Regularização fundiária e a “corrida mundial por terras” no Brasil / Land regularization and the “Global land grab” in Brazil
Resumo
Este artigo investiga as políticas aparentemente contraditórias
adotadas pelo Estado brasileiro para prevenir grilagens e arrestos de
terras em uma região e apoiar investimentos no agronegócio em outra. O
governo lançou o Programa Terra Legal para regularizar títulos
fundiários para 300,000 posseiros em terra pública na Amazônia Legal.
Esse esforço para organização de áreas geralmente “ilegíveis” para o
Estado tem a intenção de contrapor o desmatamento ilegal e grandes
arrestos de terra na Amazônia. Pelo outro lado, investimentos do
agronegócio de larga escala estão aumentando o desmatamento e a
concentração fundiária na região dos Cerrados por mecanismos de Estado
já bem estabelecidos. Enquanto a imposição de “legibilidade” pode
regular a concentração fundiária e o desmatamento, regiões legíveis
também facilitam investimentos que provocam desmatamento e concentração
de terras. Argumento que o programa de regularização fundiária
decorrente na Amazônia estrutura a corrida por terras a nível nacional –
não por que grandes quantidades de terras públicas estão de fato sendo
privatizadas por tal regularização, mas por que esse programa limita
programas de redistribuição de terras em outras regiões, e consolida a
infraestrutura de produção e transportes do agronegócio na área de
transição entre o Cerrado e a Amazônia. A teorização de “produção do
estado” ilustrada aqui ilustra a heterogeneidade de processos que formam
a corrida mundial por terras, demonstrando a forma que essas forças
foram obstruídas mas não descartadas por diversas agências do Estado,
atravancadas mas ainda não revertidas pela sociedade civil Brasileira.
Texto completo:
PDFDOI: http://dx.doi.org/10.14393/RCT112302