O MAIS INTENSO DELEITE QUE PROPORCIONA O HOMEM A SI MESMO – METAFILOSOFIA E ABERTURA POIČTICA DO MUNDO NA OBRA DE HENRI LEFEBVRE

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O MAIS INTENSO DELEITE QUE PROPORCIONA O HOMEM A SI MESMO – METAFILOSOFIA E ABERTURA POIČTICA DO MUNDO NA OBRA DE HENRI LEFEBVRE
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Resumo
O estudo que as próximas páginas repartem entre si destacam em parágrafos palavras e sinais é dedicado ŕ obra de Henri Lefebvre. Ele toma como fio condutor o fio com que o próprio Lefebvre procura se conduzir com que penetra distintos campos do saber e da prática neles orientando-se e através deles empreendendo a exploraçăo de sentidos infreqüentes. Que o panorama composto por este itinerário cause estranheza que o movimento das linhas e a transiçăo entre os materiais desconcertem - trata-se de efeitos assentados antes sobre uma necessidade do que sobre uma contingęncia condicionados mais a uma qualidade própria do caminhar do que ŕ eventualidade de um tropeço. É que a démarche desenvolvida por Lefebvre implica uma dupla exigęncia: ao mesmo tempo em que reclama a compreensăo de determinados conteúdos positivos subordina esta compreensăo ao desvelamento das possibilidades que a positividade mesma acaba por ocultar. Consequentemente a sombra da ironia acompanha qualquer afirmaçăo e aquele que tomado pela vertigem tateia o chăo em busca de algo em que se fiar sobra nas măos apenas com o cadáver nu que a tendęncia deixou atrás de si. Enquanto pesquisa do possível a interrogaçăo de Lefebvre é o percurso que se demora no fato apenas para mais acertadamente atravessá-lo - é projeto num movimento quase melódico de passagem e ultrapassagem que se denota e conota com o nome Metafilosofia. .É o fio do projeto metafilosófico que percorre e articula momentos parciais da obra de Henri Lefebvre: o diálogo crítico com o marxismo e com a filosofia clássica com Nietzsche e com a literatura a crítica da vida cotidiana os estudos sobre a linguagem e sobre as representaçőes sobre a cidade e o urbano sobre o espaço e sobre o Estado o projeto ritmanalítico. Assim os temas desembocam uns nos outros săo tomados uns no interior dos outros e mesmo como os herdeiros uns dos outros. A crítica da vida cotidiana năo prossegue sem os conceitos de alienaçăo e totalidade legado filosófico garantido em testamento peças de destaque no espólio da tradiçăo ocidental do mesmo modo năo prossegue sem o conhecimento crítico da atividade produtora de espaços: o uso de determinado espaço envolve sempre um emprego do tempo correspondente logo por meio da produçăo do espaço a conformaçăo dos hábitos pode se tornar simultaneamente mais violenta e mais sutil - profundamente irrefletida sem deixar de ser eficaz. Os estudos sobre a cidade também ensejam juízos a respeito da filosofia. A cidade foi o berço de mármore da filosofia como observa Lefebvre năo há grande sistema filosófico que năo se tenha formado numa relaçăo necessária com a cidade: elaborando seus problemas confrontando suas possibilidades projetando-a na imagem de uma cidade ideal. No entanto a dissoluçăo da cidade perseguida pela açăo do político e do econômico autonomizados inverte esta relaçăo entre continente e conteúdo e as grandes construçőes do passado filosófico săo convertidas em túmulos de prata portadores de uma nostalgia dourada. Que năo se conclua porém haver apenas virtuosismo metodológico nestas consideraçőes. Com elas o que sobremaneira interessa a Lefebvre é fornecer elementos para a clarificaçăo de um campo de embates para a demarcaçăo de um eixo em torno do qual se opőem estratégia e contra-estratégia. Reconhecidamente intratável é a mobilidade mesma destas zonas de fronteira que fundamenta a refinada malícia do observador que desenvolve o seu senso para sutilezas: diferentes disposiçőes realçam distintas características do mesmo conjunto de objetos