O TRABALHO DE CAMPO COMO CAMINHO METODOLÓGICO: TESTEMUNHOS E INTERPRETAÇÕES DE UMA MARCHA INDÍGENA POTIGUARA
Resumo
“Potiguara é guerreiro, Potiguara é quem vai ganhar! Guerreia na
terra e guerreia no mar, Potiguara é quem vai ganhar!”. Este refrão foi
repetido em tom enfático pelos índios Potiguara da aldeia Três Rios,
localizada no município de Marcação – PB, ao comemorarem o
reconhecimento do seu território tradicional. A razão de ser dessa
comemoração foi a divulgação da portaria declaratória nº 2.135/07 do
ministério da justiça, assinada em dezembro de 2007. Pintados de
vermelho e preto, munidos de cocares e sob as chuvas de janeiro, os
Potiguara na marcha de comemoração e no ato público, nos revelaram nesse
ritual a complexidade das relações intersocietais que os aproximam ou
distanciam de outros povos tradicionais e da sociedade envolvente.
Partindo desse contexto, objetivamos neste ensaio, interpretar a marcha
indígena Potiguara a partir de seus significados simbólicos e
políticos. Do ponto de vista metodológico utilizamos para a compreensão
espacial da referida marcha, os registros obtidos no campo constituídos
em seu todo por escritos feitos nos cadernos de campo, fontes
iconográficas (fotos, desenhos e croquis), vídeos, dentre outros
materiais. Para fundamentar a nossa narrativa utilizamos como
referência, autores como Serpa (2006), Rodrigues (2007) e Lacoste (1977)
que trabalham diferentes concepções de trabalho de campo na ciência
geográfica; além de Geertz (1989), Oliveira (2006) e Moura (1992) quando
discutem o trabalho de campo como um exercício etnográfico, na
Antropologia. Ao analisarmos a marcha, consideramos que a mesma revela
dimensões da territorialidade étnica dos índios Potiguara, pois, a forma
como expõem e dialogam com o espaço exterior utilizando os elementos
inerentes a sua cultura demarca uma fronteira étnica; esta é
apresentada como extensão de um universo singular dos indígenas por
meio das indumentárias, dos adereços, das pinturas corporais, das
palavras de ordem, da musicalidade, ritmos e composições que os
acompanham. Por meio dos vários elementos simbólicos, movimentos e
dinâmicas territoriais os Potiguara criam e recriam no imaginário
social, características historicamente marcantes do seu povo como grupo
etnicamente diferenciado. Dentre essas características reconhecidas
socialmente cabe destacar o princípio da união, da solidariedade que
marcam o viver em comunidade e os congregam de forma igual internamente
ao vivenciarem a luta, mas os diferencia do ponto de vista da
individualidade, dos desejos e utopias em relação a sociedade
envolvente. A marcha é em seu acontecer uma representação simbólica
direcionada ao outro, ou seja, ao não índio. É a reafirmação de uma
identidade que se faz resistente, recriada e diacrítica.
Palavras-chave
Indígenas, Movimentos Sociais, Trabalho de Campo.
Texto completo:
PDFISSN: 1982-3878




