WAGNER COSTA RIBEIRO WAGNER COSTA RIBEIRO
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Neste texto estão descritos momentos que vivi como geógrafo, professor e pesquisador ao longo de minha trajetória, ainda em construção. Esse exercício, de certo modo, não foi uma novidade, posto que a Universidade de São Paulo (USP), onde ingressei em 1989 como docente, exige a elaboração de memoriais para avançar na carreira. Portanto, a base do que segue foi retirada do Memorial apresentado para a obtenção do título de Livre Docente no Departamento de Geografia (DG) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, de 2004, e do Memorial apresentado para o concurso de professor Titular, de 2010. O esforço maior decorreu da atualização de informações, bem como da seleção do que apresentar.
Inicio com minha formação, desde os primeiros bancos escolares, até os dois pós-doutorados que concluí. Ressalto que sempre frequentei a escola pública e que há mais de 30 anos sou professor de uma Universidade pública. Também ressalto que parte de minha qualificação como geógrafo e pesquisador decorreu de bolsas de agências de fomento, como a de Iniciação Científica, obtida junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e a de mestrado, junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Como já era docente da USP, não tive financiamento para o doutorado, mas meus dois pós-doutorados foram apoiados pela FAPESP e pela CAPES. Além disso, desde a década de 2000 sou bolsista Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Essas agências foram fundamentais, para mim, mas também para o desenvolvimento de muitos estudantes que trabalharam comigo.
Estar no DG na década de 1980 como aluno também foi outro momento central em minha formação. Tive a oportunidade de conviver com grandes mestres, que mostraram mais que uma Geografia crítica. Eles indicaram caminhos éticos e de luta política, reforçados após meu ingresso como docente. Recordo dessas trocas em diversas funções, como a que desenvolvi no DG, na coordenação do Doutorado Interinstitucional entre a USP e a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), associado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA) e à Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Com participação de 21 docentes do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana do DG, teve como objetivo ampliar a formação de doutores na Amazônia. Financiado pela CAPES, até a conclusão deste texto ainda estava em andamento.
Atuar na FFLCH sempre foi estimulante porque presenciei discussões intensas, seja na Congregação, seja em seminários e bancas examinadoras, fundamentadas na melhor tradição do pensamento crítico. Espero que também possa ter contribuído para essas contendas.
Minha atuação no DG foi extrapolada para outras unidades da USP. Ela começou a convite do professor Shozo Motoyama, professor Titular do Departamento de História da FFLCH, para um projeto no Centro Interunidade de História da Ciência, que ele coordenava. Mais tarde, tive oportunidade de aprofundar o debate interdisciplinar tanto no Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (PROCAM), que dirigi entre 2006 e 2008, quanto no Instituto de Estudos Avançados (IEA), quando participei, e depois coordenei, entre 2008 e 2012, o grupo de pesquisa de Ciências Ambientais.
Outro desafio na construção deste documento era apontar elementos diferentes dos expostos em entrevista concedida a dois pesquisadores mexicanos (HATCH KURI; TALLEDOS SANCHEZ, 2020). Por isso, decidi contar uma história sobre minha vida. Essa escolha certamente tem relação com o momento em que este texto foi gerado, em plena pandemia causada pelo SARS-CoV-2, que gerou muitas perdas de vidas, em especial no Brasil, onde faltou determinação e coordenação no combate à COVID-19, como foi explicitado por vários colaboradores no livro que organizei (RIBEIRO, 2020).
Além desta introdução, o texto tem mais sete partes. Na primeira, combino minha escolarização aos lugares onde vivi em São Paulo, do ensino fundamental à pós-graduação. Comento ainda os dois pós-doutorados realizados em Barcelona. Em seguida, abordo os trabalhos mais destacados, sem basear-me em levantamentos bibliométricos, mas usando minha intuição, construída a partir de conversas com muitos interlocutores ao longo de mais de três décadas de trajetória profissional como pesquisador e docente de ensino superior. A cooperação internacional é o próximo item, posto que gerou oportunidades para aprimorar temas de pesquisa e metodologias de análise, mas também muitos diálogos. Depois, comento participações em eventos não acadêmicos que influenciaram minha produção acadêmica. Após, apresento distinções que obtive, a maior parte por meio do reconhecimento de minhas alunas. Encerro com um balanço, antes de listar as referências.
I. A FORMAÇÃO
Mergulhar em minha existência anterior ao ingresso no curso de Geografia do DG tem como objetivo dar pistas de quem sou e de onde vim. De imediato aviso ao leitor: sou paulistano e migrei por alguns bairros da maior megacidade do Brasil.
Meus pais, nascidos em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba paulista, casaram-se em 1961. Eu nasci em novembro de 1962 no Hospital do Servidor Público, localizado na Zona Sul do município de São Paulo, graças à condição de técnico agropecuário na Secretaria Estadual de Agricultura do Estado de São Paulo de meu pai. Minha mãe desempenhava, com muito afinco, as funções de dona de casa, como era frequente entre as mulheres de sua geração.
Depois do Servidor minha parada foi a rua Traipú, em Perdizes (Zona Oeste), onde vivi até os nove anos de idade. Na esquina de casa ficava o Cine Esmeralda. Era uma tranquilidade assistir aos filmes, comer pipoca e retornar para casa a pé. Pena que o cinema acabou. Virou uma loja de sapatos, depois de tecidos, e minha diversão foi-se. A casa onde morava foi demolida, e um edifício foi construído em seu terreno.
Tudo era feito a pé, incluindo supermercado. Minhas primeiras responsabilidades foram delegadas na época e consistiam em ir à padaria ou à quitanda comprar algo que havia faltado para o almoço.
Com frequência, eu, minha irmã Katya (hoje psicóloga clínica) e meus pais caminhávamos até a Praça Marechal Deodoro para tomar sorvete de massa. O Parque da Água Branca também era sempre visitado.
Vi muitas vezes a avenida Pacaembu alagada devido às chuvas fortes. Eu e meus amigos ficávamos na rua Cândido Espinheira espiando o imenso rio que se formava criando um obstáculo que poucos enfrentavam, fosse motorizado ou a pé. Essa situação só deixou de ocorrer no final dos anos 1990, com a construção de reservatórios para água pluvial.
Joguei muita bola contra os meninos que moravam nas ruas Capitão Messias e Cândido Espinheira. O “campo” variava entre as ruas Traipú e a Capitão, mas a maior parte das disputas ocorria na rua em que morava. Claro que minha preferência já era pelo São Paulo Futebol Clube. Vestia, com orgulho, a camisa 10 de Gerson, depois usada por Pedro Rocha... Quantas vezes fui ao estádio do Morumbi acompanhar aquele time? Não me lembro, mas foram muitas, incluindo outras tantas ao estádio do Pacaembu, onde me sentava ao lado de torcedor do outro time sem problema algum, apesar de estar usando a camisa do São Paulo, sempre em companhia de meu pai.
Deixei de jogar contra a turma da Capitão e da Cândido graças a um prefeito que não tinha sido eleito, conforme descobri alguns anos depois. Ele inventou uma nova diversão para a garotada, talvez para compensar o fim da nossa “cancha”: uma autopista para andar de bicicleta com os amigos, o que exigia um pacto de silêncio dos envolvidos. Ai se alguma mãe soubesse…
Durante as obras ficou impossível jogar bola na Traipú! Eram muitos caminhões transitando, o que indicava uma mudança nessa parte da outrora pacata rua.
Em paralelo a isso, durante meses (ou teria sido um ano letivo?), a bela Praça do Largo Padre Péricles, que abrigava o povo depois da missa, na qual senti pela primeira vez o gosto de vinho que acompanhava a hóstia, transformou-se em um buraco. Era muito interessante observar aquela terra vermelha e dava mesmo era vontade de descer até o fundo.
Uma dessas manhãs, antes de sair para o colégio, vi no jornal de meu pai uma foto da autopista, chamada de Elevado Costa e Silva, apelidada de Minhocão, que teve seu nome alterado em 2016 para Elevado Presidente João Goulart. Tratava-se de uma das maiores intervenções urbanas registradas no município: um viaduto de cerca de 3 km de extensão que liga a Zona Oeste à Zona Central, até desaguar o trânsito na Avenida Radial Leste, que leva à Zona Leste. Ele foi inaugurado em 25 de janeiro de 1971, ano que marcou o fim dos passeios proibidos de bicicleta e, também, das partidas de futebol na Traipú, que passou a receber muito tráfego em sua última quadra.
1. O ENSINO FUNDAMENTAL
Minha vida não era só correr atrás de bola e andar de bicicleta. Estudava no então Grupo Escolar Pedro II, que ainda está lá, na rua Marta, esquina com Tagipuru.
Aquela era uma excelente escola! Tinha merenda e até um oftalmologista, que passava por lá de vez em quando e me afastou um pouco da bola depois que constatou uma miopia. Ganhei óculos antes de completar sete anos, o que não me impediu de jogar futebol na rua Traipú. No começo, estranhei um pouco, mas depois continuei firme, embora sem sonhar tanto em virar boleiro.
A escola era muito interessante. Dona Nanci ensinou-me a escrever em 1969. Dona Juraci a fazer contas, na segunda série, e na quarta série eu tinha três ou quatro professoras, que se dividiam para dar aulas de português, matemática e estudos sociais, pelo que me lembro. Era, apurei muitos anos mais tarde, um projeto experimental para preparar os alunos para enfrentar a maior quantidade de disciplinas e de professores na quinta série.
