- 1 O presente artigo foi originalmente redigido como parte de tese de doutorado intitulada “A Formação (...)
O espaço é a acumulação desigual de tempos
(Milton Santos)
1A
geografia histórica apresenta um desenvolvimento não-linear dentro da
geografia, intercalando momentos de pleno reconhecimento, com outros em
que sua prática foi vista como uma excrescência no seio da ciência
geográfica.
2Como
parte desse não reconhecimento, muitas comunidades acadêmicas de
geografia, notadamente do Brasil, parecem ter instalado uma regra
informal de que a geografia deve tratar unicamente do presente. Todo e
qualquer estudo relacionado ao passado deveria ser relegado à história.
Isto, na verdade, parece ter funcionado como uma maneira da geografia
garantir um lugar só seu, no amplo espectro das ciências sociais. Para
Abreu (1996, p. 15, grifo nosso), essa “lei” é castradora, pois
“...impele a disciplina na direção exclusiva da interpretação do
presente dos lugares, e não no caminho da interpretação dos lugares...”, que pressupõe também analisar a questão temporal.
3Para
ir ao encontro da interpretação dos lugares, a geografia tem que
considerar que as formas sociais são produtos históricos, resultado da
ação humana sobre a superfície terrestre, e que expressam a cada momento
as relações sociais que lhe deram origem. “Nesse sentido, a paisagem
manifesta a historicidade do desenvolvimento humano, associando objetos
fixados ao solo e geneticamente datados” (MORAES, 1988, p. 15). Ou como
decreta a famosa frase “...o espaço é a acumulação desigual de tempos”
(SANTOS, 2004c, p. 9).
4H.
C. Darby, um dos grandes autores da geografia histórica, em seu ensaio
“On the relations of geography and history”, de 1953 (DARBY, 1991),
relaciona as três possibilidades de reunir história e geografia: uma
seria a geografia por trás da história, em que a geografia seria o pano
de fundo, no qual se desenrolariam os acontecimentos históricos. Outra
seria a história por trás da geografia, em que o autor identifica duas
dificuldades para diferenciar história e geografia. Em primeiro lugar,
como fixar um limite para a geografia do tempo presente? O presente pode
ser identificado como camada mais ou menos “fina”. Considerando que
esse limite é arbitrário, quando termina a geografia e começa a
história? Nesse sentido Darby (1991, p. 39) considera que “toda
geografia é geografia histórica, atual ou potencial”. A segunda razão
está ligada ao fato que as características das paisagens, não são apenas
resultado da ação natural, mas de sucessivas gerações de habitantes.
5Por
fim, para Darby a terceira possibilidade de reunir história e geografia é
o estudo de “geografias passadas”. Neste sentido, identificado com a
geografia histórica, essa buscaria realizar uma geografia no tempo,
reconstruindo as geografias do passado. Pretendendo retraçar o passado, o
faz assentada no presente, isto é, a partir do momento em que é
escrita. Enfrenta então o desafio de “...discernir, através de uma
geografia retrospectiva, o que, num dado ponto do passado, era, então, o
presente” (SANTOS, 2004, p. 51). Ou seja, identificar o que Abreu
(2000, p. 18), inspirado em Mackinder e Darby, chama de “presente de
então”.
6Para Philo (1996, p. 270),
...a
importância da geografia histórica é fazer com que uma sensibilidade
geográfica seja introduzida no estudo de todos esses fenômenos do
passado – econômicos, sociais, políticos ou qualquer outro – que são a
própria ‘substância’ da história e que atraíram a atenção dos
historiadores (como também a de outros estudiosos das ciências sociais e
das humanidades).
7Portanto,
apesar de alimentada pela história, a geografia histórica não se
confunde com ela, distinta que é em termos de preocupações e natureza
das análises.
8Se
como muitos defendem, a geografia só estuda o presente, o que a
geografia histórica faz é estudar o presente que existiu em algum
momento do que hoje é passado. E pode fazer isto sem deixar de
ser geografia: “As análises complexas e abrangentes que a disciplina vem
fazendo para compreender o momento atual de globalização podem também
ser feitas para os tempos passados, bastando para isso que façamos as
necessárias correções metodológicas” (ABREU, 1996, p. 15).
9É necessário então seguir certas regras metodológicas que não necessitam ser seguidas quando se estuda o presente:
Dentre as regras fundamentais que permitem que estudemos o passado, citaremos aqui apenas três. A
primeira é a que preconiza que se as categorias de análise da geografia
são universais, as variáveis que as operacionalizam não o são; daí
precisamos estar sempre atentos à adequação destas últimas para o
entendimento do passado. Variáveis não trafegam impunemente no túnel do
tempo, só as categorias de análise podem fazê-lo. A segunda regra, por
sua vez, indica que só se pode entender o ‘presente de então’ se
pudermos contextualizá-lo. Embora informado pelo presente, o passado não
é o presente. Daí, para compreendê-lo, há que se investir muito em
pesquisa indireta, via leitura do que já foi produzido sobre o tempo que
se decidiu estudar, e também em pesquisa direta, realizada nas mais
diversas ‘instituições de memória’ (...)
