1O
estudo sobre a Ferrovia e as cidades “Bocas de Sertão” foi iniciado
durante o pós-doutorado realizado no Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) na Universidade Federal do Rio de
Janeiro no período de 2012-2013. Este estágio pós-doutoral possibilitou
o conhecimento sobre a literatura especializada e pesquisa documental.
Posteriormente, devido à amplitude da pesquisa, tem-se continuado com os
recursos do CNPq. Tais recursos têm possibilitado ampliar a discussão
teórica e desvelar como as ferrovias foram adentrando o território
brasileiro e atingindo as cidades bocas de sertão em diferentes regiões,
com impactos diferentes nas atividades econômicas e na estruturação do
urbano.
2As
cidades eleitas para esta pesquisa estão localizadas em diferentes
unidades federativas e regiões do território brasileiro. Para esta
exposição elegeram-se as que estão situadas na área do semiárido, ou
seja, no Nordeste e no norte de Minas Gerais, as cidades são: Campina
Grande, Paraíba; Caruaru, Pernambuco; Feira de Santana, Bahia; e Montes
Claros, Minas Gerais. Todas estas cidades foram “bocas de sertão” e se
tornaram “pontas de trilho” ou cidades na beira da linha com seus pátios
ferroviários. As mesmas foram escolhidas por sua representatividade nos
respectivos territórios e pela centralidade que se revela desde o
início do século XX. Centralidade e dinâmica econômica destacadas, mas
não com a mesma intensidade. As consonâncias e as dissonâncias da
repercussão da ferrovia nestas cidades farão parte da análise aqui
realizada.
3Encontram-se,
pois, no Nordeste brasileiro, algumas cidades que possuem na sua origem
a caracterização de “bocas de sertão” e que se tornaram importantes
centros regionais, ou “capitais regionais”. Nestas, suas áreas centrais
passaram por modificações a partir da instalação da ferrovia. O
propósito aqui é avançar na análise sobre as transformações desses
núcleos urbanos tanto no que se refere à modificação do plano e da sua
morfologia, bem como no que diz respeito à centralidade intraurbana.
4Para
atingirmos o objetivo explicitado, estruturamos a exposição nos
seguintes temas: A ferrovia e a cidade em que trataremos de maneira mais
ampla sobre o que representou a inserção deste aparato técnico nas
cidades desde o século XIX; em um segundo momento apresentaremos as
cidades estudadas com as respectivas ferrovias e as principais
modificações morfológicas provocadas pela implementação da linha férrea,
da estação e do que se fez necessário para o seu funcionamento.
5Um
dos elementos que mais marcou o século XIX foi a ferrovia que passou a
interligar cidades e portos principalmente voltados para o escoamento
das mercadorias. Certamente, a ferrovia constitui-se na “principal rede
de controle territorial desenvolvida pelo capital durante mais de um
século, desde o segundo quartel do XIX até o fim dos anos 1930”
(Andrade, 2003: 17).
6Entender
as implicações da instalação da ferrovia no território conduz à
reflexão sobre a relação entre técnica e espaço. Como sinaliza Milton
Santos:
Na realidade, toda técnica é
história embutida. Através dos objetos, a técnica é histórica no momento
da sua criação e no de sua instalação e revela o encontro, em cada
lugar, das condições históricas (econômicas, socioculturais, políticas,
geográficas), que permitiram a chegada desses objetos e presidiram à sua
operação. A técnica é tempo congelado e revela uma história. (Santos, 2002: 48)
7O
referido autor, em obra escrita anteriormente, já alerta no sentido de
utilizar-se a técnica para empiricizar o tempo, “tornando-o material, e
desse modo assimilamos ao espaço, que não existe sem a materialidade”
(Santos, 1994: 42). Partindo deste entendimento, elege-se a ferrovia
(elemento material, técnico) para pensar a cidade do passado, como
também o território brasileiro no século XIX e princípios do século XX.
Desta forma, um primeiro olhar se faz necessário: o olhar e analisar a
morfologia urbana e as transformações que esta recebe a partir da
instalação da ferrovia.
8Data de 1825 a construção da primeira estrada de ferro na Inglaterra - a Stockton & Darlington
- com 40 km de extensão, utilizando para tração a locomotiva a vapor,
ligava o campo de carvão de Durham e o litoral inglês
(Stockton-Darlington). A ferrovia tinha como objetivo levar o carvão
extraído da mina para o ponto de embarque no porto do rio Tees. Este
fato revela a concretude do pensamento de Hobsbawm (2003) ao expressar
que tecnicamente a ferrovia é filha das minas e em especial das minas de
carvão do norte da Inglaterra. A inauguração dessa primeira estrada de
ferro do mundo foi descrito como um acontecimento inédito e espetacular:
aquele carro de ferro correr sobre trilhos de aço, abrindo imensas
perspectivas para as comunicações.