Pouco mais de um ano depois da inauguração do Minhocão, mudamos para o bairro do Limão, na Zona Norte de São Paulo. No caminho para a casa que meu pai comprou vi muitos campos de futebol, o que me indicava que a camisa do São Paulo ia ser novamente usada.
Criei novas amizades e mantive as partidas de futebol. Mas havia outras novidades: empinar pipas, rodar pião, jogar bolinha de gude, guerra de mamonas, jogar taco, enfim, havia grandes áreas sem uso, os chamados vazios urbanos, muitas usadas como campos de futebol, outras para improvisar o que seriam pistas de bicicross, em linguagem atual. Uma maravilha, não fosse pelo tom avermelhado da terra e as broncas de minha mãe por causa da roupa suja.
Ia a pé para a Escola Estadual Luiz Gonzaga Righini, na Avenida Deputado Emílio Carlos, onde estudei da quinta à oitava série. Lá surgiram novas experiências: as primeiras namoradas, a primeira peça de teatro, os primeiros livros: Julio Verne, Machado de Assis, contos de Drummond, Monteiro Lobato, entre outros.
Naquela escola também tive professores dedicados. Lembro-me do professor Herrera, de Matemática, com seus compassos para giz, mais tarde substituído por Dona Leila, muito mais nova que o anterior. A professora Conceição, de Biologia, incentivou-me muito a prestar o vestibulinho para a então Escola Técnica Federal de São Paulo. A professora Leonor ensinava Redação, Gramática e Literatura. O seu Marinho, de Geografia, era temido por ser severo e tinha outra peculiaridade: havia escrito o livro usado em suas aulas. Tinha também a Silvia, que lecionava Estudos Sociais, que nos obrigava a ler jornal toda semana e comentar por escrito uma notícia.
No Righini fui, finalmente, campeão de futebol de salão do colégio na oitava série. Seleção do colégio? Nunca fui chamado, o que encerrou o sonho de ser jogador de futebol.
Nesses quatro anos eu e o bairro nos transformamos. Passei a andar menos de bicicleta, até porque os terrenos livres foram transformados, dando lugar a prédios. Minha irmã mais nova, Ana Rosa, hoje psicóloga clínica e mãe de duas meninas – Isadora e Rafaela –, não teve a mesma sorte que eu. Andar de bicicleta para ela só na rua de casa, a José Machado Ribeiro.
Aos poucos, comecei a descobrir a “cidade”, em especial o centro antigo. No início, para assistir a filmes em cinemas, como o Independência, no largo do Paissandu, o Marrocos, na rua Conselheiro Crispiniano, e o Comodoro, na avenida São João.
Mais tarde, no segundo semestre de 1976, ingressei em um curso preparatório para o vestibulinho, e a rotina de andar de ônibus instalou-se. Diariamente ia ao largo do Arouche (Zona Central) para assistir às aulas depois do colégio e retornava em ônibus lotado no início da noite.
2. DO ENSINO MÉDIO À UNIVERSIDADE
Ingressei na Escola Técnica Federal de São Paulo em 1977, atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo (IFT-SP), que fica na Rua Pedro Vicente, no Canindé, bairro de ligação entre o Centro e a Zona Leste de São Paulo. Exercendo a adolescência, descobri o metrô e a metrópole. Na “Federal”, como ainda hoje é chamada, tinha amigos de todos os cantos da pauliceia – nome que já podia emprestar de Mário de Andrade depois de ler alguns de seus livros –, mas também de municípios da Região Metropolitana de São Paulo, como Caieiras e Franco da Rocha. A metrópole apresentava-se diante de meus olhos por meio de novas amizades escolares.
A convivência na Federal era intensa. As aulas começavam à tarde, mas pela manhã tínhamos Educação Física. Além disso, como todo mundo morava longe de lá, as reuniões de trabalho aconteciam na biblioteca da escola. Resultado: saía de casa pela manhã e retornava no início da noite, em companhia dos amigos no metrô e depois enfrentando ônibus lotado.
Uma das experiências mais inusitadas na Federal foi praticar rúgbi no primeiro ano. Apesar dos óculos, era veloz e acabei jogando como ponta-esquerda no time do colégio. Não era o titular, mas ingressei durante alguns jogos e iniciei outros menos importantes, sem saber por que até hoje.
O grande momento era o treino. Era muito interessante pertencer àquele grupo, que se distinguia dos demais times da escola pela organização autônoma. Não havia um professor de Educação Física que acompanhasse os treinamentos, como ocorria com as equipes de basquete ou de voleibol da temida Federal. O técnico era um estudante de Medicina, de quem lembro apenas o primeiro nome: Paulo, o Paulinho, como o chamávamos.
O rúgbi, que teve destaque na organização do esporte moderno na Inglaterra no século XIX, também serviu para que eu aprendesse a reivindicar. Como a atividade não estava regulamentada, foi acordado com os professores de Educação Física que o treino de rúgbi não seria considerado atividade física regular, ou seja, as aulas de Educação Física tinham que ser frequentadas pelos praticantes de rúgbi. Os treinamentos, que ocorriam no campo de futebol, só poderiam ser realizados em horários livres, depois que as demais modalidades o usassem. Por isso eles eram realizados próximo ao almoço. Também foi negado apoio material, o que levou à necessidade de organizar rifas para a compra de bolas e uniforme para os jogos.
Solidariedade e espírito de grupo foram agregados à minha formação pelo rúgbi. Como dizia o Paulinho, nesse esporte você não consegue avançar sozinho. É raro conseguir dar mais que três passos sem contato com algum oponente. O primeiro te desequilibra, o segundo te empurra e o terceiro, certamente, te derruba. Por isso era tão importante passar a bola e avançar sempre com o apoio dos companheiros para não ser “esmagado” pelos adversários.
Os jogos contra os principais times da época exerciam fascínio em todos. Os maiores rivais eram o Liceu Pasteur, o Colégio Objetivo, o Colégio Rio Branco e o Colégio Santo Américo, todos de elite. A Federal era a única escola pública, o que dava um caráter de “luta de classes” aos jogos. Ao final, havia o cumprimento, uma prática que permanece até hoje entre os praticantes dessa modalidade esportiva, incluindo mulheres. Mas a rivalidade só crescia a cada jogo.
Os anos na Federal propiciaram uma série de indagações. O país era governado por uma ditadura militar desde 1964, e a organização estudantil estava proibida. Como não havia Grêmio, começou um movimento no colégio para que ele fosse criado. Depois de muita negociação, sem assembleia, proibida na época, o Grêmio foi instalado em uma sala com mesas de pingue-pongue e de bilhar. O professor que se responsabilizou pelos estudantes diante da direção era Nelson Massataki, professor de Geografia que trabalhou no Departamento de Geografia da USP antes da Federal.
Estudei muito nos anos em que permaneci no ensino médio. Na Federal o ritmo era um mês e meio de aulas e quinze dias de “martírio” (isso do ponto de vista de um estudante, obviamente), período em que eram cobrados relatórios, provas e seminários.
As disciplinas de Humanas, Geografia, História e Teatro foram ministradas no primeiro ano e eram vistas com muito preconceito entre os alunos. Só no terceiro ano fui ter Sociologia, com o professor Lima, algo como estudos dos problemas brasileiros, literatura e redação. A professora Candelária, responsável por Literatura Brasileira, apesar das dificuldades, sensibilizava os alunos, o mesmo ocorrendo com o professor de Redação, de quem infelizmente não recordo o nome.
Alguns amigos da Federal começaram a se politizar, e me envolvi nesse processo. Comparecíamos a eventos ligados à luta pela anistia aos presos políticos e aos exilados do país, em especial shows e concentrações populares.
Durante o quarto ano, que servia como profissionalização para formar um Técnico em Mecânica, título que obtive, frequentei também o curso preparatório para vestibular do Equipe, com apoio de uma bolsa que reduziu muito a mensalidade, que ficava na rua Martiniano de Carvalho, na Bela Vista, área central do município de São Paulo. Lá, outras tantas mudanças ocorreram em minha vida.
Existiam grupos que faziam panfletagens em porta de fábrica na região de Santo Amaro, na época com grande concentração de fábricas na Zona Sul de São Paulo. Engajei-me e participei de algumas dessas iniciativas. Eu ficava com a impressão de que os metalúrgicos não prestavam muita atenção aos nossos papéis. De todo modo, foi uma experiência importante, porque me mostrou um lado da megalópole paulista que eu não conhecia até então: lugares do trabalho operário.
A maior reivindicação na época de cursinho era o direito à carteira de estudante e às suas vantagens, como a de comprar passe escolar, pagar meia-entrada em eventos culturais, entre outras. Isso era muito distante do mundo dos operários!
Em um dia de 1980, alguém apareceu no Equipe e falou algo como: “To indo pra Vila Euclides. Vai ter uma concentração por lá e é preciso muita gente junta porque os milicos vão querer descer o pau”. Naquela hora surgiu um espírito que combinou aventura com curiosidade. Lá fui eu para São Bernardo do Campo. Foi impressionante ver o estádio lotado e militares no entorno enquanto Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, discursava. O “pau não comeu” e retornei para casa sem problemas.
