Por uma geografia dos povos a partir de suas comunidades. A teoria comunitária de Éliseé Reclus

Item

Título
Por uma geografia dos povos a partir de suas comunidades. A teoria comunitária de Éliseé Reclus
Terra Brasilis (Nova Série). Revista da Rede Brasileira de História da Geografia e Geografia Histórica
UFF
Autor
Rafael Sá Rego de Azevedo
Assunto
Reclus
anarquismo
geografia
teoria
Abstract
Busca-se uma compreensão do pensamento geográfico de Éliseé Reclus com o objetivo de identificar suas possibilidades e contribuições para o desenvolvimento atual da Geografia, considerando a teoria comunitária como o aspecto central de seu pensamento. Para isso recorreu-se aos textos escritos pelo próprio Reclus, presentes nas coletâneas organizadas por Beatrice Giblin e Manuel Coreia de Andrade e pelo livro A Evolução a Revolução e o Ideal Anarquista. A abordagem original que Reclus tem da Geografia se deve a sua posição política como anarquista. Por isso diferente da maioria dos geógrafos do seu tempo e de hoje, Reclus não vai fundamentar seus estudos no papel do Estado, mas, sim, no papel das comunidades na formação e organização do espaço geográfico. Para compreender a evolução histórica e geográfica de um povo é de primeira importância dar atenção às afinidades que são formadoras desse povo, ou seja, seus costumes, língua, seu processo de formação histórica, etc. O Estado nacional é entendido como uma conformação sócio-espacial recente na história, que deixará de existir ao longo do processo histórico. Já a ação das afinidades comuns é vista como uma influência permanente na organização sócio-espacial dos povos. Reclus considerava que o ponto de partida para a compreensão do desenvolvimento dos povos é entender o movimento das comunidades que compõem esses povos. Além disso, a forma como este geógrafo anarquista entendia as relações sociais dentro do contexto da construção e organização do espaço geográfico pode ser considerada pioneira, pois procurava estabelecer as relações entre as classes sociais e o espaço ocupado e dominado. Reclus foi capaz de perceber a importância das redes, ao entender que elas eram o elemento responsável pela coesão dos territórios. Dessa observação derivam duas idéias férteis: por um lado, o uso das redes como um dos principais mecanismos de dominação do imperialismo vigente na época, e, por outro lado, uma concepção de mundo onde a organização espacial se daria a partir de uma articulação em rede, garantindo a autonomia das comunidades envolvidas. Observou ainda o uso da informação e do conhecimento como mecanismos de dominação a partir das redes de comunicação que se iniciavam na época com o telégrafo. Mas, considerava que, apesar dos meios de comunicação estarem sob domínio das classes e países opressores, também colocam em contato os explorados do mundo todo e esse contato pode representar o germe de uma vida nova, baseada na prática do apoio mútuo e na criação de diversos tipos de associação. A partir daí, ele desenvolveu sua concepção de uma sociedade futura essencialmente comunitária e articulada em rede, que busca o desenvolvimento através da autonomia e estabelece um vínculo estreito entre teoria e prática e entre trabalho manual e intelectual. Ele propõe a utilização do conhecimento geográfico para a transformação das formas de organização da sociedade e do espaço. A Geografia constitui-se, assim, numa práxis social em que as soluções locais são enfatizadas, pois parte de uma política de valorização da diversidade e da alteridade.
issue
7
Date
2016
Língua
pt
doi
10.4000/terrabrasilis.1768
issn
1519-1265
Rights
© Rede Brasileira de História da Geografia e Geografia Histórica
Coleções
Terra Brasilis