Finalmente, há também que
levar em conta que as geografias do passado trabalham, não com o passado
propriamente dito, mas com os fragmentos que ele deixou. Por isso, é
preciso sempre desconfiar dos vestígios que encontramos, pois os
documentos não são neutros, isto é, incorporam estruturas de poder
(...). Por outro lado, há também que tentar dar conta do que não deixou
vestígios, mas que sabemos que ocorreu ou que deve ter ocorrido (ABREU,
2000, p. 18).
10Vasconcelos
(1999, p. 17) também defende essa visão, e analisa a utilização de
categorias e conceitos atuais no estudo da cidade escravista brasileira.
Para ele, em princípio, as categorias e conceitos de uma
disciplina têm aplicação universal no seu conjunto, com a ressalva que
estes devem ser utilizados como instrumentais teóricos de fato e não
simples “ornamentos” conceituais.
11Portanto,
para estudar e interpretar os espaços do passado é fundamental definir
quais os conceitos e variáveis adequados à análise do tempo que se
decidiu estudar, procurando recuperar o quadro referencial maior daquele
lugar, naquele tempo, ou seja, o seu enquadramento espaço-temporal
(ABREU, 1998, p. 94).
12Neste
resgate das geografias do passado, a geografia não deve se limitar em
realizar somente o resgate das antigas formas morfológicas, apesar de
sua importância na recuperação da produção material das sociedades do
passado (ABREU, 1996, p. 13-14). Há que relacioná-las aos sujeitos que
às construíram. Para tanto, é necessário considerar que no estudo do
espaço, além das formas espaciais, que têm uma óbvia dimensão material,
também devemos atentar, por um lado, a “...uma dimensão dos comportamentos obrigatórios, que são as formas jurídicas e as formas sociais, e de outro lado com o tempo,
tal como ele se dá nas diferentes escalas de sua existência, ainda que
tenhamos freqüentemente dificuldade em precisá-la” (SANTOS, 1997, p. 68,
grifo nosso).
13Segundo
Santos (2004), para trabalhar conjuntamente com o tempo e o espaço é
necessário tratá-los segundo parâmetros comparáveis. Como o
espaço é concreto, é necessário que o tempo também o seja, realizando-se
então a “empiricização” do tempo, o que pode ser realizado através das
técnicas. Segundo Santos (2004, p. 29),
...a principal forma de relação entre o homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dado pela técnica. As
técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais
o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço. Essa
forma de ver a técnica não é, todavia, completamente explorada (...)
Um
inventário dos estudos empreendidos sobre a técnica deixa ver que esse
fenômeno é freqüentemente analisado como se a técnica não fosse parte do
território, um elemento de sua constituição e da sua transformação
14Entretanto,
há que considerar, que o ideal é tratar a técnica no plural, pois “...a
noção de sistema é inseparável da idéia de técnica” (SANTOS, 2004, p.
175). São precisamente as técnicas que distinguem as épocas, pois
cada época tem suas próprias formas de fazer: “Os sistemas técnicos
envolvem formas de produzir energia, bens e serviços, formas de
relacionar os homens entre eles, formas de informação, formas de
discurso e interlocução” (SANTOS, 2004, p. 177).
15Para
realizar a empiricização do tempo através das técnicas é necessário
considerar que sua participação no espaço é decisiva, podendo ser vistas
como uma medida de tempo:
A técnica entra aqui como um traço de união, historicamente e epistemologicamente. As
técnicas, de um lado, dão-nos a possibilidade de empiricização do tempo
e, de outro lado, a possibilidade de uma qualificação precisa da
materialidade sobre a qual as sociedades humanas trabalham. Então, essa
empiricização pode ser a base de uma sistematização, solidária com as
características de cada época. (...)
As técnicas são datadas e
incluem tempo, qualitativamente e quantitativamente. As técnicas são uma
medida de tempo: o tempo do processo direto de trabalho, o tempo da
circulação, o tempo da divisão territorial do trabalho e o tempo da
cooperação (SANTOS, 2004, p. 54, grifo do autor).
16A técnica proporciona a materialização do tempo porque toda técnica traz história embutida:
Na realidade, toda técnica é história embutida. Através
dos objetos, a técnica é história no momento da sua criação e no de sua
instalação e revela o encontro, em cada lugar, das condições históricas
(econômicas, socioculturais, políticas, geográficas), que permitiram a
chegada desses objetos e presidiram à sua operação. A técnica é tempo
congelado e revela uma história (SANTOS, 2004, p. 48).
17As
técnicas são então implantadas no espaço, fazendo com que o espaço
passe a ser formado por vários e distintos objetos técnicos. Por
exemplo, o espaço do trabalho contém técnicas, não só de trabalho, mas
autorizações para fazer isto ou aqui, desta ou daquela forma, neste ou
naquele ritmo, segundo esta ou outra sucessão. Podemos então dizer que
“tudo isso é tempo” (SANTOS, 2004, p. 55).
