A MOBILIDADE DA FRONTEIRA: INSERCOES DO CONHECIMENTO SOCIO-ESPACIAL NA CRISE DA MODERNIDADE
Item
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Título
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A MOBILIDADE DA FRONTEIRA: INSERCOES DO CONHECIMENTO SOCIO-ESPACIAL NA CRISE DA MODERNIDADE
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lista de autores
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CASSIO EDUARDO VIANA HISSA
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Resumo
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O presente estudo objetiva construir interpretaçőes sobre tendęncias em curso na cięncia concedendo tratamento especial ŕ geografia e ao que pode ser denominado de conhecimento sócio-espacial. O estudo também pode ser apresentado como uma discussăo sobre as fronteiras de diversas naturezas construídas ao longo da história de desenvolvimento do saber moderno. A cięncia já experimenta importantes modificaçőes e novos valores vęm sendo organizados no sentido da produçăo de um saber mais integrado mais crítico mais criativo. O estudo se propőe a discutir algumas dessas modificaçőes as suas origens e debater sobre a natureza de alguns desses valores que orientam a produçăo de vanguarda do saber contemporâneo focalizando a geografia e o conhecimento sócio-espacial...Inicia-se pela discussăo de alguns problemas referentes ŕ gęnese e desenvolvimento da cięncia moderna. Săo focalizados os conceitos e noçőes de fronteira e de limite passando-se a trabalhar alguns fundamentos dos limites interdisciplinares e das várias fronteiras projetadas para os diversos campos do saber. Săo apresentados e discutidos os conceitos de cięncia e de arte aproximando os mesmos. Săo também abordados: o caráter da imaginaçăo nos processos criativos o significado de crítica na construçăo do saber a natureza da criatividade científica os obstáculos ŕ criatividade. Para que sejam desenvolvidos os conceitos de crítica e de criatividade na cięncia e simultaneamente se realize uma avaliaçăo do significado de modernidade - processo histórico em que também se efetiva o elogio apologético ŕ razăo e ŕ técnica - é necessário refletir sobre rupturas fundamentais que interferem na produçăo do conhecimento e conseqüentemente na sua aplicaçăo. Muito do que se compreende como "busca do rigor e da objetividade" termina por criar expectativas falsas no que diz respeito ŕ sensibilidades fundamentais ao ato da criaçăo científica. Arte e filosofia săo apartadas do que passa no projeto da modernidade a ser tomado como cięncia. O método muitas vezes qualificado como o "método científico" é o que pretende diferenciar a cięncia de outras formas de conhecimento muitas vezes obstruindo a liberdade de criaçăo. Ordem é palavra da modernidade mas em muitas circunstâncias contradiçăo e crise săo suas conseqüęncias. É da idéia de ordem da cultura da ordem que se originam diversas compartimentaçőes no campo do saber...A cięncia desmembra-se em disciplinas. O discurso da cięncia fragmenta-se em vários discursos que progressivamente se diferenciam e ampliam a dificuldade de comunicaçăo de linguagens. Através de rupturas mais fortes e expressivas desníveis de discursos incluídos no mesmo processo săo estabelecidos entre cięncia e sociedade. A disciplina pulveriza-se em fragmentos que muitas vezes equivocadamente săo tomados como especialidades. O pensar e o agir o puro e o aplicado o saber e o fazer a teoria e a prática passam a ser trabalhados como conceitos antagônicos e năo como dimensőes integradas de um mesmo processo. A cięncia se esvazia de pensamento e se torna plena de técnica movida pelo sonho pragmático de progresso de raízes iluministas. O conhecimento sócio-espacial se pulveriza mesmo no projeto interdisciplinar. O planejamento sócio-espacial que se alimenta desse conhecimento fragmentado é instância da técnica e freqüentemente um obstáculo ao pensamento e um limite ŕ reflexăo coletiva. A crítica também entendida como momento de interpretaçăo do mundo em observaçăo torna-se frágil e superficial. A crise da crítica é representaçăo da crise da modernidade. É nesse contexto que há décadas discute-se o significado de interdisciplinaridade...O projeto interdisciplinar é a manifestaçăo do desejo de integraçăo entre diversas áreas do conhecimento. Contudo a interdisciplinaridade jamais se realiza como integraçăo pelo motivo de que se faz sob a ordem da própria disciplina. A disciplina contraditoriamente é a referęncia do projeto interdisciplinar. A disciplina e a ordem da disciplina săo desse modo os próprios limites da ansiedade interdisciplinar jamais solucionada...O sonho da interdisciplinaridade somente se concretiza através da ruptura de fronteiras. As continuidades e mobilidades tornam-se referęncias e năo mais a clausura da disciplina é tomada como modelo. Relaçőes de aplicaçăo e de constituiçăo entre as áreas do conhecimento sócio-espacial e a incorporaçăo de referęncias