BENHUR PINOS DA COSTA

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Título
BENHUR PINOS DA COSTA
Nome Completo
BENHUR PINOS DA COSTA
História de Vida
FAZER GEOGRAFIAS NA RELAÇÃO ENTRE SER PESQUISADOR E PESQUISADO
BENHUR PINÓS DA COSTA, UFSM.

Em primeiro momento gostaria de dizer que será um trabalho difícil escrever sobre mim, tentando constituir exposições importantes de quem sou eu e como eu poderia me avaliar nas relações entre vida pessoal e trajetória acadêmica. Começando este texto, eu tento me esforçar em direcionar meu pensamento sobre o passado vivido, mas o que eu encontro é um conjunto de imagens que saltam à imaginação... E depois se esvaem... Parece-me que existe uma série de inconsistência em que eu não posso me fixar para fazer uma análise duradoura. Além disso, fico preocupado em entender que o que vem ao pensamento seria realmente relevante sobre o pensar sobre mim. Por que eu me pergunto sobre isso? Porque, talvez, o que eu pense sobre mim como importante a ser revelado não se configure em relação com o que possivelmente outras pessoas, amigos ou possíveis leitores (mesmo sendo eles/elas em pequeno número), encontram sobre o que eu tentei compartilhar em mais de 20 anos de carreira.
Está certo que este escrito se alonga por mais de vinte anos, talvez ele inclua certos flashs de pensamentos sobre minha história, mas não sei se isso terá uma configuração continuada, como se fosse uma linha que constitui uma trajetória ou um conjunto de fatos que se sucedem no tempo linear. Isso! Talvez esta ideia me deixe mais relaxado, porque creio que não se precise estabelecer uma linearidade dos fatos ao tentar captar certas imagens de mim em certos lugares, fazendo determinadas atividades e compartilhando quem eu seja em relação aos outros que estive em momentos passados. Então eu irei me esforçar em “segurar firme” pensamentos que se mostram em minha consciência e, talvez, fazer relações com outros tantos que poderão surgir a partir deles. Eu sei que este texto será caótico em termos de compreensão daqueles que querem saber um pouco de mim, mas é o que conseguirei fazer neste momento.
Gostaria de dizer onde me encontro agora. Eu sei que este texto seguirá por vários dias e vários momentos presentes que se tornarão, já, passados. Neste momento estou aqui meio perdido entre coisas pessoais. Estamos em 2020 em que tudo se tornou muito inconsistente e muito repleto de ansiedade. Para mim estão sendo muitas inconsistências, em que o andar na rua se tornou um processo nervoso em virtude da pandemia do corona vírus. Por outro lado, uma sucessão de compromissos de trabalho se torna também difícil de ser cumprida, principalmente devido uma transposição do ambiente presencial para o online. Neste redemoinho de incertezas, minha vida pessoal se encontra conturbada porque me encontro em processo de mudança de residência: esperando uma chave de um apartamento novo e em processo de reforma.
Durante muitos anos de minha vida procurava uma segurança e um aconchego: o ano de 2020, a pandemia e os descréditos colocados por este novo governo à ciência, à educação e ao trabalho retiram de mim todas as certezas e toda a segurança que supostamente eu pensava que teria tido alcançado. Isso me levou a pensar a vida em um momento de cada vez. Por que digo isso? Porque, no sentido profundo de quem seja o Benhur, teria uma força vital muito forte de tentar controlar o futuro, no sentido da busca de um conjunto de afirmações: comigo mesmo; com aqueles com que compartilho minha vida, sendo amigos, amores e colegas de profissão; com a trajetória profissional que escolhi como professor e pesquisador; com tudo aquilo que consegui apresentar de mim e de meus pensamentos em termos de escritas, atividades de pesquisa, de ensino e de exposições públicas em eventos e encontros acadêmicos.
Pois bem, deixemos de lado estas questões presentes e vamos tentar nos apegar a certos fatos vividos, como se fossem imagens que os revelam. Quais as que me vem à tona neste momento? Eu creio que são as seguintes: uma primeira é estar sentado em uma mesa em um evento, creio que em 2003, organizado pelo professor Mauricio Abreu, cujo tema central seria os processos históricos relacionados as pesquisa em Geografia; o segundo e eu estar entrando em uma casa noturna n centro de Porto Alegre, pela primeira vez, denominada “Enigma” no ano de 1994; o terceiro sou eu conversando com minha tutora PET-Geografia-UFRGS, professora Dirce Suertegaray, sobre uma possível pesquisa que queria desenvolver em possível mestrado em Geografia, e o primeiro contato estabelecido com o meu professor orientador Álvaro Heidrich; o terceiro é eu estar sentado à mesa de um bar com três rapazes que tinha conhecido em um processo de seleção de trabalho em 1994 também e a surpresa de sido interpelado como homem gay; o quarto é a imagem de um mapa croqui de um texto de 2000 publicado no Boletim Gaúcho de Geografia; o quinto são dois acontecimentos vividos em momentos diferentes mas que vieram a tona, ou seja, uma pesquisa em uma disciplina de Antropologia feita em caráter optativo na UFRGS e outras duas sobre metodologia da pesquisa ministradas, não lembro as sucessão dos fatos, pelos professor Nelson Rego e Nelson Gruber; uma sexta, ainda, um episódio de violência sofrida em pleno processo de pesquisa estabelecida no parque da Redenção em Porto Alegre. A sucessão de fatos posta aqui não representa, evidentemente, uma sucessão, mas creio que, na descrição e narração sobre eles, irão compor um grupo coeso de inter-relações porque constituem, em mim, fontes de processos intrínsecos que me explicam em uma fase especial de minha vida.
Em 2003 houve a Reunião Internacional da Comissão de Geografia Cultural da União Geográfica Internacional na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Nesta época tinha recentemente defendido minha dissertação de mestrado intitulada “A Condição Homossexual e a Emergência de Territorializações”, de 2002. Já era professor universitário da Universidade Luterana do Brasil desde 2001, mas minha experiência em eventos ainda estava marcada em pequenas formas de apresentações de trabalhos em espaços de diálogo ou grupos de trabalho já constituídos. Acabei inscrevendo este trabalho para apresentar minha dissertação em um evento internacional, mas pensava que seria como uma apresentação em que estava acostumado, como um tempo curto em um conjunto de outros trabalhos como fazia frequentemente nos Encontros Estaduais de Geografia, promovidos pela AGB Porto Alegre em parceria com Universidades do Rio Grande do Sul. Eu coloco este fato porque foi muito marcante em minha trajetória, principalmente pela surpresa e, de certa forma, pelo susto que fui acometido no evento. Acabei tendo meu trabalho aceito e fiquei muito feliz por poder viajar para a cidade do Rio de Janeiro. Na verdade eu queria muito mais aproveitar as oportunidades de diversão desta cidade, vejam que tinha 28 anos na época e estava em plena intensidade da vida na boemia. Pois bem, foi somente quando cheguei ao Rio e fui participar do evento que notei que este estava ocorrendo em um hotel famoso na orla da praia de Copacabana e, além disso, que os trabalhos selecionados estavam constituindo mesas de discussões em que todos os participantes do evento assistiam. Parece meio piegas falar destas coisas, mas para mim, um jovem não acostumado com o glamour dos eventos científicos de grande imponência, foi realmente assustador e constitui uma experiência marcante. Acabei aproveitando muito a cidade naquela semana, mas não tanto quanto estava pensando em fazer, porque tive que preparar de forma muito melhor a apresentação que tinha. Eu não me lembro de quem foram meus parceiros de mesa de discussão, só me lembro de que estava em um salão de eventos deste hotel de costas para uma janela envidraçada pela qual se avistava a praia de Copacabana e à minha frente os/as grandes figurões da Geografia Cultural no Brasil e Exterior: professor Paul Claval, professor Roberto Lobato Correa, professor Maurício Abreu, professora Zeny Rosendahl, professor Werther Holzer, professor Paulo César da Costa Gomes, professor Miguel Ângelo Ribeiro, professor João Baptista Ferreira de Mello, entre outros tantos. Eu não tinha ideia da imponência daquela situação e suei frio para apresentar meu trabalho. Lembro-me de ser aplaudido e que muitas daquelas pessoas ilustres, que eram minhas referências, vieram me cumprimentar. Lembro-me também do professor Paulo César da Costa Gomes fazer um trabalho de campo comigo pela cidade do Rio de Janeiro para me mostrar as territorialidades LGBT´s da cidade. Foi espetacular e considero um marco importante em minha vida acadêmica.
