1Embora
o principal motivo dos deslocamentos pendulares seja a procura por
trabalho, a busca por oportunidades educacionais também é motivação de
deslocamentos populacionais. O padrão espacial da localização dos
estabelecimentos de ensino, de forma concentrada em determinados
espaços, para níveis de ensino médio e superior, leva à necessidade de
deslocamentos frequentes entre residência e unidade de ensino por parte
de um amplo número de estudantes. Desse modo, o objetivo geral deste
trabalho é analisar os movimentos pendulares de estudantes de nível
superior na região Norte Fluminense, principalmente em direção à Campos
dos Goytacazes. Além de identificar os fluxos de origem,
identificar-se-á também, de forma resumida, o perfil desses estudantes
pendulares. Para entender a centralidade do município de Campos dos
Goytacazes na oferta de serviços de ensino, será calculado o Quociente
Locacional (QL) no setor de ensino dos municípios da região, bem como
dos municípios classificados pelo IBGE no mesmo nível de hierarquia
urbana de Campos dos Goytacazes. Adicionalmente, foi calculado o Índice
de Eficácia da Pendularidade (IE) para os municípios da região Norte
fluminense.
2O
recorte espacial deste estudo, a região Norte do estado do Rio de
Janeiro, tem passado por profundas modificações socioeconômicas e
territoriais após a descoberta e exploração de petróleo na Bacia de
Campos. O município de Macaé, base operacional da Petrobrás,
quadruplicou, passando de 47.221 habitantes em 1970 para 206.728 em
2010. O adensamento populacional e a valorização do solo urbano têm
espraiado os efeitos da indústria petrolífera para os municípios
limítrofes, como também tem produzido fluxos diários entre vários
municípios da região e Macaé, em decorrência da grande oferta de
trabalho.
3Por
outro lado, a busca por qualificação, visando em grande parte inserção
na indústria petrolífera, também tem gerado fluxos entre os municípios,
especialmente com destino à Campos dos Goytacazes, que mantém uma oferta
regular de ensino profissionalizante de nível médio e nível superior,
por meio de instituições públicas e privadas. Adicionalmente, os
recursos de royalties e participações especiais que os municípios
impactados direta e indiretamente pela indústria do petróleo recebem,
conferem a esses municípios certa folga orçamentária em relação aos
demais, com poucas restrições em relação à alocação desses recursos.
Sendo assim, os municípios contemplados com esses recursos,
especialmente os menores, na ausência de oferta de serviços educacionais
no local, fornecem bolsas de estudos e transporte para os residentes
estudarem em outro município, geralmente em Campos dos Goytacazes, em
função de uma oferta diferenciada na região 1.
4Este
trabalho é de natureza predominantemente quantitativa e descritiva e
utiliza como fonte dados o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, o Censo Escolar e o Censo da
Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
5A
figura 1 apresenta uma síntese da abordagem desse estudo, situando o
fenômeno da pendularidade no âmbito da discussão do conceito mais amplo
de mobilidade populacional, destacando a mobilidade territorial da
população e o foco deste estudo, os deslocamentos pendulares em busca de
oportunidades educacionais na região Norte Fluminense.
Figura 1 – Esquema sintético da proposta do estudo
Fonte: Elaboração própria.
6Após
essa breve introdução, serão discutidos na seção dois os aspectos
conceituais de mobilidade espacial da população em geral e movimentos
pendulares em particular; na seção três apresenta os procedimentos
metodológicos; na seção quatro apresenta os resultados; na quinta
apresenta as considerações finais.
- 2 WUNSCH; TERMOTE, 1978, apud CUNHA, 2012.
7A
mobilidade espacial se refere à capacidade de se mover no espaço. Esse
fenômeno, pode envolver tanto a migração, considerada a mudança do lugar
de residência, como os movimentos diários, entre os quais os mais
conhecidos são os movimentos chamados de pendulares 2
8Apesar
dos movimentos migratórios e deslocamentos pendulares produzirem fluxos
de pessoas pelo território, a essência desses movimentos é diferente.
No que tange às definições, Patarra e Cunha (1987) destacam a
complexidade do fenômeno:
- 3 PATARRA; CUNHA, 1987:32.
sob
um conceito amplo e mal definido, mesclam-se processos complexos e
diversificados, que emergem na resultante redistribuição da população no
espaço. Desde mudanças de residência relacionadas a momentos do ciclo
vital até movimentos que significam etapas de ascensão na escala social,
diversos e complexos são os fatores subjacentes aos deslocamentos
populacionais de uma área a outra3.
9Cunha
(2012) reafirma essa complexidade ressaltando as múltiplas dimensões da
mobilidade espacial da população: "Sendo a migração, ou mais
genericamente, a mobilidade espacial da população um fenômeno
multifacetado e, principalmente, multiescalar, sua definição nem sempre é
imediata e óbvia" 4
10Em meio às várias definições, Carvalho e Rigotti5
afirmam que o conceito de migração não inclui os deslocamentos que as
pessoas não se fixam de forma permanente no local de destino. Sendo
assim, “os movimentos sazonais, temporários, e os de populações nômades
não são considerados migração”, assim como os movimentos pendulares.
- 6 ADAN, 1994 apud MOURA et al. 2005:122.
- 7 JARDIM; ERVATTI, 2006; CUNHA et al., 2006.
11De acordo com Adan (1994)6,
o conceito de mobilidade refere-se à vida cotidiana do indivíduo, que,
segundo os autores, recebe a denominação de mobilidade pendular, sendo
entendida como “[...] conjunto de deslocamentos que o indivíduo efetua
para executar os atos de sua vida cotidiana (trabalho, compras, lazer). “
Sendo assim, os deslocamentos do tipo pendular fazem parte da
distribuição da população pelo espaço, em seus múltiplos aspectos, cujas
modalidades estão inter-relacionadas, a partir das migrações internas,
da mobilidade residencial, da mobilidade cotidiana e ao espaço de vida,
que é o espaço no qual o indivíduo realiza todas suas atividades7.
