1Estado
e capital privado têm empreendido vasto programa de investimentos
capazes de oferecer as condições materiais necessárias ao processo de
transformação do território brasileiro em espaço de economia global.
2O
processo de reestruturação produtiva em curso constitui um fator
definidor para a incorporação de parcelas do território nacional
anteriormente excluídas do processo de valorização do capital. A
dispersão das atividades tradicionalmente concentradas na área core do
País contribuiu para a transformação das estruturas produtivas das
diversas regiões, resultando em uma maior diferenciação do espaço
nacional.
3Na
medida em que acolhe os vetores da racionalidade dominante, expressiva
da nova escala da produção, circulação e consumo vinculada à fase
contemporânea da acumulação, o território torna-se cada vez mais
artificializado e os lugares, em consequência, cada vez mais
especializados. Cada ponto do território modernizado é chamado a
oferecer aptidões específicas à produção.
4Nos
lugares, repercutem de maneira crescente os embates entre os diversos
atores, numa disputa em que os portadores das velocidades extremas
comandam a disseminação dos sistemas de engenharia necessários à
acumulação, roubando às coletividades o controle do seu destino.
5Cabe
ressaltar, no entanto, que essa relativa desconcentração não rompeu
completamente com a tradicional polarização da Região Concentrada.
Concorrem para o processo de concentração dos investimentos nas áreas já
dinâmicas e competitivas do País os novos requisitos locacionais da
acumulação flexível, como: a busca por melhores ofertas de recursos
humanos qualificados, maior proximidade com centros de produção de
conhecimento e tecnologia, maior e mais eficiente dotação de
infraestrutura econômica, proximidade com os mercados consumidores de
mais alta renda e, sem dúvida, a proximidade de um conjunto de empresas
prestadoras de serviços especializados dirigidos à atividade industrial.
6Nesse
contexto, as metrópoles, aproveitando-se de vantagens locacionais
historicamente construídas, tanto no que se refere à concentração de
atividades de produção e de administração como no que diz respeito à
inscrição espacial de funções culturais especializadas, tendem a manter a
sua posição privilegiada. Demonstrando a presença de interesses
econômicos e políticos que direcionam a atualização na face
contemporânea do capitalismo, acumulam novas funções, ampliam sua área
geográfica de influência, transformam-se em pontos nodais das modernas
redes.
7Através
deste artigo, buscaremos fundamentar alguns conceitos centrais de nossa
reflexão, bem como destacar a posição estratégica assumida pelo Estado
brasileiro e pelos agentes privados no que se refere ao planejamento
territorial e aos investimentos vinculados à reestruturação econômica e
às exigências de competitividade da atual fase de acumulação
capitalista, no espaço da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Acreditamos que as mudanças em curso lançam a metrópole em um processo
de revitalização econômica e de integração territorial totalmente nova,
que, além torná-la mais coesa, transborda suas fronteiras, articulando-a
com áreas dinâmicas do interior do estado através de complexos fluxos
que se processam em cadeias produtivas articuladas de forma não
hierárquica nas escalas local, regional e global.
8A
análise do Estado como forma institucional do poder político
territorializado requer a consideração das complexas correlações de
forças constitutivas da sociedade a partir da qual este se institui. O
exercício do poder supõe assimetrias na posse de meios e estratégias, e o
território é tanto um meio como uma condição de possibilidade de
algumas dessas estratégias (Castro, 2005).
9Historicamente,
a formação do Estado está diretamente associada ao surgimento da
constitucionalidade burguesa. Segundo Harvey (2005), o Estado burguês
confere um ambiente seguro ao desenvolvimento do capitalismo, uma vez
que mobiliza instrumentos capazes de fomentar e defender os interesses
dos atores econômicos, tais como: a gestão das fronteiras alfandegárias,
a política monetária e as estruturas institucionais de mercado e de
regulação da relação entre classes.
10As
teorias clássicas, sejam de porte liberal ou marxista, sempre
reconheceram um papel central dos Estados na estruturação da economia
mundial. Porém, nas últimas décadas foram inúmeros os discursos que
argumentavam que o Estado moderno é uma instituição em processo de
dissolução.
11Para
Font e Ruf (2006), embora possamos identificar processos de
transferência de competências tradicionais do Estado para instâncias
superiores, globais, supraestatais ou macrorregionais, e fluxos de
soberania para escalas inferiores, mais estritamente locais, seria
errôneo interpretar essa perda de controle como uma cessão involuntária.
