- 1 O processo da obsolescência espacial urbana é amplamente discutido em nossa tese de doutoramento, G (...)
1Para
a construção de uma teoria urbana capaz em nos explicar de maneira mais
eficiente, entre outros fatores, a dinâmica fundiária na cidade e a
forma como os mais diversos agentes atuam nessa realidade, Harvey (1980)
chama a atenção para a necessidade de uma fusão conceitual entre a
teoria da renda e a teoria da localização. Nesse sentido, tanto a renda
fundiária e tudo o que ela comporta, bem como questão da localização,
são elementos importantes no sentindo de compreensão de um processo
desencadeado pela dinâmica fundiária urbana, no caso, a obsolescência
espacial urbana1.
2A
noção de obsolescência como tema de investigação se contrapõe ao que se
convencionou denominar de deterioração urbana nos estudos urbanos, que é
impreciso e não responde ao processo que levam à decadência física,
funcional e econômica dos ambientes construídos. O conceito de
obsolescência espacial urbana refuta a noção de deterioração por
entender que a problemática que se impõe nos ambientes construídos da
cidade é de ordem sócio geográfica.
3O
processo obsolescência espacial urbana está relacionada a incapacidade
de determinada área da cidade garantir a manutenção de patamares
elevados e satisfatórios da renda fundiária, lucros e das taxas de
juros. Em outros termos, a obsolescência espacial em uma determinada
área ocorre na medida em que os agentes econômicos – mercado imobiliário
e proprietários de imóveis – não conseguem extrair taxas elevadas de
renda, lucros e juros de suas propriedades, seja porque essas formas de
remuneração do capital foram diminuídas e/ou amortizadas ao longo do
tempo, seja pelo uso e desgaste das edificações e da infraestrutura,
seja pela formação ou pelo redimensionamento de outras localidades na
cidade, que atrai e polariza as ações e intervenções do Estado e de
capitais de todas as ordens em detrimento das “antigas” e/ou “velhas”
localidades.
- 2 A terra em si mesma não possui a propriedade de ser mercadoria. Isso só ocorre mediante a formação (...)
4O
fator localização na cidade não pode ser dissociado da dinâmica de outro
elemento, no caso, a terra-mercadoria, isto é, do mesmo modo em que não
há espaço geográfico fora da lógica de reprodução do capital, não há
localização fora da lógica da terra-mercadoria, bem como não há
terra-mercadoria sem considerarmos a sua localização2.
5Para
Seabra (1988), a renda fundiária constitui-se numa categoria teórica
exploratória e explicativa das especificidades dos lugares inscritos
espacialmente e socialmente. Diz ela em relação à renda fundiária: “1º -
se define num conjunto de relações políticas e jurídicas; 2º - como tal
assume uma forma pertencente ao capital, no contexto da formação
econômica social capitalista; 3º - se constitui num volume de riqueza
social com o qual se remunera a propriedade e 4º - se constitui num
elemento pertencente a este modo de produção sem que tenha a ver com a
base fundamental do mesmo” (SEABRA, 1988, p.100).
6O
processo de produção e reprodução capitalista valoriza a terra na forma
de propriedade, onde a renda que se obtém a partir das leis de
reprodução é um meio de captação da mais valia da riqueza da sociedade.
Como mercadoria, a terra comporta ao mesmo tempo, valor de uso e valor
de troca, sendo a localização um dos valores de uso da terra-mercadoria.
Porém, como se trata de mercadoria, a terra também comporta valor de
troca, que se relaciona dialeticamente e se impõe sobre os valores de
uso, sendo essa condição válida para a localização.
7A
localização é um dos componentes fundamentais no mercado de terras e,
sobretudo, para a composição da renda fundiária urbana, que em última
instância, é o fator basilar para a formação e composição do preço da
terra. O preço é o elemento que vai garantir, no processo de produção
das edificações de uso comercial, residencial e industrial, a extração
da renda fundiária propriamente dita, os lucros e taxas de juros
auferidos pelos agentes econômicos ligados direta e indiretamente ao
mercado imobiliário.
- 3 VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Nobel/FAPESP, 2001.
8Uma das principais referências em relação à teoria terra-localização é Flávio Villaça (2001)3
a qual é base conceitual utilizada por arquitetos e urbanistas, e que
em muitos casos, além de usarem o conceito de modo simplista, muitos
desses são responsáveis e/ou integram quadros da Prefeitura Municipal de
São Paulo, que desenvolvem projetos de intervenções urbanas, como por
exemplo, as operações urbanas. Para efeito desse estudo, tomamos a forma
e a linha de raciocínio ora desenvolvido por ele no sentindo de
apresentar também o caminho proposto, por exemplo, por Harvey.
9Villaça
(2001) não coloca em lados opostos a teoria da renda e da localização,
considera a existência da renda de monopólio, mas esta para ele não é
significativa para a compreensão da dinâmica na formação dos preços da
terra urbana. Em sua abordagem o elemento principal para a formação dos
preços é a localização ou renda de localização como a predominante no
espaço urbano.