18A
realização do trabalho através da incorporação progressiva de novas
técnicas, em qualquer época que estivermos considerando, pressupõe uma
forma de divisão do trabalho, que muda a cada momento histórico. Segundo
Santos (2004, p. 136), essa
...é
uma lei geral. Em cada lugar, em cada subespaço, novas divisões do
trabalho chegam e se implantam, mas sem exclusão dos restos de divisões
do trabalho anteriores. Isso, aliás, distingue cada lugar dos demais,
essa combinação específica de temporalidades, diversas. Em outra
situação, consideremos, apenas, para fins analíticos, que, dentro do
todo, em uma dada situação, cada agente promove sua própria divisão do
trabalho. Num dado lugar, o trabalho é a somatória e a síntese desses
trabalhos individuais a serem identificados de modo singular em cada
momento histórico.
19Por isso, cada divisão do trabalho cria um tempo próprio, diferente do anterior. Esse
“tempo” ganha concretude apenas na sua interpretação ativa pelos
diversos agentes sociais: “...é assim que, a partir de cada agente, de
cada classe ou grupo social, se estabelecem as temporalidades
(interpretações, isto é, formas particulares de utilização daquele tempo
geral, ‘temporalidades práticas’ no dizer de J.-P. Sartre) que são a
matriz das espacialidades vividas em cada lugar” (SANTOS, 2004, p. 136).
20O tempo da divisão do trabalho seria o tempo do “Modo de Produção”.
Aqueles
elementos definidores do modo de produção seriam a medida geral do
tempo, à qual se referem, para serem contabilizados, os tempos relativos
aos elementos mais ‘atrasados’, heranças de modos de produção
anteriores. Visto em sua particularidade – isto é, objetivado –
e, portanto, com a sua cara geográfica, o tempo, ou melhor, as
temporalidades, conduzem à noção de formação socioespacial (SANTOS,
2004, p. 136).
21Portanto ao serem implantadas em um lugar, as técnicas (no plural) são redefinidas por este lugar. Cada
objeto ou ação que se instala, o faz em um tecido pré-existente, e seu
valor real é encontrado no funcionamento concreto do conjunto. Do mesmo
modo, a presença de uma nova técnica também modifica os valores
pré-existentes, formando então uma espécie de tempo do lugar, de um
“tempo espacial”, que configura também a “idade de um lugar” (SANTOS, 2004, p. 59, grifo nosso).
...o espaço se caracteriza, entre outras coisas, pela diferença de idade entre os elementos que o formam. Isso é válido para todos os tipos de subespaço, não importando a escala (...).
Se
ampliarmos a escala de nossa observação à dimensão de um continente ou
se a restringirmos ao tamanho da célula territorial mais minúscula,
jamais encontraremos elementos sincrônicos. Cada variável hoje presente
na caracterização de um espaço aparece com uma data de instalação
diferente, pelo simples fato de que não foi difundida ao mesmo tempo;
por isso cada lugar se distingue por uma datação diferente de suas
variáveis constitutivas. Em cada continente, país, região ou subespaço,
cada lugar representa a soma de ações particulares inicialmente
localizadas em períodos diferentes. A presença simultânea de variáveis
com idades tão diversas dá como resultado que a combinação
característica de cada lugar é única (SANTOS, 2004d, p. 257-258, grifo do autor).
22Essa
combinação específica, formada em cada lugar, consiste em uma
materialidade artificial, que pode então ser datada por intermédio das
diversas técnicas: da produção, do transporte, da comunicação, do
dinheiro, do controle, da política, etc. Sendo um fenômeno
histórico, pode-se identificar o momento de sua implantação, nas
diversas escalas: local, nacional ou mundial (SANTOS, 2004, p. 57).
23Portanto,
“...a cada lugar geográfico concreto corresponde, em cada momento, um
conjunto de técnicas e de instrumentos de trabalho, resultado de uma
combinação específica que também é historicamente determinada” (SANTOS,
2004, p. 56). Desse modo, tem-se a correspondência entre, por exemplo, a
implantação de um grande sistema técnico e o lugar geográfico de
instalação, dando conta das múltiplas relações e influências que se
estabelecem entre a técnica que se implanta e o lugar de implantação.
24Desse
que modo constata-se que através da empiricização do tempo, proposta
por Milton Santos, podemos identificar os lugares pela implantação
diferencial e não simultânea das técnicas, pelo acúmulo sempre diverso
de modos de produção dominantes e subalternos, o que configura um método
para se estudar o tempo relacionando-o ao lugar, levando à datação
diferencial dos lugares. O que nos conduz à determinação de recortes
temporais, através do recurso das periodizações.