9Hobsbawm (1996: 50) destaca ainda que:
A estrada de ferro, arrastando
sua enorme serpente emplumada de fumaça, à velocidade do vento, através
de países e continentes, com suas obras de engenharia, estações e pontes
formando um conjunto de construções que fazia as pirâmides do Egito e
os aquedutos romanos e até mesmo a Grande Muralha da China empalidecerem
de provincianismo, era o próprio símbolo do triunfo do homem pela
tecnologia.
10Assim,
considera-se que o processo de construção das estradas de ferro teve
início nos países europeus, primeiramente, na Inglaterra, nos primórdios
do século XIX, em meio a uma crença difusa da busca pelo progresso, que
dominava uma parcela significativa da população em quase todo o mundo,
provocada pelos ideários da Revolução Industrial. Este processo depois
se estendeu para outros países europeus e depois para os Estados Unidos,
América do Sul e Brasil.
11Compreendendo
a construção das ferrovias vinculadas ao processo de industrialização é
possível elencar algumas das suas influências: revolucionou os meios
dos transportes e das comunicações; influenciou a direção do crescimento
das cidades e, por consequência na configuração da malha urbana das
mesmas, o que contribuiu para a emersão de uma nova disciplina - o
urbanismo – e no desenvolvimento econômico e social dos territórios e
por conseguinte das cidades.
12A
implantação das ferrovias no Brasil estava diretamente relacionada ao
comércio agrário-exportador e conectada ao comércio marítimo (Quintão,
2008). Como bem escreveu Geiger (1963: 73):
A instalação das linhas
ferroviárias visava, antes de tudo, a atingir as áreas dos produtos de
exportação, não provocando mudanças econômicas em outras áreas que
porventura atravessassem. Daí não ter impedido a decadência de velhas
áreas agrícolas, mais próximas do litoral. Ao contrário, estimulou o
adentramento da exploração agrícola para o interior do continente, à
procura de terras virgens e das indústrias de beneficiamento.
13Quando
as ferrovias chegam às cidades brasileiras, em meados do século XIX, as
suas estruturas físicas são instaladas, comumente, nas áreas próximas
ao núcleo primaz das cidades e que posteriormente, na maioria dos casos
torna-se área central. Cria-se uma relação espacial entre as ferrovias e
a estrutura urbana das cidades, que pode ser analisada pela perspectiva
da negação do tecido urbano preexistente e/ou reconciliação, a depender
de cada implantação.
14Rafael
Alcaide González, em artigo sobre a ferrovia como elemento estruturador
da morfologia urbana, particularmente em Barcelona no período de 1848 a
1900, introduz o seu texto com a seguinte assertiva:
Durante las décadas de 1840 y
1850, la progresiva evolución técnica que experimentaron las primitivas
locomotoras de vapor diseñadas por Trevithick, Vivian, Stephenson y
Seguín, entre otros, facultó que el ferrocarril se convirtiera en un
medio de transporte competitivo y revolucionario que determinó el
establecimiento de un nuevo sistema de comunicaciones. Dicho
sistema, que rompía con los esquemas de transporte tradicionales, se
basó, principalmente, en tres aspectos fundamentales: el primero, la
total independencia de la tracción animal; el segundo, la reducción de
tiempos y costes, a la vez que la posibilidad de aumentar el volumen de
viajeros y mercancías transportados y, el tercero, la facultad de
comunicar y acercar a las gentes y de vertebrar el territorio por el que
discurría, facilitando un nuevo tipo de relaciones socio-económicas
hasta entonces impracticables, debido principalmente a factores
geográficos de orden físico como la orografía y las distancias entre los
núcleos de población. (Alcaide González, 2005: 23)
15De
fato, o transporte sobre trilhos altera a relação espaço – tempo e
configura-se como um ícone da Modernidade. De acordo com Marshal Berman,
o século XIX, corresponde a segunda fase do movimento da Modernidade,
aquela que se inicia com a Revolução Francesa em 1790 e se estende até o
final do século subseqüente. Para o autor, esse período se caracteriza
por ser uma “era que desencadeia explosivas convulsões em todos os
níveis de vida pessoal, social e política” e quando o público moderno
vivia material e espiritualmente “em um mundo que não chega a ser
moderno por inteiro” (Berman, 1986, p. 16). No século XIX, segundo o
referido autor, o que primeiro se observa é “a nova paisagem, altamente
desenvolvida, diferenciada e dinâmica, na qual tem lugar a experiência
moderna”.
16A
descrição de Berman (1986) indica que o século XIX é caracterizado
fundamentalmente pelas grandes transformações que se dão na sociedade,
na economia, na política, por conseguinte, na vida social e também pelas
latentes contradições. Essas transformações, segundo Horacio Capel,
“tiene que ver, en buena medida, con el impacto de la primera y de la
segunda Revolución Industrial sobre la ciudad y sobre las técnicas de
edificación” (Capel, 2005:173).