Sobre
a mobilidade pendular há, ainda, abordagens relacionadas a diferentes
objetivos (no que tange a orientação de políticas públicas, orientação
na alocação de investimentos urbanos, suas implicações sobre impactos
simbólicos e de desgastes físicos dos atores, etc.); abordagens
relacionadas a diferentes escalas (intermunicipais, interestaduais e
internacionais) e dimensões (deslocamentos centrados em postos de
trabalho, serviços públicos de saúde ou educação). Enfim, são muitas as
questões relacionadas à mobilidade pendular 8.
- 9 DEMOPÆDIA, 2010.
- 10 MOURA et al. 2005:124.
12Segundo
o Dicionário Demográfico Multilíngue a migração envolve mudança no
local de residência habitual e implica em movimento que ultrapassa uma
fronteira administrativa, enquanto a mobilidade pendular envolve jornada
diária ou semanal do local de residência para o local de realização de
sua atividade, geralmente trabalho ou estudo9. Moura (2005) 10considera
as diferenças conceituais de forma similar: “enquanto a migração
envolve mudança de residência, os deslocamentos pendulares
caracterizam-se por deslocamentos entre o município de residência e
outros municípios, com finalidade específica”. Outro ponto que é
ressaltado pelas autoras é a diferença da natureza dos movimentos
pendulares e migratórios, apesar de ambos envolverem o fluxo de pessoas
pelo território. Nessa linha de pensamento, Cunha (2012) afirma que em
função das características do movimento pendular − movimento diário sem
caráter permanente −, o fenômeno não deve ser classificado como
migração, e sim, como um tipo de mobilidade populacional.
13Segundo
Pereira (2006), o movimento pendular deve ser considerado como um
deslocamento funcional e não residencial em que, havendo a existência de
um local intermediário, a origem e o destino final dos deslocamentos
são os mesmos.
- 11 PEREIRA, 2008; BAENINGER, 1996.
14Outra
relação que se pode estabelecer entre migração e movimentos pendulares,
é a de que os movimentos pendulares funcionam, muitas vezes, como
alternativa à migração, retendo a população potencialmente migrante.
Diante das opções de migrar ou da possibilidade de realizar movimento
diário (viabilizada por circunstâncias favoráveis como boas condições de
infraestrutura, acesso aos meios de transporte e custos aceitáveis de
deslocamento) esses indivíduos optam por realizar o movimento cotidiano a
mudar de forma definitiva de local de residência, diminuindo assim os
fluxos migratórios 11.
Considerando que essa mobilidade cotidiana da população é de grande
relevância para se compreender as transformações socioeconômicas
correntes, deve-se considerar a diversidade do uso do termo que aparece
nos trabalhos acadêmicos ora como migração pendular, ora como movimento
pendular e até deslocamento pendular. Beaujeu-Garnier (1980), denomina
os movimentos pendulares de “migrações oscilatórias” que, se tiverem
duração prolongada são chamadas de migrações de temporada, enquanto os
movimentos de curto período são denominados de cotidianos e as pessoas
que o realizam, migrantes diários. Ravenstein (1985) designa "migrantes
temporários"; Castells (1972), por sua vez, denominou de "migrações
alternantes"; o termo americano é o commuting, enquanto os franceses
denominam de navettes. Esses termos, são associados aos deslocamentos
cotidianos realizados pela população. Nota-se, portanto, que não há uma
denominação única para esse tipo de deslocamento.
15Para
este trabalho, optou-se pelo uso dos termos deslocamento ou movimento
pendular por se entender que se tratam de movimentos cotidianos com uma
determinada periodicidade que não resultam, a priori, em transferência
definitiva de residência.
16Quanto à duração dos deslocamentos, Jardim (2011)12
sugere que a mobilidade pendular envolve distintas dimensões e diversas
práticas cotidianas da população no território referentes à mudança de
lugar, referindo-se aos “percursos entre o domicílio e o lugar de
trabalho, medidos em termos de tempo e espaço, que pode variar de uma
hora ou mais, um dia de trabalho, uma semana ou um mês”. Cabe ressaltar
que mais do que mudança de lugar, do ponto de vista puramente
demográfico, a mobilidade pendular deve ser também analisada do ponto de
vista social. Muda-se de lugar, mas não se perde o vínculo preexistente
com o outro território, já que nessa dimensão temporal, esse tipo de
deslocamento apresenta a tipicidade de uma frequência cotidiana.
17Apesar
de ainda não haver um consenso sobre a escala espacial de um
deslocamento para que ele seja considerado pendular, existem algumas
abordagens diferenciadas entre os pesquisadores. O fenômeno captado
pelos Censos Demográficos e classificado como ‘deslocamento pendular’
considera apenas deslocamentos intermunicipais sejam nacionais ou
internacionais. Essa abordagem também está presente nos trabalhos de
Golgher (2004); Antico (2004); Fernandes e Vasconcelos (2004). Em
trabalhos como o de Cunha (2002), Cunha et al. (2006), Pereira (2006) e
Lima (2015) são utilizadas a mesma categoria, contemplando, porém, tanto
deslocamentos intermunicipais como intramunicipais, considerando as
trocas populacionais constantes entre diferentes bairros do mesmo
município.
18Cronologicamente,
destacam-se duas importantes fases da economia da região Norte
Fluminense: a indústria sucroalcooleira e a indústria petrolífera. O
advento de petróleo na plataforma continental da Bacia de Campos
influencia diretamente a economia de vários municípios do Norte
Fluminense por meio dos significativos recursos dos royalties e
participações especiais para as receitas municipais.