Segundo esses autores,
“[...]
contrariamente, os estados participam ativamente da abertura de
mercados comerciais e financeiros, bem como da descentralização da
produção, já que isso era fundamental para não ficar à margem
dos processos de reforma econômica global que provocam exclusões
políticas, sociais e econômicas radicais” (Font e Ruf, 2006:109).
12Entre
os protagonistas mais importantes nesse jogo contraditório da
globalização está o Estado-nação. Este, movido por interesses e forças
políticas conflitantes, atualiza constantemente suas estratégias
territoriais e renova o seu papel político e econômico diante das
sucessivas lógicas da acumulação. No contexto do neoliberalismo
econômico, praticamente todos os Estados do mundo põem-se hoje em marcha
para criar um ambiente de negócios atraente aos novos fluxos de
capital, através da promoção de arranjos institucionais conjugados à
instalação de certa infraestrutura física no espaço e à criação ou
renovação de suas forças produtivas como um todo.
13A
geografia histórica do capitalismo se expressa através do convívio
entre a relativa fixidez, correspondente à lógica peculiar do poder
territorial e seus sucessivos ciclos de interferência, e a fluida
dinâmica da acumulação do capital no espaço e no tempo (Harvey, 2005).
14No
se refere à dinâmica espacial do capital, Harvey (2005) afirma que as
trocas de bens e serviços quase sempre envolvem mudanças de localização e
definem um conjunto de interseções de movimentos espaciais que estão
sujeitos a fricção da distância. Historicamente, a atividade capitalista
produz o desenvolvimento desigual e reforça as diferenciações e
especializações espaciais.
15As
vantagens decorrentes da localização desempenham para os capitalistas
individuais um papel semelhante aos derivados das vantagens
tecnológicas. Conforme o autor, os processos de acumulação de capital
estão em constante expansão, rompendo com toda tendência ao equilíbrio. A
derrubada de barreiras espaciais e a abertura de novas modalidades de
movimento, de espaços e de mercados é uma constante no processo de
acumulação.
16O
comportamento competitivo gera um estado de instabilidade na
distribuição espacial das atividades em decorrência da busca por
localizações superiores, conduzindo ao movimento permanente da paisagem
geográfica da produção, da distribuição e do consumo. A localização
espacial confere vantagens monopolísticas, ampliando a disputa pelo
controle de localizações estratégicas capazes de conferir diferenciais
de competitividade.
17De
acordo com o autor, as inovações voltadas para a remoção das barreiras
espaciais têm tido imensa significação na história do capitalismo,
transformando-a em uma questão deveras geográfica, pois as barreiras
espaciais só podem ser reduzidas por meio da produção de espaços
particulares. Em suas palavras,
“[...]
a produção, a reestruturação e o crescimento da reestruturação espacial
são muito problemáticos e caros, sendo prejudicados pela necessidade de
vastos investimentos em infraestruturas físicas que não podem ser
levadas para outro lugar e em infraestruturas sociais que sempre mudam
com lentidão” (Harvey, 2001:212).
18Note-se
que o domínio do espaço sempre foi um aspecto vital da luta de classes.
Nos termos de Harvey (2001), as alterações na organização espacial
redistribuem o poder social, e a capacidade de influir na produção de
espaço constitui um importante meio de aumento do poder social.
19A
lógica contemporânea da acumulação envolve o controle e a subordinação
do território, tornando-o cada vez mais fluido aos interesses dos atores
hegemônicos transnacionais. No entanto, o movimento fluido sobre o
território só pode existir mediante a instalação de ativos fixos e
imobilizados no espaço. O Estado é reconhecidamente o ente político mais
importante do planejamento territorial. Ao mobilizar seus recursos para
dotar o espaço dos conteúdos técnicos e funcionais exigidos pela
acumulação, o Estado induz a diferenciação e reforça as desigualdades
entre os lugares.
20A noção de território privilegiada em nossas reflexões é a de território usado, sinônimo de espaço geográfico, de espaço banal, conforme as reflexões desenvolvidas por Milton Santos (1994, 2000).
21Na
perspectiva do autor, o território usado, visto como uma totalidade,
revela a estrutura global da sociedade e a própria complexidade do seu
uso, uma vez que “constitui-se como um todo complexo, onde se tece uma
trama de relações complementares e conflitantes”, convidando-nos “a
pensar processualmente as relações estabelecidas entre o lugar, a
formação socioespacial e o mundo” (Santos 2000:3).