17Nos
estudos sobre a cidade no século XIX, a ferrovia é de fato um marco na
história, por onde passou ela conduziu a expansão da cidade ou
apresentou-se como barreira para o crescimento da cidade além dos
trilhos. A ferrovia não exigia apenas os trilhos e a estação, mas uma
série de equipamentos e alterações no uso do solo que modificam a
morfologia das cidades e sua dinâmica socioeconômica.
18As
constatações feitas por Alcaide González a partir de Barcelona na
Espanha revelam uma realidade que não é única, muito embora tenha
variado de intensidade em decorrência da importância da cidade e do
capital acumulado para movimentar com maior ou menor velocidade as
ferrovias e, por conseguinte, a dinâmica das cidades.
19Se
na Europa, a ferrovia é um elemento que marca a história das cidades,
particularmente no século XIX, no Brasil é no final do dezenove que se
concretiza um sistema ferroviário de transportes, apesar de datar de
1835 a primeira lei ferroviária brasileira (Lei 101 de 31 de outubro de
1835), mas que “não teve conseqüências objetivas” nas palavras de
Vasconcelos Neto (2010: 45).
20Durante
o Império, algumas ferrovias foram instaladas, principalmente para
atender à “lavoura cafeeira do vale do Paraíba e a agroindústria do
açúcar do Nordeste” (Vasconcelos Neto, 2010: 48), entretanto, somente a
Ferrovia D. Pedro II fora construída visando a integração nacional. Como
se tratava de um equipamento que requeria um montante elevado de
capital, foram feitas concessões a empresas estrangeiras, principalmente
a inglesa. No final do Império, com o objetivo de atender a um maior
número de pedidos, modifica-se a definição do “capital garantido”, que
teve sérias consequências na qualidade das estradas concedidas. Assim,
esclarece Vasconcelos Neto: “Os beneficiários passaram”, então a
elaborar projetos com aplicação abusiva das condições técnicas limites,
do que resultavam alongamentos desnecessários e uma sinuosidade
excessiva dos traçados, não importando a finalidade da estrada
(Vasconcelos Neto, 2010: 50).
21Com
a República, não houve alteração na política ferroviária, elevando-se o
número de concessões, “alimentada pela euforia do Encilhamento” (id.
Ibdem). Do conjunto de concessões e implementações desde o final do
Império às primeiras décadas da República, prevaleciam as ferrovias que
interligavam áreas de produção agrícola aos portos. É a partir deste
propósito que as ferrovias são expandidas às cidades “bocas de sertão”,
que entre o final do século XIX e início do XX, já não se concebia que
permanecessem como lugar de pouso de tropeiros ou como entroncamento de
caminhos. Estas cidades, já apresentavam considerável dinâmica
comercial, em sua maioria desencadeada pela distribuição de mercadorias
que para ali eram conduzidas e comercializadas. Cidades estas que no
início do século XX revelam significativa importância na ainda escassa
rede urbana brasileira.
22Pedro
Pinchas Geiger (1963) elenca alguns elementos decorrentes da ferrovia
sobre o quadro urbano brasileiro. Entre estes destaca o fortalecimento
dos portos, a decadência de algumas cidades situadas distantes da linha
férrea, valorização dos núcleos atingidos pela ferrovia, fator
determinante para a criação de novas cidades e “estímulo às modificações
operadas no interior da estrutura de diversas cidades antigas atingidas
pela ferrovia” (Geiger, 1963: 90). Dentre os elementos assinalados por
Geiger, aqui nos interessa particularmente os três últimos. Um dos
destaques feito pelo autor é a da mudança na localização das cidades que
surgem com a ferrovia. Pois, enquanto “no período colonial fora comum a
localização dos aglomerados urbanos em vales, à beira-rio, com as
ferrovias observa-se em muitas regiões a localização sobre os espigões”,
esta é a característica das cidades que surgem no Oeste paulista,
“originadas do avanço pioneiro, localizam-se sobre os espigões,
enfileiradas ao longo das ferrovias” (Geiger, 1963: 91).
23A
importância da ferrovia para a formação de novos núcleos urbanos, bem
como para a maior dinâmica econômica das que se localizavam na beira da
linha já havia sido destacada por Deffontaines (1944), como também em
outros textos de geógrafos que percorreram as terras brasileiras, a
exemplo de Leo Waibel (1958).