25Em cada lugar encontramos simultaneamente a diacronia, ou eixo das sucessões, a sincronia, ou eixo das coexistências, o tempo das diversas ações/diversos atores. Nas palavras de Santos (2004, p. 159),
...em
cada lugar, os sistemas sucessivos do acontecer social distinguem
períodos diferentes, permitindo falar de hoje e de ontem. Este é o
eixo das sucessões. Em cada lugar, o tempo das diversas ações e dos
diversos atores e a maneira como utilizam o tempo social não são os
mesmos. Já no viver comum de cada instante, os eventos não são
sucessivos, mas concomitantes. Temos aqui o eixo das coexistências
(SANTOS, 2004, p. 159).
26No espaço geográfico as temporalidades não são as mesmas para os diversos agentes sociais, porém elas acontecem simultaneamente:
...constatamos,
de um lado, uma assincronia na seqüência temporal dos diversos vetores
e, de outro lado, a sincronia de sua existência comum, num dado momento.
O entendimento dos lugares, em sua situação atual [ou
retrospectiva, em se falando de geografia histórica] e em sua evolução,
depende da consideração do eixo das sucessões e do eixo das
coexistências (SANTOS, 2004, p. 159).
27Portanto, é no espaço que os dois eixos se unem, formando então uma unidade espaço-temporal:
O tempo como sucessão, o chamado tempo histórico, foi durante muito tempo considerado como uma base do estudo geográfico. Pode-se,
todavia, perguntar se é assim mesmo, ou se, ao contrário, o estudo
geográfico não é muito mais essa forma de ver o tempo como
simultaneidade: pois não há nenhum espaço em que o uso do tempo seja
idêntico para todos os homens, empresas e instituições. Pensamos que a
simultaneidade das diversas temporalidades sobre um pedaço da crosta da
Terra é que constitui o domínio propriamente dito da Geografia.
Poderíamos mesmo dizer, com certa ênfase, que o tempo como sucessão é
abstrato e o tempo como simultaneidade é o tempo concreto já que é o
tempo da vida de todos. O espaço é que reúne a todos, com suas múltiplas
possibilidades, que são possibilidades diferentes de uso do espaço (do
território) relacionadas com possibilidades diferentes de uso do tempo
(SANTOS, 2004, p. 159-160).
Figura 1: O eixo das sucessões e o eixo das coexistencias
Fonte: Elaboração do autor.28A
intersecção, em determinado lugar, do eixo das sucessões com o eixo das
coexistências, dá lugar a diversos períodos (ver figura 1). A
periodização é uma das maneiras de analisar o tempo na geografia e
outras ciências sociais. Através delas, procura-se identificar segmentos
homogêneos do tempo histórico, em que as variáveis se mantêm em
relativo equilíbrio no interior de uma mesma combinação de elementos de
ordem econômica, social, política e moral, constituindo um sistema
(SANTOS, 2004b, p. 31-33). Esse sistema constitui a totalidade social,
que é formada por uma combinação das instâncias econômica,
jurídico-política e ideológica da sociedade que se articulam no conceito
de formação socioespacial.
29Ocorre,
porém, que não necessariamente cada instância esteja no mesmo tempo da
outra, compartilhando a mesma temporalidade. Para Corrêa (1987, p.
39-40), “...as três instâncias entrecruzam-se e completam-se através de
diferentes modos. Um deles assume uma expressão fenomênica, a
organização espacial”, que pode ser também periodizada. “Assim como é
possível falar do feudalismo, também o é da organização espacial feudal”
(CORRÊA, 1987, p. 40). Para esse autor, a periodização pode ser
definida “...como uma operação intelectual que permite definir os tempos
históricos, onde em cada um deles o pesquisador torna visível e
inteligível (...) a forma específica da existência da totalidade social”
(CORRÊA, 1987, p. 40).
30Como
o desenvolvimento humano acontece pela sucessão das diversas técnicas
de relacionamento humano e dos grupos humanos com a natureza, cada um
desses períodos representa uma modernização (tecnológica), ou seja,
...a generalização de uma inovação vinda de um período anterior ou da fase imediatamente precedente. A
cada modernização, o sistema tende a desdobrar sua nova energia para os
subsistemas subordinados. Isto representa uma pressão para que, nos
subsistemas atingidos, haja também modernização. No sistema “dominado”,
aqui chamado subsistema, as possibilidades de inovação estão abertas,
assim, às variáveis que foram objeto de modernização no sistema
“dominante” (SANTOS, 2004b, p. 31, grifo do autor).
31Para entendermos as periodizações é necessário discutir a noção de evento. Para
Milton Santos (2004), os eventos mudam as coisas e transformam os
objetos, dando-lhes novas características. Não há evento sem ator e sem
sujeito. “Os eventos históricos supõem a ação humana. De fato, evento e
ação são sinônimos” (SANTOS, 2004, p. 147).