10De
acordo com Villaça (2001), a terra urbana não se limita à condição de
suporte de atividades econômicas e sociais que ocorrem na cidade. Ela, a
terra urbana, teria a partir da produção social, um valor de uso, no
caso sua capacidade de aglomerar, de combinar socialmente os meios de
produção e os meios de reprodução de uma formação social. Ao mesmo
tempo, esse valor de uso que reside em função das propriedades do espaço
urbano estabelecem relações entre si, o que Villaça define como pontos
ou localizações.
11Villaça, situado em Queiróz Ribeiro (s/d. apud Villaça, 2001, p.. 74) afirma que:
12[...]
os mais diversos agentes econômicos que atuam na cidade, a terra urbana
tem o papel de permitir o acesso aos efeitos úteis de aglomeração” onde
“cada terreno particular permite maior ou menor valorização pelo acesso
que sua localização propicia aos efeitos úteis de aglomeração.
13Ainda
pontua sob a perspectiva da localização como renda que a terra urbana
também permite acesso aos efeitos úteis de aglomeração para a força de
trabalho que se desloca de suas residências para os mais diversos
pontos, como trabalho, escola, lazer etc. Para os defensores da teoria
da localização, a terra interessa enquanto terra-localização, ou seja,
enquanto meio de acesso a todo sistema urbano, a toda cidade, isto é, a
acessibilidade nessa teoria é o valor de uso mais importante para a
terra urbana.
14Villaça
(2001, p. 74-75), ao justificar o peso que a acessibilidade possui na
cidade, a relaciona à quantidade de trabalho socialmente (produção
social da cidade) necessário dispendido em sua produção e justificando
da seguinte forma: “Quanto mais central for o terreno, mais trabalho
existe despendido na produção dessa centralidade. Os terrenos da
periferia tem menos trabalho social incorporado em sua produção do que
nas áreas centrais”. A localização como valor de uso seria resultado
produzido pelo trabalho coletivo despendido da construção da cidade,
assim quando se adquire o “ponto”, isso significa pagar algo, não para o
terreno, não pela edificação, não pelas suas instalações, mas pela
localização.
15No
tocante à terra urbana, que nas palavras do mesmo autor seria um
receptáculo de contínua acumulação de trabalho humano criador de valor, a
tendência é que seu preço sempre aumente, havendo em um ou outro
momento oscilações, mas sempre com tendência de aumento, condicionando
esse preço sempre ao fator urbanização – acessibilidade – localização.
Assim, ele reconhece que toda terra tem algum grau de monopólio, porém
na maior parte dos casos essa condição é pequena na determinação de seu
preço e reforça que o preço da terra se dá pela sua produção e pelo seu
valor, no caso o valor da localização, daí a denominação de
terra-localização.
16Seguindo a mesma linha de outros autores como Rodrigues (1988), Harvey (1980) e Lefebvre (2001), Villaça (2001)considera
que as cidades são forças produtivas e, como tal apresentam uma lógica,
uma lei e não uma desordem, tanto que potencializam a produtividade do
trabalho social. Não fosse essa condição das cidades em não apresentarem
esse caráter de força coletiva, essas não teriam o desenvolvimento que
tiveram sob o capitalismo, assevera o autor. Da mesma maneira, ainda
analisa a importância dos sistemas de circulação, no caso em específico,
as estradas, para as aglomerações urbanas nos seguintes teremos:
17Marx
deixa clara a existência de dois excedentes: um oriundo das forças
produtivas que potencializam o trabalho individual e outro decorrente
das chamadas “causas gerais da elevação da produtividade do trabalho” ou
“força produtiva social do trabalho” A questão é assim colocada por ele
referindo-se à construção de estradas, mas propomos a transferência dos
raciocínio para as aglomerações representadas pelas cidades.
“Concentração é sempre acréscimo da parcela da capacidade de trabalho
que casa indivíduo pode empregar na construção de estradas, além de seu
trabalho particular, mas não é somente acréscimo, A unificação de suas
forças aumenta suas forças de produção; entretanto isso não significa de
maneira alguma o mesmo que dizer que todos numericamente somados,
possuiriam a mesma capacidade de trabalho que teriam se não trabalhassem
em conjunto, portanto, se à soma de suas capacidades de trabalho não
fosse acrescentado o excedente existente somente no e através de seu
trabalho unificado e combinado” (Villaça: 2001, p. 77).
18Esse
valor de uso oriundo da força produtiva social do trabalho, da
aglomeração da cidade consiste no valor de uso das localizações. Villaça
considera a existência de outros valores de uso da terra, como por
exemplo, a infraestrutura, mas insiste na tese que o fator localização é
o elemento fundamental para o preço da terra.