24De
fato, muitos são os escritos a respeito das implicações da ferrovia para
a formação de novos núcleos urbanos, bem como da rede urbana
brasileira. Porém, como bem escreveu Geiger (1963), a respeito das
“linhas férreas, da posição que cada centro urbano irá ocupar – simples
estação, terminal, ‘ponta de trilho’, entroncamento – dependerá, em
grande parte, a sua evolução” o que se traduz no processo histórico de
formação e/ou de consolidação das cidades localizadas no interior do
território brasileiro. Por conseguinte, tal elemento técnico ao ser
introduzido nas cidades alteram substancialmente a sua morfologia e a
sua dinâmica, particularmente no que se refere ao que se conforma como
centro ou mesmo área central. Faz-se então necessário apresentar uma
breve descrição das cidades, seus núcleos originais e as suas
respectivas estações ferroviárias no período em que foram instaladas.
25Conforme
anteriormente mencionado, as cidades objeto de análise correspondem às
cidades “bocas de sertão” demarcando a passagem do litoral para o
sertão, ou apontando o Semiárido.
- 1 Sertão no Brasil designava no período colonial e até o século XIX toda a área do território brasile (...)
26As
cidades localizadas na região semiárida brasileira caracterizada pelos
longos períodos de estiagem desde os primeiros viajantes no século XVII.
Tal característica atribuiu-lhe a denominação que permanece até os dias
atuais de “Sertão”.1
Dessa forma, as ferrovias ao serem instaladas revelam uma contradição:
do moderno, do novo, do técnico com o que se manifestava como mais
arcaico: a fome, a miséria, a seca, o flagelo. Portanto, nestas cidades,
espera-se a chegada da ferrovia como artefato técnico e moderno, ou em
outras palavras, um elemento que trará e garantirá o progresso para o
município, para a província e para a economia agrícola e ainda nos anos
de seca possibilitará dirimir o flagelo e a fome ali encontrados.
Diferentemente do que ocorreu na maioria dos países, a ferrovia no
Brasil como já exposto anteriormente, é instalada para escoar a produção
agrícola para a exportação e não para consolidar o mercado nacional.
Esta perspectiva de suprir as necessidades internas foi em muitas
regiões que careciam de produtos alimentares a grande razão para a
ferrovia como bem explicita Novo López (1993) ao analisar as províncias
Vizcayas:
el déficit crónico de la
agricultura, incluso en los años más benignos, implicaba la necesidad
de importar buena parte de las subsistencias. Para
hacer frente a esta situación se habría desarrollado un importante
comercio, teniendo en el Puerto de Bilbao su principal centro de
operaciones y uno de sus principales activos. (Novo Lopéz, 1993: 203)
27Esta
diferença de sentido, de razão, fortalece o interesse e a importância
em se analisar a ferrovia nas mencionadas cidades interioranas
brasileiras.
28Apesar
de não resolver nem mesmo de dirimir o problema que tanto justificava
os clamores pela ferrovia, este incremento técnico ao ser implementado
nos arredores das cidades bocas de sertão provocam profundas
transformações nestes núcleos. Algumas dessas cidades se constituem em
“pontas de trilho” consequência da extensão de alguns ramais. Outras
passaram rapidamente por esta caracterização sendo logo superada com a
continuidade da linha. O Quadro 1 mostra os anos quando foram
inauguradas as estações ferroviárias das cidades a investigadas.
29Observa-se
que a ferrovia chega a todas as cidades aqui abordadas a partir da
segunda metade do século XIX, sendo duas delas entre as décadas de 1870 e
1890 – Feira de Santana e Caruaru – e duas já no século XX; uma na
primeira década – Campina Grande –, outra já nos anos 1920 – Montes
Claros.
30Quadro 1
31Nome das cidades e ano da inauguração da estação ferroviária
|
Cidade
|
Ano
|
Ferrovia
|
|
Feira de Santana
|
1876
|
EF Central da Bahia
|
|
Caruaru
|
1895
|
Great Western Railway Co of Brazil
|
|
Campina Grande
|
1907
|
Great Western Railway Co of Brazil – Ramal – Itabaiana – Campina Grande
|
|
Montes Claros
|
1926
|
EFCB – Estrada de Ferro Central do Brasil
|
32Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/index.html [Acesso em 12 de setembro de 2015].
33Dentre
as cidades estudadas, a primeira a receber a ferrovia é a cidade Feira
de Santana na Bahia. Esta “boca de sertão” abrigava a maior feira de
gado do Nordeste, cuja origem acompanha a da cidade. Por conseguinte,
trata-se de uma área cuja economia estava diretamente associada à
criação de gado e à sua comercialização.
34A
primeira concessão para a construção da ferrovia que posteriormente
chegaria a Feira de Santana fez-se em 1866, no intuito de ligar a cidade
de Cachoeira (Bahia) à chapada Diamantina. No ano posterior, autoriza-se o funcionamento da Paraguassu Steam Tram Road Company Limited de
Londres e que vêm à falência em 1872, ainda durante a construção da
estrada. Tal fato gera uma série de discussões pelo governo da Província
da Bahia, decidindo-se que o governo procuraria desonerar a Província e
disponibilizar a concessão para outra empresa que manifestasse
interesse (Relatório do Conselho Interino da Bahia, 1871).