O segundo evento não se refere exatamente a minha vida profissional, mas está relacionada intimamente com ela. Desde minha dissertação de mestrado tenho me ocupado em discutir as formas de encontros de diferenças culturais na cidade e como elas constituem espacializações e/ou territorializações singulares. Este meu desejo de discussão tem se refletido nas minhas experiências pessoais de viver a cidade e, em especial, a Porto Alegre dos anos de 1990. Caso vocês tenham interesse, desde então tenho discutido o conceito de “microterritorialidades” (nas cidades) e até constitui com outros colegas e amigos da Geografia um grupo de discussão neste sentido, que já organizou 5 eventos sobre “Microterritorialidades nas Cidades”. Pois então, minhas “microterritorialidades” são, sobretudo, as dos encontros das homossexualidades, em especial de homens gays. Isso é explicado pelas minhas próprias vivencias da cidade relacionada à minha sexualidade, não somente em relação a ela, mas aos diversos trânsitos noturnos e diurnos que mantive em virtude de minhas afetividades. Então existe neste ensejo outro marco que é pessoal, mas que foi fundante de todos os meus interesses de pesquisa (marcadas por minha individualidade). Este marco é quando entrei pela primeira vez em uma casa noturna especialmente frequentada por homens gays em 1994, no centro de Porto Alegre, denominada Enigma. Na segunda metade dos anos de 1990 frequentava diferentes lugares de diversão noturna da cidade e comecei notar que para cada lugar diferentes formas de interação se teciam. Inclusive em um universo urbano frequentado por mim e por meus amigos como homens gays jovens, diferentes casas noturnas dividiam formas de expressão nossas e de outras pessoas. Durante este tempo de juventude transitei por uma estética juvenil de roqueiro para outra estética vinculada ao movimento clubber da vida noturna de Porto Alegre, especialmente quando comecei a frequentar as festas do “Fim de Século”, em 1997, e também as raves que se espalhavam esporadicamente pela cidade. Esta chegada à boate Enigma foi revelador a constituição de minha homossexualidade: ela efetivamente se firmou e se constitui como realidade a partir de meus vínculos com lugares de diversão noturna na cidade. Foi por isso que o título de meu trabalho é tão expressivo (A condição homossexual e a emergência de territorializações): para mim os “territórios” de encontros de homens gays são/seriam/foram fundamentais para o estabelecimento de uma condição (social) homossexual dos sujeitos. Por outro lado, a própria condição (subalterniza) constituía e tornava emergente estes territórios de encontros específicos. Não sei se tem relação, mas talvez tenha sido conspiração do universo, naquela primeira vez que entro nestes espaços que se parecia como um gueto gay eu me deparo, em primeiro plano, com meu professor de Geografia do ensino médio. Não sei se já falei isso para ele, mas escrevendo este texto me deu vontade de correr e conversar com ele. A Geografia, assim, se funda com minha vida pessoal neste acontecimento. Nesta trajetória eu fui interpelado como homem gay em uma situação de busca de trabalho em 1994. Estava em um processo de entrevista para formação de vendedores no centro e Porto Alegre e conheci dois rapazes que estavam comigo na mesma situação. Depois de esclarecidos os parâmetros dos trabalhos e desistido em assumi-lo, decidimos tomar uma cerveja em um bar de esquina no centro de Porto Alegre. Foi lá, depois de ter saído da mesa de bar e voltado, que os dois rapazes me dizem: “nós somos gays e achamos que você também é”. Eu até ali sentia uma série de desejos confusos não identificados entre heterossexualidade e homossexualidade e nunca tinha tido experiências sexuais homossexuais. Depois de tê-los deixado (e nunca mais os vistos) e ter negado aquela interpelação, eu fiquei pensando sobre quem seria eu mesmo em termos de sexualidade. Ao ingressar na universidade e transferir grande parte de meu cotidiano da cidade de Guaíba (região metropolitana de Porto Alegre) para a capital eu realmente comecei a trilhar o processo de afirmação de identidade como gay (e organizar minhas diferentes experiências afetivas como tal). Eu digo isso porque este processo instituição da identidade foi marcante para mim como todo homem gay e isso tomou conta de todos os aspectos de minhas experiências pessoais e sociais, com a família, com colegas de universidade e com meus pensamentos sobre Geografia a partir de então.
Então, eu estava terminando o meu curso de licenciatura em Geografia no ano de 1998. Foram quatro anos cheios de indefinições, mas, também, de muitas oportunidades. Em primeiro momento a dificuldade financeira de deslocamento para estudar: embora, atualmente, pareça perto, da cidade de Guaíba e o campus da UFRGS na fronteira da zona leste de Porto Alegre com Viamão era, naquele momento, muito longe e muito caro o fazer o trajeto. Os quatro anos de curso mantive uma dificuldade enorme de conseguir emprego para sustentar minhas idas e vindas entre Guaíba e Porto Alegre, mas conseguia manter-me em virtudes de estágios e bolsas de iniciação científica. Fui bolsista PET, na época Programa Especial de Treinamento, hoje com o nome de Programa de Educação Tutorial. Foi neste programa que realmente me formei como professor e pesquisador: atuávamos na educação não formal nas comunidades carentes de Porto Alegre, mas também, em virtude da forte influência da tutora Dirce Suertegaray, trabalhávamos com ensino de Geografia e as pesquisas em Geomorfologia, principalmente em relação aos areais da fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Atuando no PET, como estudante e pesquisador de iniciação científica, encontrei amigos para toda vida, principalmente a professora Claudia Luisa Zeferino Pires (UFRGS), em que trabalhei desde a graduação e, depois, compartilhei o magistério superior no curso de Geografia da ULBRA-Canoas-RS. Depois de ter feito um curso técnico de processamento de dados no ensino médio, assumi o desejo enorme de ser professor de Geografia e mantinha um planejamento à longo prazo de voltar a minha cidade e lecionar na educação básica (um sonho de voltar como professor em alguma das escolas que passei naquela cidade). Já no curso, enfrentei uma série de discursos que valorizavam mais o pesquisador bacharel que o professor licenciado, principalmente compartilhando muitos debates entre colegas de graduação. Ao estar no PET consegui afirmar meu desejo ao magistério, mas pelo viés de ser professor e pesquisador ao mesmo tempo. Eis que em 1998, em virtude da expansão da pós-graduação em Geografia na UFRGS, se constrói no processo de minha vida a necessidade de fazer um mestrado, não necessariamente como necessidade, uma vez que estava mais interessado em atuar na educação básica, mas pela força do contexto de envolvimento de pesquisa. Já em 1998 até 2001 comecei a atuar em escolas privadas, como cursinhos pré-vestibulares e as escolas Santa Luzia, em que compartilhei outra grande amizade com Dariane Rossi, e colégio metododista Americano. Em 2001, já estando no mestrado, ingresso como professor de ensino superior na ULBRA. Mas o que estamos falando são dois contextos marcantes que ficaram na memória: as conversas com a professora Dirce e o professor Álvaro.
Estes dois momentos foram expressivos na afirmação de um pensamento inconsistente, anterior, e inicio de um longo processo de buscas na relação com a pesquisa em que minhas intimidades estão sempre envolvidas. Afinal, o que fora discutido de tão complexo e problemático nestes momentos? Foi discutido um “eu” inquieto sobre o entendimento das experiências que viveu e que vive entre “outros” que se revelaram como importantes na própria produção das ideias sobre como ele (o “eu”) se compreende, empreendendo um conjunto de pensamentos que se processaram em um futuro de pesquisas, de escritos e de falas em diferentes direções. Então, eu estava vivendo a plenitude da juventude e das possibilidades afetivas e de experimentações de emoções da cidade grande: vivia a cidade e seus “pedações” nos quais as juventudes celebravam a vida, a sexualidade e o amor. Estes “pedaços” da cidade vividos por mim estavam no centro de Porto Alegre e os bairros próximos por onde os lugares de encontros se distinguiam, entre eles e entre o dia e a noite. Eu percebia a vida e a cidade em pedações onde corpos diferentes se apresentavam, mas tudo isso estava interconectado por minhas experiências. Mas quem era eu nesta complexidade toda? Que identidade eu poderia assumir? Em primeiro momento múltiplo, em virtude da diversidade de lugares e compartilhamentos intersubjetivos que experimentava, mas um ponto crucial se revelava nos trânsitos de lugares e espaços de instituições sociais do meu cotidiano: a identidade de um homem gay jovem. Esta identidade não só influenciava o conjunto de lugares de diversões que participava, mas também minha vida em casa, na família, na universidade e no trabalho. Foi, então, que decidi que queria estudar a cidade, mas não pelo seu desenvolvimento de uma Geografia urbana no sentido dos processos econômicos, mas como esta Geografia se revelava entre as pessoas e grupos formados em espaços diferenciados. Mas esta visão deveria ser minha como portador social desta identidade gay e de outros amigos em que esta questão social era debatida nos fundamentos de suas experiências afetivas. Mas como trazer isso para Geografia? Nunca tinha visto isso antes! Sabia que existia uma série de estudos fora da Geografia (em 1998 eu não tinha acesso com o que já estava sendo desenvolvido fora do Brasil, talvez somente alguns trabalhos sobre prostituição, como os do professor Miguel Ângelo Ribeiro). Eu comecei a ter acesso através de leituras em disciplinas como a de Antropologia e, muito, em leituras sobre comportamento e sociedade, muitos atrelados à psicologia social, mas também na sociologia e antropologia urbana (muito mesmo vinculada à chamada escola de Chicago). Pois bem, eu construí um desejo de pesquisa para o mestrado: estudar a cidade, mas como ela é produzida a partir de “pedaços” nos quais grupos de pessoas, compartilhando certa identidade, viviam. Foi, então, que procurei a professora Dirce para conversar. Antes disso pensei muito em estudar questões relacionadas à geomorfologia e sistemas hídricos, assuntos que admirei muito durante um tempo, mas meu desejo que estudar o que vivia se tornou muito forte.
