1Esse
artigo tem como objetivo tecer alguns comentários acerca do
desenvolvimento do pensamento geográfico de Friedrich Ratzel (1844-1904)
e sua viagem aos Estados Unidos e México entre 1873 e 1875. No
começo do terceiro milênio, esse geógrafo alemão continua sendo um
cientista cuja obra ainda está aguardando uma maior apreciação. Apesar
da sua importância inegável como figura intelectual formativa na
geografia, sua obra e a natureza geral da sua contribuição não são bem
conhecidas, e até pouco tempo atrás, ele tem sido algo semelhante a uma
presa fácil para os críticos, um enigma ou uma figura esquecida na
história da disciplina (MARTINS, 1992; 2001; BASSIN, 1987, CARVALHO,
1997). Há vários motivos, políticos bem como científicos, que deixaram o
legado deste “estudioso fora de série” obscuro e inexplorado (BASSIN,
1987, p.129). Foi apenas recentemente que a atenção tem sido
refocalizada na obra de Ratzel (por exemplo, BASSIN,1984; SANGUIN, 1990;
MERCIER, 1990; COSTACHIE e DAMIAN, 2010; CARVALHO , 2010; SEEMANN e
MATHEWSON, 2011). As principais razões dessa situação são de natureza
“técnica” e “científica”.
- 1 Obras mais divulgadas como Völkerkunde (para o espanhol, inglês, italiano), Anthropogeographie (ita (...)
2Por
um lado, a tradução seletiva e parcial da obra de Ratzel para outras
línguas resultou em interpretações errôneas e citações fora do contexto.
Poucas publicações da vasta produção ratzeliana
foram traduzidas para outras línguas - talvez devido à dificuldade de
realizar traduções adequadas e corretas dos textos originais em alemão.1
- 2 Por exemplo, Moraes (1990) dedicou um livro inteiro à discussão sobre o pensamento ratzeliano e se (...)
3Com
exceção da coletânea de Moraes (1990) e alguns textos isolados (por
exemplo, RATZEL, 2001, 2010), não há traduções mais substanciais da obra
de Ratzel do alemão para o português. Por conseqüência, muitos
geógrafos brasileiros que estudam o trabalho de Ratzel freqüentemente
recorrem a traduções feitas para outras línguas, usando como fonte uma
tradução da tradução.2
- 3 Turiferário é aquele que leva o turíbulo, isto é, o vaso em que se queima incenso nos templos. No s (...)
4Por
outro lado, a análise e avaliação da obra do Ratzel têm sido realizadas
em contextos econômicos, políticos e sociais de épocas posteriores,
levando a uma interpretação do passado sob a ótica do presente. Ao
estudar a epistemologia e a história da geografia, os geógrafos não
conseguem se livrar da sua própria subjetividade e visão da sua
disciplina. Em defesa de Ratzel, o geógrafo francês André-Louis Sanguin
(1990) escreve que tanto a “influência negativa jogada pelos censores e
inquisidores quanto o papel deformador de determinados turiferários”3
(SANGUIN, 1990, p.579) são responsáveis pela construção da imagem de
Ratzel como “pai” do determinismo ambiental e da geopolítica nazista,
sendo que “os mitos têm uma vida duradoura, sobretudo quando servem como
respostas fáceis para desafios desconfortáveis” (SANGUIN, 1990, p.592).
Neste sentido, “distorções e falsas interpretações são as pedras de
amolar que os anti-ratzelianos têm utilizado nos seus ataques repetidos”
(SANGUIN, 1990, p.580).
- 4 Oficialmente, Ellen Semple nunca se matriculou nas aulas de Ratzel em Leipzig. Em uma sociedade con (...)
- 5 Para uma discussão aprofundada sobre a recepção da obra de Ellen Semple na Grã-Bretanha, veja Keigh (...)
5Quanto à imagem do Ratzel determinista, a geógrafa americana Ellen Churchill Semple (1863-1932), aluna do Ratzel em Leipzig4, contribuiu consideravelmente a essa visão distorcida do geógrafo alemão ao extrair idéias do primeiro volume da Anthropogeographie
para a sua própria visão geográfica (SEMPLE, 1911). As suas
interpretações não reproduziram a essência do pensamento de Ratzel, mas
serviam como referência exclusiva para muitos geógrafos anglo-saxônicos
que “não se dispuseram a folhear os originais alemães da obra
ratzeliana” (MARTINS, 1992, p.109). Cabe dizer que Semple “foi, sem
malícia, a principal participante nas distorções e falsas interpretações
dos conceitos ratzelianos na geografia americana” (SANGUIN, 1990,
p.581).5 Na
França, os geógrafos, sociólogos e historiadores, por sua vez, usavam
Ratzel como “estratégia epistemológica” para mostrar a “diferença” entre
o “possibilismo francês” e o “determinismo alemão” e afirmar a
disciplina enquanto disciplina (MARTINS, 1992, p.109).