22O
território usado é a expressão das relações sociais e dos interesses
estratégicos dos diferentes atores sociais. São os complexos arranjos
derivados da multiplicidade de ações e do convívio dos atores
hegemônicos com os hegemonizados que irão conferir aos lugares a sua
singularidade. De acordo com o autor, para os atores hegemonizados o
território constitui um abrigo, ao passo que para os atores hegemônicos o
território usado é um recurso, uma garantia de realização dos seus
interesses particulares.
23Na
disputa entre os diversos atores, o território “é marcado por um
cotidiano compartido, mediante regras que são formuladas e reformuladas
localmente” e um “acontecer hierárquico”, “imposto de fora, comandado
por uma informação privilegiada, uma informação que é segredo e é
poder”, comportando uma dialética que “se afirma mediante um controle
local‟ da técnica da produção e um controle remoto da parcela política
da produção” (Santos, 1994:17).
24Segundo
o autor, “o território são formas, mas o território usado são objetos e
ações” (Santos, 1994:16). Cabe, então, lembrar que os sistemas
técnicos, também denominados sistemas de objetos ou fixos, funcionam
como suporte – mas também como condicionantes – para sistemas de ação
que se desenvolvem a partir das relações sociais de produção e da
dinâmica social.
25As
características técnicas e organizacionais assumidas pelos fixos
abrigam uma tipologia de fluxos que possuirão uma escala tanto mais
elevada quanto maior for o grau de inovação presente nos objetos. Na
atualidade, segundo Santos (1994a), esses sistemas técnicos tendem a
tornar-se cada vez mais unificados e mutuamente dependentes. Essa
unidade não é apenas técnica, mas também organizacional e se traduz em
uma tendência mundial que tem tido seu potencial expandido à medida que o
sistema capitalista se mundializa e consolida a interdependência entre
os lugares.
26Com
a crescente internacionalização do capital, e sua valorização à escala
das regiões do mundo em que há recursos ou mercados, a concorrência
entre firmas, e também entre lugares, atinge novos patamares. A
competitividade em nível mundial alimenta a demanda diuturna de mais
ciência, de mais tecnologia, de soluções organizacionais e políticas que
assegurem o aumento da produtividade e da lucratividade dos agentes
hegemônicos.
27Os
novos sistemas técnicos são imprescindíveis para a eficácia da ação
empresarial e para a mediação de relações globais seletivas. Trata-se da
administração apoiada na agilidade dos fluxos e na fluidez do
território. Sob o comando dos atores hegemônicos contemporâneos, muitas
vezes alheios aos interesses do lugar, novas articulações são impostas
às atividades econômicas e sociais.
28A
difusão de elementos da atual frente de processos de modernização
resulta em configurações e hierarquias territoriais baseadas nas
possibilidades de processamento e difusão de mensagens e ordens que
orientam os investimentos, e na fluidez do território posto a serviço da
competitividade através da adição permanente de uma materialidade
funcional capaz de suprimir as rugosidades hostis aos processos de
acumulação.
29Através
dos crescentes investimentos em ciência, tecnologia e informação,
determinados lugares concentram os suportes técnicos que viabilizam as
estratégias acionadas pelos atores hegemônicos, tornando-se, com isso,
espaços de comando, densos de fluxos e de informação, com intenso poder
de atração de atividades e investimentos. Nesse processo, segmentos do
território afirmam-se, reforçando desigualdades sociais, como lugares
“luminosos”, enquanto outros permanecem “opacos” (Santos, 1993).
30Os
atores hegemônicos comandam operações econômicas que rompem limites
entre setores produtivos e barreiras espaçotemporais apoiados nesses
sistemas técnicos de informação. Graças à unicidade das técnicas, esses
atores emitem e controlam fluxos diversos relacionados aos seus
interesses específicos, além de subordinarem receptores localizados em
pontos remotos. Impelindo ações globais, impulsionam o motor único da
acumulação e da exploração do trabalho.
31De
pontos privilegiados do território articulado em rede emanam ordens que
impõem o acontecer hierárquico indispensável à acumulação, atravessando
verticalmente formas solidárias locais historicamente construídas,
acirrando os conflitos entre “um espaço local, vivido por todos os
vizinhos, e um espaço global” (Santos, 1994:18), obediente a uma lógica
racional exógena, emanada de um controle distante.
