cercas nem fronteiras estatais. A espacialidade desta vertente consiste em um espaço "aberto", anterior a latifúndios. A vertente tradicionalista tem como "mito fundador" a Revolução Farroupilha (século XIX) na parte brasileira da região transnacional gaucha. Trata-se de uma apropriação conservadora de elementos da identidade sócio-espacial gaucha, com a legitimação ou naturalização da heteronomia instituída na relação patrão-peão, um discurso separatista (ainda que nem sempre em direção a uma aliança com Argentina ou Uruguai), e a visão estática, imutável, de cultura (os contemporâneos devem pagar tributo de alguma maneira a supostos heróis do passado), desenvolvida ao longo do século XX. A espacialidade da vertente tradicionalista se funda na pampa dividida em latifúndios e com o estancieiro/patrão submetendo os gauchos a um regime de trabalho subserviente (oposto às atividades dos gauchos "clássicos"). Já a vertente neogaucha diz respeito a uma retomada de consciência regional propiciada pelo fim dos regimes ditatoriais nos três países e a aceleração de determinados processos via MERCOSUL. A rede de artistas e intelectuais abordada demonstra um esforço de (re)aproximação regional baseado na apropriação de elementos culturais os mais diversos (principalmente letras e ritmos musicais) para dialogar com o mundo a partir do espaço urbano. A espacialidade da vertente neogaucha, portanto, se dá primordialmente na passagem do lócus de construção discursiva: do rural para o urbano. Ademais, com essa retomada de consciência regional, as fronteiras estatais tornam-se porosas e os vetores de troca se intensificam, valendo-se de elementos do universo valorativo gaucho semelhantes àqueles mobilizados pela vertente tradicionalista, porém apresentando uma perspectiva diferente e apoiando-se na rede urbana capitaneada por Buenos Aires, Montevidéu, Pelotas e Porto Alegre.
volume
43
issue
2
Date
2016
Língua
pt
issn
2357-9447
Rights
Direitos autorais 2017