32Porém
o evento é sempre presente, mas não necessariamente instantâneo,
decorrendo daí a idéia de duração, lapso de tempo em que determinado
evento é eficaz. O evento então teria uma duração natural, decorrente do
próprio evento e uma duração organizacional, como no caso de leis e
regras que interferem na duração dos eventos. Como exemplo de eventos
naturais poderíamos citar uma enchente, um terremoto e como eventos
sociais e históricos, a chegada de um trem, um comício, um golpe de
Estado, etc. (SANTOS, 2004, p. 148-149).
33Porém
o evento também tem uma extensão ou espacialidade, uma “área de
ocorrência”, o que é facilmente perceptível para eventos naturais, como
por exemplo, a área atingida por uma inundação ou uma furação. Já para
eventos sociais essa delimitação é mais difícil, mas pode ser, por
exemplo, a área de presença de determinado produto agrícola (SANTOS,
2004, p. 150). Para esse autor, “...considerando o tempo não apenas como
transcurso ou intensidade, mas, igualmente, como extensão – ou
espacialidade, dirão outros – ficamos perto de entender, de um ponto de
vista geográfico, essa noção de extensão de um evento, já referida por
Whitehead (1919) e outros filósofos” (SANTOS, 2004, p. 150).
34Aqui
entraria a noção de escala: a escala das forças operantes, dos eventos
como fluxos e a escala da área de ocorrência. Segundo Milton Santos
(2004, p. 152, grifo do autor), “...a palavra escala deveria
ser reservada a essa área de ocorrência e é nesse sentido que se pode
dizer que a escala é um dado temporal e não propriamente espacial, ou,
ainda melhor, que a escala varia com o tempo, já que a área de
ocorrência é dada pela extensão dos eventos”. Por fim “...a conexão
existente entre os objetos é dada pelos eventos, isto é, o tempo se
fazendo empírico, para poder encontrar os objetos” (SANTOS, 2004, p.
158).
35A
esse períodos podemos chamar de “recortes temporais”. Estaville Jr.
(1991, p. 310), apresenta diversas formas de organizar o tempo para
estudar relações espaciais (ver figura 2).
36Na
figura 2a aparece o recorte temporal simples (cross section-past), em
que um tempo particular é selecionado por sua importância histórica ou
por haver disponibilidade ou significância de fontes materiais sobre o
espaço analisado. Pode se referir a um ano ou um século, e é uma
tentativa de recriar o “presente histórico”, o presente como existiu em
algum momento do passado. Apresenta a vantagem de uma estrutura temporal
estática, permitindo simplicidade, economia e facilidade na organização
da pesquisa, proporcionando que as relações espaciais possam ser
explanadas com relativa precisão. A desvantagem é que, ao não considerar
as transformações no interior do recorte, acaba tornando-se um “método
de antiquário”. Outra desvantagem é que, inferir processos através de
padrões espaciais congelados no tempo, pode conduzir a explanações
errôneas (ESTAVILLE JR., 1991, p. 310-312).
- 2 Apesar de possíveis divergências quanto ao critério de determinação, pode ser associada à noção de (...)
37Já
no método retrospectivo ou refletivo (cross section-relic, ver figura
2b), são utilizadas as relíquias do passado que permaneceram no
presente, sendo a obsolescência funcional o critério mais importante
para determinar a característica de relíquia2.
É utilizado para recriar geografias passadas a partir de seus vestígios
encontrados na paisagem atual (ESTAVILLE JR., 1991, p. 312-313). Apesar
de ser um método interessante para trabalhar com as paisagens
geográficas, apresenta a desvantagem que, se o número de relíquias for
pequeno, pode prejudicar a reconstrução de geografias passadas.
38Já
os recortes sincrônicos (figura 2c) são uma extensão do recorte temporal
simples, demonstrando mudanças de um tempo a outro. São a soma de dois
ou mais recortes temporais simples. Pode ser utilizado através de
aproximações progressivas, de um tempo no passado para um mais
contemporâneo, ou através de aproximações regressivas, do mais atual
para o mais antigo. Apresenta como principal vantagem a possibilidade de
analisar as mudanças de um momento a outro, permitindo comparações
temporais e análises de certos processos. Como desvantagem, a utilização
de poucas seções restringe o entendimento do processo. De outra forma
eventos ocorridos fora das seções analisadas são apenas inferidos,
podendo conduzir a erros de interpretação. Por último, a taxa de mudança
dos fenômenos observados pode variar, acarretando dificuldades de
organização e perda de informação nos recortes analisados (ESTAVILLE
JR., 1991, p. 312-314).
39Já
nas subseções diacrônicas (figura 2d), são isoladas relações espaciais
de fenômenos particulares, analisando o fluxo contínuo de um evento
através de um tempo relativamente longo de tempo até outro momento
distinto. Podem ser organizados progressivamente ou regressivamente.