crítico-artísticas parecem motivar nessa situaçăo uma análise melhor consolidada e mais consistente acerca da própria natureza da geografia e da realidade que busca investigar. Na história do pensamento contemporâneo ansiedades de integraçăo passam a ser progressivamente ampliadas. Diante do quadro como refletir sobre a geografia em suas relaçőes com as outras disciplinas e ainda no que diz respeito aos seus diversos campos de estudos com discursos cada vez mais particulares que ŕ luz da modernidade estimulando a especializaçăo pragmática inviabilizam a própria crítica? Como refletir sobre a geografia sem detidamente refletir sobre as relaçőes insolúveis que mantém com outras disciplinas? Como refletir sobre a geografia sem que se tenha remetido o pensamento ao problema da cięncia e mais particularmente ŕ questăo da interdisciplinaridade? Enfim nos tempos atuais como discutir concretamente a interdisciplinaridade sem que se tenha dado conta do que se está denominando transdisciplinaridade?..A transdisciplinaridade passa a significar uma progressiva apropriaçăo de discursos que termina ao excluir fronteiras por maximizar pretendidas integraçőes. Na desconsideraçăo dos limites disciplinares os efetivos contatos com áreas afins a sensibilidade imaginativa os novos arranjos metodológicos as integraçőes prática-teoria e conhecimento-açăo passam a ser compreendidos como fatores indispensáveis ŕ crítica como análise da totalidade sócio-espacial - interpretada como resultado de movimentos processuais que se estabelecem envolvendo forma e conteúdo ser e existęncia produçăo sócio-espacial e organizaçăo sócio-espacial. Em última instância passa-se a compreender a produçăo científica como uma obra de interpretaçăo de parcelas da realidade que como expressőes da arte externaliza concepçőes estéticas metodológicas e filosóficas...O estudo focaliza a geografia abordando questőes consideradas relevantes: a) a indefiniçăo teórico-metodológica do objeto de estudo da geografia sinalizando uma meta da modernidade năo cumprida na disciplina que em última instância produz sensaçőes de avanço relativo no contexto de crise - uma contradiçăo uma transgressăo ŕs "normas" que implica no sombreamento de fronteiras interdisciplinares b) a radicalizaçăo das corporaçőes - universitárias e profissionais - que representa a momentânea fragilidade teórico-metodológica que constitui o ambiente técnico-científico a insuficięncia dos métodos convencionais nos quais foram depositadas expectativas de soluçăo de problemas: também aqui especialmente no caso da geografia abre-se um rico espaço de construçăo de alternativas de crítica. Direciona-se a discussăo para a ruptura teoria/prática ou em outros termos para a separaçăo falaciosa entre o saber e o fazer: falsas fronteiras que năo se justificam teoricamente freqüentemente suplantadas no mercado. Săo abordadas as relaçőes que podem se estabelecer entre imagem crítica e criatividade na geografia...A geografia năo se constitui em especialidade e tampouco os seus campos de estudos temáticos adquirem autonomia. O caso da geografia é bastante especial também por outros motivos. A despeito da busca de autonomia no âmbito geral da cięncia a geografia ainda poderia ser caracterizada pelo seu conjunto de distritos do saber que apesar de reunidos pelo mesmo rótulo năo săo de fato trabalhados de forma articulada ou integrada. Se na produçăo do conhecimento as contradiçőes săo explícitas na sua aplicaçăo ou no planejamento sócio-espacial as inconsistęncias năo săo menos graves...A geografia sempre esteve associada ŕ produçăo do conhecimento que subsidia o planejamento: da conquista e da exploraçăo de novos espaços ao planejamento urbano e regional do pós-guerra. E é a partir do pós-guerra tempo histórico do desenvolvimento do planejamento territorial que os métodos da cięncia moderna ajustam-se cada vez mais aos parâmetros da racionalidade do rigor e da objetividade. É nesse ambiente que adquire fôlego a "geografia aplicada" e ganham maior espaço as posturas mais pragmáticas referentes ŕ disciplina. Entretanto a despeito das importantes transformaçőes processadas na atualidade a geografia é sempre identificada como a disciplina voltada apenas para a construçăo de mapeamentos introdutórios que mais adiante serviriam de base para as estratégias de planejamento...A contemporaneidade é compreendida por diversas razőes como um grande espaço de transiçăo. Na cięncia alguns procuram associar a transiçăo que sinaliza transformaçőes fundamentais ao advento da pós-modernidade no saber. A pós-modernidade năo poderia ser compreendida como um paradigma da cięncia que se coloca contra os modelos ou paradigmas da modernidade mas como um movimento que conduz a reflexăo e o pensamento para além da modernidade. É com bastante dificuldade que se realiza a discussăo sobre o que se pode compreender por uma "cięncia pós-moderna". Por se tratar de algo tomado como novo muito embora há cerca