19Considera
ainda que o valor de uso dos edifícios, ruas, infraestrutura se
transferem para o ponto, ou seja, para o valor de uso localização. Nesse
sentido, a localização (pura) funcionaria como um grande receptáculo de
outros valores de uso inerentes à terra urbana, sendo ela, o valor de
uso primordial na construção de preços das terras urbanas. Da mesma
maneira, defende que os agentes econômicos que atuam no setor
imobiliário das cidades se governam pelas localizações das terras, as
centralidades ou não que elas ocupam, permitindo desse modo um maior ou
menor grau de conexão com outros pontos da cidade, isto é, haveria aqui o
que ele denomina de diferenciais de localização que são captados pelos
terrenos, daí a diferenciação nos preços entre terrenos localizados em
área centrais e terrenos situados em áreas da periferia.
20Na
contramão do que defende, por exemplo, Topalov (1979), Villaça (2001, p.
79) nega a existência da renda diferencial no urbano. Diz ele:
21É
um equívoco comparar a fertilidade da terra agrícola – “um dom gratuito
da natureza” com a localização, fruto de trabalho socialmente
necessário. Aquilo que se chamaria de renda diferencial no espaço urbano
é na verdade um diferencial de valor. Os terrenos têm preços diferentes
porque têm valores diferentes, e não porque produzem rendas diferentes.
22Para
corroborar com sua tese, apega-se a ideia do terreno vago para
demonstrar sob seu ponto de vista a distinção entre renda e valor da
localização. Para tanto considera que sua
23[...]
valorização é acréscimo de valor resultante da produção da cidade e na
cidade, logo o terreno vago não gera renda diferencial. Seu valor, seu
preço é determinado pela localização, isto é, pela terra-localização que
é a expressão monetária desse valor (Villaça: 2001, p. 79).
24Para
ele as mudanças de uso ou transformações urbanas não geram rendas
diferenciais, mas sim atualizações e reajustes no preço da terra. Um dos
reajustes considerados por Villaça é a demolição de edificações, pois é
a através dessa ação que o valor obstruído por uma dada edificação
liberará esse valor, possibilitando a atualização do preço do terreno
“condizente com o seu valor atual”.
25A
renda fundiária na realidade urbana considerada por Villaça é a renda
absoluta, o que ele define como uma espécie de renda de monopólio, diz
ele:
26Esta,
em alguns – a minoria -, pode ser enorme e em outros – a maioria -, que
pode ser pequena. Em qualquer caso, contudo, afetará o preço do
terreno, mas o elemento determinante no preço será dado pelas
transformações dos pontos: seus atributos, valores e preços, seus usos,
os quais decorrem, em última instância, da melhoria de acessibilidade
(Villaça: 2001, p. 79).
27Em
suma, para Villaça, a localização como valor de uso é a definidora, o
elemento ou fator principal do preço da terra urbana. Não se nega aqui a
relevância do ponto de vista conceitual e reflexivo sobre a teoria
terra-localização. Trata-se de um modelo muito bem elaborado o qual nos
conduz a refletir e dialogar com outros modelos e conceitos para tratar
da problemática da obsolescência espacial urbana, porém, para os
objetivos de uma análise geográfica da qual nos propomos, ele nos
permite responder somente um lado da questão que envolve o processo, no
caso a dimensão da localização.
28Como
dissemos anteriormente, Villaça argumenta que pessoas jurídicas e
físicas adquirem via compra ou locação da terra, o ponto, isto é, se
adquire a localização. A localização é utilidade da terra, valor de uso.
Entretanto, para obter uma localização, essa condição passa
necessariamente por quem detém o ponto, ou seja, o proprietário, que via
à condição da propriedade privada da terra, detém o monopólio desse
ponto.
29Em
outros termos, esse ponto, no caso a propriedade privada situada em uma
determinada localização não é outra coisa que não valor de troca para o
seu proprietário, ou seja, para que qualquer um possa usufruir do valor
de uso desse ponto e de sua localização deve-se antes pagar um preço
(compra ou aluguel), sendo essa expressão monetária do valor de troca.
30Em
função dessa especificidade da terra-mercadoria, ou seja, o monopólio
exercido por um determinado agente, é que outros agentes e sujeitos
conseguem, caso o primeiro esteja disposto, a vender ou locar esse
ponto. Na medida em que isso ocorre, esse ponto, esse valor de uso,
permite ao comprador ou ao locatório o acesso a outros valores de uso
situados tanta na área da qual a localização se situa como em outras
áreas da cidade.
31Por
outro lado, para que os agentes tenham acesso aos valores de uso de
todas as ordens, significa que eles precisam na compra e na locação da
terra-mercadoria, pagar o preço a terceiros, os que detêm, via o
monopólio da terra, o valor de troca dessa mercadoria.