- 2 Tal projeto final não se concretiza, havendo um desvio e direcionando a EF para Monte Azul, Minas G (...)
35A
Estrada de Ferro Central da Bahia ligará a cidade de Cachoeira à Feira
de Santana, sendo a primeira, cidade portuária, para onde convergia a
produção agrícola do Recôncavo Baiano, particularmente o açúcar e o
fumo. Com a interligação à Feira de Santana, favorece-se a exportação da
carne bovina. Assim, em 1876, inaugura-se a estação ferroviária em
Feira de Santana. Esta estação foi “ponta de trilho” do trecho inicial
da E. F. Central da Bahia (1876-1911), ou seja, era a ponta do ramal que
se iniciava em Cachoeira na Bahia. A chegada da estrada de ferro não
alterou significativamente a dinâmica porque a ligava à Cachoeira – São
Felix, ponto inicial da E. F. que demandaria a Chapada Diamantina.2
Desta forma, o argumento da importância da ferrovia para atender à
sobrevivência dos que estavam sofrendo com a seca, serve apenas para
justificar a decisão de se favorecer o escoamento da produção agrícola
até o porto na cidade de Cachoeira. A instalação do incremento técnico
que de fato altera a paisagem e a dinâmica econômica da região
concretiza-se em razão da exportação e, por conseguinte, por demanda do
mercado mundial da “Era do Império”, já explicitada por Hobsbawm (2005).
36A
estação foi construída em uma área por trás da igreja matriz que na
época representava o limite da malha urbana. A respeito dessa
edificação, escreve Ralph Mennucci Giesbrecht: “Era uma construção com
três prédios de duas águas fazendo os fundos da igreja de Santana, no
centro da cidade. Nos seus fundos, outros prédios saindo de suas
extremidades completavam o pátio ferroviário, que ficava entre eles”.3
Figura 1: Estação Ferroviária Feira de Santana
Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/ba_monte%20azul/feira.htm
Figura 2: Estação Ferroviária de Caruaru
Fonte: http://paduapostais.blogspot.com.br/2010_06_01_archive.html
37Em
Pernambuco, a cidade de Caruaru surge a partir da construção de uma
capela ainda em uma fazenda pecuária e no século XIX torna-se vila,
sendo elevada à cidade ainda no mesmo século. A sua origem dá-se em
função da atividade pecuária, constituindo-se um caminho de passagem de
gado entre o sertão e o litoral, bem como dos mascates que levavam
mercadorias do litoral para o sertão. Constituiu-se pois, enquanto boca
de sertão. Esta característica, de passagem de gado e de mercadorias
levou à formação de uma importante feira, bem como feira de gado. Em
1895 inaugura-se a estação ferroviária ligando a então recente cidade
(neste mesmo ano foi elevada a tal categoria) da Estrada de Ferro Great Westearn
interligando-a à capital da Província de Pernambuco, Recife. A feira
expande-se na área de frente à igreja, constituindo-se importante
atividade econômica. A inauguração da
estrada de ferro e a chegada do trem na cidade marcam a história da
cidade, é o que escreve Nelson Barbalho (1980: 323):
Um marco importante na
evolução econômica e social de Caruaru foi a chegada das pontas dos
trilhos da ‘Estrada de Ferro Central de Pernambuco’. Em dezembro de
1895, o ‘trem de ferro’ subiu a Serra das Ruças (sic) vencendo túneis e
viadutos, passou por Gravatá e Bezerros, apitou orgulhosamente no km.
139 e resfolegou na estação de Caruaru. A multidão de agresteiros que
foram recebê-lo confiava no progresso que o trem haveria de levar à
sua cidade, com o crescimento do comércio, o aparecimento das
indústrias, o aumento da população e a intensificação da vida
social, cultural e religiosa. Eram os começos do novo posto que a
cidade iria logo ocupar, no interior do Estado: o de metrópole regional
da parte central-sul da Borborema.
38A
estação é construída em área um tanto afastada da área edificada, como
se pode visualizar na imagem (Figura 2). Junto à estação são construídos
armazéns. A ferrovia por um determinado período configurou-se como
linha limítrofe da expansão da cidade. A primeira edificação é reformada
em 1925 em que são atribuídos alguns elementos arquitetônicos mais
elaborados (Figura 3).