Lembro-me muito deste momento de discussão na sala do PET Geografia da UFRGS, em que mantinha muito receio de propor uma pesquisa que se confundia com minha vida pessoal. Quem poderia me salvar? A professora Dirce eu sabia que não, porque a temática se afastava muito no que ela vinha desenvolvendo até então. Eu tinha que adentrar ao mundo de uma Geografia Humana densa no debate sobre identidade e cultura, o que na época apontava para, talvez, embora muito mais envolvido com questões políticas, ao professor Gervásio Neves. Eu acabei me declarando e declarando o conjunto de vivencias da cidade que mantinha para professora Dirce, para construir uma ideia de pesquisa e ver como ela poderia me ajudar em debater uma possível orientação de mestrado. Apontei ao professor Gervásio, mas logo ela compartilhou comigo uma admiração para um pesquisador jovem que se interessava tanto por questões políticas como por questões culturais: o professor Álvaro Heidrich. Na época não conhecia muito o professor, mas a ideia é que seus trabalhos de cunho territorial na interseção entre política, identidade e cultura provavelmente fossem importante para o que queria discutir em termos de cidade. Eu me lembro da primeira conversa que tive com o professor Álvaro em ter que revelar para alguém tão importante uma ideia de pesquisa em que eu me misturava com ela. Assim o momento exato de grande densidade foi perguntar: como eu, como gay, poderia estudar uma geografia de homens gays em Porto Alegre? Não estaria misturando demasiadamente minha vida pessoa com trabalho e pesquisa? Quais os comprometimentos de uma pesquisa séria isso poderia ter? O professor Álvaro sempre foi para mim a figura compreensiva, acessível e acolhedora, mas, ao mesmo tempo, firme, séria e metódica, em termos de relações de ensino e formação de seus alunos. O compartilhamento deste processo de pesquisa com este professor sempre me trouxe uma grande preocupação em termos de estar condicionada a seriedade com que ele nos ensinou em como sermos profissionais. Não sei por que estou dizendo isso e compartilhando estes medos que sempre tive, mas me parece que na ciência (isso ainda é um debate importante) a relação de neutralidade com o universo pesquisado seria uma coisa a se pensar (embora isso já esteja superado). De certa forma, eu sempre trouxe comigo um medo de estar sendo um impostor nos processos de pesquisa e revelar muito mais este eu, que vive tais Geografias, do que o que acontecia realmente, como que se a realidade não fosse aquela que vivo. Mas a frase chave e tranquilizante, que foi dita, mudou para sempre minha vida. Lembro-me do olhar carinhoso, sincero e acolhedor do professor Álvaro, ao mesmo tempo consistente em termos de me conduzir a uma trajetória profissional futura: “Benhur, porque você não poderia estudar o que você está me apresentando? Não seria possível um gaúcho estudar o Rio Grande do Sul ou então seu povo e sua identidade?”. O professor me mostrou, neste debate longo que tivemos, durante três anos de mestrado e três anos de doutorado, que eu poderia fazer pesquisa e tendo nela o próprio compartilhamento de minhas experiências com outros que vivo e vivi nos “territórios” de encontros de pessoas homossexuais. Foi por este caminho metodológico, às vezes nem tão explicitado, que trilhei tudo em Geografia até então. É claro que isso já tinha construções consistentes, como falei, em um conjunto de momentos vividos durante a graduação, principalmente na disciplina de Antropologia, compartilhada com o professor João Batista, e as disciplinas de professor e metodologia da pesquisa, com os professores Nelson Rego e Nelson Gruber. Mas foi nesta conversa que tudo começou a se traçar verdadeiramente para minha vida profissional, em uma relação sempre paralela em me entender nestes processos.
O fato é que, ao contrário que se pareça, foi um desafio escrever, no sentido de pensar metodologicamente uma pesquisa e estabelecer uma discussão teórica, sobre algo que estava próximo a mim e, até mais, sobre como poderia explicar minhas experiências e também as experiências dos outros com que vivia: estes outros muito próximos, como meus amigos, mas também desconhecidos que compartilhavam comigo lugares ou, como chamei depois, territorializações de encontros de pessoas com orientação sexual homossexual (principalmente homens gays). Os primeiros lançamentos a este trabalho foram às aprendizagens estabelecidas nas disciplinas de Antropologia I e II, em que deveríamos desenvolver uma iniciação científica de pesquisa etnográfica, por onde concentrei meus esforços na observação participante em espaços de sociabilidades gays de Porto Alegre, sendo estes em casas de diversões noturnas e lugares públicos pelos quais homens gays se encontravam para festejar coletivamente ou, de forma mais tênue, em relação a uma presença mais velada, de busca sexual (a chamada “pegação”). Pois bem, este projeto se delineou nestas disciplinas de graduação e também naquelas de metodologia da pesquisa na Geografia, como citei anteriormente, em que o desafio, para mim, era falar das minhas experiências como se fossem experiências dos outros (conhecidos ou não), que eram compartilhadas nos territórios de encontros de homens gays. Minha preocupação maior seria, então, tentar um afastamento para que minha pesquisa fosse realmente válida e a pergunta principal que me vinha sempre é: será que tudo isso que estou observando não seria, efetivamente, imaginações específicas minhas? A tratativa principal seria, então, encontrar um conjunto de acordos tácitos firmados nestes lugares, como se estivesse encontrando um grupo de atributos, caracterizações e processos de interações comuns a todos que estavam ali. É claro que, mesmo na busca pelo afastamento, tudo que observava seria observado por mim e todos os resultados que obtive nestes trabalhos (até os que se desenvolvera depois) eram perspectivas de observações, além do mais, de ações, minhas, mas eu sempre me ocupava na conversa, na investigação referente ao que os outros me diziam frente aquilo que estava observando. Estes problemas foram delineados desde estes momentos da graduação, mas me acompanharam durante todos os três anos de mestrado (defendi a dissertação em 2002) e de doutorado (defendi a tese em 2008), mas me acompanham até hoje. Isso se confirma pelas pesquisas e textos produzidos na pesquisa de pós-doutoramento estabelecida na cidade do Rio de Janeiro em 2018, com tutoria da professora Rosemere Santos Maia, na Escola de Serviço Social da UFRJ.
Pois então, esta foi à trama de problemas que encontrei no meu início de abordagem sobre “microterritorialidades” gays de Porto Alegre-RS. E aí temos esta questão da categoria denominada território, do seu prefixo “micro” e de seu sufixo “dade”. Esta construção categórica fora estabelecida somente no desenvolvimento da tese de doutorado e ela aponta para uma metodologia concentrada nas análises de sujeitos-chaves que me diziam sobre como se sentiam nas experiências estabelecidas em determinados espaços de encontros gays de Porto Alegre. Como percebem, o problema da relação entre mim e o outro no processo de pesquisa se desenrolou durante muito tempo e somente no doutorado estes outros se tornaram mais evidentes como pessoas singulares que poderiam dizer o que acontecia em determinados espaços em que eu convivia. Eu poderia dizer que a dissertação de mestrado “A Condição Homossexual e a Emergência de Territorializações”, de 2002, se ocupa com um conjunto de trocas de informações obtidas e pelas observações participantes em diferentes espaços de convivência de homens gays. Meu desafio era reunir este conjunto de observações e de conversas informais com aqueles diversos que falava a cada noite em boates gays diferentes de Porto Alegre e em espaços diurnos pelos quais transitavam e se encontravam tais homens, no sentido de estabelecer diferenças de comportamentos e atividades de interação coletiva. Além da Antropologia Urbana, a sociologia da Escola de Chicago esteve sempre presente nesta empreitada. Neste sentido, as “territorializações” descritas neste trabalho são conformações espaciais de um conjunto de sínteses trazidas de observações e narrativas subliminares dos outros trazidos das experiências minhas destes lugares. Mas minha preocupação principal era encontrar uma diferença coletiva que marcava a identidade do espaço de encontro e o diferenciava de outro. Primeiro os espaços de encontros de homens gays eram marcados como territórios no espaço da cidade, ou seja, apresentavam uma diferença característica e apresentava fronteiras sobre os comportamentos e formas de sociabilidades estabelecidas. Encontrei, assim, na categoria de território os fundamentos da diferenciação dos espaços, das fronteiras que demarcavam estas diferenciações e dos processos de apropriações estabelecidas por uma coletividade marcada por uma identidade. Em primeiro momento, a identidade seria a questão específica de uma orientação sexual que não poderia ser expressa comumente em espaço público, o que fazia estabelecer ligações de convivências entre um conjunto de espaços gays; em segundo este conjunto era diverso internamente, ou seja, cada boate de Porto Alegre ou cada apropriação estabelecida em o que seria o espaço público, durante a noite e durante o dia, apresentava, também, uma diferença sobre como as pessoas compartilhavam certos atributos e comportavam em uma suposta estruturação de uma identificação ao lugar. A perspectiva da apropriação estava condicionada à definição social da identidade homessexual (gay), mas a produção local daqueles que buscavam certas interações especificas dentre os diferentes espaços de sociabilidade gay de Porto Alegre. Percebo que a necessidade de estabelecer estruturações nestes trabalhos se encontra em duas camadas: em primeiro momento todas as territorializações gays de Porto Alegre eram territórios principalmente pela condição social de uma identidade homossexual; em segundo cada territorialização representava para aqueles que estavam lá compartilhando um conjunto de atributos interacionais diferentes de outras territorializações gays na mesma cidade. Este foi meu problema e o conceito de território, assim, foi útil, mas precisava ser discutido melhor. Os trabalhos dos professores Marcelo Lopes de Souza e Paulo Cesar da Costa Gomes foram úteis para entender território em uma escala micro, no sentido das diferentes apropriações de grupos sociais que demarcavam a cidade do Rio de Janeiro, mas para mim eu não poderia ver como um território conformação política formal, mas processual, em que fronteiras se contraiam e se alargavam, em que encontros e apropriações eram ativadas e desativas em sobreposições e justaposições com outras, em que a presença tênue também poderia ser vista como demarcação e que os períodos curtos de existências poderiam ser demonstrados.