32A
localização como valor de uso é produzida, não isolada da totalidade da
cidade, pelo trabalho de toda sociedade, entretanto, via a socialização
capitalista do espaço, esse atributo, essa qualidade da terra, ao mesmo
tempo em que é usada coletivamente em maior ou menor grau por todos é
incorporado também na composição do preço da terra pelos que exercem o
monopólio dessa mercadoria.
33Além
disso, os proprietários de terra e outros agentes que atuam no mercado e
que usam a terra “como fundação, como um lugar e um espaço que
proporciona uma base de operações - o espaço é requerido como um
elemento de toda produção e atividade humana” (Harvey: 2013, p. 436), de
toda atividade econômica, na medida em que a força de trabalho circula
entre as localizações e capta uma fração dos salários que serão
convertidos em renda fundiária, lucro e juros.
34Como
valor, a localização de um determinado lote, terreno ou edificação no
mercado capitalista de terras somente tem relevância como valor de uso
na medida em que ela dialeticamente se relaciona com o valor de troca.
Isso significa dizer que uma localização produzida, reinventada ou
resgatada só se torna espacialmente relevante sob a perspectiva do
mercado imobiliário na medida em que ela atende as necessidades e
imposições dos agentes que detém para si o valor de troca da
terra-mercadoria. Sendo assim, essas localizações que se materializam na
cidade, via o trabalho socialmente necessário, ao serem aprisionadas
sob a lógica do valor de troca dos que monopolizam a terra, traduz para
esses a possibilidade no presente e no futuro de obterem ou de renovarem
o potencial de renda fundiária a ser auferida, além dos lucros e juros
decorrentes das operações do mercado imobiliário.
35Podemos
considerar que todas as localizações acabam em menor ou maior grau ao
longo do tempo sendo aprisionadas sob a lógica do valor de troca, e é
esse último, de acordo com os interesses dos agentes que o detém, é que
vão potencializar também em maior ou menor grau o peso da localização na
composição dos preços da terra urbana, bem como a importância da
localização no âmbito do uso realizado coletivamente.
36Por
exemplo, uma gleba de terra desnuda tem o seu preço gradualmente
corrigido e elevado para cima pela sua localização, mas ela sozinha
seria insuficiente para alçar esse preço, para tanto se faz necessário
os investimentos em infraestrutura realizados pelo Estado e construção
de edificações de todas as ordens e usos públicos e privados no entorno
da localização e na localização.
37Mesmo
que essa localização ou seu entorno diminua de valor ou perca
importância em detrimento de outras e novas localizações o preço da
gleba, mesmo de modo moderado, tende a ter seu preço corrigido sempre
para cima. Nesse sentindo, consideramos que Villaça não dá conta de
explicar todo o processo, pois em sua ótica, o preço de um terreno vago
ocorre mediante somente a valorização da localização.
38Ora
se uma localização “desvaloriza”, perde valor ou tem o seu valor
diminuído em função de outras localizações e/ou em função de outros
fatores inerentes à própria localização, como explicar a elevação de
preços desse terreno vago, mesmo que isso ocorra abaixo da média do
mercado?
39A
mesma lógica pode ser aplicada para lotes e áreas edificadas, os quais
se por um lado podem ter seus conjuntos físicos e econômicos
desvalorizados em função dos fatores que na sua totalidade desencadeiam a
obsolescência espacial por outro, mesmo que a localização tenha tido
reduzido seu valor frente a outros localizações, o preço desses lotes e
áreas são constantemente alterados, porém nunca para baixo.
- 4 A deterioração dos ambientes construídos é em nosso entendimento um dos recortes de uma totalidade (...)
40Como bem salienta Rodrigues (1988, p.82) “[...] mesmo quando as edificações se deterioram4
[...] é possível comprar-se um terreno com edificação e destruí-la,
pois é, muitas vezes, um terreno caro sobre uma edificação barata, -
pagou-se pelo terreno que nunca se estraga”.
41Marx
(1996, 2001) considera dois estágios no processo de transformação de
valores em preços de produção. No primeiro estágio, ocorre uma abstração
relativa ao valor dos meios de produção de modo a dar valimento que o
valor é produzido apenas pelo trabalho. Em outros termos na medida em
que ocorre maior quantidade de trabalho em um dado processo produtivo
maior será a quantidade de mais-valia produzida. No momento da
distribuição da mais-valia, conforme o tamanho de cada capital, forma
preços diferentes dos valores.
42Destaca-se
assim a importância da composição orgânica do capital do setor da
construção civil voltada ao setor imobiliário assinalado, ou seja, esse
setor por um lado possui baixa composição orgânica do capital e por
outro relativamente emprega mais trabalhadores o que acaba por gerar um
maior montante de mais valia, o que potencializa nesse setor e seus
agentes envolvidos mais obtenção de lucros, renda e juros, considerando
que esses são resultados diretos da mais valia.
