A Des-re-territorializaçăo dos Migrantes Nordestinos na Comunidade de Rio das Pedras
Item
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Título
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A Des-re-territorializaçăo dos Migrantes Nordestinos na Comunidade de Rio das Pedras
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lista de autores
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Luciano Ximenes Aragăo
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Resumo
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Esta pesquisa demonstra que o fenômeno migratório também é impulsionado por decisőes individuais e está enfeixado em horizontes mais amplos ou seja evidencia-se que o processo migratório apresenta-se inserido em determinados contextos. .Cruzando-se as particularidades com os contextos que lhes dăo sentido desenhou-se ? como uma metodologia ainda que marginal - uma ?totalidade aberta? e neste sentido a direçăo tomada foi a de distanciamento da idéia de se ?demonizar? o paradigma moderno abstraçăo que conduz a simplificaçăo quando prioriza as generalizaçőes e de ?sacralizar? a escala do indivíduo per si. .Na escolha das formas de encaminhamento ŕs questőes desta pesquisa o conceito-chave selecionado foi o de território. Na história do pensamento geográfico ele năo aparece como conceito que tivesse apresentado maior destaque ŕ exceçăo da tradicional geografia política. Nos últimos anos contudo os geógrafos e alguns cientistas sociais tęm se debruçado sobre a compreensăo do território como uma questăo chave para a compreensăo dos processos sociais. .Todavia alguns desses estudiosos paradoxalmente tęm dado maior ęnfase aos processos desterritorializadores ignorando a dimensăo espacial e sua ineręncia ŕs relaçőes sociais. .Para identificar a importância do território destacou-se o pressuposto de que no caso das migraçőes os indivíduos ao se deslocarem no espaço carregam consigo a sua territorialidade. Entăo foi considerado que a (re)ativaçăo da identidade regional ainda que de forma seletiva consistiu numa das estratégias que permitiu a constituiçăo da territorialidade rio-pedrense. .A abordagem feita sobre o processo de ?invençăo? do Nordeste como uma representaçăo do espaço teve um duplo objetivo: o primeiro demonstrar que ao se ?inventar? o Nordeste havia - embora isto năo aparecesse de forma incisiva ? um processo de apropriaçăo do espaço no qual a identidade regional foi mobilizada com maior força por aqueles que detęm o ?poder simbólico? como assinalado pelo sociólogo Bourdieu. Nesse processo que culminou em benefício de um determinado e reduzido grupo social ? no caso a classe privilegiada ? em detrimento das classes menos aquinhoadas ignoravam-se as suas práticas sociais o vivido os seus espaços de representaçăo o segundo identificar os elementos que atravessaram o processo de des-territorializaçăo dos migrantes sobretudo quando o ?território perdido? aparece relacionado ao esgotamento das suas condiçőes de existęncia..Vale lembrar que na mobilizaçăo do ?poder simbólico? poder executório de regere fines de nomear a coisa de chamar para si o poder da ?di-visăo? elaborava-se um discurso performativo que redundou na criaçăo da identidade regional que reverberou internamente ŕ regiăo Nordeste e com mais força fora dela sobretudo quando é notada a capacidade que os romancistas de trinta (mas năo exclusivamente) tiveram de criar um imaginário envolvendo a nordestinidade..Desse modo pode-se interpretar que uma das condiçőes para a desterritorializaçăo dos migrantes nordestinos que vivem em Rio das Pedras esteve contextualizada ao crescente empobrecimento de grande parte da populaçăo nordestina ainda que houvesse tentativas para atenuar as desigualdades regionais. .A re-territorializaçăo por sua vez aparece contextualizada ŕ urbanizaçăo recente da cidade do Rio de Janeiro na qual se estabeleceu um processo de fragmentaçăo territorial do tecido sóciopolítico do seu espaço urbano segundo acepçăo do geógrafo Marcelo Lopes de Souza. A Baixada de Jacarepaguá onde estăo localizadas ao mesmo tempo a comunidade de Rio das Pedras e a opulenta Barra da Tijuca pode ser um dos exemplos de tal fragmentaçăo..As histórias individuais do grupo social em estudo articuladas ao seu horizonte mais amplo permitiram a confirmaçăo de que a desterritorializaçăo é compensada por uma reterritorializaçăo. Isto induz a que se conteste os apregoados ?processos desterritorializadores? porque neste caso o território aparece desvinculado ŕs suas concepçőes tradicionais sobretudo ŕquelas que o atrelavam ŕ escala do Estado-naçăo moderno. Indica também que quando o território é visto exclusivamente numa única dimensăo o resultado é o seu empobrecimento teórico. A resposta estaria numa perspectiva em que o território pode ter uma visibilidade em que a ęnfase dada seja a de uma ?experięncia integradora da sociedade? segundo proposta do geógrafo Rogério Haesbaert. Esta posiçăo foi adotada para o estudo do processo de des-re-territorializaçăo dos migrantes nordestinos em Rio das Pedras..Desse modo quando foi analisada a trajetória