Mas as diferenças seriam, para a observação de um geógrafo social como eu, um problema de debate. Foi assim que precisei buscar territórios muito distantes daqueles que convivia: o da prostituição das travestis. No meu trabalho, no Porto Alegre dos anos de 1990 e 2000, existiam espaços de prostituição marcados de homens michês, em espaços públicos e em casas noturnas específicas. Estes espaços eram mais facilmente acessados por mim como homem gay e por meus informantes e colaboradores. Aliás, este período eu observei fortemente o transito da prostituição masculina que começou a se tornar rara na apropriação do espaço público e se tornar confinada em espaços privados destinados especificadamente a estas atividades (este foi também a preocupação de análise do professor Miguel Ângelo Ribeiro no Rio de Janeiro). Interessante como nesta época as discussões sobre identidades de gênero e orientações sexuais não nos traziam a multiplicidade que encontramos hoje. Na época eu me lembro de que tínhamos a sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), inclusive eu me preocupava com territorializações que eram especificadamente de homens gays, mas também de mulheres lésbicas (como a casa noturna Vitraux naquela época) e, o que me trazia muito interesse de discussão, os espaços de simpatizantes em que convivia. A Porto Alegre dos anos de 1990 e início dos anos de 2000 fora lugar de presença da cultura clubber em que compartilhei fortemente, principalmente a casa noturna “Fim de Século”, nas quais pessoas heterossexuais e homossexuais compartilhavam a celebração da música eletrônica que se misturava com certos aspectos do rock. Era claro para mim que a casa noturna Vitraux, de muita presença de sociabilidades lésbicas, era diferente da casa noturna “Enigma”, como uma expressão de um gueto de homens gays, como as casa noturnas “Ocidente” e “Fim de Século”, nos quais uma diversidade de pessoas de diferentes identidades de gênero e orientações sexuais transitava, como os chamados espaços de “simpatizantes”, mas embalados, principalmente, pela cultura clubber e pela música eletrônica e por onde, na pista de dança, experimentações do gênero e da sexualidade se demonstravam ora fixas ora fluidas. Eu comecei a viver o inicio da cultura drag, na época transformista, em Porto Alegre, principalmente no domingo na boate Vitraux e na casa noturna “Discretos”, na cidade baixa (inclusive nesta casa artistas transformistas nacionais se apresentavam). Lembro-me de um namorado de um grande amigo meu na época fazer um show de drag da performance da música Erótica do show “The Girlei Show” da Madonna, expressão máxima da contravenção e possibilidade de expressão das diferenças de sexualidades na época: fora um show de drag. Mas as travestis ou mulheres trans ainda não faziam parte das minhas experiências. Foi então que decidi me aventurar ainda mais na observação dos espaços de prostituição de Porto Alegre: a das travestis. Eu transitava livremente por entre os espaços noturnos de Porto Alegre, caminhando a pé e de transporte público para lá e para cá. Eram noites tranquilas em que me sentia seguro. Lembro-me de estar nas noites quentes de madrugada com amigos no Parque da Redenção (lembro-me de muitos amigos dormirem na Redenção muito bêbados depois de uma noitada de balada, risos). Mas a evidência do território se mostrou forte para mim ao me aventurar em um território de prostituição que existia no Parque da Redenção, nas margens da avenida João Pessoa. Em uma noite de outono, em que o tempo já começava a esfriar, senti a necessidade de estabelecer um contato forte neste espaço, me apresentar como pesquisador e trocar algumas ideias com elas. Não consegui: que ingenuidade a minha, como poderia me aventurar assim sem ter alguém que me apresentasse e sem ter um planejamento de contato anterior. Comecei a transitar observando elas em primeiro momento, a ideia era me fazer presente aos poucos e depois começar a fazer certas amizades. Consegui transitar sutilmente por entre este território, muito à margem, durante umas três semanas, algumas vezes consegui conversar com uma ou outra nas margens deste território, mas em uma noite em específico, por entre as árvores e na escuridão, elas começaram a gritar: “sai daqui bicha homem!” e vieram correndo ao meu encontro. Minha reação foi fugir correndo com todas as minhas forças. Foi uma experiência marcante de pesquisa e convivência mal sucedida: é claro que elas poderiam me receber melhor se tivesse elaborado outra estratégia de pesquisa (o que somente a experiência, com um tempo, irá me proporcionar), mas eu estava já transitando por entre o lugar algum tempo e me demonstrando muito pouco claro quanto minhas intenções e fui confundido com alguém que estava atrapalhando o trabalho delas. Embora da minha experiência mal sucedida, eu creio que foi neste momento, de quase violência de encontro com corpos e identidades muito contrastantes, sem clareza das intenções de contato, que eu percebi a demarcação forte das identidades e das atividades espaciais em um mundo diverso LGBT de Porto Alegre. Foi então que o território se transformou no centro das minhas intenções.
Deste bloco de eventos relativos às minhas experiências de vida, que evidencio como passagens importantes da constituição de minha vida profissional, creio que posso indicar uma publicação que concentra aspectos importantes de todo este contexto: o texto se intitula “Diversidade Cultural e territorializações intra-urbanas: tomando com exemplo o centro de Porto Alegre/RS”, do Boletim Gaúcho de Geografia do ano de 2000. Este texto é muito interessante porque demonstra meu interesse de discutir o espaço urbano relacionado à diversidade de expressões culturais que se territorializavam no centro da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. A discussão gira em torno da cidade pós-moderna e da multiculturalidade, mas trago isso na questão de constituição de territórios de diferentes grupos culturais urbanos. O mais interessante, ainda, são duas figuras que organizei a mão como se fossem mapas da distribuição de diferentes grupos de socioculturais e suas apropriações espaciais. Os mapas são do tipo croquis criados como se fosse uma cartografia experimental ou artesanal. Durante muito tempo eu tive vergonha destes mapas, principalmente por eles demonstrarem uma fraqueza minha quanto às representações cartográficas, mas hoje vejo com tanta potencialidade e representam justamente meu período de grande esforço de trazer minhas experiências e observações participantes sobre diferentes grupos com que convivia nas noites e dias do centro de Porto Alegre para o diálogo com a Geografia. Era uma Geografia muito especial e diferente para mim: uma Geografia que poderia trazer uma apresentação e discussão sobre o cotidiano dos encontros de diferentes grupos sociais no espaço da cidade. Muitas foram às dúvidas quanto ao que estava escrevendo, principalmente se o que eu estava apresentado ali, em virtude de minhas caminhas e convivência nestes agregados sociais do centro da cidade, seria mesmo realidade do que se passava entre as pessoas. É claro que foram observações ainda muito superficiais, principalmente pela minha falha na formação etnográfica, mas creio que os valores das ideias colocadas ali representam uma tentativa de abrir uma forma de estudar Geografia diferente, pelo menos para mim. Mas além desta publicação eu tenho outra que até hoje foi a que me rendeu maior número de citações.