No cursinho, as aulas de Humanas começaram a me atrair. Tive aula com Sergio Rosa de Geografia, com Laura Toti e José Genoíno – depois Deputado Federal e Presidente do Partido dos Trabalhadores – de História, com Gilson de Redação, cujos ensinamentos procuro empregar até hoje, e com o Luís, um professor de Literatura que mostrou um outro olhar sobre romances e contos.
No intervalo, pela manhã, ocorriam dois eventos todos os dias: a passagem de uma viatura da polícia e uma atividade cultural. Podia ser uma intervenção artística, uma canja com cantores locais, entre eles Mario Manga do Premeditando o Breque, o grupo Língua de Trapo ou os Titãs (ainda com outro nome), de que me recordo bem.
Nos finais de semana voltava ao Equipe, mas não para estudar. Ia assistir aos shows organizados por Sérgio Groisman, agitador cultural do colégio que depois se tornou um importante comunicador para a juventude. No auditório e no pátio do Equipe assisti a apresentações de Itamar Assunção, Arrigo Barnabé e sua banda, Premeditando o Breque, Raul Seixas, A Cor do Som e Gilberto Gil, entre outros.
Vivi intensamente aquele ambiente ao longo do ano. Todo esse conjunto refletiu em minha opção para o vestibular. Não desejava mais cursar Engenharia e inscrevi-me para cursar Geologia. Não passei na primeira fase da Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST), que organiza o vestibular para a USP, e também não fui aprovado na Universidade Estadual Paulista (UNESP).
O ano seguinte foi diferente. Não tinha mais paciência para cursinho. Resolvi estudar sozinho e trabalhar.
O primeiro emprego bateu à porta de minha casa. Uma equipe de venda de assinaturas do Círculo do Livro (um “clube” de leitores que oferecia livros por meio de um catálogo mensal) visitou minha rua. O rapaz insistiu muito para que eu aderisse ao plano, chamando até seu chefe de equipe para tentar me convencer. Para eles era absurdo alguém ler tanto como eu e não ingressar como cliente da empresa. Eu dizia que queria ter liberdade de escolha. Ao final da polêmica não me filiei e ainda recebi um convite do chefe: “Olha, vai ter uma seleção para novas equipes. Por que você não aproveita e passa por lá?”
Não hesitei. Trabalhar com livros era algo que me atraía, ao mesmo tempo que ia voltar para a rua. Fui aprovado na seleção e acabei me destacando como o segundo ou terceiro em vendas de assinatura no Estado de São Paulo por vários meses seguidos. Acredito que isso ocorreu porque gostava de ler e conhecia parte do catálogo, que aliás era cheio de best-sellers, a seção que eu conhecia menos... mas tinha lá peças teatrais, clássicos da política, literatura brasileira, entre outros temas.
Novamente aprendi a importância do grupo. Os resultados e o salário eram quantificados individualmente, mas havia também um objetivo para a equipe que deveria ser atingido. Fui convidado a chefiar equipes, mas não aceitei. Minha intuição me dizia que não devia ampliar meu compromisso com aquela empresa de capital estrangeiro.
Outro aspecto muito interessante era que as equipes, compostas por sete promotores (expressão deles) mais um chefe, percorriam ruas de determinadas regiões do município de São Paulo, criadas pelo diretor da área comercial. As equipes que integrei sempre atuaram na Zona Sul, num amplo espectro que partia da Vila Mariana até os limites com a Via Anchieta! Com isso percorri muitas ruas e avenidas observando as diferenças socioespaciais de São Paulo.
Em meio a isso veio o vestibular de 1982. Como gostava de escrever, prestei para Jornalismo. Estava feita a transição para as Ciências Humanas. Em meu segundo vestibular da FUVEST, passei para a segunda fase e aí parei. Avancei em relação ao ano anterior, o que me motivou a tentar mais um ano.
No vestibular de 1983 inscrevi-me para Geografia e fui aprovado!
3. A GRADUAÇÃO
De imediato, uma surpresa. Ao chegar ao DG como aluno, percebi que poucos colegas sabiam que existia a profissão de geógrafo. Talvez por isso, passei a militar desde as primeiras aulas pela categoria, seja no Centro Acadêmico Capistrano de Abreu (CEGE), seja na Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e, mais tarde, como Conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (CREA-SP), onde atuei por nove anos, o equivalente a três mandatos.
As aulas iniciais assustavam porque eram carregadas de discussão teórica, algo muito distante mesmo das melhores escolas. Apesar das dificuldades, em especial pela conjuntura na qual se afirmava uma suposta crise da Geografia, concluí o primeiro semestre, mas meio desiludido.
Isso foi se alterando aos poucos. O convívio com geógrafos e estudantes de Geografia foi intenso no período de 1983 a 1986. As aulas na USP eram excelentes e ministradas por mestres como Ana Fani Alessandri Carlos, Antonio Carlos Robert Moraes, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Armando Correa da Silva, Carlos Augusto Figueiredo Monteiro, Gil Sodero de Toledo, Iraci Gomes de Vasconcelos Palheta, José Pereira de Queiróz Neto, Jurandyr Sanches Ross, Manoel Seabra, Maria Elena Simielli, Sandra Lencioni, Wanderley Messias da Costa, entre outros.
No final de 1983, junto com vários colegas, como Regina Gagliardi, Eduardo Sasaki, Nelson Fujimoto, Marina e Irene Uehara, realizamos a GERARTE, um dia inteiro repleto de atividades culturais. Esse evento, em um domingo de novembro (seria o último?), levou ao prédio de Geografia e História grupos de música, de teatro, oficinas e mostra de filmes, atraindo os usuários do campus, que naquela época ainda era aberto à comunidade paulistana aos domingos.
Participei de dois Encontros Nacionais de Estudantes de Geografia. O primeiro serviu como estímulo a continuar o curso. Realizado em São Luís do Maranhão, em 1983, permitiu-me conhecer colegas de vários pontos do Brasil que também estavam empenhados em discutir e tratar dos problemas da Geografia, como Deise Alves e Francisco Mendonça. A primeira tornou-se ativista do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, e o segundo, professor da Universidade Federal do Paraná.
Meu envolvimento foi ainda mais intenso no Encontro de 1985. Integrei a comissão que discutiu o temário do evento. Em minhas lembranças ficaram festas e viagens inesquecíveis para Vitória, no Espírito Santo. E muita atividade política, que na época envolvia a luta pela volta das eleições diretas em todos os níveis e a reforma agrária, entre outros assuntos.
Destaco ainda as idas de trem a Rio Claro (SP) para tratar do movimento estudantil paulista e da União Paulista dos Estudantes de Geografia (UPEGE).
No âmbito da USP, minha participação no CEGE ocorreu de forma mais intensa em 1985, embora fosse pontual nos dois anos iniciais da Faculdade, com a vitória de uma proposta anarquista. A chapa “Nunca fomos tão felizes” ganhou de um grupo liderado por membros do Partido Comunista. Nossa maior luta foi pela reforma curricular, resultando em plenárias cheias de gente envolvida na discussão da formação do geógrafo. Além disso, houve engajamento junto às lutas do Diretório Central dos Estudantes da USP, culminando com a invasão da reitoria pela exigência de eleições diretas para reitor e para presidente.
O convívio com colegas da graduação da USP, como Bernardo Mançano Fernandes (atualmente na UNESP), Eduardo Sazaki, Luis Paulo Ferraz, Sérgio Magaldi (professor na UNESP), Regina Gagliardi, Irene Uehara, Fernanda Padovesi (atualmente colega na USP) e Regina Araújo, foi profícuo e, se não selou com todos uma amizade que perdura até hoje, foi exatamente pela Geografia da vida, que nos levou a lugares distantes.
Também foi nessa época que conheci Lourdes Carril (atualmente professora na Universidade Federal de São Carlos - UFSCar), com quem vivi por alguns anos depois de formado. Dessa relação nasceu nossa filha, Ana Clara.
As principais discussões na época da graduação eram sobre o currículo do curso de Geografia, o ensino de Geografia e a afirmação de uma Geografia marxista, de múltiplas matrizes. Também havia uma exagerada crítica à Geografia Física, classificada por alguns como atividade de gente reacionária.
A luta por eleições diretas acompanhou minha graduação. A campanha pelas Diretas Já ocupou grande parte do primeiro semestre de 1984 até a votação em abril. Participei de quase todos os comícios na Praça da Sé e no Vale do Anhangabaú (Zona Central de São Paulo), sempre junto à famosa bandeira vermelha com a inscrição “Geografia – USP” em branco, que tive a honra de carregar algumas vezes. Fiquei afastado dessa bandeira até a campanha Fora Collor, em 1992, quando ela voltou às ruas e era referência para agrupar-me aos alunos e colegas nas manifestações.
A movimentação social gerada pelas Diretas Já foi uma grande festa cívica que teve um final infeliz. Lembro-me bem do dia da votação, em pleno Vale do Anhangabaú, lotado, ainda com o “buraco do Adhemar”, acompanhando o voto de cada deputado. Foi doloroso assistir à derrota da proposta do deputado Dante de Oliveira.