43No
segundo estágio, Marx analisa a economia ao nível dos preços de
produção, ou seja, todas as mercadorias são vendidas aos seus preços, e
os preços dos insumos são considerados, além dessa condição destaca que a
transformação permite uma maior determinação na forma do trabalho
social, explicando dessa forma a distribuição do trabalho e da
mais-valia através da economia.
44Em
uma dimensão abstrata, o valor de uma mercadoria é diretamente ligado a
uma relação social de produção e em termos quantitativos o valor é o
tempo de trabalho socialmente necessário para reproduzir cada tipo de
mercadoria, conforme explicitado por Marx (1996; 2001). O valor também
deve ser visto como a expressão monetária desse tempo de trabalho
socialmente necessário em termos de preço direto, preço de produção, ou
preço de mercado.
45Na
realidade espacial urbana, essa condição torna-se mais complexa, ou
seja, no preço de mercado, quais são os elementos considerados pelo
setor imobiliário para quantificar o valor de um dado ambiente urbano
construído composto por um conjunto de objetos atuais e objetos
pretéritos, ou em outros termos um ambiente constituído por uma
sobreposição de produções e usos dados ao longo de um tempo?
46Uma
coisa é o preço inicial determinado na produção direta e atual de um
imóvel ou do preço de um terreno desnudo, a outra é quando esses preços
são mensurados a partir da totalidade do processo, ou seja, a relação
entre o preço da mercadoria individual, por exemplo, uma moderna
edificação e o valor do ambiente e/ ou localização da qual se situa essa
mercadoria.
47De
modo inverso, consideramos como o valor e/ou preço de um antigo imóvel,
ou em termos espaciais, como determinadas áreas se comportam diante de
um novo ambiente que gradualmente tende a difundir uma renovação do uso
do solo? Utilizar somente o conceito de terra-localização é insuficiente
para se compreender essas questões.
- 5 Livre tradução de: “Y a-t-il une rente foncière urbaine”?
48Jean Lojkine (1979) indaga: Existe uma renda fundiária urbana5?
Entendemos que é possível continuarmos a pensar, adotar e aceitar a
existência da renda fundiária urbana, visto que essa categoria
analítica, diante das cortinas de fumaça conceituais construídas pelos
modelos neoclássicos e neoliberais da economia, que se debruçam sobre a
realidade urbana, ocultam de modo sofisticado os reais processos
desencadeados pelos agentes que produzem o urbano, em especial, o Estado
nas suas mais diversas instâncias e o Capital vinculado ao setor
imobiliário.
49Ignorada
de modo deliberado ou intencional, fato é que a renda urbana fundiária,
como contraponto, como categoria crítica de análise e reflexão da
realidade urbana é de fundamental importância para a compreensão dos
processos que se impõe na realidade da cidade, sendo um deles, a
obsolescência espacial urbana.
50De
acordo com Harvey (1980, p.150), o conceito de rentabilidade ocupa
posição crítica nas teorias do uso do solo urbano. Em suas palavras:
51Muitos
teóricos da localização compreendem que se faz necessário uma fusão
entre as teorias da renda com a teoria da localização [...]. A renda age
como artifício racional que seleciona usos do solo em localização,
crê-se por via de lances competitivos.
52Ainda em relação à renda, Harvey (1990, p. 340) nos diz que:
53A
renda é o conceito teórico por meio do qual a economia política [...]
tradicionalmente enfrenta o problema de organização espacial. A renda
[...] fornece uma base para várias formas de controle social sobre a
organização espacial e do desenvolvimento do capitalismo.
- 6 Também a respeito da riqueza da Economia Política nos estudos e pesquisas geográficas consultar San (...)
54Um
dos aspectos negativos relativo ao conceito de renda é a forma como
esta surge nesta obra de Harvey de modo inocente na teoria do solo
urbano, acobertando problemas de ordem mais sérios ligados a sua
interpretação. Para Harvey (1990), o ponto crucial do solo urbano está
circunscrito à complexidade da oferta e demanda do solo urbano em suas
diferentes parcelas. De um lado, oferta e demanda estão relacionadas de
maneiras significativas, mas de outro, pobremente compreendidas. Ele
propõe retomar a riqueza da economia política para esclarecer a natureza
da renda e ao mesmo tempo se contrapor a ocultação feita pela empresa
neoclássica, em especial aspectos técnicos e éticos que se ligam à
renda, e como esta de fato age no mercado do solo urbano6.
55Partindo
do princípio que a propriedade do solo está baseada no monopólio por
parte de algumas pessoas em detrimento da exclusão de outras, Harvey
(1990), ao refletir a respeito do conceito de renda em O Capital e em
Teorias da Mais-Valia, assevera que “Marx se propõe descobrir as diferenças que de outro modo poderiam escapar à averiguação”. São
definidas três espécies básicas de renda, que tipicamente surgem no
modo de produção capitalista: i) Renda de monopólio; ii) Renda
diferencial e iii) Renda absoluta.