Apresenta a vantagem de proporcionar excelente análise do processo e das
interações, como se a realidade fosse mostrada como em um filme, com um
aparente continuum de movimento. A desvantagem desse método é
que, ao procurar mostrar cadeias de eventos contínuas, exigiria muitas
inferências devido à escassez de dados. Outra desvantagem é que, devido à
quantidade de possíveis fenômenos e a prolongados períodos de tempo
envolvidos na observação, o número de fenômenos considerados costuma ser
pequeno. Também as taxas evolucionárias dos fenômenos em observação
podem variar, gerando dificuldades de entendimento processual. Por
último, a organização temporal diacrônica pode conduzir à crítica: isto é
realmente geografia ou alguma forma de história? (ESTAVILLE JR., 1991,
p. 312-314).
40Até
aqui estivemos analisado as diferentes maneiras de realizar recortes
temporais sincrônicos ou diacrônicos. Porém ambos apresentam problemas.
Os recortes sincrônicos, ao procurarem estabelecer intervalos de tempo
com pequenas transformações, poderiam levar a um olhar rápido sobre
eventos não exatamente os mais significativos. No caso oposto, a análise
diacrônica, procura analisar fenômenos através do tempo, porém o número
de fenômenos analisados poderiam ser insignificantes para captar a
estrutura espacial (ESTAVILLE JR., 1991, p. 315-317).
Figura 2: A organização do tempo para analisar relações espaciais segundo Estaville Jr.
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Fonte: ESTAVILLE JR. (1991).
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41A discussão entre sincronia e diacronia pode ser associada àquela que analisa padrões (espaciais) e processos (temporais). Padrões
são quadros congelados de processos, assim como processos são padrões
através do tempo (ESTAVILLE JR., 1991, p. 317-319).
42A
dúvida é então de caráter metodológico: os geógrafos deveriam pontuar
descobertas e explanações de padrões espaciais através do tempo
(geografia das mudanças) ou procurar o entendimento espacial de
fenômenos através de seu desenvolvimento temporal (mudanças
geográficas). A resposta se encontra dentro do que pode ser
metodologicamente chamado de barganha espaço-tempo (“space-time
trade-off”), diminuindo o movimento dos fenômenos através do tempo e
aumentando a precisão da análise espacial, bem como, aumentando o
movimento dos fenômenos através do tempo e aumentando a precisão da
análise processual (ESTAVILLE JR., 1991, p. 319).
43O
primeiro, certamente um recorte sincrônico em busca de padrões
espaciais. O segundo, diacrônico, acentuando o processo de
desenvolvimento. Por outro lado, ontologicamente, espaço e tempo estão
inalteravelmente unidos o que possibilita utilizar à força de ambas as
estratégias para investigar tanto padrões espaciais como processos. Para
mitigar a “barganha espaço-tempo”, os geógrafos históricos
desenvolveram estratégias metodológicas que unem os recortes sincrônicos
com sub-seções diacrônicas: tanto podem ser utilizados recortes
sincrônicos unidos diacronicamente (figura 2e), como estudar
diacronicamente padrões espaciais, partindo do passado até chegar ao
padrão analisado ou partindo de um padrão do passado estudando-se
diacronicamente seu desenvolvimento até um próximo padrão espacial
(figura 2f) (ESTAVILLE JR., 1991, p. 319).
44A
vantagem da abordagem sincrônica-diacrônica é possibilitar o estudo
conjunto da estrutura e do processo. Como o recorte sincrônico congela
um padrão espacial, perde-se informação referente ao processo, situação
que se inverte ao utilizar-se a análise diacrônica, pois temos muita
informação referente ao processo, porém perde-se informação a respeito
dos padrões espaciais (ESTAVILLE JR., 1991, p. 315-322).
45
Apresentamos até aqui as diversas formas de relacionar tempo e espaço,
como o tempo ganha concretude em sua relação com o espaço e como
organizar o tempo para analisar relações espaciais. É necessário agora
analisar as formas geográficas de realizar os recortes espaciais, que se
articulam através da escala geográfica, ainda mais que, há mais de
quinhentos anos a humanidade vive uma progressiva globalização de suas
relações econômicas, sociais e culturais.
46A
interpretação geográfica da realidade pressupõe a utilização de
recortes espaciais e sua articulação através do conceito de escala. A
escala não se refere unicamente à representação cartográfica, mas à sua
problematização como “...uma estratégia de aproximação do real”
(CASTRO, 1995, p. 118). Através da escala delimitamos o campo empírico
da pesquisa, ou seja, delimitamos “...os fenômenos que dão sentido ao
recorte espacial objetivado” (CASTRO, 1995, p. 120).
47O
que ocorre sincronicamente em um lugar é também determinado pelo que
ocorre em outras escalas, seja a nacional, seja a mundial.. Seria a
associação entre um tempo interno (do lugar) e um tempo externo (do
mundo) (SANTOS, 2004, p. 52). Portanto é necessário realizar a
articulação entre as diversas escalas envolvidas no estudo de
determinado área ou determinado recorte temporal.
- 3 Alguns autores preferem a utilizar apenas “Formação Espacial” (Ver MOREIRA, 2011, p. 75-79).