Em 2004, um ano depois de estar no evento da UGI no Rio, participei do IV Simpósio Internacional do NEPEC. Interessante que esta década de 2000 a 2010 foi muito importante para projeção pública de meus pensamentos em eventos. Eu participei do evento da UGI, do evento do NEPEC (Simpósio de Espaço e Cultura) de 2004 e de 2008, e, ainda, ingressei na rede NEER, em 2007, como participante do Colóquio do NEER em Salvador, organizado por Ângelo Serpa. Foram desses eventos que três importantes publicações surgiram: a primeira o capítulo do livro “Geografia: temas sobre espaço e cultura”, de 2005, da coleção “Geografia Cultural”, organizados pelos professores Robato Lobato Corrêa e Zeny Rozendahl, intitulado “As relações entre os conceitos de território, identidade e cultura no espaço urbano: por uma abordagem microgeográfica”. Este texto até hoje foi o que mais fora utilizado em citações por outros autores. Nele, como no outro do BGG, eu me ocupo ainda da produção do espaço urbano a partir da constituição de grupos socioculturais diferenciados, em que suas separações constituíam territórios. É muito forte a influencia de trabalhos dos professores Paulo Cesar Gomes, em se pensar uma “microgeografia” e, por este viés, que uma grande preocupação minha, o conceito de “microterritorialidades”, posteriormente, se tornou foco de debate de muitos outros textos. Minha participação no evento do NEPEC de 2008 (mesmo ano e semana que fiz o concurso para Universidade Federal de Santa Maria, na época estava na UFAM) rendeu a publicação na revista Espaço e Cultura, de 2010, denominado “Espaço Social, Cultura e Território: o processo de territorialização homoerótica”. Neste texto eu trabalho uma Geografia da ação e da constituição da identidade a partir das vivências territorializadas das homossexualidades no espaço social urbano. Utilizo muito a ideia da constituição da identidade homossexual estigmatizada e produzida social e diretamente intrínseca as experiências dos sujeitos e suas práticas homossexuais: a constituição da identidade homossexual se processava dependente do território e haveria momentos cruciais para sua emergência. Da participação do evento do NEER, em 2007, foi publicado o texto “Reflexões sobre Geografia e homoerotismo: representações e territorialidades”, do livro organizado pelo professor Ângelo Serpa “Espaços Culturais: vivências, imaginações e representações”. Neste texto me esforço em entender como se dão as representações sobre as homossexualidades, como elas constituem uma identidade e um conjunto de experiências cotidianas dos sujeitos homossexuais e como existe uma Geografia que entrelaça sujeito, espaço e identidade, quando a homossexualidade se configura como uma identidade subalternizada socialmente. Desde então, a perspectiva das representações sociais, que definem identidades dos corpos (sociais), se mistura a um interesse de entender como as pessoas se percebem e percebem os espaços coletivos que vivem na cidade. Sempre é uma relação e contradição entre um social (ou uma cultura e coletividade) que produz o sujeito, ao mesmo tempo um fugitivo destas representações que se estabelece como uma autenticidade e diferença. Nesta década muitos outros eventos atravessam estas três histórias de participações e publicações principais. Muitos eventos foram organizados por mim na ULBRA Canoas em parceria com a amiga Claudia Luisa Zeferino Pires (agora UFRGS) e depois na UFAM, em parceria com a amiga Amélia Nogueira. Os eventos sobre Múltiplas e Microterritorialidades nas Cidadades constituíram a rede de pesquisadores sobre tais temas em que me dedico totalmente na atualidade. Os eventos ocorreram na ULBRA em 2004, na Unioeste Francisco Beltrão em 2007, na UFRJ em 2010, na Unesp Presidente Prudente em 2012, na UFRGS em 2014, na UEPG em 2016 e na Unesp Presidente Prudente em 2018. Nestes eventos que constituíram parcerias e amizades importantes da Geografia, principalmente a amiga, desde a graduação, Claudia Pires; a professora Joseli Silva, que tinha conhecido no evento do NEPEC, Simpósio de Espaço e Cultura, em 2008 (eu, Joseli Silva, Márcio Ornat e Miguel Ângelo Ribeiro compartilhamos uma mesa de discussão sobre gênero e sexualidades); a professora Rosemere Santos Maia, que tinha conhecido no evento do SIMPURB em Recife em 2003 (e que em 2018 foi minha tutora de pós-doutoramento no Serviço Social, além de banca de minha defesa de doutorado em 2008); o professor Nécio Turra Neto, que tinha conhecido no ENG de Goiânia em 2004; a continuação das parcerias com Álvaro Heidrich (meu orientador da UFRGS); a amizade com Antonio Bernardes, que me ajudou muito na pesquisa CNPQ Universal, estabelecida em Presidente Prudente, em 2014. Destes eventos surgiram outras publicações importantes que ajudei a organizar e contribuo com textos, principalmente abordando o debate sobre microterritorialidades.
O fato é que o tema das “microterritorialidades” se tornou minha perspectiva de estudo principal, desde o texto de 2000 do Boletim Gaúcho de Geografia, pelo qual, por um processo “etnogeográfico”, procurava entender as condições de identidade de determinados grupos e suas sociabilidades, que se diferenciavam em “cantos” e “pedaços” da área central da cidade de Porto Alegre. Mas por qual viés que estudei/estudo as “microterritorialidades”? Pelo viés de um “eu” como homem gay e de outros homens gays e pessoas com que compartilho um grupo social LGBTQI+. Mas não ficou somente neste aspecto da pesquisa pura no sentido de um conjunto de observações participantes em que eu estudo os outros e a mim mesmo nos contextos de pesquisa. Aliás, nunca me esquecerei da pergunta feita pela professora, tutora de pós-doutorado e amiga Rosemere Santos Maia, na minha defesa de doutorado (não lembro exatamente a frase como fora feita, mas foi mais ou menos nesta forma que irei demonstrar): “você disse que faz observação participante, mas como você se explica no processo de pesquisa, a observação participante não seria uma participação observante”? Desde lá eu me “debato” nesta relação do pesquisador como sendo o próprio sujeito pesquisado e me esforço para entender as relações entre “mim” e os “outros” com que convivo em um universo de sociabilidades em que faço também parte. Bom, isso já fora debatido anteriormente aqui. Mas é importante renovar sempre este aspecto no texto porque isso condicionou meu comprometimento social além de um interesse de produção científica em um espaço acadêmico: meus esforços de engajamento nos movimentos sociais e nas atividades de educação informal a partir de projetos de ensino e extensão. Eu posso dizer que este entrelaçamento entre pesquisa, ensino e extensão não é fácil para mim, às vezes penso que os caminhos e processos são muito separados um dos outros e dispares, mas também creio que uma atuação e outra tragam aquisições de conhecimento que acabam fomentando a tríade e fazendo-as estarem em relação. Posso dizer que meus esforços de encaminhar a extensão universitária sempre acompanhou minha formação, desde as atividades do PET, como argumentei no inicio do texto, mas elas tomaram consistência como coordenador de projetos pelos vínculos como professor universitário, desde a ULBRA, compartilhando projetos em comunidades de Porto Alegre e Canoas com as amigas e parceiras Claudia Luisa Zeferino Pires e Heloisa Lindau, perpassando as atividades na UFAM, Manaus, construindo minhas inserções iniciais nos Movimentos LGBTQI+ de Manaus e, principalmente, a partir de 2009, no meu engajamento com lideranças dos movimentos LGBTQI+ e de luta pela moradia em Santa Maria-RS. Minha trajetória de extensão, mais atual, se revela em duas frentes, então: a das causas políticas de reconhecimento da população LG BTQI+ e dos problemas de populações carentes de ocupações urbanas da cidade de Santa Maria-RS. Junto ao movimento LGBTQI+, principalmente entre a ONG Igualdade e o Coletivo VOE, fiz inúmeras amizades, com as lideranças Marquita Quevedo, Verônica, Cilene Rossi, Nei D´Ogun e Gabriela Quartieiro, em que pude compartilhar e ajudar na organização de inúmeros debates em diferentes instituições e lugares de Santa Maria e também inserir isso no contexto da UFSM. Nossas atividades concentraram-se em duas frentes: desenvolvimento de projetos de ensino e extensão em escolas da cidade, promoção de debates sobre reconhecimento social da população LGBTQI+ na Universidade e em situações públicas de eventos especiais como semanas que acompanhavam as paradas livres de Santa Maria/RS. As necessidades de engajamento nestas atividades fizeram fortalecer meu grupo de pesquisa e Laboratório de Espacialidades Urbanas na UFSM, assim como estabelecer parcerias como inúmeros alunos de graduação, mestrado e doutorado, em especial Ana Justina Ziegler. Com a Ana, que estabelece seus estudos sobre gênero em bairros de ocupações urbanas da cidade, em especial a Nova Santa Marta, acabei me dedicando muito em atividades de ensino em escolas do bairro, sempre, a partir dela, e da liderança Nilda do MNLM, debater o problema da moradia na cidade. Mas a extensão não é um processo fácil também, principalmente em relação às questões de identidade. No movimento LGBTQI+ eu transito entre diferentes problemas: a de ser um homem gay, que está vinculado ao contexto de atuação, e de ser um professor universitário. Além disso, existem muitas divergências em termos de posicionamentos políticos no movimento LGBTQI+, especialmente em Santa Maria, e o desafio é estar balizando estes diferentes atravessamentos na minha atuação: relações de amizades com companheiros e companheiras dos movimentos sociais, o que aproxima e o que afasta minha identidade de homem gay e professor universitário, as diferentes disputas políticas dentro dos movimentos sociais, o que gera confortos e desconfortos em relação a minha atuação, meu “eu” na relação com os outros em nossas trajetórias políticas compartilhadas. Nas escolas os contextos também apresentam aspectos parecidos, afinal, trabalhar questões de gênero e sexualidades na escola não é uma tarefa fácil e depende muito como a comunidade escolar (a escola em si e o contexto comunitário em que está servindo) entende e recebe tais propostas de projetos. Sempre é um desafio fazer extensão, sempre toma muito tempo e dedicação e sempre causam incertezas e ansiedades quanto nossas capacidades. Muitas vezes o desenvolvimento dos projetos não alcançavam os resultados esperados (que sempre foram muitos), mas aprendi a pensar que, às vezes, simples atuações causam reverberações intensas e nem sempre tudo que dá errado é errado, mas poderá ser visto como novas formas de acertos.