6Desta
maneira, preserva-se uma imagem caricaturesca e simplificada do
pensamento de Ratzel que pode ser encontrada na maioria dos livros
introdutórios à geografia no Brasil. Ratzel = determinismo ambiental.
Ponto final. Ratzel tem sido retratado como cientista com uma visão
naturalista “que reduziu o homem a um animal, ao não diferenciar as suas
qualidades especificas; assim, propunha o método geográfico como
análogo às demais ciências da natureza; e concebia a causalidade dos
fenômenos humanos como idêntica a dos naturais” (MORAES, 1987, p.57).
7Portanto,
as críticas ao determinismo ambiental nos últimos cinqüenta anos não
levaram em consideração que foi justamente na virada do século XIX para o
século XX que os geógrafos começaram a consolidar a geografia humana na
academia. A geografia humana tinha uma metodologia física, tendo a
geomorfologia como exemplo por excelência para examinar as marcas
visíveis da paisagem e definir um objeto de estudo para a disciplina
(SCHLÜTER, 1906; SEEMANN, 2004). Neste contexto, WANKLYN (1961) chega a
ponderar “se não foi a biogeografia com a sua ênfase na distribuição de
plantas e animais e o movimento e ajuste constante entre espécies
diferentes que era o link crítico entre a geografia física e humana”
(WANKLYN, 1961, p.42). Além dessa visão física das ciências humanas, as
idéias do evolucionismo também exerceram uma influência considerável no
modo de pensar a geografia. Portanto, vale lembrar que as teorias e
pensamentos geográficos que hoje achamos inaceitáveis eram o cânone
daquela época e perfeitamente plausíveis.
8O
determinismo ambiental precisa ser analisado em um contexto bem mais
amplo e ser enquadrado na história das idéias da influência do meio
ambiente sobre o homem. No decorrer dos últimos três milênios, da
Antiguidade até os tempos atuais, em algumas épocas os pensadores
atribuíram mais importância aos fatores ambientais, enquanto outros
períodos deram mais ênfase à ação humana sobre o meio ambiente, como
resume o geógrafo americano Clarence Glacken:
- 6 As traduções do alemão, francês e inglês são da minha autoria.
“A
idéia das influências ambientais sobre a cultura é tão importante
historicamente pelos seus questionamentos como pelo seu próprio contexto
intelectual e filosófico. É parte daquele antigo e amplo contraste entre physis e nomos,
entre natureza e lei ou costume. É uma idéia profundamente envolvida na
interpretação da infinitamente fascinante ordem das diferenças humanas”
(GLACKEN, 1976, p.709).6
- 7 O geopolítico nazista Karl Haushofer (1940) editou um volume com diversos recortes da obra de Ratze (...)
9Além
de ganhar o rótulo de pai do determinismo ambiental, Ratzel é
freqüentemente visto como fonte de inspiração para os nazistas, sem
levar em consideração que uma leitura de Ratzel no contexto da
geopolítica alemã depois de 1918 e como estímulo para as intenções
expansionistas dos nazistas seria um “anacronismo e uma inacurácia
histórica” (BASSIN, 1987, p.129).7 As
consequências desastrosas que seguiram ilustram claramente a falta de
correspondência entre um conceito e a realidade social que esse deve
explicar, e os “sucessores pseudocientíficos e políticos” de Ratzel
usavam a respeitabilidade dos seus conceitos (sobretudo o Lebensraum, o espaço vital) para empregá-los a favor dos seus próprios interesses (SANGUIN, 1990, p.589).
10É
verdade, Ratzel não pode ser dissociado do determinismo ambiental e do
imperialismo bismarckiano. Portanto, “pertinentes ou não, tais
correlações são herança de uma leitura de sua obra não menos marcada
histórica e culturalmente que a própria obra do mestre” (MARTINS, 1992
p.105). Interpretações posteriores (inclusive as minhas!) sempre
representam uma perspectiva a partir de um determinado modo de pensar a
geografia. Não existem leituras livres de valores, atitudes e visões de
mundo. Não há estudos completos, só tentativas de mostrar a
versatilidade de Ratzel em suas diversas facetas. Sanguin (1990) resume a
personalidade quase camaleônica desse cientista alemão á seguinte
maneira:
“Como geógrafo, Ratzel traz dimensões interessantes para os conceitos de origem, difusão, mudança e substituição. Como
naturalista estudando a América do Norte, ele identifica as questões de
associações e de habitats, das localizações e das migrações, da difusão
e das inovações. Como jornalista, ele cultiva a arte de descrição das
paisagens e sua apreciação estética. Como filosofo cultural, ele sabia
ir para além das obras materiais do homem pela inclusão do Geist, o espírito de uma sociedade, suas tradições e suas aspirações” (SANGUIN, 1990, p.592).
11Para
adentrar no pensamento de Ratzel, torna-se preciso levar em
consideração os contextos em que desenvolveu a sua obra, já que o
esclarecimento das suas ideias não pode ser feito por telefone ou por
correspondência (HUNTER, 1983, p.xviii).