32Historicamente,
o Estado brasileiro tem se colocado como o principal agente de
implementação das reformas e das modernizações necessárias ao processo
de acumulação capitalista, intervindo diretamente sobre o território e a
sociedade através do planejamento governamental.
33A
ação do Estado pode ser verificada nos investimentos diretos na
produção industrial, na qualificação técnica do espaço através da
instalação de infraestruturas, na integração do nacional através das
redes de transportes e comunicação, nos planos de desenvolvimento
econômico, nos programas de produção de energia, no conjunto de ações
vinculadas à regulamentação das relações entre capital e trabalho e de
formação e qualificação da força de trabalho, entre outros aspectos.
34No
que diz respeito ao desenvolvimento urbano e regional, a preocupação do
Estado, segundo Lencione (2008), pode ser situada nos anos 1960 e 1970,
como decorrência do crescimento acelerado da população urbana, do
desenvolvimento de uma estrutura industrial extremamente concentrada, e
do agravamento dos denominados problemas urbanos, relacionados à
insuficiência e má qualidade dos transportes, do saneamento e da
habitação.
35Nos
anos 1970, em pleno regime militar, foram instituídas as Regiões
Metropolitanas, cuja criação tinha como pressupostos essenciais o fato
de serem formadas por mais de um município, com um município–núcleo, e o
fato de serem objeto de programas especiais, levados adiante por
organismos regionais especialmente criados, com a utilização de recursos
federais.
36Conforme
a autora, nesse período a Teoria dos Polos de Desenvolvimento, de
Peroux (1973), teve grande influência nos discursos e ações dos
organismos de governo. Sob essa influência, as regiões metropolitanas
ganharam destaque, pois eram consideradas polos estruturadores do
ordenamento territorial. As metrópoles deveriam impulsionar o
desenvolvimento econômico, irradiando-o pelo território nacional,
segundo sua condição hierárquica e o grau de importância econômica que
tinham na rede urbana nacional.
37Rompendo
com as expectativas geradas, o desenvolvimento interno dessas regiões
metropolitanas processou-se de maneira extremamente desigual. Além
disso, a sobreposição de ações setoriais desenvolvidas de forma separada
não permitiu a integração coordenada das políticas públicas, gerando o
agravamento dos problemas urbanos.
38A
partir da década de 1980, com o aprofundamento da crise econômica,
social e fiscal, os organismos de planejamento sofrem com a redução
expressiva dos investimentos do Estado. Com o advento do neoliberalismo e
os processos de globalização nos anos 1990, o mercado -- ou, melhor, o
poder dos grandes grupos econômicos -- submete o poder do Estado-nação e
emerge como força hegemônica na reestruturação do território (Lencioni,
2008).
39Conforme
essa autora, a cidade do século XXI está inserida em uma nova lógica da
reprodução do capital e em um contexto de refluxo da ação do Estado.
Refletir sobre a metrópole nos dias atuais conduz à necessidade de novos
aportes teóricos, pois a metrópole contemporânea é uma espécie de
manifestação socioespacial da globalização (Lencioni, 2006).
40Estamos
diante de um processo de metropolização do espaço, correspondente a um
momento mais avançado do processo de urbanização. Em outros termos,
independentemente do porte da cidade, esta pode apresentar
características, como algumas condições gerais de produção e
determinados serviços, que, anteriormente, eram exclusivas das
metrópoles.
41As
antigas metrópoles, ao mesmo tempo em que renovam suas áreas urbanas,
estendem sua área territorial, incorporando novas cidades e formando um
aglomerado urbano que constitui um epicentro de fluxos de capital e dos
grandes grupos econômicos estruturados em rede. Trata-se, segundo a
autora, da cidade-região, expressão da nova escala de processos e
relações sociais que se mesclam e integram, através das modernas redes
de informação e de circulação, o local, o regional e o global.
42Conforme
mostra Oliveira (2011), as principais transformações no estado do Rio
de Janeiro podem ser verificadas no início dos anos 1990, a partir de
mudanças específicas ocorridas nas bases técnicas do interior do estado,
com destaque para o Norte fluminense, onde a economia agroindustrial
sucroalcooleira cede espaço às atividades extrativistas e logísticas
vinculadas à expansão da indústria de petróleo e gás. E, também, para o
Sul do estado, onde a base isolada do setor siderúrgico, liderado pela
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), integra-se a um complexo polo
metal-mecânico e siderúrgico vinculado às indústrias automobilísticas e
às atividades portuárias da região.