Figura 3: Estação Ferroviária – Caruaru, após a reforma
Observa-se os lambrinquins no contorno da cobertura
Fonte: IBGE, acervo fotográfico pe45162
39Uma
outra “boca de sertão”, onde seus governantes e os comerciantes locais
aspiravam desde o final do século XIX pela grande máquina moderna, é a
cidade de Campina Grande, no estado da Paraíba. Tal espera se prolonga
até a primeira década do século XX, quando se inaugura o ramal da
Estrada de Ferro Great Westearn que se estende de Recife a
Campina Grande, prolongando-se desde Itabaiana, na Paraíba. As
reivindicações se iniciam no momento em que se inaugura a ferrovia Conde
D’Eu na Cidade da Parahyba, capital da Província em 1889. Desde então
os jornais e os políticos locais manifestavam a necessidade e a
incompreensão por não se estender a ferrovia até a mais importante
cidade do interior da província. A título de exemplo, veja-se o
noticiado na “Crônica Parlamentar” publicada em A Gazeta do Sertão, de Campina Grande (Paraíba):
O Sr. Irineu Joffily, obtendo a
palavra, diz que achando-se a província ameaçada de uma terrível seca,
deve a Assembleia pedir ao Governo Geral o prolongamento da ferrovia
Conde d’Eu até Campina Grande, como medida urgente; e para isto a
apresentou o seguinte requerimento: “Requeiro que esta Assembleia leve
ao conhecimento do Governo Geral o mal estado da província, ameaçada de
uma terrível seca, solicitando o prolongamento da ferrovia Conde d’Eu
até a cidade de Campina Grande. (Gazeta do Sertão, 26 de outubro de
1888: 2)
40Muito
embora Campina Grande já constituísse um entreposto comercial
considerável, é importante destacar que, ao mesmo tempo em que se anseia
pela ferrovia, pelo incremento que traria ao progresso da cidade, este
mesmo incremento viria no sentido de contribuir para amenizar a fome que
se expandia no sertão paraibano, assim como em todo o Nordeste
brasileiro. Tal preocupação transparece no Relatório do Presidente da
Paraíba (1906: 23)
Pouco
há que informar-vos sobre o movimento da viação férrea existente na
zona do Estado. Alem do que já conheceis referente ao trafegamento que
nos proporciona a seção “Conde d’Eu”ou, melhor dito, a Companhia “Great
Western”, está em construção o prolongamento de Itabaiana à Campina
Grande, na extensão de cerca de 80 quilômetros. Atento o adiantamento
dos trabalhos, é provável que, dentro de poucos meses, esteja aberto o
tráfego, ficando realizada uma aspiração que de há muito vem trabalhando
o espírito da população sertaneja e dos Cariris, por ser aquela bela
cidade o centro de convergência de quase todo o alto sertão. É,
incontestavelmente, meio caminho andado para levar o progresso ao
interior do Estado, proporcionando àquela zona outras condições de vida
pela facilidade de comunicações e de receber socorros nas épocas de
calamidade publica. Aguardemos o futuro, certos de que já não haverá
meios de brecar o veículo do progresso que, em vertiginosa desfilada,
voa por toda parte, derramando a luz da civilização através dos vales e
das serranias, nas mais longínquas paragens, do universo. Si temos o
dever de acreditar nas promessas de um homem de Estado, cujos
precedentes não podem deixar ao desamparo as suas palavras,confiemos que
terá o maior incremento no próximo governo do Dr. Affonso Penna a
política da construção de caminhos de ferro.
41Os trilhos da Great Westearn chegam
à Campina Grande, “com passagem pela povoação de Mogeiro e vila do
Ingá” significando “um advento de prosperidade para a lavoura do meu
Estado” como bem expressa o discurso de Seraphico da Nóbrega, deputado
paraibano segundo Aranha (2006: 85). Observe-se que tanto o
“progresso” como o atendimento às vítimas “nas épocas de calamidade
pública”, são justificativas expressas nos relatórios dos presidentes
dos estados da Bahia e também da Paraíba. Em outras palavras, “o
progresso” das províncias e posteriormente dos estados dependiam do
equipamento técnico moderno: a ferrovia, que como bem expressa o
Presidente do Estado da Paraíba em 1906, “o veículo do progresso que, em
vertiginosa desfilada, voa por toda parte, derramando a luz da
civilização através dos vales e das serranias, nas mais longínquas
paragens, do universo” (Relatório Presidente do Estado da Paraíba,
1906).
42Em
1907 inaugura-se o ramal da estrada de ferro paraibana partindo da
cidade de Itabaiana (Paraíba), estendendo se à Campina Grande. Como
nas cidades anteriormente citadas, nesta a ferrovia também provocará
alterações na sua morfologia e especialmente na dinâmica econômica e
social, como descreve Almeida (1978): “Com a ferrovia, Campina Grande
erigiu-se à condição de empório comercial”, não faltando produtos para o
fluxo de mercadorias, fortalecendo por sua vez o caráter polarizador
regional da cidade. A localização do prédio da estação
(...) pelas condições
topográficas da cidade, foi obrigado a ficar bastante afastado, mais de
um quilômetro do centro urbano. Longe do comércio, fora dos cômodos da
população, passou a merecer censuras e críticas. [...]. Para suavizar a
viagem e atender às reclamações, construiu o prefeito duas estradas de
rodagem, ligando a cidade à estação longínqua. Uma direta, curta,
ladeirosa. Era a atual rua Irineu Jóffily. Outra curva, longa, plana.