dos migrantes de Rio das Pedras num primeiro momento sobretudo quando a fonte era a fala do migrante o ?território perdido? correspondia a uma concepçăo materialista capaz de garantir direito de acesso e de uso a uma parte ou a todos os membros do grupo social e assim garantia a sua sobrevivęncia. Mas esse território também apareceu sobreposto a uma concepçăo simbólica de acordo com os relatos descritos pelos entrevistados que foram feitos por meio de vozes embargadas envoltos em lamentaçőes sobre a narraçăo do processo de partida..Entretanto quando a abordagem atrelava-se a um contexto mais amplo particularmente a uma análise teórica identificou-se dois outros mecanismos que estăo presentes no processo de des-territorializaçăo. O primeiro diz respeito ŕ questăo da chamada mobilidade forçada como sugere o economista Jean Paul Gaudemar. Trata-se dos dispositivos ligados ŕ concentraçăo de capital em determinadas regiőes. O capital apresenta desta forma a capacidade de detonar uma certa distribuiçăo territorial da populaçăo no espaço econômico impulsionando a mobilidade do trabalho..O segundo se refere ŕs redes sociais aquelas que săo construídas no mundo da vida no cotidiano. De certa maneira elas estăo presentes no processo de des-re-territorializaçăo ou seja participam simultaneamente destes dois processos. As redes sociais apresentam um papel desterritorializador na medida em que podem provocar o processo migratório já que a decisăo de migrar envolve uma negociaçăo no âmbito familiar e além disto nestas redes circulam informaçőes que articulam o lugar de origem com o lugar de destino potencializando os deslocamentos espaciais dos parentes ou de pessoas conhecidas que permaneceram no local onde viviam. Mas igualmente as redes sociais apresentam uma funçăo importante no processo de re-territorializaçăo porque gradativamente săo restabelecidas as relaçőes sociais que os migrantes estabeleciam no lugar onde viviam elas permitem a junçăo do ?lugar da produçăo? do trabalho com o ?lugar do năo-trabalho? da reproduçăo. Contribuem para tornar Rio das Pedras o ?lugar da festa? o ?nó? da rede que abriga os nordestinos de diferentes naturalidades da regiăo recriando as condiçőes para pôr ŕ superfície (e renovar) o seu estoque simbólico dotando o espaço da comunidade de uma ?atmosfera nordestinizada?..As redes sociais apresentam assim a propriedade de fortalecimento do território em que pese a existęncia de algumas interpretaçőes que quando realçam o par fixidez-mobilidade tendem a sobre-valorizar a última onde os lugares (ou os territórios) podem vir a diluir-se a partir de uma ótica em que a lógica das redes se torna dominante..Em alguns momentos entretanto nas observaçőes feitas durante os trabalhos de campo associadas aos relatos de alguns dos migrantes entrevistados notou-se um fraco apego ŕs tradiçőes ao que pertence ŕ cultura regional. As explicaçőes destas situaçőes podem estar associadas ao desenvolvimento tecnológico e ŕ ampliaçăo do consumo sobretudo o de massa cujo impacto mais significativo está na simultaneidade dos eventos em que há uma tendęncia de co-habitaçăo entre o próximo e o distante. E é isto que segundo a interpretaçăo das falas dos migrantes provoca o esquecimento o grande inimigo para a ?invençăo [ou manutençăo] das tradiçőes? e afasta a rememoraçăo o seu aliado (embora possam existir situaçőes em que essa tendęncia năo apresente um caráter desagregador como por exemplo as diásporas).
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Abstract
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Palavras Chave
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FENÔMENO MIGRATÓRIO | PROCESSOS DESTERRITORIALIZADORES
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Key Words
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Tipo
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MESTRADO
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Universidade
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
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Data
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2004
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Páginas
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389
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Localização
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BIG
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uri
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Orientador
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Rogério Haesbaert da Costa
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Programa
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GEOGRAFIA
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Sigla Universidade
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UFF
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Área de Concentração
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Língua
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Português
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email
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