43Durante
os anos 1990, esses novos espaços econômicos ganham expressão e passam a
influir de modo positivo na reversão do quadro de estagnação econômica
que perdurava no estado, com alguns reflexos econômicos e sociais na
região metropolitana, particularmente com a reativação de alguns
estaleiros da indústria naval. Naquela década, a atividade que mais
gerava expectativa na região metropolitana era o Polo Gás-Químico,
associado à Refinaria de Caxias (Reduc), que, segundo nosso autor, pouco
avançou, em virtude da insuficiência das redes técnicas e de logística.
Mapa 1 : Região Metropolitana do Rio de Janeiro
Créditos : elaborado a partir de base cartográfica do IBGE
44Somente
a partir da segunda metade do século XXI, como resultado da intervenção
do Governo Federal, os efeitos da nova economia do interior passam a
ter rebatimentos significativos na região metropolitana, imprimindo uma
nova lógica ao uso do território da região e seu entorno.
45Diante
da enorme demanda de equipamentos de navegação e plataformas marítimas
para as atividades de extração de petróleo na Bacia de Campos, o Governo
Federal passou a exigir que todos os equipamentos contratados pela
Petrobras tenham o mínimo de 60% de componentes nacionais, levando à
reativação da tradicional indústria naval do estado e à ampliação do
ritmo de produção dos estaleiros instalados nas cidades do Rio de
Janeiro, Niterói e Angra dos Reis.
46Em
2006, o Governo Federal anuncia a decisão de instalar o Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) no município de Itaboraí.
Trata-se de um dos maiores empreendimentos da Petrobras e inclui uma
planta industrial destinada ao refino do petróleo da Bacia de Campos, a
instalação de empresas produtoras de insumos destinados às indústrias
químicas de produção de material plástico e, ainda, um porto de
transporte de cargas e de passageiros, integrado à estação de barcas na
cidade do Rio de Janeiro.
47Previsto
para entrar em operação em 2014, o empreendimento deve gerar mais de
200 mil empregos diretos, indiretos e por “efeito-renda”, durante os
cinco anos da obra e após a entrada em operação; todos em escala
nacional. O conjunto de atividades complementares necessárias ao
funcionamento do Comperj está mobilizando todos os municípios do leste
metropolitano. Oliveira (2011) considera esse empreendimento o marco
principal do processo de recuperação da economia e da reorganização do
território fluminense.
48Outro
grande empreendimento que merece destaque, em função do seu papel em
prol da ampliação da fluidez e da integração do território, é o Arco
Rodoviário Metropolitano do Rio de Janeiro, cujas obras foram licitadas
em 2007, como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). As
necessidades do Arco Rodoviário Metropolitano já eram sentidas, pelo
menos, desde os anos 1970, quando um projeto mencionava a duplicação da
rodovia RJ-109, que liga Itaguaí a Japeri e Nova Iguaçu.
49As
necessidades de logística portuária do Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro conduziram à construção imediata do Arco Metropolitano, com o
objetivo de garantir acesso rápido entre o Comperj e o Porto de Itaguaí.
Complementarmente, as obras de duplicação do trecho da BR-101 entre as
cidades do Rio de Janeiro e Mangaratiba foram concluídas e puderam
facilitar o acesso das indústrias do município do Rio de Janeiro ao
Porto.
50A
finalização das obras dessa rodovia resultará na integração do Porto de
Itaguaí à malha rodoviária nacional; na ligação entre os cinco eixos
rodoviários beneficiados pelo projeto sem necessidade de conexão via
Avenida Brasil e Ponte Presidente Costa e Silva, desviando assim o fluxo
de tráfego das principais vias de acesso à capital; no aumento de
acessibilidade e da mobilidade populacional dos municípios próximos ao
Arco Metropolitano.
51Atualmente,
todas as estradas federais que cortam o estado (BR-116, BR-040 e
BR-101) convergem para a cidade do Rio de Janeiro. A construção do Arco
Metropolitano romperá com a centralização da circulação de mercadorias e
cargas, estimulando maior integração dos municípios periféricos e
reduzindo os custos derivados da fricção da distância.
52Conforme
podemos observar no mapa a seguir, o projeto do Arco Rodoviário
Metropolitano do Rio de Janeiro (AMRJ) abrange trechos de rodovias
perpendiculares aos grandes eixos rodoviários que convergem para o
município do Rio de Janeiro e atravessam a Baixada Fluminense –
notadamente a BR-101/RJ Sul, a BR-116/RJ Sul, BR-040/RJ, BR-116/RJ Norte
e BR-101/RJ Norte.