56A análise do uso do solo urbanoou
da terra urbana permite múltiplas possibilidades para a compreensão de
processos que ocorrem em qualquer cidade do mundo. Conforme já
explicitado, trata-se a terra urbana de uma mercadoria especial dada as
suas condições diferenciais em relação a outras mercadorias.
57Na
cidade, os elementos naturais que possuem relação com a renda fundiária
são as condições hidrográficas, vegetacionais, geológicas, as condições
climáticas e as feições do relevo presentes em uma determinada área e,
quando cooptadas pelo mercado de terras, podem se tornar amenidades
geográficas no sentido de impulsionar uma renda fundiária mais elevada,
logo preços de terrenos e imóveis mais elevados.
58O
solo agrícola e a terra urbana, no tocante à formação das rendas
fundiárias, se aproximam quando se trata da renda absoluta, ou seja, o
monopólio da terra via a propriedade privada. Esse monopólio garante a
todos os proprietários um lucro extraordinário não em função de
amenidades x, y ou z, nem em função do trabalho excedente dos
trabalhadores em uma determinada propriedade ou empreendimento, mas sim,
em função da fração da massa de mais-valia global dos trabalhadores.
59Outro
tipo de renda da terra urbana é a diferencial analisada entre outros
por Harvey (1980, 2013) e Rodrigues (1988), também chamada de renda de
localização. Esse tipo de renda é produzido a partir de localizações e
áreas privilegiadas determinadas pelo mercado em que os consumidores
estão dispostos a pagar uma renda de monopólio para ali se localizarem,
seja em função de uma condição de status individual ou de necessidades
relativas às exigências de uma determinada atividade econômica, em
especial, aquelas sintonizadas com as necessidades da economia
globalizada.
60Dada
às particularidades da cidade, o conceito da terra urbana é o mais
adequado para a compreensão de parte do processo da obsolescência
espacial urbana. O termo, além de marcar as diferenciações na formação
de rendas fundiárias, permite compreender melhor a forma como os
diversos agentes produtores da cidade atuam, em especial, aqueles que
compõem o setor da indústria do imobiliário.
61Por terra urbana
compreende-se o que temos acima e abaixo da superfície na cidade.
Abaixo, ou aquilo que se define como subsolo urbano, temos toda uma
infraestrutura marcada por galerias de captação pluvial e fluvial,
tubulações de redes de água, esgoto e gás e cabeamento de todas as
ordens tais como energia elétrica, telefonia, fibra ótica. Entretanto,
há de salientar que em São Paulo especificamente esses elementos não se
fazem presentes na totalidade da cidade, bem como muitos dos que se
fazem muitas vezes pelo tempo de uso e das suas condições técnicas são
precários, ou seja, devem também ser considerados como fatores de
obsolescência.
62Acima,
no caso o solo, com base para um conjunto complexo e um conjunto
simples de valores de uso, temos as pavimentações, ruas, avenidas,
ruelas, calçadas, postes de iluminação, telefonia e internet, jardins e
parques, sistemas de drenagem, pontes, viadutos entre outros, bem como
temos edificações de todas as ordens, além de terrenos vazios e ociosos.
63Em
que pese essa ligeira diferença entre o uso das terminologias “solo e
terra urbana”, o fato é nosso entendimento sobre a relevância da renda
fundiária aplicada nos estudos urbanos vai ao mesmo sentido daquele
proposto por Harvey (1980, 2005, 2013), Lojkine (1979, 1997) e Rodrigues
(1988), ou seja, que a dinâmica da realidade urbana das cidades
capitalistas e todos os processos pertinentes a sua realidade fundiária
passa necessariamente pela compreensão da renda da terra.
64A
renda fundiária, uma fração da mais-valia ou mais precisamente,
componente particular e específico da mais-valia se trata de um valor
extraordinário apropriado sob a lógica do mercado de terras aos que
detém a propriedade privada dessa mercadoria ou nos termos precisos
colocados por Oliveira (2007, p.43):
65A
renda da terra é uma categoria especial na Economia Política, porque ela
é um lucro extraordinário, suplementar, permanente, que ocorre tanto no
campo como na cidade. O lucro extraordinário é a fração apropriada pelo
capitalista acima do lucro médio [...]. Como ela é um lucro
extraordinário permanente, ela é, portanto, produto do trabalho
excedente [...] o trabalho excedente é a parcela do processo de trabalho
que o trabalhador dá ao capitalista, além do trabalho necessário para
adquirir os meios necessários à sua subsistência.
66Esse
lucro extraordinário, de acordo com Oliveira, trata-se de renda
capitalizada, pois, na medida em que os investidores e capitalistas
compram a terra estão “convertendo o seu capital-dinheiro em renda
capitalizada da terra, renda antecipada, ou seja, estão adquirindo o
direito de extrair renda, mesmo naqueles lugares onde aparentemente ela
pode não existir” (OLIVEIRA, 2007, p. 63). Já na cidade, a renda assume
uma forma abstrata, ou seja, “a renda não se apresenta mais como um
produto do solo como ocorre no campo, ela aparece como nada mais que o
juro de um capital investido” (BOTELHO, 2008, p. 26).