Mas os tempos estavam mudando. Em 1985 tivemos eleição para prefeito e, no ano seguinte, para governador do estado. Esses fatos geravam muitas discussões acaloradas entre diferentes grupos no âmbito da esquerda, embora houvesse uma hegemonia petista entre os estudantes de Geografia da USP. Também fazíamos uma espécie de loteria para acertar a ordem da votação dos candidatos. Como todo mundo apostava em candidatos de esquerda, nos primeiros lugares não havia ganhadores... Melhor para o CEGE, que conseguia “fazer caixa”, principal objetivo da loteria.
Outros momentos de descontração ocorreram, como as inúmeras festas e o famoso “jogo das saias”, no qual homens vestiam roupas femininas para jogar futebol no Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPEUSP). O ingresso ao campo era triunfal em um sábado por ano. Mas o jogo acabava ficando sério, apesar das dificuldades em correr com saias e vestidos.
Durante os anos de graduação também atuei na AGB, ocupando cargos em diretoria e organizando eventos. Destaco a convivência com mestres do Departamento de Geografia como Manoel Seabra, Iraci Palheta e Ariovaldo de Oliveira, que passaram horas falando de Geografia enquanto desenvolvíamos atividades rotineiras como embalar cartas ou publicações. Foi um verdadeiro curso paralelo, que me permitiu ampliar enormemente o entendimento da Geografia que se produzia no DG e no mundo.
Tive a oportunidade de ser estagiário na Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo (EMPLASA). Para mim, era a busca da condição de tornar-me um profissional em Geografia. Atuei na área de Cartografia, participando de projetos como atualização permanente das cartas 1:10.000, de manutenção das referências de nível e de fiscalização da área de mananciais (embora esse projeto constasse de outra divisão). Outro aspecto relevante foram as visitas de campo pela Região Metropolitana de São Paulo acompanhado por técnicos de diferentes formações, ampliando meu conhecimento sobre essa realidade. E, claro, o time de futebol de salão do setor de Cartografia, que contava com o professor do DG Flavio Sammarco Rosa no gol, na época Superintendente de Cartografia da EMPLASA, que disputava o campeonato interno.
Também estagiei no Laboratório de Geografia Humana do então Instituto de Geografia da USP, coordenado pela professora Ana Maria Marangoni. Lá participei do programa de pesquisa “Municipalização do Estado de São Paulo”, coordenado por ela, desenvolvendo um trabalho de iniciação científica, com bolsa da FAPESP, com o título “O processo de municipalização da Região Administrativa do Vale do Paraíba”, sob orientação da professora Claudette Junqueira. Estudei o processo de desmembramento municipal no Vale do Paraíba, produzindo uma base cartográfica digital, além de associar as transformações territoriais com a ocupação da região administrativa.
Ao final da graduação, em 1986, obtive o título de Bacharel em Geografia, o que me habilitou a ingressar no mercado de trabalho e na pós-graduação. Minha escolha pela segunda opção veio, em parte, pelo parecer final da bolsa de iniciação da FAPESP, no qual havia uma recomendação para que eu continuasse a pesquisa no mestrado.
Também concluí, em 1988, a Licenciatura em Geografia, sem maiores destaques a não ser a divulgação dos resultados de estágio no primeiro Fala Professor, encontro organizado pela AGB para tratar especificamente do ensino de Geografia. Esse trabalho foi realizado em conjunto com Bernardo Mançano Fernandes e orientado pela geógrafa Delacir Ramos Poloni, que mais tarde obteve o título de Doutora em Geografia, sob orientação de Armando Correa da Silva, e que atuou como professora no IFT-SP, com grande envolvimento também no sindicato de trabalhadores dessa instituição. Alguns anos mais tarde ela convidou-me a escrever uma coleção didática.
4. A PÓS-GRADUAÇÃO
O ingresso na pós-graduação ocorreu logo ao término do curso de Bacharelado em Geografia, em 1987. Comecei preocupado em entender os chamados movimentos sociais urbanos e submeti um projeto ao professor José Willian Vesentini para verificar a existência deles em São José dos Campos (São Paulo), aproveitando parte da pesquisa de iniciação científica.
O desenrolar dos trabalhos indicou-me outros caminhos. Ao estudar mais São José, surgiu um novo objeto: as indústrias de armamentos sediadas no município. Elas estavam em pleno vigor, exportando para o Iraque em guerra com o Irã. Isso dava ao país a condição de principal vendedor de armas, à exceção dos países ricos, o que justificava a pesquisa.
Queria fazer uma Geografia das indústrias de armamentos no Brasil, indicando os principais fluxos de matéria-prima e de clientes. Isso mostrou-se impossível ao longo dos anos. As informações não eram disponibilizadas, o que me levou a alterar o projeto para a compreensão da política científica e tecnológica empreendida pelos governos militares que possibilitaram o surgimento do que denominei de “polo industrial armamentista no Brasil” (RIBEIRO, 1994).
Entre as disciplinas cursadas para obtenção de créditos, ressalto a do próprio professor Vesentini, que tratava da Geografia Política, e a do professor Armando Correia da Silva, com o título Epistemologia da Geografia Humana. Nesta disciplina pude apreciar uma belíssima reflexão do professor Armando sobre as teorias da pós-modernidade e sua repercussão na Geografia, além de contar com colegas que estimulavam o debate, como Carlos Augusto Amorim Cardoso, hoje professor na Universidade Federal da Paraíba, e Marcos Bernardino, atualmente na USP.
Ressalto o ano de 1988, quando participei de um estágio na Université de Pau et dês Pays de L’Adour, em Pau, no sul da França. Nessa ocasião, acompanhei seminários de pesquisa, aulas no curso de graduação e trabalhos de campo de professores como François Dascon e Gui di Meo, todos indicados pelo professor Milton Santos. O maior objetivo era desenvolver a língua francesa, dado que o estágio foi de pouco mais de um mês, mas a viagem permitiu tomar contato com a realidade do ensino superior de Geografia na França e uma incursão rápida a Barcelona e Madri.
Também acompanhei por um semestre os seminários da professora Marilena Chauí sobre Spinoza, no Departamento de Filosofia. Esse encontro deu-se no segundo semestre de 1990, quando eu já era professor do DG, onde ingressei em dezembro de 1989. Apesar do restrito grupo, a professora Marilena não hesitava em demonstrar conhecimento e paixão por um dos maiores filósofos da história. Para mim, essa convivência possibilitou estudar um pouco mais de Filosofia Moderna, uma paixão que não pude cultivar muito, mas que, como toda paixão, tem repentes explosivos que me embriagam de prazer pela leitura e discussão de autores e suas ideias. Ressalto a gentileza da professora em aceitar-me em seu grupo de pesquisa, além de sua delicadeza em introduzir de maneira didática para mim passagens da obra do filósofo.
Para o doutorado, cujo ingresso ocorreu em 1994, mantive a orientação do professor Vesentini, mas alterei minha linha de pesquisa. A atividade docente no DG e a representação da AGB na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, envolvendo mais de uma centena de chefes de estado e milhares de pessoas por meio de organizações não governamentais de todo o mundo, despertaram-me a curiosidade para acompanhar os tratados internacionais sobre o ambiente.
Estava diante de uma nova frente de pesquisa, que se mantém até hoje. Dela derivaram uma série de trabalhos publicados ainda antes da defesa do doutorado, que ocorreu em dezembro de 1999.
No doutorado, a disciplina Análise das Relações Internacionais, ministrada pelo professor Leonel Mello no Departamento de Ciência Política, foi de muita valia. Além de permitir-me conhecer teorias das relações internacionais, propiciou um amplo debate sobre temas contemporâneos.
Essas etapas de formação coincidiram com outras mudanças por São Paulo, todas na Zona Oeste. Inicialmente, morei em Vila Beatriz, mais próxima à USP. Lá fiquei até 1997, quando fui viver no Alto da Lapa. Em meados de 2003 mudei para a Vila Madalena.
Assisti a uma grande transformação em Vila Beatriz. Casas unifamiliares deram lugar a edifícios de alto padrão. Mesmo em áreas dotadas de infraestrutura os efeitos foram sentidos. Um deles foi o aumento na queda do fornecimento de energia. Mas alguns serviços, que já eram bons, ficaram ainda melhores e mais caros. Era hora de mudar.
No Alto da Lapa estava junto a uma área mais consolidada do ponto de vista da produção do espaço urbano. Mas isso não me impediu de assistir à verticalização da linha do horizonte. Muitos prédios foram subindo em direção ao pôr do sol na rua Carlos Weber e adjacências.
O mesmo ocorreu na Vila Madalena. Diversos edifícios surgiram, entremeados de bares e casas noturnas, naquele que foi um bairro refúgio de estudantes sem dinheiro para pagar aluguel ou de famílias negras, que chegaram bem antes que os expulsos do Conjunto Residencial da USP (CRUSP), pela repressão da ditadura militar. Mas de onde vivo ainda consigo ver o horizonte sem prédios por perto, embora observe claramente a aproximação da mancha de concreto sobre minha janela.
5. PÓS-DOUTORADO
Participar de uma experiência de pesquisa em uma instituição com a tradição e relevância da Universidade de Barcelona foi estimulante diante de novas perspectivas de interação com pesquisadores. Esta etapa de minha trajetória foi financiada pela FAPESP, entre dezembro de 2001 e fevereiro de 2002. Foram diversas idas e vindas pelos trens do metrô de Barcelona até a universidade, às vezes até em final de semana, para buscar interlocutores seja na palavra escrita, seja na palavra falada. E eles estavam lá, à espera de quem quisesse adentrar no mundo do debate acadêmico, gerados pela ordem ambiental internacional.