12Para
desvendar perspectivas diferentes sobre Ratzel, suas idéias e sua obra,
sugere-se uma abordagem contextual e biográfica (SANGUIN, 1990;
BERDOULAY, 2003), levando-se em consideração que “a história e evolução
do pensamento dos pais fundadores da geografia moderna não podem ser
compreendidas fora de uma dimensão contextual e biográfica mínima”
(SANGUIN, 1990, p.579).
13Através
das “lições da historiografia da ciência”, Berdoulay (2003, p.49)
apresenta a proposta de uma abordagem contextual que visa “enfatizar o
papel do Zeitgeist [o clima intelectual e cultural de
determinada época], considerado como determinante da maneira como
cientistas e intelectuais vêem e lidam com o mundo”. Para Berdoulay,
essa abordagem se distancia da lógica interna da ciência com as suas
teorias, hipóteses e técnicas generalizadoras e se aproxima do fazer
ciências dos indivíduos, já que “a visão de mundo de um cientista
fornece uma explicação para o seu quadro de referência, mas não pode
justificar todas as iniciativas específicas tomadas por ele” (BERDOULAY,
2003, p.49). As regras básicas desta metodologia historiográfica se
resumem nos seguintes seis princípios (p.51-52):
-
Sistemas de pensamento em mudança existem, assim como há continuidade de determinadas idéias;
-
Não há como separar e dicotomizar fatores internos e externos da mudança científica;
-
Precisa-se pesquisar sem atribuir
qualquer superioridade intelectual a uma tendência ou a outra. Não se
deve ignorar ou esquecer trabalhos;
-
Precisam-se estudar profundamente
as principais questões que envolvem uma sociedade, mesmo que algumas
delas não pareçam, à primeira vista, ter influenciado a evolução de
idéias geográficas;
-
Não se deve conceber a comunidade
cientifica como muito limitada; há laços entre cientistas, políticos,
intelectuais etc. e nenhum cientista é uma ilha. Por isso, deve-se dar
uma maior ênfase a ideologias e não a instituições;
-
O que interessa não são as influências de uma idéia, mas as razões que estão por trás da “demanda” e “uso” das idéias.
14Para Sanguin (1990), o contexto da época em que Ratzel vivia também é de fundamental importância:
“O
contexto também é o ambiente em que vivia a personagem estudada e pode
ser considerado como uma maior explicação para quaisquer conceitos
grandes que alimentavam a história das idéias geográficas, o que quer
dizer que o pensamento de Ratzel está intimamente ligado à sua
experiência pessoal, às suas observações dos lugares e, sobretudo, aos
encontros com colegas de outras disciplinas que influenciaram o seu pensamento. Também
não podemos nos esquecer de que suas ideias geográficas foram postas
sobre o papel com o vocabulário e a estrutura de pensamento de uma
[determinada] época e de um [determinado] país e de que ainda mais ele
era zoólogo, naturalista, etnógrafo, jornalista e historiador” (SANGUIN,
1990, p.581).
15Para
ilustrar essa versatilidade acadêmica, Sanguin (1990, p. 582-586)
dividiu a trajetória da vida pessoal e acadêmica de Ratzel em quatro
fases distintas:
16Por
decisão da sua família, Ratzel se torna aprendiz em farmacêutica e atua
nessa profissão em vários lugares até 1866, quando se matricula
primeiro na universidade de Karlsruhe e depois em Heidelberg onde estuda
ciências naturais, principalmente geologia, paleontologia e zoologia. Paralelamente,
freqüenta aulas em Berlim e Iena onde, sob a orientação do ecologista
Ernst Haeckel, tem acesso às idéias evolucionistas de Charles Darwin e
Alfred Russell Wallace e obtém o título de doutor (RATZEL, 1868),
apresentando uma pesquisa sobre “as contribuições ao estudo geral
anatômico dos oligochaetes”, uma espécie de minhoca - a Limnodrilus claparedianus Ratzel da família dos Tubificidae que ainda hoje lembra o nome de Ratzel.
17Ainda como estudante e para financiar os seus estudos, Ratzel começa a trabalhar como jornalista para o jornal Koelnische Zeitung
para qual escreve reportagens de viagens feitas para o sul da França, o
Império austríaco-húngaro dos Habsburg, os Alpes e a Itália,
posteriormente publicadas em forma de um livro, Wandertage eines Naturforschers (RATZEL, 1873). Essas
viagens e a sua estadia nos Estados Unidos e no México em (1873-75)
supostamente levaram para a transformação do zoólogo Ratzel para o
geógrafo Ratzel, trocando o conceito da espécie pelo conceito do espaço
(SANGUIN, 1990, p.584).