19A
consolidação da indústria do petróleo produziu uma competição para
localização no espaço regional, enquanto Macaé era lócus privilegiado
das empresas da cadeia produtiva da Indústria de Extração e Produção de
Petróleo e Gás, Campos consolidou a tradição de polo regional de ensino,
tanto superior quanto técnico, ofertado em instituições públicas e
privadas.
20A
diversidade da oferta de ensino em Campos nos níveis médio, técnico e
superior, em diferentes tipos de estabelecimento como universidades,
centros universitários, faculdades e institutos federais, atraem
estudantes não só da região Norte Fluminense e adjacências, como também
de outros estados como Minas Gerais e Espírito Santo. Entre essas
instituições, citam-se: Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), Universidade Federal Fluminense (UFF), Instituto Federal
Fluminense (IFF), Instituto Superior de Educação Professor Aldo
Muylaert (ISEPAM), Universidade Estácio de Sá (UNESA), Faculdade de
Direito de Campos (FDC), Faculdade de Medicina de Campos (FMC),
Faculdade de Odontologia de Campos (FOC), Faculdade de Filosofia de
Campos (FAFIC), Universidade Cândido Mendes (UCAM), Universidade Saldado
de Oliveira (UNIVERSO), Institutos Superiores de Ensino do Centro
Educacional Nossa Senhora Auxiliadora (ISECENSA) além do campus da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) que atua apenas
como centro de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão agropecuária nas
regiões Norte e Noroeste Fluminense, no estado do Espírito Santo,
nordeste de Minas Gerais e no sul da Bahia, não ofertando assim, cursos
com alunos matriculados.
21A
indústria petrolífera é o motor do desenvolvimento do Norte Fluminense,
principalmente quando se trata de qualificação da mão de obra, pois a
região transitou da monocultura canavieira que exige baixa qualificação
de mão de obra, para uma atividade econômica com crescente incorporação
de progresso técnico, exigindo, portanto, qualificação profissional.
22De
acordo com os microdados do Censo da Educação Superior (2015), dos nove
municípios da região Norte Fluminense, apenas quatro contam com
instituições de ensino superior: Campos, Macaé, Quissamã e São Fidélis,
sendo que a maioria delas se concentra em Campos dos Goytacazes.
23Em
que pese a concentração da população do Estado na Região Metropolitana
do Rio de Janeiro, assiste-se a uma queda dessa participação de 80,22%
em 2000 para 76,87% em 2010. Em contrapartida, com exceção das regiões
Noroeste e Centro, todas as demais ganham participação. Observa-se que o
crescimento populacional do estado do Rio de Janeiro na década de 2010
acompanha o nível de crescimento verificado para o Brasil e para a
região Sudeste, em torno de 1,0% ao ano. Contudo, o crescimento das
mesorregiões Norte (1,95%) e principalmente das Baixadas, que apresentou
crescimento médio anual de 4,16%, se destacam das demais com grandes
taxas de crescimento, sendo inclusive maiores do que a apresentada pela
região Metropolitana, o que demonstra que o ritmo de crescimento
populacional desta é menos intenso do que o ritmo de crescimento das
Baixadas, do Norte e até do Sul Fluminense, apesar da região
Metropolitana ainda concentrar a população do estado (tabela 1).
Tabela 1
Participação percentual na população do Rio de Janeiro por unidades territoriais selecionadas – 2000 - 2010
Unidades territoriais
|
Participação percentual na população do Rio de Janeiro
|
2000
|
2010
|
Metropolitana do Rio de Janeiro
|
80,22
|
78,67
|
Sul Fluminense
|
6,49
|
6,64
|
Norte Fluminense
|
4,86
|
5,31
|
Campos dos Goytacazes
|
3,65
|
3,68
|
Macaé
|
1,21
|
1,64
|
Baixadas Litorâneas
|
3,21
|
4,38
|
Rio das Ostras
|
0,25
|
0,66
|
Centro Fluminense
|
3,15
|
3,01
|
Noroeste Fluminense
|
2,07
|
1,99
|
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Censo Demográfico 2010 (IBGE,2010)
24O município de Campos dos Goytacazes é considerado pelo IBGE, como uma Área de Concentração de População (ACP) definidas como:
- 13 CASTELLO BRANCO, 2006 apud IBGE 2008:11.
Grandes
manchas urbanas de ocupação contínua, caracterizadas pelo tamanho e
densidade da população, pelo grau de urbanização e pela coesão interna
da área, dada pelos deslocamentos da população para trabalho ou estudo 13.
25No
Brasil existem 40 ACPs, constituídas por agregação de 336 municípios.
No estado do Rio de Janeiro são apenas três: Rio de Janeiro, Campos dos
Goytacazes e Volta Redonda–Barra Mansa. Campos compõe a rede urbana
comandada pela metrópole (Rio de Janeiro), classificada como capital
regional C, que na hierarquia dos centros urbanos representa um nível
com
capacidade de gestão no nível imediatamente inferior ao das metrópoles,
têm área de influência de âmbito regional, sendo referidas como
destino, para um conjunto de atividades, por grande número de
municípios. (...) Além da diferenciação de porte, têm padrão de
localização regionalizado14.
26De
acordo com o IBGE, em 2010, Campos apresentou 145.898 alunos
matriculados em todos os níveis de ensino. A tabela 2 apresenta o total
de estudantes no nível superior em 2010, segundo os dados do Censo
Demográfico. Campos apresenta o maior contingente de estudantes em
números absolutos, contudo em termos percentuais é o que apresenta o
menor percentual de estudantes que se deslocam diariamente para estudar
em outro município (7%), evidenciando que a oferta diferenciada de
cursos superiores no município atende de forma satisfatória a população
de estudantes residentes. Com exceção do município de Macaé, onde o
percentual de estudantes pendulares é de 19,2%, todos os demais
municípios da região apresentam percentual superior a 60%. Em termos
regionais, verifica-se que 21,2% dos estudantes são pendulares, ou seja,
frequenta instituição de nível superior em outro município.