De pronto procurei o professor Horacio Capel, catedrático que exerce sua sabedoria de maneira singular estimulando os mais novos a produzir artigos e seminários. Nossos encontros iniciais logo passaram do estranhamento natural para acaloradas discussões teóricas. Inicialmente foi traçado um objetivo para os dois meses de convivência, a saber, produzir um artigo (RIBEIRO, 2002), um texto para apresentar no IV Colóquio Internacional de Geocrítica (RIBEIRO, 2002a) e organizar um número especial da revista eletrônica Scripta Nova com artigos sobre a vida e obra do Professor Milton Santos (RIBEIRO, 2002b, 2002c). Em nossos encontros trocamos impressões sobre a Geografia produzida tanto no Brasil quanto na Espanha.
Além das atividades descritas acima, frequentei bibliotecas da Universidad de Barcelona, da Universidad Autónoma de Barcelona e públicas, como a Biblioteca da Catalunya. Em todas foi possível descobrir obras de interesse ao meu trabalho.
Visitei também as Universidades de Lisboa e de Coimbra, em Portugal, graças à complementação de recursos oferecida pela Comissão de Cooperação Internacional da USP.
Em Lisboa, meu contato ocorreu principalmente com a professora Teresa Salgueiro, especialista em Planejamento Urbano. Em Coimbra, tive o apoio da professora Lucilia Caetano, que pesquisava o desenvolvimento industrial em Portugal e era bastante envolvida com a temática dos polos tecnológicos, tema que trabalhei em meu mestrado. Discutimos algumas variáveis locacionais de empresas de alta tecnologia. O momento mais precioso de nosso encontro foi uma visita que ela proporcionou às instalações da Universidade de Coimbra, como a biblioteca e a sala de eventos. Tradição combinada com arte resume minhas impressões acerca dos ambientes visitados.
A convivência com colegas do programa de doutorado permitiu retomar ideias e questões sobre o sistema internacional e discutir metodologias de pesquisa em Geografia Humana. Além disso, aproveitei para estreitar relações com professores do Departamento de Geografia Humana da Universidad de Barcelona e do Departamento de Economia e História Econômica da Universidad Autónoma de Barcelona. Desse diálogo, surgiu a possibilidade de traduzir o livro O ecologismo dos pobres, do economista Joan Martinez-Alier (2007), para o qual realizei a revisão técnica e escrevi a apresentação da edição brasileira.
Minha segunda estada na Universidad de Barcelona, entre outubro de 2004 e janeiro de 2005, foi financiada pela CAPES. Dessa vez fui recebido pelo professor Carles Carreras, catedrático especialista em consumo. Nesta ocasião, havia a necessidade de contribuir para a análise comparativa Barcelona/São Paulo, pesquisa coordenada por ele e pela professora Ana Fani Carlos.
Grande parte de meu tempo foi dedicado a conhecer a gestão da água em Barcelona. Para tal, realizei um levantamento bibliográfico referente à temática do abastecimento hídrico nessa cidade e aos conceitos de soberania, desenvolvimento sustentável e segurança ambiental internacional. Também entrevistei atores importantes, como técnicos da “Aigues de Barcelona”, empresa responsável pela gestão da água na capital catalã (RIBEIRO, 2005).
Entretanto, tive oportunidade de desenvolver outras atividades. Participei do IV Congresso Ibero sobre Gestão e Planejamento da Água, realizado em Tortosa, na Espanha, no período de 8 a 12 de dezembro de 2004, com um trabalho sobre água na Região Metropolitana de São Paulo. Nessa reunião conheci o sociólogo argentino José Esteban Castro, na época professor na Oxford University. Desse contato surgiu sua participação como professor visitante no Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (PROCAM), na USP. A cooperação avançou com a criação da rede de pesquisa Waterlat/Gobacit, que será tratada adiante.
Ao longo da segunda estada em Barcelona, tive oportunidade de conhecer o Centre de Recherche sur le Brésil Contemporain, da École dês Hautes Études, da Université Paris-Sorbonne, a convite da professora Martine Droulers, que me convidou ainda para uma conferência ministrada no curso de pós-graduação do Centre de Recherche et de Documentation de l’Amérique Latine, da Université Paris VII, com o tema “Gestion du l’eau au Brésil: le cas du São Paulo”. Nesta ocasião discuti a gestão dos recursos hídricos em São Paulo e no Brasil, detalhando os comitês de bacia de São Paulo.
II. TRABALHOS DESTACADOS
Existem diversas métricas para indicar a relevância de determinados trabalhos. Em geral, tomam-se os mais citados, ou aqueles que receberam mais críticas, positivas ou negativas. Não usei esses critérios nesta seleção. Minha escolha, como já anunciado, partiu de minha intuição e de conversas com inúmeros interlocutores em mais de trinta anos de vida acadêmica. Os textos mais comentados nesses encontros estão nesta série, somados a textos mais recentes relacionados às pesquisas que desenvolvo.
1. A ORDEM AMBIENTAL INTERNACIONAL
Para a obtenção do título de Doutor, apresentei, em 1999, ao Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana do Departamento de Geografia da USP, a tese A ordem ambiental internacional (RIBEIRO, 1999). O objetivo central da pesquisa foi identificar os atores, mecanismos e eficácia de um conjunto de instrumentos jurídicos internacionais focados em questões ambientais. No texto final, constam os primeiros tratados internacionais – que foram criados para regular a ação das metrópoles imperialistas no continente africano. Depois, tratei do período da Guerra Fria, época em que o destaque ficou para a atuação da ONU e seus organismos internos, bem como para reuniões internacionais que eles realizaram. Por fim, apresentei as convenções internacionais pós Guerra Fria, destacando a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, seus documentos, e reuniões que se seguiram a ela. Neste trabalho fiz uma primeira aproximação teórica da Geografia Política envolvendo problemas ambientais. Minha intenção foi estabelecer um marco conceitual a partir do qual pudesse continuar a desenvolver estudos da intrincada rede de relações que cercam a temática ambiental envolvendo países. Temas como segurança ambiental internacional, sustentabilidade e soberania emergiram como questões centrais em minhas reflexões e produção acadêmica.
A pesquisa do doutorado foi facilitada após o advento da rede mundial de computadores. Recordo que este aspecto foi realçado pela banca, já que, na época, ainda não era frequente como se verifica hoje em dia, o levantamento de dados a partir de informações oficiais divulgadas em páginas eletrônicas de governos, organismos internacionais e entidades ambientalistas. Mas não basta captar a informação, é preciso analisar os dados.
Entretanto, cabe aqui um alerta. Lamentavelmente, as informações não estão mais disponíveis como antes. Muitos países, e mesmo organizações multilaterais e secretariados de convenções internacionais, deixaram de expor os dados na rede mundial de computadores. O resultado é uma maior dificuldade na obtenção de indicadores que no final da década de 1990. A propalada democratização por meio das redes de computadores tornou-se relativa e seletiva.
Participaram da banca de doutorado a geógrafa Maria Encarnação Beltrão Sposito, o geógrafo Carlos Walter Porto Gonçalves, o cientista político Leonel Itaussu de Almeida Mello, o geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira e o geógrafo José William Vesentini – orientador. Após os trabalhos, a banca decidiu pela aprovação com distinção, recomendando a tese para publicação.
Publicada como livro (RIBEIRO, 2001), A ordem ambiental internacional alcançou uma repercussão junto a três campos do conhecimento científico: a Geografia, o Direito Internacional e as Relações Internacionais. A obra passou a ser discutida em disciplinas de graduação e pós-graduação dessas áreas, o que me envolveu em uma série de seminários e formas de cooperação em pesquisas e bancas.
2. GEOGRAFIA POLÍTICA DA ÁGUA
O trabalho que submeti como parte de minha Livre Docência (RIBEIRO, 2004), no Departamento de Geografia da USP, Geografia Política da Água, discute a ausência de um instrumento internacional que garanta o acesso a essa substância fundamental à reprodução da vida. Inicio com uma análise da gestão dos recursos hídricos na escala internacional, com a mesma metodologia da tese de doutorado. Nesse texto procurei expressar o impacto da distribuição política da água e projetar perspectivas para o abastecimento para os próximos anos.
Primeiramente, discorri sobre a oferta hídrica por país e analisei o uso da água. Depois, dediquei um capítulo para as convenções internacionais que tratam dos recursos hídricos, no qual constatei a ausência de uma regulação multilateral aceita pela maior parte dos integrantes do sistema internacional. Também abordei o direito humano à água, na época um tema emergente no debate internacional, que em 2010 foi reconhecido pela Assembleia Geral da ONU.
Em seguida, tratei de verificar as formas de acesso à água, que são basicamente duas: o comércio e o conflito. O primeiro caso foi abertamente difundido pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional, que difundiu a privatização dos serviços da água e, ao mesmo tempo, defendeu interesses de grandes grupos privados que já atuavam no comércio de água engarrafada ou por meio da aquisição da prestação de serviços hídricos. Em relação aos conflitos, a projeção da carência de água em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os que mais usam água no mundo, gera uma perspectiva sombria. Parte deles dispõe de relevante capacidade estratégico-militar e podem desejar usá-la para obter água. Uma ocupação territorial para tomar literalmente a água de países que têm oferta hídrica considerável, como é o caso do Brasil e de muitos da América do Sul, não pode ser descartada, ainda que ela não deva ocorrer nos moldes que se deram, por exemplo, no Iraque, para controlar a extração de petróleo. Bombardear uma área com água seria pouco inteligente, dado que vai degradar exatamente o objetivo a ser conquistado. Portanto, a dominação e o conflito pela água são mais sutis que uma guerra por petróleo.