67Além
disso, “a renda da terra é determinada pelo uso socialmente
estabelecido na organização da produção e circulação, paga ao
proprietário, consequência do valor de troca, muitas vezes antecedida à
determinação do uso por ações de especulação e escassez de localizações”
(HARVEY, 1980, p.154).
68Harvey (1980)ainda
afirma que a renda não pode ser entendida sem se fazer citação ao
pagamento que ocorre em circunstâncias sociais, bem como nos chama
atenção para a realidade de que o espaço urbano não é absoluto,
relacional ou relativo, mas são todos os três simultaneamente,
dependendo das circunstâncias do tempo.
69A
análise da renda fundiária nos possibilita confrontar e elucidar o modo
como os agentes ligados ao setor imobiliário atua na cidade, pois
conforme já dissemos, apesar de mecanismos e fórmulas bem elaborados e
adotados por esse segmento em relação aos preços praticados no processo
de compra e venda de imóveis e terrenos, esses mais ocultam do que
clarificam.
70Fato
é que os próprios agentes que atuam no ramo imobiliário não negam que o
preço de terras no urbano é de ordem complexa, e mais complexa e oculta
se torna quando fatores como a renda, lucro e juros projetados e
obtidos pelas empresas que atuam no mercado é de pouco conhecimento, em
especial, para aqueles que adquirem os valores de usos que as
edificações proporcionam.
71A
partir de um rápido exemplo que vai do custo de produção ao preço final
de imóvel, vamos considerar inicialmente o custo de construção de uma
casa tendo como parâmetro os dados do SINAPI (Sistema Nacional de
Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil do IBGE).
- 7 SINAPI – Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil do IBGE
72Em novembro de 2012, o valor médio do m2
para a construção civil em São Paulo era de R$ 921,53. Considerando
diferentes tipos de padrão construtivo (alto, normal, baixo e mínimo)
definidos pelo IBGE7
(2012), além do tipo do projeto, ou seja, uma casa popular, casa
residencial normal, prédio residencial, prédio comercial e em cada um
deles com várias particularizações, temos os seguintes custos (Tabela
3.1):
733.1. Tabela Custos de Construção / São Paulo (2012)
Alto
|
Normal
|
Baixo
|
R$ 1.336,09 por m²
|
R$ 962,49 por m²
|
R$ 679,81 m²
|
74Fonte: SINAPI – Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil do IBGE (2012)
75Como
exemplo, um projeto de Casa residencial padrão normal com 70 m²,
contendo um pavimento, varanda, sala, três quartos, circulação,
banheiro, lavabo, cozinha, área de serviço, quarto e WC de empregada. O
preço pago pelo terreno onde será construída a casa foi de R$ 250.000 e o
preço final dessa casa padrão normal situada em um dado lugar foi
colocada à venda por R$ 400.000, ou seja, 5.714 reais o preço do m².
76Considerando
o custo de produção do m², a casa saiu por aproximadamente R$ 67.500.
Se o custo de comercialização desse imóvel foi de 5%, ou seja, R$ 20.000
sobre o preço final do imóvel, a margem de lucro do empreendedor, gira
conforme o mercado imobiliário entre 10% e 20% do preço pago no terreno.
Se considerarmos nesse exemplo uma margem de 15% isso equivale a R$
30.000
77Pela
matemática simples temos: R$ 250.000 do terreno + R$ 67.500 do custo de
produção + R$ 20.000 da comercialização + R$ 37.500 do lucro do
empreendedor. O resultado final é de: R$ 375.000. Entretanto, a casa foi
vendida por R$ 400.000, ou seja, há ai uma diferença de R$ 25.000.
78O
fato é que o empreendedor, ao pagar R$ 250.000, já projetava o montante
de R$ 400.000 como preço final, e a sua alegação é que se trata de uma
nova casa e essa está inserida em uma localização satisfatória que dá
acesso a uma gama de prestações de serviços, comércio, facilidade de
circulação e ligação com outras regiões, acesso satisfatório ao
transporte público entre outras amenidades.
79Esse
breve exercício contempla de modo mínimo a realidade operacional do
mercado. Mínimo por que em geral o lucro extraordinário aqui
exemplificado tende sempre a ser maior. A questão é que o que vende a
casa e ou terreno (pessoa física) não tem de fato a dimensão do preço
final a ser praticado pelo empreendedor (pessoa jurídica).
80Se a
casa for financiada pelo setor bancário o empréstimo do valor
solicitado será acrescido de juros e será pago ao longo do tempo,
fazendo com que a instituição bancária obtenha ganhos a partir do preço
do imóvel que fora determinado pela renda futura projetada pelo
empreendedor.