18De
volta dos Estados Unidos e México em 1875, Ratzel aceita um convite
como docente na Universidade Técnica de Munique através dos contatos com
o explorador e etnógrafo Moritz Wagner que exerceu uma influência
significativa sobre Ratzel (vou explorar esse aspecto mais
detalhadamente adiante). Enquanto a viagem aos Estados Unidos
fortaleceu as perspectivas geográficas de Ratzel, a convivência com
Wagner o levou para questões de migração e de difusão, hoje em dia estão
mais reconhecidas na antropologia do que na geografia. Em pouco mais de
um ano, Ratzel termina sua segunda tese de doutorado (habilitação para
ensinar) sobre as migrações chinesas no mundo (RATZEL, 1876a). Nela, ele
visa discutir a tarefa analítica da geografia humana através dos
movimentos da humanidade em relação à sua dependência da sua terra e dos
efeitos do ambiente natural sobre o corpo e o espírito humano (seja
individual ou coletivo) para mostrar como princípios e leis das ciências
naturais poderiam ser aplicados na sociedade humana (BASSIN, 1984,
p.16).
19Com
a morte de Oskar Peschel e a transferência de Ferdinand von Richthofen
para Berlim em 1886, Ratzel atende a chamada para a cadeira de geografia
em Leipzig, naquela época considerada como um dos maiores centros de
editoras no mundo (por exemplo, Brockhaus) e a capital intelectual da
Alemanha imperial (SANGUIN, 1990, p.585). Nesse período, “marcado
por uma sólida e imensa produção literária” (BASSIN, 1987, p.125),
Ratzel lança algumas das suas obras mais divulgadas e importantes: Völkerkunde (3 volumes, RATZEL, 1885-1888), Anthropogeographie (dois volume, 1882-1891), Politische Geographie (RATZEL, 1897) e sua geografia comparativa intitulada Die Erde und das Leben.
(2 volumes, RATZEL, 1901-1902). Além das suas atividades de pesquisa e
ensino, Ratzel participa ativamente em dois grupos de estudo: Os
chamados Geographische Abende (noites geográficas) e o Círculo
de Leipzig. O primeiro era uma espécie de associação dos geógrafos
regional que se encontrava uma vez por mês para discutir assuntos da
geografia e que contava com a presença de editores e estudiosos da
geografia como Emmanuel de Martonne, Ellen Semple, Jean Brunhes, Hans
Helmolt e Alfred Hettner. O Círculo de Leipzig, por sua vez, propiciava a
Ratzel um encontro com cientistas das mais diversas áreas (sociologia,
física, teologia, química, psicologia e historia). Esse contato com “a
fina flor da inteligentsia alemã daquela época” propiciava a Ratzel uma
extensão do seu pensamento geográfico sob um foco das obras de Leibniz e
Spencer (SANGUIN, 1990, p.586).
Diante desses dados biográficos
diversificados, surge a necessidade de realizar um “dialogo interno à
própria geografia” para “procurar lançar alguns novos elementos que
permitam repensar a obra de Ratzel ou, pelo menos, que possibilitem uma
releitura complacente de seus escritos, dados, rigor e seriedade da sua
obra” (MARTINS, 1992, p.105). Mais do que um século depois da morte a
releitura da obra do Ratzel teria a seguinte questão como foco central:
Que valor conserva a sua obra depois de mais de um século?
20O
desafio dos historiadores do pensamento geográfico será como “deixar
Ratzel falar” e “dar voz autorizada” aos seus pensamentos. Sanguin
(1990) levanta o seguinte questionamento: “Nós geógrafos tomamos do
Ratzel a liberdade de falar em seu próprio nome através da sua obra ou
será que estamos tão simplesmente satisfeitos em aceitar o que os outros
diziam em seu nome?” (SANGUIN, 1990, p.580). James Hunter (1983)
observa que a única fonte confiável para interpretar a obra de Ratzel
não deve ser a vasta literatura secundária, mas os textos originais.
Portanto, muitos textos pedem maiores esclarecimentos.
- 8 Para um exemplo divertido desses efêmeros acadêmicos, veja o trabalho de Keighren (2007) sobre as p (...)
21Além
dos contextos na vida de Ratzel, Sanguin (1990) também chama a atenção
pelas obras menores e “escondidas”, em vez de basear todas as
interpretações nas obras principais. Um autor sempre é medido pelas suas
obras principais. Portanto, é justamente nas publicações menores (até
podemos falar de “geografias menores” aqui)8
que seria possível descobrir ideias em processo de amadurecimento,
dúvidas pessoais, novas abordagens posteriormente modificadas ou
descartadas ou detalhes importantes para a evolução de um pensamento. Os
Kleine Schriften (“Pequenos Escritos”), publicadas
postumamente em dois volumes (HELMOLT, 1906) abrangem mais do que mil
páginas e consistem em dezenas de textos escritos entre 1867 e 1904,
fragmentos, miniaturas e reflexões sobre os mais variados temas. Luciana
de Lima Martins (2001) afirma que
22“[n]esses
artigos, encontra-se ora um Ratzel reflexivo, ora inflamado, ora
crítico. Despojado da rigidez acadêmica, da preocupação da
sistematização do pensamento geográfico enquanto disciplina (...)
aflora, nos Kleine Schriften, um Ratzel multifacetado, engajado
politicamente, envolvido com questões filsoficas, artísticas e
religiosas. Os artigos tratam desde a anatomia do Enchytraeus vermiculares
a considerações sobre a fisonomia da lua, glaciologia entografia,
história, colonialismo na África, paisagens, panoramas, fotografia,
escritos biográficos, geografia política, cidades, nacionalidades e
raças” (MARTINS, 2001, p.117).