Por fim, o texto defende uma nova cultura da água, na qual seu uso deve ser adequado à oferta hídrica de cada país.
A banca examinadora de minha Livre Docência foi composta pela geógrafa Ana Fani Carlos, pelo geógrafo Eliseu Sposito, pela geógrafa Helena Ribeiro, pelo engenheiro agrônomo Waldir Mantovani e pelo geógrafo José Bueno Conti, presidente.
Em 2008 a tese ganhou o formato de livro (RIBEIRO, 2008), que também alcançou repercussão importante nas áreas de Geografia, Direito Internacional e Relações Internacionais.
3. ÁGUA TRANSFRONTEIRIÇA
Nos últimos anos venho me dedicando a compreender os conflitos , tensões e possibilidades de cooperação que envolvem a água transfronteiriça (RIBEIRO; SANT’ANNA, 2014; RIBEIRO; SANTOS; SILVA, 2019). Como foco de análise, a bacia do Prata foi escolhida por apresentar uma gama de aspectos que envolvem o uso múltiplo da água, como a produção de energia, o abastecimento de grandes contingentes populacionais, a produção agrícola e industrial (RIBEIRO; SANT’ANNA; VILLAR, 2013).
Água transfronteiriça é a que perpassa ao menos duas unidades políticas por meio de um corpo de água, seja ele superficial ou subterrâneo. Rios, lagos e represas podem estar entre duas unidades políticas, sejam elas internacionais ou internas a um país, caracterizando água transfronteiriça superficial. Um aquífero pode ocorrer sob duas unidades políticas e, como nas situações anteriores, transcender países ou unidades territoriais internas a um país (RIBEIRO, 2008a; VILLAR; RIBEIRO, 2011; LEITE; RIBEIRO, 2018; ESPÍNDOLA; LEITE; RIBEIRO, 2020).
Dois conceitos ajudam muito a interpretar as relações entre unidades políticas envolvendo água transfronteiriça: hidropolítica e hidro-hegemonia. O primeiro relaciona-se ao uso político da água para o exercício do poder de uma unidade política sobre a outra. O segundo ocorre quando a relação de poder resulta na hegemonia de uma unidade política sobre a outra (PAULA; RIBEIRO, 2005). Além disso, é necessário revisitar o conceito de soberania (RIBEIRO, 2012).
Esses conceitos podem ser usados para analisar situações internas ao Brasil, como as consequências da transposição do rio São Francisco, que alterou as relações de poder entre estados do Nordeste. Outro exemplo de aplicação foram os conflitos gerados por ocasião da crise de gestão da água na Região Metropolitana de São Paulo entre 2013 e 2015, envolvendo os estados do Rio de Janeiro e São Paulo (BUCKERIDGE; RIBEIRO, 2018).
No caso da bacia do Prata, foco das análises nos últimos anos, os conflitos envolvendo a Itaipu Binacional mobilizaram diferentes governos (RIBEIRO, 2017). O Paraguai reivindicou tarifas mais elevadas, no que foi parcialmente atendido pelo Brasil, e também reivindicou soberania para vender o excedente de energia livre no mercado, em vez de, por contrato, ter que vendê-la ao Brasil. Sobre este ponto as negociações não avançaram (INÁCIO JR.; RIBEIRO, 2019).
A existência do Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata, desde 1968, além de várias outras instituições, aponta a necessidade de uma análise política do papel e alcance de cada instituição. Apesar da existência desse conjunto de órgãos dedicados à gestão da água na bacia do Prata, eles são pouco eficazes em função da ausência de recursos para implementar projetos e por não disporem de corpos técnicos independentes (VILLAR; RIBEIRO; SANT’ANNA, 2018; ESPÍNDOLA; RIBEIRO, 2020). Como resultado, os estudos sobre a bacia estão sujeitos ao financiamento externo, que evidentemente não chega desinteressado.
4. ENSINO DE GEOGRAFIA
Discutir o ensino de Geografia é uma de minhas paixões. A reflexão sobre esse tema nasceu de minha militância na AGB. Por mais de uma vez presenciei debates fecundos no Anfiteatro do DG lotado para tratar da renovação da Geografia e sua aplicação no ensino fundamental e médio.
Assisti também a inúmeras avaliações da Proposta Curricular de Ensino de Geografia, produzida pela então Coordenadoria de Ensino e Normas Pedagógicas (CENP), ao longo da década de 1980. A principal mudança sugerida era a indicação da categoria “trabalho” como eixo central das discussões. Havia também uma grave lacuna: a dinâmica da natureza. Naquele momento de radicalismo, chegou-se a decretar a morte da Geografia Física. Pior, muitos colegas que se dedicaram a ela foram rotulados como conservadores por empregarem “métodos positivistas” em seus trabalhos.
A discussão sobre o ensino de Geografia foi retomada com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ao longo da década de 1990. Novos debates tensos ocorreram, envolvendo seus elaboradores e a comunidade geográfica. Participei de alguns. Mais recentemente, as discussões ainda mais polêmicas que envolveram a definição da Base Nacional Comum Curricular, de 2018, ofereceram outras oportunidades para tratar do ensino de Geografia.
Por fim, aponto as coleções e livros de apoio didático que tive a oportunidade de publicar, resultado de muita investigação de fontes e discussão com vários colaboradores. O começo da produção didática veio a partir de um convite da professora Delacir Poloni, que resultou em uma coleção para os quatro anos iniciais (RIBEIRO; GUIMARÃES; POLONI, 1994). Depois, vieram novos projetos destinados ao ensino fundamental II (RIBEIRO; ARAÚJO; GUIMARÃES, 1999; RIBEIRO, 2012a) e ao ensino médio (RIBEIRO; GUIMARÃES; KRAJEWSKI, 2000; RIBEIRO; GAMBA; ZIGLIO, 2018). Algumas dessas obras chegaram à terceira edição, e duas ainda estão em catálogo.
5. OUTROS TEMAS
Também tive a oportunidade de discutir questões como cooperação internacional e redes de atores não estatais (ZIGLIO; RIBEIRO, 2019), justiça ambiental e justiça espacial (RIBEIRO, 2017a), mudanças climáticas (RIBEIRO, 2002d, 2008b), governança da água no Brasil e em São Paulo (RIBEIRO, 2009, 2011), sociedade do risco (ZANIRATO et al., 2008; RAMIRES; RIBEIRO, 2011), entre outras.
6. COLABORAÇÃO JUNTO À IMPRENSA
Escrever para a imprensa era uma tarefa pouco compreendida no meio acadêmico no início de minha carreira. Quando comecei a colaborar com a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo, na década de 1990, recebia olhares de surpresa de colegas, que estranhavam minha disposição em comentar temas contemporâneos.
Felizmente a divulgação científica já sofre menos preconceito na universidade. Cada vez mais pesquisadores envolvem-se com a produção de conteúdo para o grande público por meio de redes sociais. Pode ser uma trilha a seguir no futuro.
Da imprensa escrita passei à falada, por meio de colaborações com as rádios Eldorado, depois Estadão/ESPN e, por fim, Estadão. Mantive uma coluna sobre temas socioambientais que começou quinzenalmente e, quando terminou, tinha duas edições por semana. Desde 2017 comento, semanalmente, temas socioambientais na Rádio Brasil Atual, mais especificamente no Jornal Brasil Atual, que é transmitido ao vivo pela TVT (TV dos Trabalhadores) e pelos canais do Youtube destes veículos (https://www.youtube.com/watch?v=0rYSJGvJgQo).
Tive várias participações na TV; destaco programas de opinião, como o Roda Viva (https://www.youtube.com/watch?v=ibKboWNOCXM) e o Panorama (https://tvcultura.com.br/videos/68061_panorama-tragedia-em-brumadinho-01-02-2019.html), na TV Cultura, além de diversas entrevistas para distintas emissoras.
III. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Além das experiências de pós-doutorado, tive oportunidade de colaborar em outras universidades por meio de disciplinas ministradas, ademais de integrar uma rede de pesquisa internacional sobre água na América Latina, experiências comentadas a seguir.
1. UNIVERSIDAD DE SEVILLA
Durante minha estada no Departamento de Geografia Humana da Universidad de Sevilla, nos meses de outubro e novembro de 2008, pude conhecer diversos professores, o que me permitiu ter uma ideia geral das pesquisas geográficas que se desenvolviam naquela universidade, em especial no campo dos estudos socioambientais. A governança e as políticas públicas ambientais eram alvo de investigações.
O professor Juan Suarez de Vivero recebeu-me na instituição, com quem pude discutir a governança do sistema internacional relacionada aos temas ambientais. Como grande especialista vinculado aos estudos do mar, e com larga experiência em foros de pesquisa da União Europeia, o professor Vivero tem uma produção relevante sobre as relações entre a Geografia Política e o ambiente, no caso, com os recursos marinhos em suas múltiplas dimensões. Em relação à governança, a posição do professor Vivero reconhece o caráter institucional do tema. Para ele, a governança envolve diversos atores em fóruns diferentes, o que dificulta sua implementação.