48Para
estudar a escala dos Estados Nacionais e também de unidades políticas
administrativas estaduais e até municipais, utilizamos o já citado
conceito de Formação Socioespacial3,
que diz respeito à reunião em dado lugar de diversas variáveis de modo
particular. “A categoria de Formação Econômica Social [da qual derivou a
categoria de formação socioespacial] é assim extremamente útil ao
estudo de uma realidade nacional pela fato de que não se aplica à Sociedade considerada em um sentido geral, mas a uma sociedade precisa, cuja especificidade e particularismos devem ser realçados...” (SANTOS, 2004d, p. 243, grifo do autor).
49Essas
diversas sociedades materializadas como Estados Nacionais, unem-se em
uma escala mundial ou global. Para analisá-la utilizamos a formulação de
Immanuel Wallerstein, de que o mundo se reúne no “moderno sistema
mundial”, termo que designa a formação de uma economia-mundo
capitalista, cuja gênese “...se situa na Europa no final do século XV;
que, de lá para cá, (...) se expandiu no espaço até cobrir todo o
planeta no final do século XIX; e que ainda engloba a Terra inteira”
(WALLERSTEIN, 2001, p. 18).
50Forma-se
uma economia-mundo, porque no moderno sistema mundial nenhum Estado
Nacional tem força, sozinho, para impor uma centralização política e
estabelecer um “império-mundo”. Por isso temos, na verdade, um “sistema
interestatal”, com os Estados Nacionais mais fortes, através de
mecanismos políticos, diplomáticos e militares, concentrando atividades
ditas centrais em seus territórios. No entanto, historicamente
constatamos que o balanço de forças do sistema interestatal leva à
hegemonia de um estado central, que podemos associar ao conceito de
imperialismo. Imperialismo porque essa hegemonia leva à dominação de
fato de regiões periféricas, ainda que não de direito. Segundo Arrighi
(1996, p. 27), “...o conceito de ‘hegemonia mundial’ (...) refere-se
especificamente à capacidade de um Estado exercer funções de liderança e
governo sobre um sistema de nações soberanas”.
51Para
Arrighi (1996) e Arrighi e Silver (2001), existiram três hegemonias
dentro do capitalismo histórico: a holandesa, a inglesa e a
norte-americana. Essas hegemonias no campo político e também militar se
ligam ao que Arrighi (1996) chama de “ciclos sistêmicos de acumulação”,
que representam a observação empírica da alternância entre épocas de
expansão material, com épocas de expansão financeira. Os ciclos
sistêmicos geralmente se superpõem e duram sempre mais de um século, por
isso a idéia de “século longo”, que o autor toma como unidade temporal
básica na análise dos processos mundiais de acumulação de capital. O
século longo se associa à formulação de Fernand Braudel (1990) de “longa
duração”.
52O
próprio tempo também expressaria uma relação de dominação e dependência.
“Há, pois, tempos dentro do tempo, tempos hegemônicos e tempos
subalternos, o tempo dos que controlam a vida produtiva e a vida social e
o tempo dos que vivem em função desse controle. Há um tempo desigual
das diversas empresas segundo sua força e um tempo desigual dos diversos
homens, segundo o seu lugar no processo produtivo” (SANTOS, 1989, p.
A-3).
53A economia-mundo apresenta certas características, sintetizadas a seguir:
1. a acumulação incessante do capital como sua força motriz;
2.
uma divisão axial do trabalho em que há uma tensão centro-periferia de
natureza tal que existe alguma forma de troca desigual [...] que tem
caráter espacial;
3. a existência estrutural de uma zona semi-periférica;
4. o papel amplo e contínuo do trabalho não-assalariado ao lado do trabalho assalariado;
5.
a correspondência entre as fronteiras da economia-mundo capitalista e
as de um sistema-inter-estados formado por Estados soberanos;
6. a localização dessa economia-mundo capitalista antes do século XIX, provavelmente no século XVI;
7.
a idéia de que essa economia-mundo capitalista começou numa parte do
globo (em larga medida na Europa) e mais tarde expandiu-se a todo o
globo mediante um processo de sucessivas ‘incorporações’;
8. a
existência nesse sistema-mundo de Estados hegemônicos cujos períodos de
hegemonia plena ou inconteste foram contudo relativamente breves;
9. o caráter não-primordial de Estados, grupos étnicos e famílias, todos eles em constante processo de criação e recriação;
10. a importância fundamental do racismo e do sexismo como princípios organizadores do sistema;
11. o surgimento de movimentos anti-sistêmicos que solapam e reforçam simultaneamente o sistema;
12.
um padrão contendo tantos ritmos cíclicos como tendências seculares que
dá corpo às contradições inerentes do sistema e explica a crise
sistêmica em que hoje vivemos (WALLERSTEIN, 2006, p. 307).
