A identidade sócio-espacial gaucha em suas vertentes e espacialidades correspondentes
Resumo
O presente texto apresenta uma proposta de abordagem da identidade sócio-espacial gaucha através de vertentes com base nas transformações político-espaciais. Constrói-se o instrumento analítico região transnacional gaucha enquanto espaço de referência identitária do universo valorativo gaucho para, após, deter-se sobre as vertentes. A vertente gaucha
clássica se origina da miscigenação de povos originários, europeus e
africanos. A literatura histórica comumente associa esta origem ao
século XVIII, remetendo-se ao gaucho errante na pampa sem
cercas nem fronteiras estatais. A espacialidade desta vertente consiste
em um espaço "aberto", anterior a latifúndios. A vertente
tradicionalista tem como "mito fundador" a Revolução Farroupilha (século
XIX) na parte brasileira da região transnacional gaucha. Trata-se de uma apropriação conservadora de elementos da identidade sócio-espacial gaucha,
com a legitimação ou naturalização da heteronomia instituída na relação
patrão-peão, um discurso separatista (ainda que nem sempre em direção a
uma aliança com Argentina ou Uruguai), e a visão estática, imutável, de
cultura (os contemporâneos devem pagar tributo de alguma maneira a
supostos heróis do passado), desenvolvida ao longo do século XX. A
espacialidade da vertente tradicionalista se funda na pampa dividida em
latifúndios e com o estancieiro/patrão submetendo os gauchos a um regime de trabalho subserviente (oposto às atividades dos gauchos "clássicos"). Já a vertente neogaucha
diz respeito a uma retomada de consciência regional propiciada pelo fim
dos regimes ditatoriais nos três países e a aceleração de determinados
processos via MERCOSUL. A rede de artistas e intelectuais abordada
demonstra um esforço de (re)aproximação regional baseado na apropriação
de elementos culturais os mais diversos (principalmente letras e ritmos
musicais) para dialogar com o mundo a partir do espaço urbano. A
espacialidade da vertente neogaucha, portanto, se dá
primordialmente na passagem do lócus de construção discursiva: do rural
para o urbano. Ademais, com essa retomada de consciência regional, as
fronteiras estatais tornam-se porosas e os vetores de troca se
intensificam, valendo-se de elementos do universo valorativo gaucho
semelhantes àqueles mobilizados pela vertente tradicionalista, porém
apresentando uma perspectiva diferente e apoiando-se na rede urbana
capitaneada por Buenos Aires, Montevidéu, Pelotas e Porto Alegre.
Palavras-chave
Identidade Sócio-Espacial Gaucha. Região Transnacional Gaucha. Identidade Regional.
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