Tabela 2
Total de estudantes do Ensino Superior e estudantes pendulares no Ensino Superior, região Norte Fluminense e municípios – 2010
Municípios
|
Total de alunos na graduação
|
Deslocamento para cursar graduação
|
Deslocamentos sobre total de alunos (%)
|
Carapebus
|
299
|
268
|
89,4
|
Campos dos Goytacazes
|
14.687
|
1.029
|
7,0
|
Cardoso Moreira
|
301
|
288
|
95,5
|
Conceição de Macabu
|
443
|
434
|
98,0
|
Macaé
|
7.705
|
1.477
|
19,2
|
Quissamã
|
624
|
390
|
62,4
|
São F. de Itabapoana
|
797
|
516
|
64,7
|
São Fidélis
|
923
|
567
|
61,4
|
São João da Barra
|
703
|
634
|
90,1
|
Região Norte Fluminense
|
26.482
|
5.602
|
21,2
|
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Censo Demográfico 2010 (IBGE,2010)
27Dados
mais recentes, do Censo da Educação Superior (2014) divulgados pelo
INEP este ano, indicam que o número total de estudantes matriculados nos
cursos de graduação em Campos supera os 18 mil alunos (18.062). O Censo
da Educação Superior é realizado anualmente, enquanto o período de
realização do Censo Demográfico (realizado pelo IBGE) é decenal.
28Cabe
ressaltar que existe uma diferença na forma de obtenção dos dados. No
Censo Demográfico, as perguntas são feitas diretamente ao indivíduo, que
responde por todas as pessoas residentes em seu domicílio. Já no Censo
da Educação Superior, os dados são coletados a partir do preenchimento
dos questionários, por parte das Instituições de Ensino Superior (IES) e
por importação de dados do Sistema eletrônico do Ministério da Educação
(MEC). Sendo assim, pode haver divergências com relação ao mesmo tipo
de dado em um mesmo ano, pois as fontes de informação são diferentes.
29O
IBGE realizou uma pesquisa sobre o nível de centralidade no ensino de
graduação no Brasil e identificou que no nível mais alto de centralidade
na graduação (nível 1), encontram-se apenas duas cidades: Rio de
Janeiro e São Paulo, as maiores metrópoles do país. No segundo nível,
foram identificados nove centros e 21 no terceiro nível. Campos dos
Goytacazes é uma das 33 cidades que estão no quarto nível de
centralidade no ensino de graduação do país, o que lhe confere papel de
polo educacional regional.15
30A
figura 2 apresenta o mapa com a espacialização dos seis níveis de
centralidade no ensino superior identificados pelo REGIC (2007).
Figura 2
Distribuição espacial do ensino de graduação no Brasil por níveis de centralidade (2008)
Fonte dos dados: Elaboração própria a partir dos dados do REGIC, 2007 (IBGE,2008).
31A
figura 3 apresenta a distribuição espacial da população de 19 a 29 anos
(considerada neste trabalho como aquela com idade adequada à frequência
ao nível superior) e das IES nos municípios da região Norte Fluminense.
32Observa-se
que a população alvo se concentra em números absolutos nos municípios
de Campos e Macaé e em menor número em Carapebus e Cardoso Moreira. Com
relação às IES, há uma concentração geográfica nos municípios de Campos,
que conta com 20 instituições e Macaé, com 21 IES. Os municípios de
Macaé, São Fidélis e São Francisco de Itabapoana, também atuam como
polos presenciais de educação à distância do Consórcio CEDERJ (Centro de
Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro). A educação a
distância se coloca como uma opção para aqueles sem oportunidades de
acesso ao ensino superior, principalmente o ensino público, por
residirem longe das IES ou até mesmo por indisponibilidade de tempo nos
horários tradicionais de aula presenciais.
Figura 3
Distribuição espacial da população de 19 a 29 anos e das instituições de Ensino Superior na região Norte Fluminense
Fonte: IBGE (2010), INEP (2015). Elaboração própria.
33Por
fatores relacionados à restrição de oferta em alguns municípios, fica
evidente que, para cursar o ensino superior, muitos estudantes precisam
se deslocar de seus municípios de residência. A busca por um curso
específico de seu interesse, principalmente no setor de petróleo e gás,
também influencia na decisão de deslocar para estudar.
34As
fontes de dados utilizadas foram o Censo Demográfico do IBGE de 2010 e
do Censo da Educação Superior do INEP e os dados de emprego formal da
Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2010.
35Por
meio das fontes utilizadas identificou-se os movimentos dos estudantes
entre os municípios da região. A análise com foco nos indivíduos traçou o
perfil dos estudantes pendulares em relação às seguintes variáveis:
instituição de ensino (pública ou privada), estrutura etária, sexo,
município de origem e renda familiar per capita. O índice de eficácia da
pendularidade e o quociente locacional foram estimados.
36O
Índice de Eficácia de Pendularidade (IE) mostra a relação entre entrada
e saída da população (no caso deste estudo, de estudantes). O IE para
cada município das regiões selecionadas foi calculado a partir da
fórmula seguinte:
37Em
que E é igual ao número de pessoas que entram no município para estudar
e, S representa o número de pessoas que saem do município para estudar.
38O
IE varia entre -1 e 1 e quanto mais próximo de 1, maior a capacidade de
absorção de estudantes do município e, quando mais o valor se aproxima
de -1, maior evasão de estudantes do município. Valores próximos de zero
indicam rotatividade migratória, isto é, áreas que apresentam fluxos
semelhantes de entrada e saída de pessoas16.
39Com
o objetivo de medir a especialização dos municípios no setor
educacional o Quociente Locacional (QL) foi mensurado para Campos dos
Goytacazes em três níveis (regional, estadual e nacional), expresso pela
fórmula seguinte:
40Se
o valor do QL for maior que a unidade, significa que a importância do
setor na região frente à economia como um todo é maior do que a
importância do conjunto dos setores dessa região frente essa mesma
economia.