Transformou-se depois nas ruas Vidal de Negreiros e Miguel Couto.
Entroncavam-se ambas em frente ao Açude Velho. (Almeida, 1978: 319)
43A
construção do edifício da estação ferroviária é realizada em local
bastante afastado da área efetivamente ocupada e a precariedade do
acesso exige a abertura de vias que passam a ligar o núcleo original da
cidade, ou a área que se constituía como centro principal e a estação
ferroviária (Almeida, 1978).
44Por
conseguinte, a cidade se expande, passando de 731 casas em 1907 para
1213 em 1913. Tal crescimento provocou por sua vez o problema da
escassez de água. Para solucionar tal problema, não bastaram as cacimbas
abertas, foi necessário a construção de um outro açude em área mais
distante, o Açude de Bodocongó pelo Departamento de Obras contra a Seca,
o denominado DNOCS. Na área da estação de ferro surgiram as fábricas de
algodão e os curtumes. Portanto, configurava-se em área de expansão do
centro primaz.
Figura 4: Estação Ferroviária de Campina Grande
Fonte: http://cgretalhos.blogspot.com.br/2009/10/facsimile-da-reportagem-da-chegada-do.html#.V3Tpo1fiRqU
Figura 5: Estação Ferroviária de Montes Claros
Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_linhacentro/fotos/montes26.jpg
45A
última localidade aqui abordada, Montes Claros (Minas Gerais), é
contemplada com a estrada de ferro somente em 1926, a despeito de estar
localizada em um estado onde a rede ferroviária constituiu importante
meio de transporte desde o século XIX e de haver solicitação de
concessão desde o final do século XIX. As solicitações foram feitas com
base na lei de garantia de juros e de privilégio de ganho sobre cada
quilômetro em tráfego. Encontram-se tais argumentos na correspondência
encaminhada ao Ministro de Agricultura e Obras Públicas por “João
Fernandes Silva, negociante e capitalista”:
(...)
requer a concessão de uma estrada de ferro que partindo do Rio Pardo,
no ponto terminal da Estrada da Vitória ao Rio Pardo no Espírito Santo,
vai a Montes Claros até o ponto terminal da estrada de Montes Claros à
Extrema, no Estado de Minas Gerais, em conformidade ao traçado
resultante do mapa incluso, sendo essa concessão com privilégio por 70
anos, para construção, uso e gozo desta linha com todos os favores
constantes das leis sobre estradas de ferro e bem assim a garantia de
juros de 6% sobre 30 contos de reis por quilômetro por 20 anos, sem
prejuízo de terceiros e com obrigação de não dar tráfego de mercadorias e
passageiros, nem estabelecer estação em zona privilegiada de qualquer
linha que houver de atravessar. (Correspondência ao Ministro de
Agricultura e Obras Públicas, 1892)
46Verifica-se
que a referida concessão não foi aprovada, uma vez que somente em 14 de
novembro de 1910 o Presidente da República decreta a aprovação dos
estudos e do orçamento para a construção da ferrovia que seguirá até a
cidade de Montes Claros.
47Assim,
ainda neste mesmo ano, dá-se início a construção da Estrada de Ferro
Central do Brasil em Minas Gerais ligando a cidade de Corinto (Linha do
Centro) a Montes Claros (em direção norte) partindo de Pirapora:
A
inauguração da estação de Pirapora efetuou-se em 28 de maio ultimo, dia
em que também se se deu inicio aos trabalhos do ramal de Montes Claros e
se inaugurou o primeiro trecho da estrada de Curralinho a Diamantina. A
esses atos, cuja importância para o desenvolvimento econômico de uma
futurosa zona, é desnecessário exalçar, esteve presente o emérito
titular da pasta da Viação, dr. Francisco Sá, nosso ilustre
co-estadoano, a quem deve Minas relevantes serviços. Ao mesmo tempo que a
extensa e fértil região norte-mineiro [sic] vai conquistando este
poderoso fator de progresso, as demais zonas do Estado veem aumentar
animadoramente a extensão de suas linhas férreas: as diferentes estradas
–
Oeste de Minas, Goiás, Leopoldina, Vitoria a Diamantina e a Rede
Sul-Mineira (constituída da fusão das antigas Sapucaí, Minas e Rio e
Muzambinho), distendem-se pelo nosso território em prolongamentos e
ramais e vão, destarte, construindo solidamente uma das principais bases
da nossa grandeza futura. (Relatório Presidente do Estado de Minas Gerais, 1910: 29)
48Desde
então, a construção da ferrovia é iniciada, prolongando-se lentamente
por 16 anos, conforme os relatos dos Presidentes do Estado de Minas
Gerais que, em seus relatórios anuais, registram a situação da
construção da referida via:
No
corrente ano foram entregues ao tráfego no Estado mais 148 km, 146 de
estradas de ferro, sendo 55 da Central do Brasil, 73,146 da Bahia e
Minas e 20 da Vitória a Minas. Os trechos inaugurados pela Central foram
os do km. 1.000 a Bocayuva, no ramal de Montes Claros, com 46
quilômetros, e 9 quilômetros no ramal de Lima Duarte, até Várzea do
Carmo. Da Bahia e Minas foi inaugurado o trecho de Ladainha a
Queixadas, em demanda de Arassuahy, e da Vitoria a Minas o de Ipatinga a
Raul Soares, devendo ser em breve inaugurada a estação de Japão a 18
quilômetros da precedente. É, pois, de
7.154,202 o número de quilômetros em tráfego no Estado. (Relatório do
Presidente do Estado de Minas Gerais, 1923: 156)
49Como
já afirmado anteriormente, somente em 1926 Montes Claros constitui-se
“ponta de trilho” da Estrada de Ferro Central do Brasil. Durante 16 anos
convive-se com a expectativa da ferrovia.