23Essa
antologia de mais do que cem textos apresenta Ratzel como jornalista
escrevendo relatos de viagens da Suíça e dos Estados Unidos, como
caminhante na imensidão montanhosa dos Alpes quando filosofa sobre a
estética da paisagem e da descrição da natureza ou como biógrafo e
intérprete de cientistas como Carl Ritter, Ernst Haeckel, Oskar Peschel e
Moritz Wagner. Essa última forma de produção acadêmica – Friedrich
Ratzel como cronista e biógrafo do pensamento geográfico – pode ser uma
pista para saber mais sobre as pessoas que o influenciaram.
24O
explorador, viajante e etnógrafo Moritz Wagner (1813-1887) que Ratzel
conheceu em Munique em 1871 foi um dos primeiros mentores do seu
pensamento. Wagner tinha surgido como um dos primeiros seguidores
da teoria de Darwin na Alemanha. Portanto, ele encontrava lacunas no
pensamento evolucionista do cientista inglês. Para Wagner, Darwin
concentrava a sua discussão na seleção natural das espécies sem levar em
conta a “dimensão geográfica” na evolução e na classificação das
espécies o que ficou evidente nas formas de migrações e isolamentos
geográficos que seriam “a força fulcral (Triebkraft) mais importante do desenvolvimento orgânico” (RATZEL, 1906c, p.468).
25Wagner
simpatizava com as ideias do biólogo e precursor evolucionista francês
Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) que se baseava na hereditariedade e na
transferência de características adquiridas para as gerações seguintes e
na imposição direta do ambiente, concebendo os organismos como
passivos. A natureza imporia que características
dos indivíduos se preservariam ou se perderiam. Neste contexto, a
evolução somente se realizaria com processos de migração e isolamento de
espécies. Para sobreviver, uma espécie precisaria migrar. Sem migração e
isolamento não haveria inovação e evolução, porque sem eles, as
variedades seriam fundidas com espécies vizinhas, enquanto o isolamento
não apenas segregaria espécies incipientes, mas também implicaria em
novas diferenças em virtude de uma alimentação alterada, novas condições
climáticas e outras peculiaridades do ambiente. Wagner estava
convencido que as espécies tinham um determinado tempo de vida e, por
isso, iriam ser extintas sem a influência fortificadora da migração e do
isolamento (LIVINGSTONE, 1992, p.199). A migração por si mesma seria um
mecanismo que induziria e preservaria as variações da vida orgânica.
Ratzel (1906c, p.469) resume os princípios centrais dessa “Lei da
Migração” do seu mentor nas seguintes palavras:
“Quanto maior a mudança das condições de vida de uma espécie emigrante, mais forte a sua mutabilidade. Quanto
mais nítido seu isolamento, mais fácil a formação de uma nova
subespécie. Quanto mais vantajosas essas mudanças para essa [nova forma]
e quanto mais bem adaptada aos ambientes e mais tempo sem distúrbio
houver para se manter no isolamento, mais fácil o desenvolvimento da
subespécie para espécie” (RATZEL, 1906c, p.469)
26Essas
ideias de Wagner, que se basearam em princípios de migração, isolamento
e determinismo ambiental, influenciaram o pensamento do Ratzel na sua
concepção da geografia humana. Wagner serviu como inspiração
“para conjugar a gramática da sua própria geografia humana. Conseqüentemente, os princípios de difusão, migração e Raum
[espaço] foram entretecidos para fornecer uma rede de leis naturais,
dentro as quais os arranjos espaciais, as características culturais e as
funções sociais da sociedade humana podem ser compreendidos”
(LIVINGSTONE, 1992, p.200).
27Em
vez de lidar com espécies de animais e vegetais, Ratzel voltava a sua
atenção aos seres humanos e sua mobilidade geográfica, utilizando a
teoria de Wagner sobre o desenvolvimento de novas formas orgânicas
através da migração e do isolamento como tese fundamental para a
história humana (SAUER, 1934, p.120-121). Concebendo a migração
como um princípio biológico e como característica fundamental da
história humana, Ratzel interpretava a mobilidade da sociedade como
característica essencial de toda vida natural. O estado como unidade
coletiva agiria como um organismo vivo e dinâmico, e o seu crescimento
físico (isto é, a expansão territorial) seria um processo normal,
saudável e necessário. Nas palavras do geógrafo cultural marxista
americano Don Mitchell,
“O Estado era essencialmente uma coisa viva, que, como outras coisas orgânicas, precisava crescer para viver (...) O
Estado era, então, em grande medida, uma ligação natural entre pessoas e
o ambiente, a expressão espacial do (…) espiritual, mas também dos
laços orgânicos entre pessoas e lugares (…) Ratzel argumentava que a
ligação entre o ambiente e as pessoas não era uma [ligação] de um
simples determinismo (…), mas apesar de tudo, ele deixou claro que o
desenvolvimento social ou cultural do Estado (…) era diretamente
relacionado à habilidade do Estado de crescer” (MITCHELL, 2000, p.18).