41As
instituições de ensino do Norte Fluminense atendem à grande parte da
população estudantil da região Noroeste, de outras regiões do estado e
até de outros estados. A figura 4 apresenta o volume de entrada de
estudantes (de todas as idades e níveis de ensino) nos municípios das
regiões Norte, Noroeste e Baixadas Litorâneas. O volume de entrada é uma
expressão da atratividade dos municípios no que se refere às
oportunidades educacionais, para todos os níveis de ensino.
42Itaperuna,
no Noroeste do estado; Cabo Frio, nas Baixadas Litorâneas e Campos, no
Norte Fluminense estão entre os que recebem um maior contingente de
estudantes. Macaé, também no Norte Fluminense aparece na quarta
colocação, contudo é Campos que recebe o maior volume de estudantes em
busca de qualificação: 8.532 pessoas vindas de outros municípios. Além
de ser indicador de oferta de vagas, esse dado também indica a demanda
por educação por parte de alguns municípios e a centralidade exercida
por Campos nessa região.
Figura 4
Municípios
das regiões Norte, Noroeste e Baixadas litorâneas, segundo atração de
estudantes de outros municípios para estudo (2010)
Fonte: Elaboração a partir dos microdados do Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2010)43Com
relação ao local de residência desses estudantes que realizam
deslocamento pendular, a tabela 3 indica os 15 municípios do Brasil que
dão origem aos movimentos de estudantes em direção à Campos. Entre eles,
vale ressaltar a presença de estudantes do estado do Espírito Santo,
com dois municípios diferentes (Mimoso do Sul e Cachoeiro de
Itapemirim). Os três primeiros (São João da Barra, São Francisco de
Itabapoana e São Fidélis) são vizinhos territoriais, fazendo fronteira
com Campos, o que facilita e potencializa o deslocamento nessa direção.
Destaca-se também a presença de estudantes oriundos do município do Rio
de Janeiro que, apesar de ser uma grande metrópole com ampla oferta
educacional, contribui com 8,8% do total entradas de estudantes em
Campos.
Tabela 3
Entrada de estudantes em Campos dos Goytacazes segundo município de residência – Brasil (2010)
Municípios/UF de residência
|
Estudantes
|
% sobre o total de pendulares
|
% sobre o total de matrículas
|
São João da Barra/RJ
|
1.042
|
12,2
|
0,7
|
São Francisco de Itabapoana/RJ
|
791
|
9,3
|
0,5
|
São Fidélis/RJ
|
758
|
8,9
|
0,5
|
Rio de Janeiro/RJ
|
750
|
8,8
|
0,5
|
Macaé/RJ
|
622
|
7,3
|
0,4
|
Quissamã/RJ
|
261
|
3,1
|
0,2
|
Italva/RJ
|
250
|
2,9
|
0,2
|
Cardoso Moreira/RJ
|
249
|
2,9
|
0,2
|
Bom Jesus do Itabapoana/RJ
|
238
|
2,8
|
0,2
|
São Gonçalo/RJ
|
210
|
2,5
|
0,1
|
Mimoso do Sul/ES
|
207
|
2,4
|
0,1
|
Itaperuna/RJ
|
185
|
2,2
|
0,1
|
Cachoeiro de Itapemirim/ES
|
178
|
2,1
|
0,1
|
Cambuci/RJ
|
167
|
2,0
|
0,1
|
Conceição de Macabu/RJ
|
137
|
1,6
|
0,1
|
Outros
|
2.485
|
29,1
|
1,7
|
Total de estudantes pendulares
|
8.530
|
100,0
|
-
|
Total de matrículas em Campos
|
145.898
|
-
|
-
|
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2010)
44Da
população residente nos municípios da região Norte Fluminense, 261.822
declararam frequentar escola ou creche, sendo que 96,1% deles estudam no
município de residência. Os que estudam em outro município correspondem
a 3,8% e os que estudam em país estrangeiro são 85 pessoas, em números
absolutos, representam menos de 0,1% do total, conforme tabela 4, a
seguir.
Tabela 4
Distribuição dos estudantes da região Norte Fluminense segundo o lugar de frequência à escola (2010)
Local
|
Total
|
Percentual (%)
|
Município de residência
|
251.663
|
96,1
|
Outro município
|
10.073
|
3,8
|
País estrangeiro
|
85
|
0,1
|
Total
|
261.822
|
100,0
|
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2010)
45Das
10.073 pessoas que declararam frequentar escola ou creche em outro
município, 4,8% cursam a educação infantil (creche, pré-escola e classe
de alfabetização); 21,7% cursam o ensino fundamental (Alfabetização de
jovens e adultos, regular e EJA), 18,4% estão no ensino médio (regular e
EJA), 47,3% cursam o ensino superior e 7,8% frequentam a pós-graduação
Lato Sensu (especialização) e Stricto Sensu (mestrado e doutorado)
(tabela 5).
Tabela 5
Nível de curso que os estudantes pendulares da região Norte Fluminense frequentam (2010).
Curso que frequenta
|
Total de estudantes
|
Percentual (%)
|
Educação Infantil
|
487
|
4,8
|
Ensino Fundamental
|
2.184
|
21,7
|
Ensino Médio
|
1.851
|
18,4
|
Ensino Superior
|
4.762
|
47,3
|
Pós-graduação (Lato e Stricto Sensu)
|
790
|
7,8
|
Total
|
10.073
|
100,0
|
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2010).