Mas sempre meus interesses foram voltados para um olhar para a cidade e suas diferentes e plurais construções de territorialidades das pessoas que vivem nela compartilhando sozinhos seus trajetos e estabelecendo encontros com outras em sociabilidades. Neste sentido, como uma forma de discussão de produção textual, sempre a perspectiva do debate da microterritorialidade é foco de meus textos. O território é o fio condutor e para minha trajetória ele se desenrola em alguns problemas: devido o engajamento em atividades de extensão, a teoria do reconhecimento social via escola de Frankfurt, em especial Axel Honneth, tomou fôlego no debate sobre como estas condições de sociabilidades territorializadas implicam reconhecimento social de pessoas que demandam isso (perspectiva das pessoas como singularidades e suas conjunções coletivas para obterem reconhecimento em espaço público); por outro lado a questão da identidade também é um problema, o que transita entre perspectivas mais sociológicas no sentido das relações sociais e coletividades, mas também em perspectivas mais descontrucionistas (da identidade, via teoria feminista de Butler, e filosofias das intimidades e diferenças em Deleuze e Guattari) em se pensar além da identidade a relação das pessoas, suas construções como sujeitos das identidades, e todas as diferenças que as tornam únicas. Isso causa uma perturbação em se pensar a cidade por vieses das microterritorialidades: perturbação esta que gera o problema da discussão referente à intimidade das pessoas, seus grupos de sociabilidade e suas condições de identidades sociais, que refletem em como elas marcam a cidade por suas singularidades e sociabilidades. Esta tem se tornado uma trajetória importante sobre o que penso e como me expresso nos textos que foram publicados. Nestes aspectos eu posso apresentar um caminho de um grupo de textos que pensam isso. Vamos ver...
Trazendo para os tempos mais atuais, creio que o texto que fora publicado em 2020 na revista “Geograficidade” explica um pouco as constituições e mudanças que os meus pensamentos sobre as microterritorialidades homossexuais passaram. O texto se intitula “Perspectivas relacionais em Geografias Culturais e em estudos sobre microterritorialidades das homossexualidades”. Este texto parte de um texto de Paul Claval intitulado “Geografia Cultural: o estado da arte” publicado no livro “Manifestações da Cultura no Espaço” organizado por Roberto Lobato Corrêa e Zeny Rosedahl, em 1999. Claval argumenta a necessidade de se pensar a Geografia Cultural em uma perspectiva relacional e percebi que este sempre foi minhas intenções: além de meras intenções representou uma necessidade em termos de fenômenos que vivia, como homem gay, e com quem compartilhava observações empíricas em experiências de pesquisas de observações participantes (ou, conforme Rosemere Maia, “participações observantes”). O que representa esta perspectiva relacional: uma necessidade de entender relações espaciais (no meu caso, territoriais) entre sujeitos, grupos de sociabilidades imediatas e sociedade. Interessante que isso representa três esferas epistêmicas que já são complexas de serem intendidas: imaginem de serem conectadas.
No primeiro aspecto existe a sociedade e suas produções históricas de identidades, que definem os atributos dos corpos, dos comportamentos e de quem seja as pessoas como sujeitos sociais. A relação entre sujeito e sociedade é complexa e partem de convergências e divergências vividas realmente nas intimidades das pessoas, em uma relação entre subjetividade e objetividades, em outra relação entre individual e social, no sentido de pensar como as pessoas se identificam e se interpretam perante o que existe de objetivo no espaço social (ou em um sintoma estruturante da sociedade). Perpassando isso, existe um aspecto imediato que vida em sociedade que é as interações estabelecidas pelas pessoas em grupos imediatos em seus cotidianos, o que estabelecem relações ora acondicionadas as instituições sociais normalizadas ora a novas e/ou divergentes e/ou orgânicas (produzidas não pelo que se aprende como ser em sociedade, mas pela convergência de interesses relacionais mais direcionados aos desejos e formas de entendimento de si das pessoas) configurações de agregações coletivas singulares, muito destinadas às experiências em diversões e compartilhamento de desejos e afetividades. Dessa forma, esta perspectiva relacional talvez tente pensar aquilo que é ao mesmo tempo (geografias) social, cultural e individual (própria das pessoas e suas relações imediatas entre objetividade e subjetividade). Sempre me pareceu que as microterritorialidades são “formadas” em termos destas interseções. Foi isso que procurei demonstrar nestes textos em termos de como meus escritos tentaram, de forma insuficiente, a explicação destes fenômenos, em termos de como as pessoas ditas homossexuais estabelecem seus cotidianos e se especializam (territorializam) no espaço social. Mas nesta trajetória poderia fazer a conexão de alguns textos publicados que debatem (ou se “debatem”) nestas preocupações. Interessante que tais textos acompanharam projetos de organização de publicações que representam os resultados dos eventos “Múltiplas Territorialidades e Microterritorialidades nas Cidades” compartilhados como o grupo/rede de múltiplas e microterritorialidades. Então este grupo e estes eventos foram sempre muito importantes para me constituir como pesquisador, pensador e escritor.
O primeiro texto se intitula “O espaço social, os sujeitos e as múltiplas microterritorializações urbanas: o caso das agregações homoeróticas”, publicado no livro organizado por mim, Silvia Regina Pereira e Edson Belo Clemente de Souza, intitulado “Teorias e práticas territoriais: análises espaço-temporais”, de 2010. Este livro foi publicado como resultado das mesas de debates produzidas no evento “II Seminário sobre Múltiplas Territorialidades” coordenado pelo professor Marcos Saquet na Unioeste de Francisco Beltrão-PR. Este texto foi resultado da mesa sobre “microterritorialidades nas cidades” que compartilhei com o amigo Nécio Turra Neto da UNESP Presidente Prudente. Procura pensar algumas questões fundamentais da interseção que falei anteriormente, principalmente a relação entre sociedade e comunidade em uma perspectiva das produções espaciais para se chegar a explicação das microterritorialidades de sujeitos homossexuais. Neste momento eu uso o termo homoerotismo para também entender que as homossexualidades são plurais e convergem as afetividades diversas de pessoas pensadas como homossexuais em virtude da variabilidade dos desejos e prazeres homoeróticos e de como cada pessoa se insere em sociedade e em agregações microterritoriais e/ou comunitárias para exercê-los.
Outro texto que desenvolve esta perspectiva relacional da Geografia Cultural, para os meus estudos de microterritorialidades de sujeitos homossexuais, foi o texto publicado no livro “Maneiras de Ler Geografia e Cultura”, organizado por mim, pelos amigos e parceiros do grupo microterritorialidades Álvaro Heidrich e Cláudia Pires, em 2013. O texto se intitula “Microterritorialidades: uma relação entre objetividade do espaço, cultura e ação intuitiva do sujeito”. Este texto não partiu do evento do grupo múltiplas e microterritorialidades, mas do evento da Rede NEER que organizei junto com estes colegas em 2011 na UFSM (IV Colóquio do NEER). O livro representa um conjunto de textos desta rede que faço parte desde 2007, no evento de Salvador. Este texto começa discutindo as diferenças de estudos sobre microterritorialidades homossexuais da dissertação de 2002 à tese de 2008. O aspecto principal é pensar que o espaço social já existe como abstração e materialidade estrutural e estruturante das relações dos sujeitos sociais (serve para estabelecer os comportamentos e quem sejam os sujeitos que vivem e apreendem as normalizações dele), mas convoca a se pensar as microterritorialidades na constituição de coletividades espaciais dissidentes como culturas de resistências de subjetividades que agem em dissonância ao que está estabelecido como “normal”. É por isso que existe a ação intuitiva dos sujeitos, como se fossem algo próprio deles além do que a sociedade estabelece como suas identidades. Isso produz necessidades de agregações tipo comunitárias que se territorialização e tornam o que seja espaço social múltiplo de diferenças de encontros.