de vinte anos já vęm sendo elaboradas obras tratando do assunto os conceitos relativos ŕ pós-modernidade na cięncia săo discutidos e utilizados a despeito da polęmica que suscitam. É inegável contudo que tal debate esteja estimulando na atualidade a construçăo de um clima propício ŕ reflexăo acerca da emergęncia da consideraçăo de novas-antigas relaçőes a serem reconstituídas pela cięncia. A pós-modernidade é ansiedade que orienta a reflexăo para além da modernidade assim como a transdisciplinaridade é um movimento que conduz o conhecimento produzido para além da disciplina. Esta é uma associaçăo importante a ser feita entre transdisciplinaridade crítica e pós-modernidade para que se consolide o significado que se quer dar aos referidos conceitos. A pós-modernidade remete-se antes de tudo ŕ uma referęncia de desordem - na consideraçăo da ordem contida nos modelos clássicos da cięncia moderna. Năo há fronteiras mas um esforço espontâneo no sentido das continuidades. Na cięncia năo há limites senăo os próprios e natos representados pelos obstáculos impostos ao objetivo da busca e da viagem ilimitadas do pensamento. Năo há fronteiras entre disciplinas ansiedade guardada a despeito da concretude da fragmençăo do saber. Năo há fronteiras nem propriedades. Do mesmo modo năo há proprietários tampouco monopólios de discursos. Trata-se do espaço da crítica e da liberdade...No contexto em que săo delineados os contornos das tendęncias atuais da produçăo científica conhecimento e açăo também articulam-se em processo único na construçăo da crítica como uma obra verdadeiramente criativa e sobretudo coletiva. Em outros termos conhecimento sócio-espacial e planejamento sócio-espacial passam a ser de acordo com a perspectiva edificados como processo único com características particulares que merecem ser discutidas. O conhecimento năo apenas seria produzido por cientistas - usualmente sobretudo no caso do planejamento denominados técnicos - mas seria desenvolvido através do contato a se realizar entre pesquisadores e comunidades. O planejamento sócio-espacial no formato apresentado para a discussăo adquire um conteúdo pedagógico e uma conotaçăo de educaçăo social na construçăo de normas e de leis que efetivamente emanem da sociedade. Também apenas nesses termos podem ser reduzidos os desníveis entre discursos - o que passa a ser uma estratégia política de viabilizaçăo de projetos sócio-espaciais - constituídos por aqueles utilizados formalmente pela cięncia e por aqueles legitimados pela sociedade. Tais transformaçőes aqui sintetizadas significam para alguns autores o que se intitula de segunda ruptura epistemológica. A primeira deu origem ŕ cięncia moderna que se estabelece e se desenvolve através da construçăo de diversas fraturas. A segunda em questăo diz respeito ao desenvolvimento da ruptura da cięncia consigo mesma que a despeito de năo se realizar como retorno ŕ situaçăo original cumpre o papel de democratizaçăo do saber e de reduçăo de desníveis de discursos. A segunda ruptura epistemológica significa a ampliaçăo de horizontes de conquista e de liberdade sociais imprescindíveis ŕ legitimaçăo das estratégias de planejamento.
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Abstract
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Palavras Chave
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GEOGRAFIA
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CONHECIMENTO SOCIO
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ESPACIAL
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Key Words
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Tipo
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DOUTORADO
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Universidade
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UNIVERSIDADE EST.PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO
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Data
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1999
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Páginas
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395
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Localização
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IGCE/UNESP/RIO CLARO
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Orientador
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LUCIA HELENA DE OLIVEIRA GERARDI
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Programa
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GEOGRAFIA
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Sigla Universidade
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UNESP
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Área de Concentração
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Língua
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Português
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email
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