Mapa 1 – Traçado do Arco metropolitano
Fonte: Firjan,site, 2011
53Segundo
a Firjan (2008), a região de influência do Arco Metropolitano se
estende por sete estados. Utilizando o Porto de Itaguaí, os quatro do
Sudeste teriam uma redução maior no custo do transporte, com destaque
para a região do Vale do Paraíba, tanto no lado do Rio de Janeiro quanto
no de São Paulo, onde essa economia poderá chegar a 20%. Outros dois
estados, apesar de mais distantes (Mato Grosso do Sul e Goiás), ainda
teriam uma redução de até 2,5% no frete. Além disso, o Arco trará uma
economia de cerca de 3% no custo de transporte para a ligação entre o
Comperj e a cidade de São Paulo.
54Os
municípios no entorno do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro terão
redução de 15% a 20% nos custos de transporte no acesso a Itaguaí.
Portanto, a integração do Porto de Itaguaí à malha rodoviária e
ferroviária provocará efeitos notáveis na redução de custo para seus
usuários, garantindo a competitividade do comércio portuário nacional e
internacional.
55Entre
outros investimentos em curso, destacamos a instalação da Companhia
Siderúrgica do Atlântico (CSA) no bairro de Santa Cruz , em operação
desde junho de 2010. A construção ocupa uma área de aproximadamente 10
milhões de metros quadrados. A empresa beneficiará o minério retirado no
estado de Minas Gerais pela Companhia Vale do Rio Doce, uma das sócias
do empreendimento, junto com o grupo ThyssenKrupp, que é o controlador.
56Conforme
Oliveira (2011), a recuperação e a dinamização do Distrito Industrial
de Santa Cruz já são realidade, podendo-se mesmo falar de um novo polo
siderúrgico em vias de instalação. A região também tem atraído outras
empresas do ramo petroquímico, como a Petroquisa, subsidiária da
Petrobras, que pretende instalar uma unidade no município de Seropédica.
Do outro lado, nos municípios cortados pela Presidente Dutra, rodovia
que também está em fase de duplicação, podemos ver a presença de grandes
galpões de empresas de logística intermodal, além de depósitos de
grandes redes varejistas.
57A
acelerada transformação no uso do território da metrópole fluminense é
uma realidade em curso. A articulação peculiar entre o Estado e o
capital privado confere viabilidade crescente aos fluxos de mercadorias e
capitais, articulando pontos nevrálgicos de produção e garantindo a
fluidez através das modernas redes de circulação.
58A
nova escala da produção amplia o raio dos processos metropolitanos e
integra o território através de um complexo emaranhado de fluxos que se
processam simultaneamente nas escalas local, regional e global. Estamos
diante de processos de metropolização que se formam em comunhão com os
interesses do capitalismo globalizado.
59Porém
as mudanças na esfera da produção devem ser consideradas no contexto da
relação dialética que envolve os interesses do capital, do Estado e,
sobretudo, da sociedade. Além das verticalidades apoiadas nas modernas
redes que atendem aos interesses privados dos atores hegemônicos, o
território usado corresponde ao espaço banal, o espaço usado por todos, e
deve ser produzido de acordo com os interesses comuns aos atores
sociais em questão.
60Não
podemos ocultar o caráter conflituoso que envolve o domínio do espaço
sob a forma exterior solidária de um pretenso interesse público de
desenvolvimento econômico, que muitas vezes não encontra rebatimento
significativo nas comunidades locais.
61É
preciso analisar o impacto decorrente desses processos de modernização.
Muitos desses investimentos têm rompido violentamente com formas
solidárias de reprodução. Isso sem falar nos danos ambientais, nas novas
demandas geradas em termos de infraestruturas e serviços urbanos
derivadas do crescimento populacional acelerado, induzido por novas
formas de ocupação do território.
62Não
somos ingênuos de pensar que todos os resultados são perversos. Ao
contrário, somos de opinião que essas novas formas de organização são
necessárias para a inserção competitiva do País na economia globalizada e
certamente trarão excelentes resultados em termos econômicos e sociais.
Mas sustentamos a necessidade da criação de mecanismos institucionais
de gestão que operem em uma escala integrada e sejam capazes de conduzir
ações vinculadas aos interesses das comunidades, a fim de que o
crescimento se transforme em desenvolvimento e não em mais exclusão.