Neste caminho, posso lembrar cinco textos que se ocupam com a constituição de microterritorialidades homoeróticas em diferentes contextos urbanos, no sentido de evidenciar como o encontro de pessoas orientadas sexualmente para o mesmo sexo precisa das apropriações de partes do espaço urbano para efetivarem suas práticas homoeróticas. Nestes textos encontramos o problema da identidade, uma vez que existem diferenças entre microterritorialidades construídas por um forte sentimento de identidade (homossexual ou de homens gays, no caso do meu estudo) ou aquelas em que s práticas homoeróticas prevalecem sem determinar a identidade de seus participantes dos espaços de encontros (como lugares de busca de encontros sexuais em espaços públicos). O primeiro texto é uma abordagem teórica que explica a formação das microterritorialidades vinculadas à produção de identidade homossexual estigmatizada, ou seja, em virtude da identidade social as pessoas participam de espaços de encontros homossexuais na cidade e por este sentido coletivo os espaços são marcados e apropriados. Este texto, já citado aqui, foi publicado na Revista “Espaço e Cultura” de 2010 e se chama “Espaço Social, Cultura e Território: o processo de territorialização homoerótica”. Interessante este texto porque busca pensar o território a partir dos processos de territorialização de sujeitos munidos de uma identidade social específica e organiza este processo a partir de supostos estágios de constituição da identidade homossexual. Para esta identidade o (micro) território é essencial, assim como para ele a identidade também o é. Deste bloco de textos teremos dois outros que se referem a pesquisa financiada pela FAPERGS (Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio Grande do Sul), edital ARD (Auxílio Recém Doutor) denominada “Cidades, espaço público e diversidades culturais no interior do Estado do Rio Grande do Sul: o caso das microterritorializações de expressões homoeróticas e/ou homoafetivas em contextos urbanos próximos à Santa Maria-RS”. Os dois textos foram publicados na Revista Latino-Americana de Geografia e Gênero no volume 3 em dois úmeros (1 e 2) de 2012. Ambos os textos começam com o título “Pequenas cidades e diversidades culturais no interior do Estado do Rio Grande do Sul: o caso das microterritorializações homoeróticas...”, só que o primeiro número os estudos discutem as cidades de “Santo Ângelo e Cruz Alta” e no número 2 “Santa Maria, Bagé, Alegrete, Uruguaiana e Itaqui”. A pesquisa e estes textos representam um processo importante na minha discussão uma vez que procurei entender como se estabeleciam as microterritorialidades homoeróticas em contextos urbanos de cidades pequenas nas quais o mercado de diversão LGBT seria pouco desenvolvido ou quase inexiste. Estes textos representam a pesquisa que me fez conhecer e me aproximar com as lideranças LGBTs do interior do Rio Grande do Sul e entender que existe uma rede de contatos e discussões que permitem que muitos eventos sejam estabelecidos em conjuntos, como o carnaval pelo interior do Estado, as paradas LGBTs e as semanas de discussão sobre as diversidades de gênero e de orientações sexuais. Os textos procuram pensar as cidades pequenas estudas pela ótica do cotidiano de pessoas LGBTs, principalmente na constituição das suas afetividades e sexualidades. Nesta pesquisa e nos textos percebi como as cidades pequenas são marcadas pelos encontros homoeróticos em lugares muito inusitados, como se fossem escondidos para tais práticas, mas claramente reconhecidos para tais pessoas. Os outros dois textos são resultados de outra pesquisa financiada pelo CNPQ, edital Universal de 2012. A pesquisa se intitulou “Cidades brasileiras, espaço público e diversidades culturais: o caso das microterritorializações de expressões homoeróticas e/ou homoafetivas”. O primeiro texto foi publicado na “Revista Latino-Americana de Geografia e Gênero” (esta revista se tornou um espaço importante para aceitação e divulgação de meus trabalhos) de 2014, volume 5, número 1, e apresenta o título “Práticas espaciais de ´pegação´ homoerótica: o caso dos banheiros públicos nas cidades de Presidente Prudente-SP e Vitória da Conquista-BH”. O segundo texto foi publicado no livro do GETE UEPG, organizado por Joseli Maria Silva e Marcio Ornat, denominado “Interseccionalidades, Gênero e Sexualidades na Análise Espacial”, de 2014, e o texto se intitula “Oposições e complementaridades nas práticas homoafetivas de microterritorialização: interações entre “bichas” e “bofes” na Praia do Osso em Santarém-PA”, que fora escrito juntamente com o líder LGBT da cidade de Santarém-PA, Iran Monteiro. Mas qual é o contexto importante destes textos? Primeiramente as duas pesquisas: a primeira estabeleceu contatos e descobri uma rede política LGBT no interior do Estado do Rio Grande do Sul, me inserindo efetivamente com sujeito político nela; a segunda eu descobri um conjunto de lideranças políticas LGBTs em cidades médias brasileiras e a importância de suas atuações (em Presidente Prudente-SP, em Vitória da Conquista-BA, em Santarém-PA e em Dourados-MS, cidades em que fui pesquisar). As pesquisas descobriram as atuações políticas LGBTs nestas cidades, mas os textos implicam entender o espaço urbano a partir da constituição das microterritorialidades homoeróticas: há outras cidades e outros espaços públicos que são apropriados pelas especificidades dos encontros homoeróticas e eles estão visibilizados nestes textos. A cidade é marcada por trajetos e espaços inusitados de encontros homoeróticos, como as convivências em praças, shoppings, banheiros públicos nos quais práticas homoeróticas são exercidas por diferentes homens (de diferentes idades, racialidades e classes sociais). No texto sobre Santarém interessante como a praia urbana do “Osso” é apropriada em dias de lazer por pessoas que se identificam como homossexuais e as práticas sexuais tornam-se fluídas pela presença no encontro de outros homens que não necessariamente se identificam socialmente como homossexuais. Neste lugar percebemos como as práticas sexuais são fluidas e são fugazes as relações de identidade, o discute as relações de “homens que fazem sexo com outros homens” (HSH), não, necessariamente, implicando identidade. Uma microterritoritorialidade muito interessante de ter sido observada. Estes contrastes em relação às identidades percorreram meus caminhos de pesquisa e outros escritos mais tarde.
Mais tarde dois textos de 2016 revelam a evolução de meus pensamentos. O primeiro se chama “Geografia e cotidiano: reflexões sobre teoria e prática de pesquisa”, no livro organizado por Álvaro Luiz Hedrich e Cláudia Luisa Zeferino Pires denominado “Abordagens e práticas de pesquisa qualitativa em Geografia e saberes sobre espaço e cultura”. Este texto revela minha dedicação aos estudos sobre teorias do cotidiano, desde as marxistas como de Agnes Heller e Henri Lefebvre, perpassando as teorias formistas de Mafessoli, assim como as acionistas de Michel De Certeau. O cotidiano se revelou importante como viés de estudo das microterritorialdiades homoeróticas na cidade desde o desenvolvimento de minha tese de 2008 e neste texto procuro apresentar os pensamentos essenciais destas teorias e como elas se revelam no estudo dos sujeitos homossexuais e seus processos de territorializações pelos cotidianos urbanos. Outro texto de 2016 se chama “Geografia Cultural e lutas pelo reconhecimento social: sensos territoriais e não-territoriais”, publicado no livro “Plurilocalidades dos sujeitos: representações e ações no território”, organizado por mim, Álvaro Heidrich (UFRGS) e Cláudia Luisa Zeferino Pires (UFRGS). Este texto foi o resultado das discussões desenvolvidas no terceiro evento do grupo/rede sobre microterritorialidades nas cidades, em Porto Alegre, em 2014. Interessante que neste texto eu debato a teoria do reconhecimento social de Axel Honneth pela primeira vez e me dedico a entender as questões LGBT´s e de como elas implicam separações de convivências nas cidades e a causa das microterritorialidades. Neste sentido, começo a fazer críticas neste pensamento da cidade marcada e separada por diferentes identidades e proponho um método democrático de diálogo entre diferentes culturas urbanas a partir da ideia de “tradução” contida na teoria da “interculturalidade”. O território, assim, que tem acompanhado meus estudos, começa a ser criticado e penso, assim, sensos “não-territoriais”. Este debate de desconfiança já se destaca desde 2011 no texto sobre o centro da cidade de São Paulo e suas diferentes microterritorialidades LGBTs, que separa as pessoas e grupos desta comunidade em diferentes espaços e convivência e desconfianças entre eles. Este texto foi publicado no livro organizado por Miguel Ângelo Ribeiro e Rafael da Silva Oliveira e se chama “Território, sexo e prazer: olhares sobre o fenômeno da prostituição na Geografia brasileira”. O texto não discute prostituição especificadamente, mas procura entender os espaços de proximidade, mas separações de múltiplas outras identidades que constituem a população LGBT no centro da São Paulo, em especial a região entre o Largo do Arouche e Praça da República. Este texto se revela como análise das minhas próprias experiências como turista e homem gay nesta região desta grande cidade e como percebi muitos lugares de diversão diferenciados para LGBTs e, ao mesmo tempo, a relação de separação contida na interação entre mercado e (sub) identidades das pessoas LGBTs. Por estes vieses comecei a pensar os prejuízos políticos que tais separações faziam em grupos e pessoas não reconhecidas em seus direitos na sociedade brasileira. Este viés das problemáticas das separações e negações entre diferentes identidades LGBTs também se formou perante um olhar dos conflitos existentes entre as lideranças e grupos políticos LGBTs que comecei a conviver em cidades de pesquisa, mas, principalmente, pelo meu envolvimento nas políticas LGBT da cidade de Santa Maria-RS.
Existem muitos outros textos que marcaram minha trajetória e os blocos que estou evidenciando se articulam com os grupos e redes que participo e participei, como o NEPEC, o NEER, o Micro e Múltiplas Territorialidades e os amigos e colegas da UFRGS Claudia Pires e Álvaro Heidrich. Neste ultimo bloco irei falar de quatro textos mais atuais (atualidade em que estou na passagem de 2020 para 2021) e que estão presentes como desafios que me coloquei. Em primeiro momento gostaria de falar de minhas inquietações atuais. Não sei se é “conspiração do universo”, mas neste momento em que escrevo sobre mim é justamente o momento de análise sobre mim mesmo no envolvimento com outros em que estudo em microterritorialidades. Isso converge para minha pesquisa de Pós-Doutoramento que desenvolvi na UFRJ, Escola e Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, em que me propus estudar sobre mim mesmo em microterritorialidade, ou seja, meu objetivo é/foi pensar o que se passa com uma pessoa que se territorializa: como ela sente as pressões de sua(s) identidade(s)/identificações? Como inesperados de acontecimento as pega de surpresa e a faz reconduzir suas ações e formas de interações como nunca antes feito? Como esta pessoa se conduz a um espaço identificado por determinado encontro (o que faz atrelar a identidade com o espaço), mas como os acontecimentos podem ser aqueles que ela espera ou tanto outro que a transforma suas intenções primeiras? Para responder (inda respondendo e nunca efetivando a resposta) me volto para a fenomenologia (na linha husseliana, mas por vias de Merleau-Ponty e para os estudos pós-estruturalistas de Deleuze e Guattari). As discussões sobre intencionalidade, experiência e corpo em Merleau-Ponty foram bastante úteis, assim como as discussões sobre rizomas, platôs, rostidades, singularidade, devir, entre outros, em Deleuze, Guattari e Rolnik foram essenciais para discutir identidade (superá-la) e trazer uma leitura das inconstâncias, das fugas, das diferenças produzidas, das multiplicidades que é a pessoa e as próprias microterritorialidades que experimenta. Para isso eu estava no Rio de Janeiro e claro que meu interesse de estudo foi aquilo que conhecia em partes (parte já de minha intencionalidade como estudioso e homem gay) que seriam os espaços de encontros de homens gays nas praias da zona sul carioca, conhecida e identificada mundialmente pela sociabilidade gay. Estudei duas microterritorialidades, aquela de junção de homens gays em diversão e festas entre os postos 8 e 9 da praia de Ipanema e um espaço de “pegação” (busca e atividade de sexo entre homens) nas matas do Parque Garota de Ipanema entre Copacabana e Ipanema. Mas neste analisar sobre mim mesmo no contato com os outros homens gays (às vezes não nececessariamente homens gays, porque múltiplas atividades e ações sexuais de diferentes pessoas não acionadas por uma forma de identidade gay participam destas microterritorialidades supostamente gays) eu analisei sempre minhas formas de pensamento e produção textual. Foi neste contexto duas publicações primeiras se constituíram na revista “Geograficidade”.