81Rodrigues (1988, p75.) clarifica essa questão da seguinte forma:
82De
modo geral, esta mercadoria “sui generis” tem seu preço determinado não
pela produção, mas pela taxa média de lucro de aplicação dos capitais. O
trabalhador, ao adquirir um terreno para construir uma casa, ou uma
casa pronta, estará assim remunerando ao capital, no preço da terra, a
taxa média de lucro do capital em geral. A remuneração do capital
empregado na aquisição estará garantida e embutida na mercadoria terra
urbana. A terra urbana, espécie de mercadoria, tem um preço que aparece
como ditado pelo mercado, quando originalmente foi definido como
monopólio de propriedade e posteriormente é constantemente redefinido
pela produção social da cidade. [...] No caso da mercadoria terra não há
preço de produção da terra nua, o preço é redefinido pela produção
social da cidade, porém aparece como se fosse definido pelo mercado. Mas
o que é definido pelo mercado é a renda.
83A
questão é que cada vez mais na realidade do mercado imobiliário os
diferentes agentes atuantes se fundem, até mesmo porque, e isso é
demonstrado por Fix (2007), raramente salvo exceções, o empreendedor
consegue produzir sozinho um empreendimento. Além disso, também estão
envolvidos os setores bancário e financeiro, ou seja, há uma tendência
de cada vez mais a atuar nas duas pontas, isto é, financiando a produção
da edificação e financiando a compra do produto final.
84A
exposição sobre a problemática da renda fundiária urbana e da teoria
localização para o nosso propósito possui relevância quando refletimos
outro processo, no caso, a obsolescência espacial urbana, que decorre da
dinâmica das rendas fundiárias que ocorre em um dado lugar.
85Uma
gama de mercadorias móveis é consumida no cotidiano. Para o sistema
capitalista, hoje controlado pela esfera bancária e financeira, é
fundamental que elas sejam destruídas o mais rápido possível e a partir
disso o consumo se torne exponencial. Essa destruição não se dá somente
pelo uso de uma mercadoria por um determinado tempo, mas também pelo
constante lançamento de novas mercadorias que em função de seus apelos
oriundos tecnológicos e do marketing colocam de modo prematuro e
intencional um conjunto significativo de objetos na condição de
obsoletos.
86Na
realidade urbana, na produção imobiliária da cidade, não diferentemente
do que ocorre na esfera industrial, bancária e financeira, para que o
mercado imobiliário seja continuamente remunerado através da renda,
lucro e juros, a produção também não pode cessar, seja na ampliação de
novas áreas, seja na “renovação” que por convenção são chamadas de áreas
degradadas.
87No
entanto, o setor imobiliário na medida em que atua sob o espaço da
cidade esbarra em inúmeros obstáculos os quais ele precisa superar.
Dizer como Milton Santos (1990) que cidades como São Paulo nunca
envelhecem deve ser tomado com algo relativo e com cuidado, pois áreas e
setores dos quais o capital imobiliário não possui interesse ou não
consegue atuar dentro da sua lógica de reprodução objetivando conforme
temos insistido na busca pela renda, lucro e juros, tais áreas e setores
entram em processo de obsolescência espacial, sendo que o resultado
dessa obsolescência é expresso na defasagem técnica das edificações e de
suas localizações.
- 8 Porém, nem sempre isso ocorre na cidade de São Paulo, muitos são os proprietários fundiários de tod (...)
88Harvey
(1980, p.137) salienta que, “a apropriação da renda é aquela forma
econômica na qual a propriedade do solo se realiza”. A propriedade do
solo baseada no monopólio da propriedade além do fator renda, entre
outros, também garante aos proprietários dentro dos limites
estabelecidos pela legislação urbana8
determinar o uso que será dado à suas propriedades, bem como lhe
possibilita realizar de acordo com os seus interesses alterações nas
formas, estruturas e funções que suas propriedades desempenham ou podem
vir a desempenhar. O monopólio da terra ainda permite aos proprietários
uma atuação na dinâmica do mercado imobiliário cedendo ou não, se
articulando ou não junto às demandas dos agentes econômicos desse setor,
se articulando ou não com os mais diversos agentes produtores do espaço
urbano, dentro das normas do Estado de direito, mesmo que elas sejam
sempre alteradas.
89Sob
essa perspectiva, entendemos que nesse caminho seja possível
compreender melhor os motivos que levam a diferenciação espacial em uma
cidade como São Paulo. Entendemos que a forma como os agentes econômicos
- o que inclui os rentistas propriamente ditos, além do Estado -, ao
agirem na produção do espaço urbano, determinando o que, quanto, onde e
como investir, desencadeiam as diferenciações espaciais, gerando no
processo de modernização espacial de certas áreas da cidade o seu
contrário, no caso, a obsolescência espacial, o que não deixa de ser uma
forma de segregação espacial.