50A
proximidade com o Estado da Bahia favoreceu a atividade pecuária bovina,
bem como as culturas de algodão e cereais em direção ao norte de Minas
Gerais. Localizada na região norte mineira ou “os sertões”, a cidade
possui uma história marcada pelo isolamento, que se acentua com o
declínio da atividade mineira. A chegada da ferrovia em Montes Claros
representa para alguns autores o rompimento do isolamento que tanto
caracterizava a cidade, pois,
não
somente abriu as portas para um processo de
desestruturação/reestruturação, como também contribui para a
representação do desenvolvimento, entendido como progresso material e
pautado na racionalidade científica ocidental. (Querino, s/d: 4)
51Para
alguns autores, o rompimento deste isolamento ocorre com a chegada da
ferrovia, pois “não somente abriu as portas para um processo de
desestruturação/reestruturação, como também contribui para a
representação do desenvolvimento, entendido como progresso material e
pautado na racionalidade científica ocidental” (Querino, s.d: 4). Com a
ferrovia, Montes Claros torna-se importante centro regional e
incorpora-se à rede urbana do Centro-Sul.
52Assim,
tem-se quatro bocas de sertão que passam a ser interligadas a cidades
portuárias ou cidades de entroncamento ferroviário entre o final do
século XIX e as primeiras décadas do século XX, portanto na Primeira
República. A aspiração pelo progresso e pela modernidade materializa-se
na construção de uma linha férrea e na chegada da locomotiva, da
“máquina gigante” que modifica o espaço e o tempo atribuindo uma “nova
vida” nas cidades. O progresso tão aspirado revela-se no incremento da
atividade comercial e, por conseguinte, na maior centralidade regional
que a cidade passa a exercer. Contudo, o que se argumentava como sendo
uma das maiores justificativas para a sua implementação – o combate à
fome, maior fornecimento de alimentos à população flagelada da seca –
não se concretiza.
53Os
apontamentos acima têm como propósito apresentar algumas informações a
respeito das cidades estudadas, destacando o período e alguns fatos que
compõem a relação da ferrovia com os seus respectivos processos de
estruturação e de expansão. Interessante trazer as palavras de Villaça
no que se refere à importância das vias regionais, entre as quais se
insere as ferrovias que foram implantadas nas cidades supracitadas. Pois
de fato, estas vias enquanto veículos de comunicação decorrem de uma
demanda externa à cidade, mas que após serem criadas demandam o
transporte e a comunicação intra-urbana, complementa o autor: “A própria
locação intra-urbana de tais vias é ditada pela posição da região por
elas atendida em relação à cidade” (Villaça, 2001: 82).
54Se a
ferrovia pode ser identificada como elemento técnico que imprime no
espaço urbano uma demarcação física e espacial, portanto também social,
concernente ao processo de modernização, há que se considerar que a
instalação deste aparato moderno não se deu desvinculado do processo
econômico, político e social por qual passava a América do Sul, tampouco
foi um fato isolado. Pois a partir do início do século XX, as cidades
brasileiras de um modo geral passam por grandes alterações na sua
morfologia e também na sua dinâmica. Neste período, a instalação dos
denominados equipamentos modernos modificam o espaço urbano e o
cotidiano dos seus habitantes: iluminação pública, água encanada,
calçamento de ruas, ajardinamento das praças até a implementação do
saneamento. Tais incrementos são denominados por alguns autores como
“signos da modernidade”. Resguardadas as devidas proporções, nas
cidades, mesmo naquelas interioranas, as antigas “Bocas de Sertão”, os
seus governantes e a elite local idealizam uma cidade moderna e
civilizada, em que a ferrovia é um incremento técnico que simboliza os
novos tempos.