A MUDANÇA DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO: em jogo o princípio da função social da propriedade / THE PROPOSED CHANGES TO BRAZILIAN FOREST CODE: the issue of the social function of property
Resumo
As discussões que envolvem a mudança do Código Florestal
Brasileiro estão colocando em xeque um dos princípios que fundam a ordem
burguesa: o cumprimento da função social da propriedade. O
privilegiamento da viabilidade econômica em prejuízo da conservação
ambiental reafirma a lógica apropriativa estrutural da qual emana não
apenas a degradação ambiental, mas sobretudo a perpetuação de um modelo
de acumulação rentista, que interdita o acesso à terra de trabalho e,
com isso, a geração de renda entre os que dispõem de pouca ou nenhuma
terra, em nome dos quais se afiança a necessidade de se modificar uma
das legislações mais avançadas do mundo e em vigor antes mesmo da
ocupação econômica de grande parte do território. Ao se apontar a
conservação ambiental como incompatível com as exigências da produção e
da geração de renda no campo, omite-se a saga rentista, alheia ao
princípio constitucional que coloca a terra em condição diversa de
qualquer outra mercadoria, daí a necessidade do cumprimento de sua
função social. O desfecho desse impasse supõe desdobramentos
socioterritoriais de longa duração, pois os termos propostos promovem
grave inversão, sacramentando o privilégio de condicionar a conservação
ambiental a um tributo social adicional, o pagamento por serviços
ambientais.