46A
tabela 6 resume as características predominantes dos estudantes
pendulares de nível superior. Percebe-se que, quanto à categoria
administrativa da Instituição de Ensino, a maioria dos estudantes de
nível superior frequenta escolas privadas (66,7%), a idade predominante é
a de jovens de 15 a 24 anos (54,5%), os estudantes de cor ou ração
branca representam 64,1% do total, são predominantemente solteiros
(75,2%). A maior parte desses estudantes é ocupada (58%), principalmente
no setor educacional (21%) e 46,8% são membros de domicílios com renda
domiciliar per capita na faixa de um a três salários mínimos.
Tabela 6
Perfil dos estudantes de nível superior – Norte Fluminense – 2010.
Ensino Superior
|
Categoria administrativa
|
Particular
|
66,7%
|
Grupo de idade
|
18 a 24 anos
|
54,5%
|
Cor ou raça
|
branca
|
64,1%
|
Estado civil
|
solteiro (a)
|
75,2%
|
Ocupados?
|
Sim
|
58,0%
|
Setor de atividade
|
Educação
|
21,0%
|
Rendimento
|
De 1 a 3 SM
|
46,8%
|
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Censo Demográfico 2010 IBGE (2010).
47Apenas
Campos se destaca com IE positivo (0,59), indicando o que se poderia
classificar como forte absorção pendular. Todos os demais municípios
apresentam IE negativo, indicando saldo migratório negativo. Entre
demais municípios com IE negativo, Macaé (-0,33) foi o que apresentou o
valor menos elevado, podendo ser considerado como município de média
evasão pendular. Os municípios restantes apresentaram valores variando
de -0,66 a -1, podendo ser classificados como de forte evasão pendular. O
município de Cardoso Moreira, não apresentou nenhuma entrada de
estudantes de graduação no ano de 2010, somente saídas apresentado um IE
de -1,00, como pode ser visto na tabela 7.
Tabela 7
Índice de eficácia da pendularidade, Região Norte Fluminense – 2010.
Município
|
Entrada
|
Saída
|
IE
|
Campos dos Goytacazes
|
2.389
|
609
|
0,59
|
Macaé
|
645
|
1.284
|
-0,33
|
São Fco. Itabapoana
|
94
|
454
|
-0,66
|
Carapebus
|
21
|
258
|
-0,85
|
São Fidélis
|
25
|
491
|
-0,90
|
Quissamã
|
13
|
354
|
-0,93
|
Conceição de Macabu
|
12
|
364
|
-0,94
|
São João da Barra
|
11
|
601
|
-0,96
|
Cardoso Moreira
|
0
|
278
|
-1,00
|
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Censo Demográfico 2010 IBGE (2010).
48Os
valores do IE deixam claro que Campos apresenta a maior absorção de
estudantes. Porém, cabe ressaltar que Macaé também tem se destacado com
relação ao número de matrículas e, consequentemente, atração de
estudantes. O município dispõe atualmente de uma cidade universitária
onde estão instaladas a Faculdade Municipal Miguel Ângelo da Silva
Santos (FeMASS), a UFF e a UFRJ. Além disso, Macaé já dispõe de um
campus do Instituto Federal Fluminense (IFF) com cursos técnicos, de
graduação e pós graduação e também de um campus da UENF.
49O
papel de Macaé e seu incipiente polo de educação superior pode ser
constado em estudo sobre deslocamentos populacionais publicado em 2015
pelo IBGE. Nesse estudo, o IBGE utilizou os dados de movimento pendular
em busca de trabalho e qualificação, além de dados sobre conurbação
(contiguidade das manchas urbanizadas) para designar um novo conceito no
relacionamento entre dois ou mais municípios, o que denominou de
arranjos populacionais.
A
noção de integração foi mensurada utilizando: um índice de intensidade
relativa dos movimentos pendulares para trabalho e estudo, para cada
município, onde a intensidade deve ser igual ou superior a 0,25,
denominado índice de integração; ou um valor de intensidade absoluta dos
movimentos pendulares para trabalho e estudo, entre dois municípios,
igual ou superior a 10 000 pessoas; ou uma contiguidade das manchas
urbanizadas quando a distância entre as bordas das manchas urbanizadas
principais de dois municípios é de até 3 km17.
50O
resultado dessa mensuração foi a identificação de 294 arranjos
populacionais no Brasil, formados por 938 municípios que juntos,
representam 55,9% da população residente no País em 2010. Esses arranjos
estão concentrados na Região Sudeste, com 112 unidades, onde foi
constatado que, além das metrópoles, os arranjos populacionais
acompanham os grandes centros urbanos.
51O
deslocamento diário de mais de nove mil pessoas chamou a atenção do
IBGE que trata como um "caso especial" o arranjo existente entre alguns
municípios da Região Norte Fluminense e Baixadas Litorâneas,
considerando como formas urbanas a serem acompanhadas no cenário futuro:
O
Arranjo de "Macaé – Rio das Ostras/RJ" também possui forte ligação com o
do "Rio de Janeiro/RJ", alcançando 12 779 pessoas, das quais 81,9%
deslocam-se somente a trabalho. No leste fluminense, as ligações entre o
Arranjo de "Macaé – Rio das Ostras/RJ" com "Cabo Frio/RJ" e com "Campos
dos Goytacazes/RJ" também são significativas, superando 9 000 pessoas
em cada ligação. Mais especificamente, entre "Macaé – Rio das Ostras/RJ"
e "Campos dos Goytacazes/RJ", a ligação é, majoritariamente, para
trabalho (86,1%); com "Cabo Frio/RJ", no entanto, há uma significativa
participação do estudo (26,5%)18.
52O
arranjo Campos dos Goytacazes - Macaé - Rio das Ostras, é considerado o
quinto maior deslocamento (9.010 pessoas), com fluxos diários e de
integração populacional do País. Já o arranjo Macaé - Rio das Ostras -
Rio de Janeiro, é o segundo maior (13.058), porém bem próximo do
primeiro, que é o eixo Rio - São Paulo que apresenta 13.431 pessoas que
se deslocam para trabalhar ou estudar.