Com a professora Maria Fernanda Pita, especialista em estudos climatológicos, tive a possibilidade de conhecer mais referências e fontes de pesquisa sobre estudos relacionados às mudanças climáticas na Espanha. Ela informou-me que os estudos estão mais concentrados na mitigação que na adaptação às consequências que as transformações globais trarão ao território espanhol.
Com o professor Leandro Del Moral, na ocasião chefe do Departamento de Geografía Humana, pude discutir outro tema de grande interesse: a gestão da água. Ele apresentou-me o curso de mestrado Gestión Fluvial Sostenible y Gestión Integrada de Aguas, em desenvolvimento na Universidad de Zaragoza, que é ministrado por um conjunto de professores de diversas universidades europeias. Nesse curso, o estudante tem contato com diversos aspectos da gestão dos recursos hídricos, como a governança, a Diretiva Marco Europeia para a água e a participação popular na gestão da água.
A estada na Espanha possibilitou fazer uma visita ao professor Horacio Capel. Na ocasião, além de cumprimentá-lo pela nomeação para o prêmio Vautrin Lud, considerado o Nobel da geografia mundial, pude realizar uma interessante entrevista em conjunto com a professora Silvia Zanirato. Entre os diversos assuntos abordados na ocasião, ressalto a visão do professor sobre o prêmio, sua repercussão e impacto, mas, principalmente, a avaliação que expôs sobre a geografia espanhola, latino-americana e brasileira (RIBEIRO; ZANIRATO; CAPEL, 2010).
2. UNIVERSIDAD DE SALAMANCA
No período de 2013 a 2015 fui convidado a colaborar na disciplina “Território”, do “Master en Estudios Brasileños”, no Centro de Estudios Brasileños da Universidad de Salamanca. Essa disciplina era oferecida com mais dois colegas, a professora María Isabel Martín Jiménez e o professor José Luis Alonso Santos, ambos do Departamento de Geografía da Universidad de Salamanca. A primeira tratava dos aspectos naturais do território brasileiro, enquanto o segundo apresentava uma análise regional, destacando as diferenças sociais e econômicas entre as regiões brasileiras. Minha contribuição estava focada em discussões conceituais sobre território, formação territorial do Brasil, composição e dinâmica populacional do país. O master atraiu alunos de diversos países, como Espanha, Grécia, Finlândia, Canadá e Brasil, com formação também diversificada (geógrafos, economistas, cientistas políticos, advogados, pedagogos, entre outros). Ao longo de três anos, as turmas variaram entre quinze e dez alunos. Nesse projeto, os estudantes tinham que cumprir uma etapa de estudos no Brasil. Por isso o intercâmbio era muito rico e estimulante. Porém, coincidentemente ou não, após o golpe de 2016 que destituiu a Presidenta Dilma Rousseff, não houve alunos em número suficiente para iniciar novas turmas, o que interrompeu a colaboração como docente.
3. UNIVERSIDAD DE CALDAS
Em 2014 fui convidado para ministrar a disciplina “Geografía y Ecología Política del Agua en América Latina”, para as maestrias em “Estudios Políticos” e em “Derecho Publico” da Universidad de Caldas, em Manizales, Colômbia. Abordei temas como: a sociedade contemporânea e o uso da água; o acesso e a oferta de água na América Latina; principais usos da água na América Latina; o Direito Humano à água e perspectivas para o futuro. O grupo de alunos mostrou-se entusiasmado e participativo. Composto em sua maioria por estudantes com formação em Direito, o grupo assimilou muito bem as teorias e reflexões expostas, gerando um debate agudo e construtivo, apesar do ritmo intenso das aulas.
4. OUTROS CASOS – MÉXICO, ÍNDIA, SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE E REDE DE PESQUISA WATERLAT/GOBACIT
Um dos momentos mais relevantes que tive oportunidade de experimentar como geógrafo e professor ocorreu em 2008 na Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). Naquela ocasião pude ministrar um curso para o “Posgrado de Geografía” com o tema “Geografia Política y recursos naturales”, a convite da professora Veronica Ibarra. Começava um rico diálogo. Apresentei reflexões ainda atuais que envolvem recursos hídricos e petróleo, temas de grande interesse à população mexicana, relacionando-os à Geografia Política dos recursos naturais. A assistência foi muito atenta e propiciou um estimulante debate.
Com coordenação da professora Neli Mello-Thèry, da USP, o projeto “Exclusão social, território e políticas públicas: uma comparação Índia-Brasil”, foi financiado pela Agence Nationale de la Recherche da França e envolveu a Université Paris X - Nanterre, o Centro de Estudos da Índia (Ceias-Ehess), o Centre de Sciences Humaines (Delhi), a USP (DG e IEA) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (núcleo Favela e Cidadania, Escola de Serviço Social), somando vinte pesquisadores do Brasil, da França e da Índia, de 2007 a 2009. O objetivo era identificar como as áreas mais pobres das periferias urbanas de Delhi, Mumbai, Rio de Janeiro e São Paulo eram afetadas por políticas públicas para habitação e eventuais pressões sobre unidades de conservação (MELLO-THÈRY et al., 2014).
Cabe ressaltar a participação no programa de cooperação entre o Brasil e São Tomé e Príncipe, no qual, sob coordenação da professora Norma Valencio, da UFSCar, analisamos o Plano de Adaptação de São Tomé e Príncipe às mudanças climáticas. Como resultado, escrevi um capítulo sobre as potencialidades ambientais de São Tomé e Príncipe (RIBEIRO, 2010) e organizei um livro, em conjunto com a professora Norma Valencio (VALENCIO; RIBEIRO, 2010). Esse projeto resultou de uma iniciativa do CNPq que visava promover uma aproximação com países africanos.
Destaco a inserção na rede Waterlat, que visa congregar pesquisadores da América Latina e da Europa dedicados a analisar temas relacionados à ecologia política da água, coordenada pelo professor Jose Esteban Castro, atualmente pesquisador do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), na Argentina. A Waterlat incorporou a rede Gobacit, formando a Waterlat/Gobacit (https://waterlat.org/pt/). Participei de várias reuniões anuais da rede, na condição de coordenador da Área de Trabalho sobre águas transfronteiriças, bem como expondo resultados de pesquisas. Em 2010, organizei o segundo encontro da rede, no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP), quando cerca de 120 trabalhos foram expostos à discussão (CASTRO; RIBEIRO, 2010).
IV. OUTRAS PARTICIPAÇÕES
A seguir, comento alguns eventos não acadêmicos dos quais participei, que tiveram relação direta com minhas pesquisas.
Um dos mais marcantes foi o Rio 92. Fui representante do Fórum Brasileiro de Organizações Não Governamentais na reunião oficial, a primeira da ONU a aceitar a presença de representantes da sociedade civil na delegação dos países. Cheguei a essa situação a partir da representação da AGB nas reuniões preparatórias para a Rio 92.
Esta reunião propiciou a convivência com ambientalistas e pesquisadores de muitas partes do mundo. A presença de chefes de estado, como Fidel Castro, François Mitterrand, John Major, respectivamente presidentes de Cuba, França e primeiro-ministro do Reino Unido, despertou em mim o tema de pesquisa para o doutorado.
A primeira Conferência Nacional de Meio Ambiente “Vamos cuidar do Brasil”, organizada pelo Ministério do Meio Ambiente, mobilizou mais de 60.000 pessoas de todo o Brasil, em 2003. Elas organizaram-se por segmentos da sociedade brasileira em nível municipal, estadual e regional, permitindo o encontro de trabalhadores, ambientalistas, sindicalistas, profissionais da área tecnológica, empresários, militares, entre outros, obedecendo a uma divisão de gênero. Eu fui delegado eleito a partir da representação do CREA-SP. O objetivo da Conferência foi aprimorar o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), por meio da discussão e mobilização da sociedade brasileira. Os trabalhos ocorreram na Universidade de Brasília.
A Conferência Nacional de Meio Ambiente foi um marco importante na construção da cidadania no Brasil. Ela gerou uma corresponsabilidade na sociedade brasileira pela implementação de seus resultados e para a fiscalização da atuação dos governos em todas as suas esferas. Infelizmente parte desses avanços estão ameaçados por ações do Governo Federal que se instalou em janeiro de 2019.
De junho de 2003 até junho de 2004, fui o representante suplente do CREA-SP no Conselho Estadual de Meio Ambiente da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do estado de São Paulo (CONSEMA). Fui indicado para presidir os trabalhos da Comissão Especial de Biodiversidade, Florestas, Parques e Áreas Protegidas, que tinha como tarefa central auxiliar o Conselho Estadual na gestão e acompanhamento das unidades de conservação ambiental do estado de São Paulo.