28No sentido mais amplo do imperialismo no fim do século XIX, a migração humana era vista como colonização: os migrantes não se deslocaram simplesmente, mas mudaram-se para algum lugar e finalmente assentaram-se em um lugar específico (BASSIN, 1984, p.17).
- 9 Neste texto, apenas discuto aspectos da viagem de Ratzel aos Estados Unidos. Para uma análise mais (...)
29Ratzel procurava provas empíricas para as suas idéias, e a sua viagem aos Estados Unidos e México entre 1873 e 18759
servia como exemplo para consolidar os seus conceitos sobre migração e
difusão. Diante desse exemplo de uma sociedade que visivelmente expande e
amadurece Ratzel encontrou nos espaços imensos dos Estados Unidos uma
prova por excelência para salientar o papel da migração e do crescimento orgânico na vida social (BASSIN, 1987, p.126).
30A
viagem de Ratzel aos Estados Unidos (1873-1875) é vista como uma
contribuição importante para compreender o seu pensamento posterior e
sua transformação de zoólogo para geógrafo (BASSIN, 1984; SAUER, 1971). As
suas impressões, de fato, oferecem algumas explicações para o
desenvolvimento do seu pensamento (BASSIN, 1984, p.11), e as suas
observações nos Estados Unidos como país-continente o haviam levado à
elaboração de determinados conceitos como Raumvorstellung (percepção do espaço), Lebensraum (espaço vital), Weltmacht (poder mundial), Grenzen (fronteiras) (BUTTMANN, 1977).
31O
principal resultado dessa experiência foram duas publicações, ambas em
dois volumes: “Imagens urbanas e culturais da América do Norte” (Staedte- und Kulturbilder aus Nordamerika, RATZEL, 1876b) e “Os Estados Unidos da América” (Die Vereinigten Staaten von Nordamerika, RATZEL, 1878b, 1880).
- 10 Junto com o seu companheiro de viagem, o zoólogo austríaco Karl Scherzer, Wagner viajava do rio São (...)
- 11 Ratzel passou três semanas no Mexico. O relato da sua viagem foi publicado em 1878 (RATZEL, 1878a). (...)
32De
certa forma, coincidência ou não, Ratzel seguia os passos do seu mentor
Moritz Wagner que também já havia conhecido os Estados Unidos durante
uma viagem duas décadas antes.10
Ratzel iniciou a sua viagem em Nova Iorque, visitou o naturalista Louis
Agassiz na Universidade de Harvard e desceu a costa até o norte da
Florida para continuar seu itinerário para Nova Orleans, donde subiu o
Rio Mississippi, passando depois por St. Louis, as Cataratas de Niágara e
Chicago para atravessar as Grandes Planícies e chegar a Denver e San
Francisco onde embarcou para o México. Ainda
passou três semanas no México que atravessou três vezes até finalmente
retornar à Alemanha a partir do porto de Veracruz e com escala em Cuba
(SAUER, 1971, BASSIN, 1984).11
Nos Estados Unidos, Ratzel viajava principalmente de trem o que lhe
permitiu que pudesse observar as trajetórias das estradas que comparava
favoravelmente com as condições na Europa (SAUER, 1971, p.252). Aos
leitores dos seus artigos, ele apresenta uma imagem dos Estados Unidos
pós-Guerra-Civil como um espaço ocupado quase infinito:
“para os leitores do jornal da região do Reno, os Estados Unidos eram de interesse particular. Por
mais de quarenta anos uma onda de emigrantes tinha saído de terras ao
longo do Reno para se assentar além do mar. Um grande número [desses
imigrantes] tinha servido nas forças da união durante a guerra civil nos
estados do sul que havia terminado recentemente. O sul ainda estava no
tempo da reconstrução, começando a instituir uma nova ordem social. No
norte, o desenvolvimento industrial estava bem encaminhado. As vias
férreas tinham se tornado o meio preferido de transporte. O povoamento
das terras estava se estendendo ao oeste do Rio Missouri. Foi de fato um
tempo oportuno para escrever um relato sobre uma jovem nação em
crescimento vigoroso” (SAUER, 1971, p.246).