54Condensando
essas características, podemos dizer que a economia-mundo se
caracteriza por uma divisão do trabalho integrada através de um mercado
(mundial) e não por uma unidade política central. A noção de
divisão social do trabalho tem além de seu caráter funcional, uma
dimensão espacial. Através de um paralelo com a teoria marxista que
explica a distribuição desigual do produto do trabalho entre classes
sociais, aqui se estende esta preocupação da divisão do produto à
distribuição desigual entre as regiões que participam da produção
mundial. Portanto, paralelamente à divisão social do trabalho, também
existe uma divisão mundial do trabalho, definindo assimetrias que
configuram uma “divisão axial do trabalho”, com certas regiões centrais
absorvendo, não só o excedente gerado por seus trabalhadores, mas também
uma parcela do excedente gerado pelos trabalhadores das regiões
periféricas. O mecanismo de atuação dessa divisão do trabalho se dá
através do estabelecimento de cadeias de mercadorias, geralmente
relacionadas ao comércio de longa distância, incorporando várias regiões
e perpassando as fronteiras nacionais. Na aplicação de estratégias
monopolistas, as empresas dos países centrais, contam com o apoio de
seus Estados Nacionais para minar rivais economicamente mais fortes de
outros Estados (“mercantilismo”). Com isso obtêm o controle sobre as
etapas mais rentáveis das cadeias de mercadorias (o que se relaciona com
os conceitos de hegemonia e imperialismo) (ARIENTI e FILOMENO, 2004, p.
5-7).
55Esta
divisão axial do trabalho é continuamente reproduzida, na medida em que
passa a operar uma força centrípeta, fortalecendo os mecanismos de
troca desigual. A distribuição do excedente é determinada, portanto, não
apenas pela distribuição desigual de vantagens econômicas (dotação de
valores desigual e diferenças tecnológicas e organizacionais), mas
principalmente por relações de forças em que se confrontam as burguesias
nacionais e seus respectivos Estados. A chamada “troca desigual”
funciona através da aliança dos capitalistas com o poder político.
56Essa
troca se dá no nível dos grandes capitalistas que tem poder de
influência junto ao poder político, e se distinguem dos pequenos
comerciantes que fazem “as trocas cotidianas do mercado” e dos
“intermediários e atravessadores” (BRAUDEL, 1987, p. 45-49).
57Portanto,
historicamente, capitalistas e Estados organizam o processo de produção
mundial entre as várias regiões geográficas em busca de uma
concentração de atividades monopolistas em determinadas regiões,
tornando-as “centrais” (que podem coincidir com territórios de Estados
Nacionais). Por outro lado, as atividades sem condições de escapar da
concorrência de seus competidores e da troca desigual dos monopolistas
de outras regiões, se tornam periféricas (que podem coincidir com
territórios de Estados Nacionais ou mesmo continentais) (ARIENTI e
FILOMENO, 2004, p. 7).
58Aqui
encontramos paralelo com a teorização marxista do desenvolvimento
desigual, porém, combinado. A condição periférica ou semi-periférica
leva à superexploração dos trabalhadores dessas regiões:
O
capitalista em atividade periférica e integrado ao sistema mundial é ao
mesmo tempo explorador e explorado, na medida que parte do excedente
que ele extrai de seus trabalhadores é transferida aos capitalistas do
centro. Para garantir uma taxa de lucro compatível com sua
sobrevivência no sistema deve recorrer a superexploração dos seus
trabalhadores, mesmo quando estão em uma relação de produção tipicamente
capitalista (ARIENTI e FILOMENO, 2004, p. 9).
59À
articulação espacial, que se expressa na divisão internacional do
trabalho, se soma uma articulação temporal, o que nos permite falar em
uma articulação espaço-temporal. Como exemplo o tempo da
revolução industrial inglesa se expande para outras áreas, como o
Brasil. Chegando aqui, se articula com temporalidades pré-capitalistas,
formando algo único, uma formação socioespacial.
60Com as análises efetuadas, pensamos ter demonstrado uma proposição viável para fundamentar estudos de Geografia Histórica. Este
trabalho, que apesar de contar com um acúmulo de discussões, se
encontra em constante aprimoramento, tal qual a vida social que se
desenrola de modo processual. Nessa perspectiva ele deve ser avaliado,
pois sempre poderão ser incorporados novos autores e abordagens.
61Através
das periodizações e do estabelecimento de recortes temporais, podemos
trabalhar com o tempo de maneira satisfatória, tanto na Geografia
Histórica, como na Geografia em geral. A empiricização do tempo através
das técnicas permite a datação dos lugares, em uma perspectiva
totalmente geográfica.
62Concomitantemente,
devemos sempre considerar que em estudos geográficos é necessário
estabelecer de maneira apropriada os recortes espaciais e sua necessária
articulação com as demais escalas geográficas com que se relaciona.
63A
abordagem adotada de realizar recortes espaciais e temporais permite
estabelecer articulações espaço-temporais, simultaneamente sincrônicas e
diacrônicas, contribuindo para a análise simultânea de padrões
espaciais, bem como de processos temporais.