53Ainda
de acordo com o estudo, 26,5% das 9.429 pessoas que se deslocam
diariamente para Macaé, com origem de Cabo Frio e municípios vizinhos,
estão em busca de qualificação. Isto equivale a 2.498 pessoas da Região
dos Lagos estudando em Macaé. Outrora, esta demanda era em boa parte
atendida pelas instituições de ensino de Campos.
54Devido
ao número expressivo de deslocamentos pendulares entre esses municípios
dentro da região Norte Fluminense, o estudo sobre arranjos
populacionais sugere ainda que, caso o movimento de pessoas aumente
ainda mais entre esses arranjos, poderá configurar uma nova unidade
urbana que somaria mais de 1,2 milhão de habitantes. O que resultaria na
formação de uma região urbana mais complexa, com uma perspectiva
regional que vai além dos limites político-administrativos.
55Os
valores calculados para o QL dos municípios da região Norte Fluminense
no setor de ensino indicam que o município de Campos dos Goytacazes é o
mais especializado no setor educacional, com um QL de 1,545. O município
menos especializado é Cardoso Moreira, que apresentou QL de 0,097. Esse
resultado evidencia que o setor tem grande importância no município,
permitindo que o mesmo exerça papel de polo regional no setor (tabela
8).
Tabela 8
Empregos no setor educacional em valores absolutos e quocientes locacional, Região Norte Fluminense – 2010.
Município
|
Setor Educacional
|
Abs.
|
QL
|
Campos dos Goytacazes
|
3.810
|
1,545
|
Quissamã
|
89
|
0,940
|
São Fidélis
|
101
|
0,745
|
Conceição de Macabu
|
47
|
0,734
|
Macaé
|
2.290
|
0,701
|
São João da Barra
|
53
|
0,254
|
SFI
|
9
|
0,133
|
Carapebus
|
8
|
0,123
|
Cardoso Moreira
|
4
|
0,097
|
Total
|
6.411
|
-
|
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS/MTE (2010).
56Para
o cálculo do indicador na escala estadual foram excluídos os municípios
que fazem parte da região metropolitana do Rio de Janeiro. Campos,
neste contexto, apresenta QL de 1,21 para o setor educacional, indicando
menor nível de especialização no setor de ensino, quando comparado à
escala regional. Como observa-se na figura 5, Vassouras, na região
Centro-Sul Fluminense é o município mais especializado no setor de
ensino, com QL de 6,29. Trata-se de município de pequeno porte onde
desde 1969 existe uma escola de medicina que evoluiu para a Universidade
Severino Sombra. O alto valor do QL se justifica pela importância dos
1612 vínculos empregatícios no setor de ensino no total dos 7119
empregos formais do município e a pequena importância do total de
emprego local no total de emprego do estado. O mesmo se pode dizer do QL
de Itaperuna (Noroeste Fluminense), cuja estrutura produtiva é
concentrada em empregos na administração pública, ensino, setor de saúde
e comércio e com baixa representatividade no emprego estadual. Campos,
embora apresente importância relativa no setor de ensino, tem estrutura
produtiva e porte populacional mais relevante no contexto estadual do
que vários municípios com QL superior, como pode ser visto no gráfico da
figura 5, a seguir.
Figura 5
Quociente locacional, setor de ensino, estado do Rio de Janeiro (municípios selecionados) – 2010.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS/TEM (2010).
Nota: Os demais municípios não representados nesse gráfico apresentaram QL inferior à 0,55.
57Em
nível nacional, utilizando-se a categorização dos centros urbanos do
IBGE como referência, foram listados 39 municípios que fazem parte da
mesma hierarquia urbana de Campos, como capital regional de nível C
(tabela 9). Observou-se que a maioria dos municípios (21) apresenta um
certo grau de especialização no setor educacional, com QL superior a uma
unidade. O estado do Rio de Janeiro conta com apenas dois municípios
nesse nível de hierarquia dos centros urbanos: Campos dos Goytacazes e
Volta Redonda. Quanto ao QL desses municípios, Campos não apresenta
especialização no setor de ensino considerando este recorte territorial,
contudo apresentou QL com valor próximo da unidade (0,93), indicando o
que se esperava. Ou seja, em uma escala de mesmo nível hierárquico, a
tendência é que o QL de todos os municípios não se distancie muito da
unidade. Levando em conta o QL médio deste conjunto de municípios
(1,02), o mediano (1,01) o primeiro quartil (0,79), Campos se insere
exatamente entre no intervalo entre os valores 25% e 50% dos municípios
nesse nível hierárquico.
Tabela 9
Empregos
no setor educacional em valores absolutos e quociente locacional,
Brasil – Municípios e Estados selecionados por nível de hierarquia
urbana (capitais regionais C) – 2010.
Município
|
Estado
|
Setor Educacional
|
Abs.