33Ratzel
ficou fascinado pela dinâmica espacial nos Estados Unidos, o
crescimento populacional e a apropriação de espaços desconhecidos, a
iniciativa de uma “jovem nação, tomando posse de uma terra vasta e
grande, crescendo na sua força por superar dificuldades e fazendo coisas
grandes, [que] olhava confidentemente a um futuro sem limites” (SAUER,
1971, p.251).
34Além
de poder observar o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos na sua
dimensão geográfica que, de certa forma, confirmava o seu pensamento
orgânico, Ratzel também procurava estabelecer contato com os imigrantes
alemães nos Estados Unidos que não criaram colônias, mas representavam
desde o século XVII um grupo de imigrantes significativo. Não foi sem
certo orgulho nacional que Ratzel comentava que esses imigrantes tiveram
muitos méritos na vida religiosa e na organização do sistema escolar: A
impressão da primeira bíblia em alemão nos Estados Unidos antecedia a
primeira versão em inglês em quarenta anos, e o sistema educacional
americano se apropriava de ideias alemãs até o nível de universidade
(RATZEL, 1906a, p.359). No ademais, os alemães se destacavam no
desenvolvimento dos Estados Unidos, sobretudo no oeste do país, como “os
melhores colonos e fazendeiros, artesãos, comerciantes, técnicos,
artistas, professores e soldados” (RATZEL, 1906a, p.360).
35A
imensidão do espaço americano levou Ratzel a refletir sobre os povos e
os seus territórios. Seria difícil traçar paralelas com as condições na
Europa diante do fato de que uma população quase igual à da Alemanha
estava espalhada em uma área quinze vezes maior. Enquanto os Estados
Unidos estavam esparsamente povoados, a Europa estava sobrepovoada
(RATZEL, 1880, p.4). Como consequência, os americanos desenvolveram uma
noção do espaço diferente dos europeus. Para Ratzel, a população e as
etnias da Europa são velhas e nitidamente definidas. É um espaço de
emigração. Os Estados Unidos, por sua vez, com a sua população de
imigrantes de uma grande variedade de origens ainda se encontravam em um
processo de formação. Ratzel concluiu que os americanos pareciam ser
“fortemente influenciados pela mobilidade que é gerada em cada indivíduo
pela consciência do espaço amplo e a necessidade de conquistar esse
mesmo” (RATZEL, 1880, p.4).
36Essas
configurações espaciais levaram Ratzel a formular determinados
questionamentos que iria analisar mais detalhadamente na sua tese de
habilitação sobre as migrações chinesas (RATZEL, 1876a): (1) os
problemas das migrações humanas em grande escala e a difusão do
povoamento; (2) o processo de expansão física do Estado, suas causas e
ramificações; (3) a influência determinante do ambiente sobre o ser
humano (indivíduos e coletivo) e sobre as diferentes formas da vida
social (BASSIN, 1987, p.124).
37A
comparação entre a China e os Estados Unidos servia para alertar sobre a
necessidade de que um estado precisa crescer para sobreviver. No caso
da China havia condições favoráveis para a população permanecer e
crescer, tornando-se “um criadouro de milhões [de pessoas] (...) como
podemos observar diretamente na China de hoje com certo horror” (RATZEL,
1906b, p.60). A superpopulação chinesa provocava a emigração e a
fundação de inúmeros enclaves chineses em todos os cantos do mundo. Os
Estados Unidos, por sua vez, eram um continente subpopulado que tinha “a
marca da sua juventude e saúde bem como a garantia para o seu futuro
crescimento e sua prosperidade” (BASSIN, 1984, p.17).
38Nessas observações, Ratzel apresenta dois termos que posteriormente marcaram as discussões na geografia política: Lebensraum e Grossraum. No caso do Lebensraum (traduzido como espaço vital),
o estado era concebido como um organismo que sofreu um crescimento
populacional até o ponto de provocar a exaustão dos recursos e a
expansão territorial. Para o Estado, existir significava expandir
(LIVINGSTONE, 1992, p.200). Infelizmente, essas idéias não foram apenas
aplicadas nas suas observações nos Estados Unidos, mas também serviam de
exemplo para analisar a política colonial dos grandes poderes europeus,
como Livingstone observa ironicamente:
“Ao
expor esses princípios semelhantes aos de Malthus, Ratzel acreditava
que tinha desvelado as leis naturais do crescimento territorial dos
Estados e ele alegremente acatou o impulso colonial dos poderes europeus
da mesma época na África como a manifestação da sua busca por Lebensraum. A história imperial era a história espacial da luta pela existência” (LIVINGSTONE, 1992, p.200).
39O Lebensraum
era ao mesmo tempo um ideal diferente da realidade fragmentada e da
pequenez dos países europeus que revelaram a “atrofia cultural de
Estados pequenos” (LIVINGSTONE, 1992, p.200). A vastidão do
espaço norte-americano e suas condições de não ter fronteiras, combinada
com o otimismo e a energia do povo, o fez acreditar que, por falta de
espaço no próprio continente, os Estados europeus apenas poderiam
alcançar seu Grossraum [espaço amplo] através da “aquisição territorial de além-mar” (LIVINGSTONE, 1992, p.200).