Também fui representante do CREA-SP no Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável de São Paulo, nos períodos de 1998-2000 e 2004-2007. Integrei a Câmara Técnica de Saneamento Ambiental, que analisou problemas como o destino final de resíduos da área hospitalar. Participei também de um grupo de trabalho que gerou a Certificação de Qualidade Ambiental, um tipo de selo verde que deveria ser destinado a projetos de empreendimentos que salvaguardem ao máximo o ambiente. Tive, ainda, a oportunidade de fazer uma apresentação sobre “Recursos hídricos na Grande São Paulo” em uma das reuniões do CADES, por sugestão de membros do plenário, da qual resultou a indicação de se remeter para a Câmara Técnica de Saneamento Ambiental a missão de elaborar uma Campanha da Água para o município de São Paulo. Outra exposição que fiz àquele qualificado plenário foi “Mudanças climáticas e suas implicações para São Paulo”, em 2007. A convivência com técnicos da Prefeitura de São Paulo, ambientalistas e pesquisadores estimulou o debate de alternativas para os problemas ambientais desse município.
Em março de 2006, tive mais uma experiência em reuniões da ONU ao participar da Oitava Conferência das Partes da Convenção de Diversidade Biológica, realizada em Curitiba (PR). Foi mais uma oportunidade de assistir negociações da ordem ambiental internacional e presenciar a pressão de ONGs, as restrições que alguns países apresentam a determinados assuntos e perceber, mais uma vez, a complexidade do tema.
Destaco ainda a participação na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro em 2012, que ficou conhecida como Rio+20. Além de organizar um evento na reunião paralela por meio do IEA, que discutiu temas socioambientais que envolviam o Brasil, fui convidado a atuar como mediador dos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, uma iniciativa do Ministério das Relações Exteriores do Brasil que teve apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Essa experiência inovadora permitia a um cidadão enviar uma proposta para o plenário da Rio+20 independentemente de ser membro de governo e/ou de uma delegação. Para tal, ele teria que apresentar uma proposta em um dos dez diálogos, a saber: (i) Desemprego, trabalho decente e migrações; (ii) Desenvolvimento Sustentável como resposta às crises econômicas e financeiras; (iii) Desenvolvimento Sustentável para o combate à pobreza; (iv) Economia do Desenvolvimento Sustentável, incluindo padrões sustentáveis de produção e consumo; (v) Florestas; (vi) Segurança alimentar e nutricional; (vii) Energia sustentável para todos; (viii) Água; (ix) Cidades sustentáveis e inovação; e (x) Oceanos. As três propostas mais votadas de cada grupo seriam encaminhadas como resultado da Rio+20. Eu coordenei, com uma colega da França e outra da China, o diálogo II, no qual apresentei uma proposta de taxação das movimentações financeiras para criar um fundo para investimento em tecnologias sustentáveis. Após discussão no grupo, ela foi aprovada para ser encaminhada à plenária, que a referendou e a aprovou entre as encaminhadas aos resultados da Rio+20. Segundo informações da época, cerca de 60.000 pessoas de 193 países participaram das reuniões virtuais de abril a junho de 2012. Nesse período, organizei um livro que procurou contribuir para os debates preparatórios à Rio+20 (RIBEIRO, 2012b).
V. PREMIAÇÕES E DEMAIS DISTINÇÕES
Para um professor, não há nada mais relevante que o reconhecimento de seus alunos. Em meu caso, isso ocorreu em diversas passagens de minha atuação profissional.
A primeira a destacar foi a honrosa indicação como paraninfo das turmas de formandos do curso de Bacharelado em Geografia de 2002 e 2003. Com muita emoção recebi a incumbência de proferir um discurso que pudesse marcar aquele nobre momento na vida dos alunos, seus familiares e amigos. Além de ressaltar a conquista pessoal de cada um, motivo para júbilo, recordo-me de lembrar-lhes a responsabilidade que teriam como profissionais, em quaisquer que fossem as atividades que viessem a desenvolver. Lembrei-lhes do pensamento crítico, uma das marcas da formação do Departamento de Geografia, mas também da importância de buscar alternativas à reprodução da vida em bases diferentes à do padrão hegemônico em nossos dias, que gera muita desigualdade social e graves problemas ambientais. Realcei também a esperança que o Brasil vivia naquele momento com a eleição de uma liderança popular como Presidente da República.
O CREA-SP também honrou-me com uma distinção por serviços prestados na área ambiental em 2009.
Para minha felicidade, tive várias orientandas que receberam distinções acadêmicas, listadas a seguir:
• Simone Scifoni, Prêmio CAPES de melhor Tese de Doutorado de 2007;
• Lucy Lerner, melhor Dissertação de Mestrado do PROCAM e Menção Honrosa de melhor Dissertação de Mestrado do Prêmio ANPPAS de 2008;
• Luciana Ziglio, Premio Betinho - Cooperar Reciclando Reciclar Cooperando - CEMPRE, Camara Municipal de Sao Paulo, 2009.
• Pilar Carolina Villar, melhor Dissertação de Mestrado do PROCAM do período 2008 a 2010;
• Zulimar Márita Ribeiro, melhor Tese de Doutorado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), 2010;
• Pilar Carolina Villar, melhor Tese de Doutorado do PROCAM do período 2010 a 2012;
• Pilar Carolina Villar, Menção Honrosa do Prêmio CAPES de melhor Tese de Doutorado de 2013;
• Zenaida Luisa Lauda Rodriguez, melhor Tese de Doutorado do PROCAM 2018;
• Zenaida Luisa Lauda Rodriguez, Menção Honrosa de melhor Tese de Doutorado da rede Waterlat, 2019;
• Zenaida Luisa Lauda Rodriguez, Menção Honrosa de melhor Tese de Doutorado do Prêmio ANPPAS, 2019.
VI. UM BALANÇO
Depois de 34 anos como docente universitário, dos quais 31 no DG, afirmo que a universidade atual é muito diferente da que ingressei. A começar pela impossibilidade de ser aprovado como docente apenas com o título de Bacharel, como eu fui. Hoje, a carreira começa com o título de Doutor. Ou seja, a universidade não julga mais conveniente formar seus quadros. Isso pode trazer alguma vantagem, que é a bem-vinda interação com outras visões do conhecimento e culturas universitárias. Mas gera desvantagens, como um menor vínculo com a instituição e o desconhecimento da dinâmica e história institucional de ingressantes.
Outra mudança muito importante é o produtivismo, associado à competição entre docentes, que assola corações e mentes, com sérias consequências pessoais e institucionais. Ao estabelecer métricas quantitativas de produção acadêmica, expressa em artigos publicados em revistas de elevado impacto, a universidade empobreceu, em especial, as Ciências Humanas, que não tinham, e nem necessitavam ter, as métricas empregadas por outros campos do conhecimento para aferir a qualidade de um resultado de pesquisa. Perdeu-se a possibilidade do improviso, do texto especulativo, do ensaio provocador, já que as revistas, mediadas por pares, incitam a uma normatização que transcende as regras formais de submissão. Trata-se de uma verdadeira, e avassaladora, maneira de impor um modelo de ciência, mesmo às Humanidades, que parecem estar próximas a sucumbir a essas demandas. Espero estar enganado neste diagnóstico.
Atuei na CAPES junto à área Interdisciplinar e estive entre os que subscreveram o documento que criou a área de Ciências Ambientais. Participei de duras discussões para que um livro e um capítulo de livro fossem aceitos como resultados de pesquisas, o que era consenso na nova área, mas negado por outras do campo Interdisciplinar. Criaram-se parâmetros para definir um livro, com uma série de exigências a serem cumpridas por editores e autores. Foi o custo para que fossem aceitos, mas ainda com muita resistência, que não foi de todo superada.
Na gestão das políticas socioambientais no Brasil, verifica-se um desmonte a partir de janeiro de 2019. O governo empossado naquele ano, entre outras tantas ações, esvaziou o Ministério do Meio Ambiente ao retirar de seu âmbito a Agência Nacional da Água, bem como o Cadastro Ambiental Rural. Também decretou mudanças no Conselho Nacional de Meio Ambiente e flexibilizou a fiscalização do desmatamento. Como resultado, assistiu-se ao maior desmatamento e quantidade de focos de incêndio da história do Brasil em 2020.
Com este quadro, cabe a pergunta: valeu a pena o esforço despendido?
Sim! Nestes anos convivi com colegas de diferentes áreas do conhecimento, países e unidades da Federação do Brasil, que me ensinaram a ser mais tolerante do que era no começo da minha carreira. Também agradeço aos meus professores, bem como aos geógrafos, mestres e doutores que formei até o momento, pelas ricas discussões travadas em nossas reuniões de trabalho no Laboratório de Geografia Política do DG, o GEOPO, como o chamamos. Agradeço aos pós-doutores que supervisionei até aqui. Por este grupo, que está registrado no CNPq com o nome de “Geografia política e meio ambiente”, passaram geógrafos, mas também arquitetos, advogados, internacionalistas, historiadores, sociólogos, biólogos, engenheiros, entre outros.
Agradeço ao DG e às agências de fomento, que ampararam pesquisas que resultaram em mais capacidade de assimilar o complexo mundo da ordem ambiental internacional. Agradeço à Tamires Oliveira pelo convite a elaborar este texto.
Por fim, mas não menos importante, espero que esse conjunto de publicações, de mestres, doutores e geógrafos formados, possam contribuir para um mundo melhor, menos desigual, no qual as relações humanas sejam pautadas pela solidariedade, tolerância e respeito, com menos impactos socioambientais. Desejo, ainda, que a Geografia que produzi conquiste aceitação política para avançar nessas trilhas.
E sigo na luta, porque tem muito trabalho pela frente...
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