Neste contexto me aproximei deste grupo de Geografia Humanista (GHUM). Já conhecia Eduardo Marandola Jr. E Werther Holzer, mas foi crucial minha participação no X SEGHUM na UFF (Niterói), em 2019, em que tive o privilégio de compartilhar a mesa de abertura do evento com Sylvio Fausto Gil Filho (UFPR), colega do NEER, e Zeny Rosendahl (UERJ), amiga professor e admirada de muito tempo, líder do NEPEC. A mesa se chamou “Geografias humanistas e culturais: um horizonte da Geografia Brasileira”. Fiquei pasmado em eu estar discutindo estes horizontes entre estas grandes figuras da Geografia Cultural brasileira: realmente foi outro momento marcante em minha vida que me fez recordar os tempos daquele evento de 2003. Mas como fiz para discutir isso: debati minha trajetória envolvendo estes horizontes que a Geografia Cultural e Humanista me lançava em tempos em tempos: foi assim que discutir o texto que foi publicado na revista “Geograficidade” de 2020, volume 10, número especial, denominado “Perspectivas relacionais em geografias culturais e em estudos sobre as microterritorialidades das homossexualidades”. Este texto aborda um pouco de como conduzi meus estudos sobre as microterritorialidades das homossexualidades em diferentes contexto/momento de pensamento sobre elas e sobre mim. Neste ensejo de participação aproximação do grupo GHUM, me desafiei em reativar um texto que produzi sobre a pesquisa estabelecida em Dourados-MS, em 2014, quando entreviste um grupo de jovens homens gays e uma narrativa me marcou muito: “Lady Gaga me salvou!”. Esta foi à declaração de um jovem gay que morava em uma cidade pequena no interior do Mato Grosso do Sul e tinha as clipes, performances e mensagens da cantora Lady Gaga como um único viés de ligação com sua identidade gay. Este texto foi submetido à revista e publicado no número seguinte (volume 10, número 2, de 2020) denominado “Lady Gaga me Salvou: música pop, divas, imaginários midiáticos e construções de espaços sociais homossexuais dissidentes”. Interessante como este texto explica a conexão entre processos de identificação relacionados à sexualidade e como isso se produz como dissidências de sujeitos em espaços sociais normativos.
Continuando nesta trajetória, dois textos se mostraram como exemplos deste momento de pensar minhas condições e experiências múltiplas em convivências com microterritorialidades relacionados com minha sexualidade. Interessante que isso também converge com minha aproximação com o GHUM, principalmente com as leituras estabelecidas pelo seu líder Eduardo Marandola Jr, que também participou e veio a constituir nosso grupo de microterritorialidades nas cidades, desde o evento de Presidente Prudente em 2018. As leituras de Marandola amarraram uma importância metodológica de se fazer auto narrativas como se fosse uma tradução daquilo que experimentei em momentos de relações estabelecidos em microterritorialidades (fiz isso em momento de experiência e observação no Parque Garota de Ipanema e Postos 8 e 9 da Praia de Ipanema). Aliei esta prática com aspectos de leituras estabelecidos na teoria de Deleuze, Guattari, Rolnik (a esquisoanálise) e também da fenomenologia da experiência, das intencionalidades e do corpo em Merleau-Ponty. Destas discussões, cinco textos foram produzidos como discussões importantes do Pós-Doutoramento, mas até agora, em que escrevo esta biografia, somente dois foram publicados (talvez quando alguém esteja lendo, no futuro, os 5 possam estar publicados, se forem aceitos para isso). O primeiro texto está no livro do amigo e meu professor de graduação Nelson Rego (UFRGS), organizado em parceria com a amiga e líder do NEER Salete Kozel (UFPR) e a professora portuguesa Ana Francisca de Azevedo (Universidade do Minho). Interessante a sempre parceria de leitura e incentivo feita pelo amigo professor Nelson Rego em avaliar e acreditar em meus trabalhos, como foi feito neste livro. O texto é o primeiro produzido na pesquisa de Pós-Doutoramento e se chama “Identidades: contextos de emergências de singularidades e suas possibilidades de pesquisa e narrativas”. O texto começa na página 585 do primeiro volume deste livro chamado “Narrativas, Geografias & Cartografias: para viver, é preciso espaço e tempo”. O outro texto que segue este mesmo caminho de discussão está no volume 2, número 42 (volume especial “Múltiplas Territorialidades e Microterritorialidades nas Cidades”) em que foi designado em organizar em virtude do nosso trabalho em rede estabelecido no “V Seminário Internacional sobre Múltiplas Territorialidades e V Seminário Nacional sobre Microterritorialidades nas Cidades”, que foi coordenado pelo amigo e colega pesquisador, parceiro da rede microterritorialidades, Nécio Turra Neto (UNESP Presidente Prudentte). O texto se intitula “As Geografias das constituições de devires-expressivos das pessoas como diferenças: perspectivas da análise nas pesquisas em microterritorialidades”. Este texto aprofunda a discussão teórica estabelecida no livro do professor Nelson Rego pela leitura de Deleuze, Guattari e Merleau-Ponty, trazendo uma discussão sobre as auto narrativas estabelecidas nas pesquisas de pós-doutoramento. Este número apresenta textos do grupo de microterritorialidades e convidados participantes do evento.
Finalizo esta pequena biografia dizendo que foram muitos outros eventos e situações que influenciaram minha trajetória profissional e os pensamentos que compartilho em aulas, em pesquisas, em palestras e em outros escritos, assim como foram inúmeras outras pessoas que me influenciaram, em situações de amizade, de compartilhamento de debates profissionais, de concordâncias e discordâncias. Esta complexidade toda é muito difícil de ser escrita em um limite de 30 páginas, mas creio que pude fazer um panorama sintético de pontos principais que me constituem como ser pesquisador e das pesquisas em que me envolvi. A minha vida profissional e pessoal está cheia de inconsistências e muitos textos que escrevi apresentam inúmeros problemas de compreensão e de uso adequado das teorias e das metodologias, mas creio que foram reconhecidos como importantes para outros/as pesquisadores/as inquietos/as como eu. Eu me compreendo sempre em relação às insuficiências e como alguém que ainda luta por conseguir ser entendido e se entender: sei que falho em minhas aulas; sei que falho em minhas atividades de extensão; sei que falho nas palavras que emito em algum evento acadêmico; sei que falho em meus textos. Mas este conjunto de falhas e insuficiências se integra em uma trajetória consistente em trabalho e em dedicação. Às vezes me sinto como a cantora Madonna, em uma trajetória longa e cheia de contradições, e que nunca foi exatamente uma cantora, nem uma dançarina, nem uma instrumentista, nem uma compositora, nem uma atriz, mas um pouco de cada coisa, em que estes poucos entrelaçados geraram uma grande contribuição para a cultura pop contemporânea. Não sei por que trago a Madonna neste final de texto, mas foi uma performer que sempre fui fã e que cito em um dos meus textos da revista Geograficidade. Esta artista sempre foi alvo de críticas severas, mas, também, de muitos outros reconhecimentos. As superficialidades de alguns aspectos de seu trabalho se mesclam a profundidade de sua contribuição integral. Sinto-me, às vezes, assim: superficial, incompleto e quase que uma fraude, mas estes medos que me rodeiam, em minhas avaliações sobre o que eu faço, percebem também que as tarefas e trabalhos desempenhados foram árduos e os frutos produzidos, muitas vezes, quase avaliaram meus limites de capacidades de esforços. Eu creio que, se fui convidado para escrever sobre minha obra, embora a veja com desconfiança, talvez eu tenha algum valor real. Fico feliz em perceber este valor com esta demanda solicitada a mim e espero que eu tenha esclarecido alguns vieses dos meus pensamentos registrados em inúmeros trabalhos apresentados aqui. Muito obrigado pela oportunidade e pelo reconhecimento.

REFERÊNCIAS (MEUS TEXTOS CITADOS)

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