|
QL
|
Uberaba
|
MG
|
8.020
|
2,08
|
Mossoró
|
RN
|
4.336
|
1,61
|
Pelotas
|
RS
|
4.888
|
1,49
|
Ijuí
|
RS
|
1.258
|
1,44
|
Presidente Prudente
|
SP
|
4.002
|
1,37
|
Bauru
|
SP
|
7.224
|
1,32
|
Araçatuba
|
SP
|
2.749
|
1,26
|
Pouso Alegre
|
MG
|
2.404
|
1,25
|
Volta Redonda
|
RJ
|
3.932
|
1,21
|
Criciúma
|
SC
|
3.291
|
1,17
|
Santarém
|
PA
|
1.831
|
1,16
|
Santos
|
SP
|
8.903
|
1,12
|
Araraquara
|
SP
|
3.531
|
1,12
|
Ponta Grossa
|
PR
|
3.868
|
1,07
|
Marília
|
SP
|
2.913
|
1,07
|
Dourados
|
MS
|
2.384
|
1,06
|
Teófilo Otoni
|
MG
|
1.177
|
1,05
|
Juazeiro do Norte
|
CE
|
1.912
|
1,03
|
Varginha
|
MG
|
1.774
|
1,02
|
Boa Vista
|
RR
|
3.328
|
1,01
|
Caruaru
|
PE
|
2.758
|
1,00
|
Arapiraca
|
AL
|
1.213
|
0,96
|
Campos dos Goytacazes
|
RJ
|
3.810
|
0,93
|
Araguaína
|
TO
|
1.090
|
0,93
|
Governador Valadares
|
MG
|
2.300
|
0,91
|
Petrolina
|
PE
|
2.184
|
0,91
|
Piracicaba
|
SP
|
4.989
|
0,90
|
Imperatriz
|
MA
|
1.609
|
0,81
|
Novo Hamburgo
|
RS
|
2.978
|
0,80
|
Divinópolis
|
MG
|
2.025
|
0,78
|
São José dos Campos
|
SP
|
7.091
|
0,73
|
Sorocaba
|
SP
|
6.020
|
0,72
|
Barreiras
|
BA
|
815
|
0,70
|
Ipatinga
|
MG
|
2.603
|
0,69
|
Macapá
|
AP
|
2.765
|
0,67
|
Rio Branco
|
AC
|
2.980
|
0,65
|
Cachoeiro de Itapemirim
|
ES
|
1.333
|
0,63
|
Sobral
|
CE
|
1.142
|
0,58
|
Marabá
|
PA
|
955
|
0,49
|
Fonte: Elaboração própria dos dados da RAIS/TEM (2010).
58
A indústria petrolífera sediada em Macaé desloca o eixo dinâmico
regional de Campos dos Goytacazes para Macaé caracterizando o atual
ciclo da economia do Norte Fluminense, baseado na indústria extrativista
do petróleo, responsável pela dinâmica econômica da região. Sendo assim
a geoeconomia que se desenha é a centralidade de Macaé em termos de
localização industrial, com claros reflexos nos municípios vizinhos, a
exemplo de Rio das Ostras. Neste contexto, Campos dos Goytacazes assume
centralidade na oferta serviços educacionais para qualificação de mão de
obra para a indústria petrolífera.
59Encontra-se
em curso na região, o que poderá inaugurar um novo ciclo na economia
regional, os novos empreendimentos como o Complexo Logístico e
Industrial do Porto do Açu em São João da Barra e o Complexo Logístico e
Industrial Farol-Barra do Furado, nas divisas dos municípios de Campos e
Quissamã, podem incentivar o aumento da busca por qualificação para
atuar nessas áreas.
60A
consolidação da indústria do petróleo produziu uma competição para
localização no espaço regional, enquanto Macaé era lócus privilegiado
das empresas da cadeia produtiva da Indústria de Extração e Produção de
Petróleo e Gás, Campos consolidou a tradição de polo regional de ensino,
tanto superior quanto técnico, ofertado em instituições públicas e
privadas.
61No
que tange os deslocamentos populacionais para fins de estudo na região
Norte Fluminense, constatou-se herança dos processos históricos na
posição do município de Campos dos Goytacazes como centro regional.
Apesar do crescente papel do município de Macaé na oferta de ensino
superior, as evidências empíricas analisadas dão suporte à uma
formulação básica, qual seja: Campos dos Goytacazes é um polo
educacional na região Norte Fluminense, atraindo os maiores fluxos de
estudantes.
62As
Instituições de Ensino Superior estão concentradas em poucos
municípios, o que faz com que os estudantes se desloquem de seus
municípios de residência para cursar o ensino superior. Cabe destacar
que, nos deslocamentos para ensino superior, a mobilidade deve mesmo
existir uma vez que não se justifica implantar uma instituição de ensino
superior em cada município.
63O
Índice de Eficácia da Pendularidade analisado indicou que a maioria dos
municípios da região Norte Fluminense são áreas de forte evasão
pendular, apenas o município de Campos do Goytacazes foi classificado
como área forte absorção pendular.
64O
Quociente Locacional reforça o papel de Campos dos Goytacazes como
centro regional no que tange a absorção de estudantes, se destacando
como o mais especializado no setor educacional em escala regional. Na
escala estadual, o QL indicou especialização do município no setor,
apesar de não ser o mais especializado. Já em nível nacional, o QL de
Campos foi próximo da unidade, demonstrando que o setor tem a mesma
importância no município em relação aos municípios do mesmo nível na
hierarquia urbana. Esse dado revela que, cada lugar é central em sua
respectiva área de influência.
65Desse
modo, foi demonstrado que os deslocamentos populacionais para fins de
estudo na região Norte Fluminense se concentram no município de Campos
dos Goytacazes que, apesar de obter baixos índices nas avaliações da
educação básica é um polo educacional, principalmente para o ensino
superior, exercendo papel de centro regional, atraindo estudantes de
várias partes do estado do Rio de Janeiro e, inclusive de outros estados
do Brasil.
66Acrescenta-se
que os trabalhos sobre mobilidade populacional para fins educacionais,
principalmente em geografia, são relativamente recentes e demandam
maiores esforços em pesquisas e análises, uma vez que esses movimentos
devem se ampliar em todo território em função da seleção de estudantes
de grande parte das IES públicas por meio do Sistema de seleção
unificada (SISU). Acrescenta-se ainda que o tema admite uma gama variada
de possibilidades analíticas para estudos posteriores, tanto no quadro
teórico como na realização de estudos empíricos. Vale ressaltar que a
maior parte dos estudos realizados nessa área investigam de forma
predominante os movimentos populacionais por motivo de trabalho, embora
as magnitudes sejam diferentes, ambos seguem lógicas semelhantes, em que
a população busca no destino transitório aquilo que o seu lugar de
origem não lhe oferece.