40Neste
ponto, há uma das reflexões centrais do Ratzel. Embora tenha atribuído
muita importância ao ambiente físico, ele também enfatizava a ação
humana cuja energia derivava de duas forças: a força da migração (Wandertrieb) e a força da vontade (Willenskraft).
Quanto ao movimento, Ratzel se perguntava como o ser humano se
comportava sob determinadas condições geográficas e constatava que
“o
homem é desassossegado; ele aspira a uma expansão maior em todas as
direções onde barreiras naturais fortes o limitam, e qualquer posição
antropológica que não está levando esse desassossego em conta, se
fundamenta em uma base errada. A humanidade precisa ser vista
como uma massa que permanentemente se encontra em um movimento em
fermentação” (RATZEL, 1906b, p.38).
41Ratzel
conclui que esse desassossego humano não pode ser comparado com o
instinto de migração de mamíferos ou aves que obedecem a uma “força
obscura”, porque quando o ser humano caminha, ele o faz com certa
vontade e determinação, embora nem sempre com uma consciência clara
sobre as suas metas e finalidades (RATZEL, 1906b, p.38) Essa força de
migração se completa com a força da vontade:
“Não
podemos fugir de certas influências do nosso ambiente, sobretudo
daquelas que atuam sobre o nosso corpo; lembro-me daquelas [influências]
do clima e da alimentação. É sabido que o espírito também está
sobre a influência do caráter geral do cenário que nos cerca. Mas para
outros esse grau de influência que essas [forças] exercem depende em
grande medida da força de vontade que se opõe a elas. Podemos nos
defender dela, contanto que o queiramos. Um rio grande que forma uma
linha fronteiriça para um povo indolente não representa uma barreira
para um povo determinado. Antes de Aníbal, os Pirineus e Alpes eram
considerados muralhas fronteiriças quase impossíveis de superar para os
povos que viviam ao sul e ao norte delas; mas diante de uma energia como
a dele, essas dificuldades deixaram de ser insuperáveis. Assim se mede
as influências, que estamos inclinados a atribuir às circunstâncias
externas na história dos povos, na sua totalidade pela força da vontade
pertencente a esses povos. Quanto mais forte e mais duro esse [povo],
menores os impactos daqueles [efeitos da natureza]” (RATZEL, 1906b,
p.36).
42A
viagem de Ratzel aos Estados Unidos e seus relatos científicos e
populares sobre paisagem, cultura e economia representam um recorte
denso e bastante vivo do pensamento ratzeliano. Essas
observações diretas no campo, escritas em linguagem metafórica e quase
poética, servem como exemplos ilustrativos para explicar as complexas
teorias da sua autoria.
43Talvez
o maior mérito de Ratzel tenha sido a concepção da geografia como uma
ciência em movimento e não como descrição da Terra. Em um texto sobre
“povos em movimento” (RATZEL, 1940), ele sentencia que
“não está na natureza da geografia de se ocupar apenas com fenômenos imóveis. Ela
registra a situação de qualquer objeto e obtém assim as situações que
seguem. E cada situação sempre é determinada pela anterior. Não é muito
cômodo olhar as coisas em movimento e não em posição de aparente
tranqüilidade, mas essa é a única visão correta” (RATZEL, 1940, p.11).
44O objetivo deste artigo é abrir um debate mais amplo sobre as múltiplas facetas na vida e obra de Friedrich Ratzel. Ratzel
– que Ratzel? Escrever sobre esse geógrafo não significa tomar partido e
estar “a favor” ou “contra” o pensamento ratzeliano, mas tem como
missão compreender a diversidade de ser um geógrafo e “fazer” geografia,
inclusive às nossas próprias teorias e práticas.
45Através
de uma abordagem contextual e biográfica, procurava-se indicar novas
direções para estudar o pensamento desse cientista alemão.
Evidentemente, não há leituras ou releituras “corretas” ou “erradas”. A
respeito do contexto de uma produção acadêmica, Marcos Bernardino
Carvalho escreve que
“Temos
consciência que leituras absolutamente contextualizadas são tão
impossíveis quanto à pretensão de se realizar ciência de maneira
objetiva ou imparcial. Mas a consciência e o manejo adequado
dessa impossibilidade, podem ser revertidos em aproximações mais fiéis e
integrais, tanto para se compreender o sentido de uma obra, quanto o
resultado de um experimento” (CARVALHO, 1997, sem página).
46Assim sendo, está feito o convite para fazer novas releituras da obra de Ratzel. Possíveis
temas são a investigação dos impactos do evolucionismo na geografia no
mundo e no Brasil (veja DUARTE, 2006), o uso de metáforas biológicas na
geografia, a difusão e significação de conceitos como Estado-nação,
cultura e identidade nacional e a apreciação dos minuciosos relatos de
viagem. Todos esses esforços servirão para desvendar mais detalhes sobre
o “enigma” Ratzel.