a nítida percepçăo de um detalhe reduz o espectro dos possíveis nomes de uma coisa o indiferente o neutro revela-se como o logro bem conduzido. Neste sentido săo paradigmáticos os estudos sobre o Estado. Nos quatro volumes que compőem sua tardia elaboraçăo sobre o assunto Lefebvre retoma os temas desenvolvidos por obras anteriores: o espaço a linguagem a vida cotidiana. Parcialmente abordada por estes projetos individuais a relaçăo com o Estado se desloca para o centro da reflexăo. Engana-se entretanto aquele que considera esta mudança de foco um mero jogo com a perspectiva. Engana-se também aquele que a toma por simples reorganizaçăo do material acumulado em estudos anteriores. Para Lefebvre a sistematizaçăo é antes prática que teórica e sempre mais pretendida que real. Mediante a produçăo da cotidianidade o Estado articula efetivamente os sistemas parciais (os da troca e da lei incluídos) tendendo a totalizar o conjunto social este pendor dogmático entretanto é seguidamente objetado pelos próprios sistemas parciais cujas tentativas particulares de totalizaçăo năo reconhecendo a validade do princípio estatista esforçam-se para substituí-lo. Anunciado previsto defendido o sistema se depara com a crítica que os seus elementos mesmos lhe dirigem. A totalizaçăo estatista entretanto é obstada pelas objeçőes de uma crítica mais radical inflexível e irreconciliável. É que para ela o que se coloca em questăo é a própria forma sistemática e năo apenas uma substituiçăo de princípios. Trata-se da crítica que elaboram elementos dificilmente totalizáveis irredutíveis cuja açăo fundamenta-se nem tanto no desacordo diante das respostas dadas mas sim diante das questőes colocadas. Foi o sentido profundo dos eventos de 68 afirma Lefebvre enquanto derrota política significarem uma vitória para o conhecimento. A partir deles assegura tornou-se manifesta a entrecortada dinâmica do sistema: a carga do significado estatista dos objetos e processos tende a prevalecer tomando a quase inteireza de seu significado total năo sem obstáculos que a difusăo deste sentido encontra naquilo mesmo em que se apóia nos sistemas parciais tropeçando por assim dizer em suas próprias pernas diante deste contra-senso desta crítica interna projeta-se uma crítica que firmando-se sobre componentes anti-sistemáticos determina-se pelo questionamento do sistemático enquanto tal. Ora com dificuldades estabelecida a coeręncia pretendida pelo sistema é mais projetada que efetiva e de fato o que vigora sob sua aparente unicidade é a fratura de um campo tensionado entre as exigęncias de consolidaçăo de uma estratégia e a resistęncia corrosiva que lhe opőem resíduos dispersos. A partir deles através deles ensaiando a sua articulaçăo o projeto metafilosófico de Lefebvre pesquisa os apoios que possam sustentar a formulaçăo de uma contra-estratégia investiga as possíveis constelaçőes resultantes de seu instável arranjo. Deste modo no quadro mesmo do embate na vida cotidiana no espaço explora o potencial irruptivo de contigüidades anômalas se portanto a estratégia espacial estatista procura fornecer ŕ unidimensionalidade dos deslocamentos cotidianos o seu contexto a démarche metafilosófica persegue o indício de vias subterrâneas que ligam entre si materiais segregados e soterrados por esta avalanche de positividade. Resgatada de seu exílio por exemplo a palavra tal como cuidada e educada pela poesia é restituída ao corpo nela este encontra um guia e um espelho: ritmos que se refletem sentidos que interferem que ressoam nela ele encontra a morada que prenuncia uma arquitetônica cotidiana de múltiplas dimensőes. Que minha palavra pese sobre a noite que passa e que se abra sempre a porta pela qual tu entraste nesse poema porta de teu sorriso e porta de teu corpo diz Éluard com um dos parágrafos de Poésie ininterrompue por um caminho inverso aproxima-se do problema que Hölderlin ressaltou com as palavras: cheio de méritos mas poeticamente o homem habita esta terra. Poetas-filósofos e filósofos-poetas com sua obra apontaram para a riqueza que habita a fronteira entre as atividades filosófica e poética ao mesmo tempo experimentaram os efeitos resultantes da confrontaçăo entre sua atividade e a atividade do mundo. A filosofia é levada além de si ao considerar que suas intençőes săo meros arremedos das intençőes do mundo mesmo e que portanto a efetividade destas determina o caminho mais curto para a sua própria efetividade. Por meio de um índice diferente refratamos assim o conteúdo coberto pelo termo Metafilosofia. A poesia por sua vez passa a ser identificada como o investimento particularizado de uma competęncia universal. A escrita que o papel sustenta em traços e brancos a cidade dispersa no lume de suas estrelas terrestres banhadas no líquido de silęncio negro que pode também ser contemplado ao fundo de seus reflexos celestes trata-se do sentido esculpido em situaçőes e objetos desfiado em percursos-frases que a interjeiçăo de um gesto ou do vento vem abalar trata-se da coluna barroca que exprime sua funçăo de apoio através de insólitas formas vegetais e assim fixa no espaço a existęncia de uma metáfora trata-se também do trabalho que inspira a matéria a diferir de si mesma trata-se enfim do potencial criador que os gregos entenderam como a mais íntima marca do mundo e que as distintas atividades compartilham enquanto desdobramentos do próprio mundo. A esta brilhante produtividade coube o nome Poičsis sob seu signo julga Lefebvre ser possível a articulaçăo de uma contra-estratégia. Assim se através da estratégia estatista o livro do mundo tende a tornar-se o resumo de si mesmo uma contra-estratégia poičtica insiste no aprofundamento de seus diversos sentidos isto é no desdobramento para si de suas internas possibilidades. Projetada no interior de um campo estratégico trata-se de uma aposta - nada mais que isso nada menos.. É certo que a abertura poičtica do mundo năo constitui um artigo explorado apenas pelo projeto metafilosófico a reflexăo sobre as palavras fundamentais dos gregos e sobre a meditaçăo poético-filosófica de Hölderlin Lefebvre mesmo ressaltou ser proveniente do original pensamento de Heidegger. Na formulaçăo de sua aposta o caminho de Lefebvre se cruza com o de outros de modo que o que surge ŕ primeira escuta como ruído desarticulado revela-se a um ouvido alerta como fluxo sonoro composto pela sobreposiçăo de diferentes vozes pelo uso dos mais variados instrumentos e pela pesquisa de inusitadas relaçőes. O estudo aqui proposto como em uma fuga retoma segundo tręs grandes registros o tema disposto por Lefebvre ŕ testa de seu projeto assim a abertura poičtica do mundo é tomada enquanto Aggiornaménto do projeto marxista na medida em que ressoa as notas do marxismo crítico de Lukács Bloch Adorno e Marcuse enquanto Revisionismo dionisíaco-rabelaisiano na medida em que resgata do Reino das Sombras a obra de Rabelais Pascal Nietzsche e da civilizaçăo meridional francesa e enquanto Poética da insubmissăo na medida em que se entrelaça com a cidade com o problema da superaçăo da arte com o projeto situacionista. Tendo discernido o fluxo em seus constituintes fundamentais procura restituí-lo em sua descarga rumo ao presente. Esta projeçăo reúne e orienta vozes fragmentares dispersas fornece um horizonte.
Abstract
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Palavras Chave
GEOGRAFIA
Key Words
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Tipo
MESTRADO
Universidade
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Data
2011
Páginas
200
Localização
BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA DA UFMG
uri
\N
Orientador
GEOGRAFIA
Programa
GEOGRAFIA
Sigla Universidade
UFMG
Área de Concentração
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Língua
Francęs
email
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